A NECESSIDADE E O PODER DA ORGANIZAÇÃO DO PENSAMENTO
“Não se ensina os homens a serem honestos, mas ensina-se tudo o mais”. Blase Pascal.
Na história da humanidade nunca se viu tantas informações e diferentes conhecimentos como acontece na atualidade, e mais, o homem nunca teve que lidar com tantas situações de complexidade como as que existem agora. Tudo isso provoca um grande tumulto em nossas mentes, que a cada dia recebe mais conhecimentos, que renovam, se reproduzem, se multiplicam e causam desconforto emocional, porque apesar de termos o saber, nem sempre sabemos utilizar ou mesmo encontrar as respostas que queremos no momento, pois muitas vezes não lembramos dos conteúdos.
Uma coisa é ter o conhecimento e outra bem diferente e saber onde está e como usá-lo. O fato primordial nessa questão é sabermos quais conhecimentos estão nos servindo e quais os que podemos descartar, antes que a mente fique cheia demais. Então precisamos entender que existe em nós uma necessidade em filtrar o que sabemos, ou seja, devemos ser mais seletivos para com as informações que estamos sempre buscando para ampliar nossos horizontes, porque não é a quantidade de informações que mais se deve levar em conta, mas a qualidade destas para atender nossas necessidades em meio aos muitos e diferentes saberes.
Tem certos dias que não conseguimos dominar bem os nossos conhecimentos, queremos lembrar de algo e não conseguimos. Queremos pronunciar uma palavra e não adianta, porque ela não sai mesmo. E o nome daquela pessoa que você conhece há muito tempo e simplesmente, quando você mais precisa não sabe mais, não lembra de jeito nenhum? Pois é, o problema é que não conseguimos organizar bem nossos próprios conhecimentos. Por esse motivo, é extremamente urgente e necessário compreendermos que necessitamos organizar melhor o que possuímos em nossa malha intelectiva, para que possamos tornar objetivas nossas pesquisas e facilitar a linha de raciocínio em todos os seus aspectos. Como não podemos realizar uma formatação para começar tudo de novo, como fazemos com os computadores, pois, como afirma Montagne: “Mais vale uma cabeça bem-feita que bem cheia”. Nesse contexto, o filósofo Edgar Morin, que trabalha a teoria da complexidade, compreende que não adianta termos conhecimentos acumulados, empilhados. Devemos sim, diz ele, dispor de princípios de seleção e organização, para que se dê sentido ao saber que temos, para que possamos colocar e tratar os problemas com coerência e responsabilidade.
Para Morin, os saberes devem ser e estar interligados por meio dos princípios organizadores da nossa mente, para melhorar nossas competências e ampliar a capacidade de tratar os problemas, ou seja, é preciso que os problemas sejam analisados sob todos os aspectos, para então buscarmos as respostas necessárias. A visão do todo não deve ser travada pela visão de suas partes, ou vice-versa. A visão sistêmica nos auxilia na compreensão das dúvidas, por meio do pensamento; quando necessário se deve fazer a reforma do pensamento e isso não é regredir, ao contrário, é ser inteligente para encontrar a melhor opção, que nos dá sagacidade diante dos desafios que devemos superar.
Ao lidar com o ensino de jovens e adultos, não podemos perder a oportunidade de explorar o conhecimento adquirido por eles, para que sejam justamente inseridos no processo de aprendizagem, como bem ensinou nosso patrono da educação, o imortal Paulo Freire. Os jovens e adultos iletrados possuem conhecimentos significativos e ricos, assim, uma vez devidamente contextualizados, mostram do que são capazes com seus pensamentos práticos, repletos de boas ideias. Ensinar e aprender são artes de amar, onde se ganha como prêmio a solidariedade entre as pessoas envolvidas.