VIOLÊNCIA NA ESCOLA

RESUMO

O presente trabalho constitui uma análise qualitativa e bibliográfica acerca da violência na escola. Esta é uma realidade visceral no cotidiano das escolas brasileiras e a partir dessa análise, tentamos encontrar dados para cheguem a uma possível solução. A organização da pesquisa e da fundamentação teórica deu-se a partir de estudos bibliográficos para aprofundamento temático, levando em consideração as contribuições de autores que discutem a violência escolar, como Abramovay (2002), Charlot (2002), autores que trazem abordagens voltadas para algumas violências como o bullying e a questão das drogas, como Debarbieux (2002), e Abramovay (2005). Como instrumento investigativo definiu-se pela pesquisa qualitativa, com a leitura crítica dos textos dos autores supracitados. Os resultados da pesquisa apontam vários tipos de violência escolar, como a violência ocasionada pela desestruturação familiar e o bullying. Quanto às causas de violência escolar, as análises deixam claro principalmente a falta de estrutura familiar, de limites e de valores e como essas consequências afetam na aprendizagem das pessoas.

PALAVRAS-CHAVES: Violência, bullyng, desestruturação familiar.

ABSTRACT

The present work constitutes a qualitative and bibliographical analysis about the violence in the school. This is a visceral reality in the daily life of Brazilian schools and from this analysis, we try to find data to arrive at a possible solution. The organization of research and theoretical basis was based on bibliographical studies for thematic exploration, taking into account the contributions of authors who discuss school violence, such as Abramovay (2002), Charlot (2002), authors who bring approaches aimed at violence such as bullying and the drug issue, such as Debarbieux (2002), and Abramovay (2005). As an investigative tool it was defined by the qualitative research, with a critical reading of the texts of the authors mentioned above. The results of the research point to several types of school violence, such as violence caused by family disruption and bullying. As for the causes of school violence, the analysis makes clear, mainly, the lack of family structure, limits and values and how these consequences affect the learning of people.

Keywords: Violence, bullyng, family breakdown.

1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como objetivo promover o debate e trazer à luz reflexões relevantes no que diz respeito à violência no âmbito escolar, concomitantemente em alertar, esclarecer e conscientizar tudo que envolve essas questões, melhorando o ambiente e a forma de agir de cada um. Essas reflexões ajudarão na busca de medidas estratégicas para a superação das violências nas escolas.

No decorrer das discussões, traremos a compreensão e apelo à prevenção sobre esse assunto. Sendo a violência um ato que causa dano a outrem, ser vivo ou objeto e que possa a lesar a integridade física, moral ou psicológica e até mesmo a vida de outro ser. É o uso da força excessiva, desnecessária ou inesperada.

1.1 Problematizando a violência nas escolas

A problemática consiste em reconhecer a violência como um fator grave e negativo nas escolas, que prejudica tanto os alunos, professores e até mesmo familiares e sociedade, conhecendo suas causas e consequências para saber atuar quando necessário, investigar as várias formas de violência e suas consequências no ambiente escolar, identificar como a violência influência no desenvolvimento da criança e analisar a importância da participação da família na escola.

Temos como premissa na abordagem inicial desse trabalho discussões acerca do Bullyng. É também um termo utilizado para descrever atos de violência física ou psicológica, intencionais ou repetidos, praticados por um indivíduo (do inglês bullying, tiranete ou valentão) ou grupo de indivíduos com o objetivo de intimidar ou agredir outro indivíduo incapaz de se defender.

1.2 Abordagem metodológica

A produção de conhecimento sobre o tema da violência nas escolas e todas as suas manifestações adquiriu, desde 1980 até o presente, um grande espaço nas diversas instâncias universitárias e institucionais do Brasil, sendo a violência um tema que afeta a vida dos alunos e das pessoas envolvidas com a Escola. Na maioria das vezes quem pratica também já foi vítima e ver no ato de revidar uma forma de vingança.

Embora essa violência sempre tenha existido, mas em proporção menos e diante de tantas coisas que vem sendo noticiadas pela mídia e vista por nós mesmos nas escolas.

Utilizamos a abordagem qualitativa de cunho bibliográfico, tendo como pontos fundamentais aspectos históricos, sociais e educacionais da violência. Para tanto, serão consultados arquivos, livros, projetos, revistas, artigos científicos, internet. A intenção é fazer um levantamento das informações sobre o impacto danoso e as consequências que essa violência resulta não só na escola, mas na sociedade.

E a divisão do corpus desse trabalho será em quatro capítulos, tendo o primeiro apresentando a introdução, problemática e justificativa da pesquisa, o segundo é a metodologia, explicitando como foi elaborado a pesquisa e que tipo de metodologia utilizada, o terceiro são as análises e discussões de dados de tudo que foi discutido anteriormente e o quarto e último capítulo são as considerações finais. Cada capítulo é subdivido em tópicos destrinchando o tema principal.

Se tratando de pesquisa qualitativa, Lüdke e André (1986) afirmam que:

(...) o ambiente natural como sua fonte direta de dados sendo o pesquisador seu principal instrumento; os dados coletados são principalmente descritivos; há mais preocupação com o processo do que com o produto; o “significado” que os sujeitos dão às coisas e à sua vida são focos de atenção especial do pesquisador; a análise de dados tende a seguir um processo indutivo.

Ou seja, que essa abordagem trata de um método que possa expressar conhecimento através da relação sujeito-objeto.

Esse modelo de pesquisa se deu pela necessidade de revisar a literatura vigente acerca do tema, pois nesse tipo de abordagem buscam-se decifrar o que está implícito, nas entrelinhas e nas ideologias subjacentes, através do discurso.

Segundo Ribeiro (2008):

Pesquisar qualitativamente é, antes de qualquer outra definição, respeitar o ser humano em sua diversidade. É entender que há singularidade em cada uma das pessoas envolvidas e que essa singularidade é construída na pluralidade; nas múltiplas etnias, nas pluri-manifestações culturais, corporais, lingüísticas. É gostar de ser gente. (RIBEIRO, 2008, p. 40)

A partir da afirmação acima, entende-se que haverá em vários momentos posteriores, contradições e opiniões adversas entre os teóricos pesquisados, tendo em vista a diversidade de estudos feitos sobre um mesmo tema, resultando nessa diversidade. A interpretação não parte de teorias ou metodologias elaboradas previamente: essas são desenvolvidas ou incorporadas de forma reflexiva durante o processo da pesquisa.

Para Bohnasack & Nohl (2001):

As perspectivas do pesquisador sobre o como, sobre o modus operandi das práticas cotidianas que constituem a realidade social, dependem de suas possibilidades e de seus universos de comparação. O modus operandi a ser analisado ... ganhará contornos, ou seja, sua seletividade específica somente se tornará visível, se nós, enquanto intérpretes, dispusermos de universos de comparação alternativos (Bohnsack & Nohl, 2001, p. 31)

Neste sentido, Bohnsack & Nohl, afirmam que “a interpretação estará sempre vinculada às experiências cotidianas do (a) pesquisador(a), que, por sua vez, estão relacionadas aos seus vínculos sociais, geracionais e de gênero, à sua formação intelectual, entre outros” (p.31), ou seja, haverá de certa forma, uma empatia e sensibilidade por parte do pesquisador ao tema pesquisado, o que pode facilitar no processo de escrita e leitura do trabalho.

Também utilizamos pesquisa bibliográfica como meio investigativo. Para Manzo (1971):

(...) a bibliografia pertinente oferece meios para definir, resolver, não somente problemas já conhecidos, como também explorar novas áreas onde os problemas não se cristalizaram suficientemente e tem por objetivo permitir ao cientista o reforço paralelo na análise de suas pesquisas ou manipulação de suas informações. (MANZO, 1971, p.32)

Ainda utilizamos como base para apoiar e legitimar essa pesquisa, autores como Charlot (2002), Debarbieux (2002), Abramovay (2002), entre outros teóricos conceituados no campo desse tema tão recorrente em estudos acadêmicos.

2 TRAJETÓRIA METODOLÓGICA

A abordagem utilizada nesse trabalho é pesquisa bibliográfica, tendo em vista a necessidade de debater com teóricos, novos rumos acerca da violência acometida no ambiente escolar e para isso há a necessidade de uma consistência teórica mais ampla. O esforço empreendido neste trabalho, é trazer uma visão ampla sobre situações de violência nas escolas, pretende-se ajudar na reflexão e na busca de medidas estratégicas para a superação dessa violência e identificar pistas que possam contribuir com propostas para a compreensão e prevenção dessa violência. No entanto, devido a vasta amplitude do tema, houve conflitos no momento das leituras e interpretações de texto, em se tratar de muitos autores com pensamentos controversos.

2.1 Levantamentos de dados bibliográficos

Nessa pesquisa há um levantamento e coleta de dados bibliográficos sobre as motivações e consequências da violência na escola. Busca-se compreender e interpretar determinados comportamentos, opinião, expectativa, sentimentos, percepções, entre outros aspectos incutidos no material pesquisado.

Para se obter os resultados esperados conforme a abordagem qualitativa, que segundo Reis (2008, p.57) “tem como objetivo interpretar e dar significados aos fenômenos analisados”, é necessário entender qual o caminho para a tomada de decisão correta sobre a problemática e confrontar os pontos de vistas dos teóricos.

2.2 Critérios de inclusão e exclusão

Os critérios de inclusão a serem observados são relacionados ao idioma escolhido, não se tratando apenas de autores brasileiros, mas também de autores estrangeiros que têm publicações que merecem ser incluídas como citações diretas. Foram analisados em materiais diversos, cinquenta textos entre livros e artigos da internet, sobre a temática. Destes, foram selecionados apenas trinta para serem respectivamente utilizados, com suas fontes devidamente comprovada nas referências.

Como a violência na escola é um problema antigo e inesgotável para discorrer, utilizamos artigos do ano de 1971 a 2012, nos idiomas português e inglês, traduzido conforme as normas.

A coleta de dados se deu através da leitura e interpretação desses textos, analisando aspectos de relevância sobre o assunto, considerando a importância e contribuição que estes deram para combater essa violência. Foi enumerado em tópicos, de acordo com a classificação da OMS (Organização Mundial de Saúde), as motivações que levam a violência, tendo em vista essas motivações importantes para explicitar no trabalho.

Após o processo de escolha dos artigos definidos para as análises, no começo do mês de novembro de 2018 iniciou-se as leituras, grifos e resenhas para começar a escrita do trabalho propriamente dita, processo esse que finalizou no início de janeiro de 2019.

Vale salientar que “a abordagem, os resultados não são trazidos em números, unidades de medida ou categorias homogêneas de um problema” (REIS, 2008, p 57). Então, sendo assim, a sequência segue a apresentação das análises das pesquisas de maneira descritiva e interpretativa a partir das leituras.

3. ANÁLISES E DISCUSSÕES DOS DADOS

Nesse capítulo, iniciamos com um breve conceito e contextualização do que é violência, para situar melhor os panoramas que se seguem. Com toda a pluralidade de conceitos e de significados sobre o termo violência, torna-se difícil definir um conceito único para o referido termo.

3.1 Conceito e contextualização de violência

Falar sobre violência atualmente, é sem dúvida, algo cuja a dificuldade maior está em definir de forma complexa um termo que comtemple e busque compreender coisas muito diferentes.

Contudo, para Abramovay e Rua (2002, p. 30) afirmam que “apesar da complexidade do termo e da dificuldade de conceituação, existe um consenso básico. Todo ato de agressão - física, moral, institucional - que tenha como alvo a integridade do (s) indivíduo (s) ou grupo (s) é considerado ato de violência”.

Segundo Priotto; Boneti (2009):

São todos os atos ou ações de violência, comportamentos agressivos e antissociais, incluindo conflitos interpessoais, danos ao patrimônio, atos criminosos, marginalizações, discriminações, dentre outros praticados por, e entre a comunidade escolar (alunos, professores, funcionários, familiares e estranhos à escola) no ambiente escolar. (PRIOTTO; BONETI, 2009, p. 162)

Ou seja, a violência é uma construção social, resultado de um processo ou de um conjunto de interações entre sujeitos em determinados ambientes 6 externos, internos ou institucionais, compreendendo formas materiais ou rumores que circulam na sociedade. A questão da violência nas escolas hoje é uma temática que torna a aparecer, sendo exposta pela mídia e através dela por seus próprios agentes no ambiente escolar. No entanto, em uma época anterior, a violência na escola tinha diferentes faces: no tratamento dos professores com os seus alunos, ou nas ruins relações entre os próprios alunos nos estabelecimentos de ensino.

A violência está presente na nossa sociedade e se manifesta de muitas formas, algumas silenciadas e omissas, outras bem explícitas. De acordo com Minayo (1994, p. 7): “Não se conhece nenhuma sociedade onde a violência não tenha estado presente. ”. O termo violência possui origem no latim (violentia) significando força. Segundo o Dicionário Prático Michaelis de Língua Portuguesa, violência é “a ação ou efeito de violentar, empregar força física (contra alguém ou algo) ou intimidação moral contra (alguém), ato violento, crueldade, força”. (MICHAELIS, 2008, p. 916).

3.2 Contribuições da escola para o combate da violência

A escola pode contribuir decisivamente para o estabelecimento de práticas educativas saudáveis, que ensejam discussões, atitudes e a construção de posicionamentos que permitam que essas violências não sejam disseminadas, tais como violência simbólica, discriminações e preconceitos, violando a dignidade humana. A educação é um direito humano que também orienta o processo de disseminações de uma cultura dos direitos humanos para outras esferas sociais. Nesse sentido, está a centralidade de seus agentes na sociedade brasileira, ou seja, os educadores como protagonistas de uma transformação social.

Incorporar todas as crianças e adolescentes na escola e oferecer um ensino de elevada qualidade, comparada ao de países como Japão, Suécia e Dinamarca, é um desafio ainda utópico e uma realidade muito distante, tendo em vista o descaso com a educação por parte dos governantes e problemas internos como a corrupção latente, que surrupia bilhões de reais dos cofres públicos que poderiam ser investidos para essa finalidade.

O combate a essas práticas imorais revela que ainda há solução na educação brasileira. Através dela, pode-se haver também um combate mais eficaz da violência. Para Bernard Charlot (2006):

A violência é o nome que se dá a um ato, uma palavra, uma situação ou uma ação, intencional ou não, onde o ser humano é tratado como um objeto, isto é, onde são negados seus direitos, sua dignidade de ser humano, de membro da sociedade, de sujeito insubstituível. Assim definida, a violência é o contrário da educação, que ajuda a advir o ser humano, o membro de uma sociedade, ou sujeito singular. (CHARLOT, 2006, p.24)

A citação acima revela que a violência tem como principal fomento destruir a autoestima da vítima e reduzi-la a nada. Para compreender a violência que ocorre nas escolas, se torna fundamental colocar em análise o que tem sido reconhecido e nomeado como violência escolar.

Em alguns estudos, a violência escolar, foco dessa pesquisa, é caracterizada apenas como atos de violência física. Outros, no entanto, enfocam a violência verbal e as agressões, enquanto que ainda há aqueles que atentam para o comportamento de oposição às regras e atividades escolares, a depredação da escola, os furtos e os comportamentos antissociais (PAULA; SALLES, 2010).

Essas concepções parecem sugerir que a violência escolar tem relações com as condições estruturais da sociedade, e também se caracteriza por apresentar especificidades oriundas da própria instituição escolar, ou seja, uma violência de origem endógena (CHRISPINO; DUSI, 2008).

Em se tratando de um trabalho meramente bibliográfico, colocamos em contraponto as teorias de dois estudiosos que vão confirmar o que Abramovay e Rua (2002) afirmam. São eles, Charlot (2002) e Debarbieux (2002), autores de destaque, com conceituações relevantes para a área, principalmente no quesito violência escolar. Para o primeiro, a violência escolar é categorizada em três diferentes níveis: violência na escola, violência contra a escola e violência da escola. A violência na escola é aquela que se caracteriza por diversas manifestações que acontecem no cotidiano da escola. A violência contra a escola são atos de vandalismo, incêndios, roubos ou furtos do patrimônio.

Debarbieux (2002) considera que, para avaliar o que seja a violência escolar, é necessário considerar o contínuo entre o que for passível de punição penal (agressões sexuais, roubos, porte de armas, entre outros) e todo e qualquer ato de transgressão e incivilidade dentro do espaço escolar, como por exemplo, a violência verbal, o não cumprimento de regras, a falta de respeito aos professores e colegas, entre outros.

Para este autor, se for considerado violência escolar apenas o que for passível de punição penal, não será dado o reconhecimento necessário às vítimas de violências mais sutis e que se apresentam em maior número no espaço escolar, ou seja, quando houver apenas piadas e risadas que visam ironizar o colega, este deve ignorar a ação do indivíduo, pois acredita-se que com o tempo ele se cansará e não mexerá mais.

E a violência da escola consiste em todo tipo de práticas utilizadas pela instituição escolar que prejudicam seus membros como, por exemplo, o despreparo profissional, a falta de estímulos, o conteúdo alheio aos interesses dos alunos e do mercado de trabalho, os preconceitos e estereótipos, o abuso de poder, entre outros. A descrença na legitimidade dos conteúdos e diplomas escolares também tem sido apontada como fator desencadeante da violência (PAULA; SALLES, 2010). Assim como a violência institucional, caracterizada pela violência política dos sistemas sociais, sob tutela econômica do capitalismo e pelas regulações institucionalizadas das relações sociais (PAIN, 2010).

Sabemos que outros fatos violentos em escolas, diferentemente dos citados anteriormente, envolvem homicídios, estupros e armas, e que foram registrados em diferentes épocas e que hoje em dia são cada vez mais frequentes, aumentando a impressão que o medo prevalece e de que não há limites para nada e de que tudo pode acontecer daqui por diante no ambiente escolar, o que nos enche de temor e contribui para o sentimento de angústia que temos em face de realidade escolar atual e suas situações de violência em seus ambientes.

A manifestação da violência vem carregada da afirmação de poder sobre o outro e a conquista desse poder é o que gera as diversas formas de violência ou pelo menos é o fator motivador. As circunstâncias que envolvem manifestações violentas são consequências8 das práticas cotidianas de discriminação, preconceito, do abuso da autoridade e do poder presente no mundo adulto ou do despreparo para se criar mecanismos de controle de situações de conflito na vida em geral ou na gestão escolar.

O que acontece na escola, bem como os seus problemas relacionais são reflexo do meio social o qual estamos inseridos, com suas carências, seus conflitos e expectativas e especialmente do meio social básico e nuclear, a família. (MORGADINHO, 2007).

Tendo em vista que a violência está presente no meio social, ela infiltra-se nas relações familiares fazendo parte do seu cotidiano e consequentemente do cotidiano das crianças. Os alunos, muitas vezes, nada mais são do que o reflexo de suas duras realidades.

Crianças e adolescentes que vivenciam situações violentas em seu contexto social e familiar podem ter sua base educacional para a cultura e cidadania significativamente prejudicada por conviverem em um ambiente favorecedor com este tipo de comportamento hostil e criminoso, como podemos observar na citação abaixo:

Muitas das sementes da violência na escola começam em casa com a falta de autoridade e consequente falha de regras, a ausência ou esbatimento dos modelos de comportamento dos pais e também pelo abandono, abuso e frustrações de que são vítimas. A família é sempre parte da solução do problema da violência escolar. Na medida em que é um espaço de convivência respeitosa, de interiorização de regras e valores, de cooperação e valorização do trabalho, de equilíbrio afetivo, de autenticidade de relações, cultiva a responsabilidade em clima de justiça e correção positiva e cria atitudes fomentadoras de relações sadias que se transferem para o ambiente escolar. (MORGADINHO, 2007)

É comum ouvirmos de professores relatos de que os alunos de hoje já não são como os de anos atrás e frequentemente ouvimos queixas de dificuldades em se manter uma determinada ordem na sala de aula, de modo a permitir que as aprendizagens aconteçam em decorrência da baderna, do barulho e principalmente a falta de atenção.

E se para alguns professores, determinados comportamentos são considerados como um excesso de energia acumulada, para outros, são comportamentos indisciplinados que não se enquadram nas normas e regras inerentes à instituição tendo a família como responsável direto por esses comportamentos.

Segundo Minayo (1999), A família é uma organização social complexa, um microcosmo da sociedade, onde ao mesmo tempo se vivem as relações primárias e se constroem os processos identificatórios. É também um espaço em que se definem papéis sociais de gênero, cultura de classe e se reproduzem as bases de poder (p. 83).

Se os pais permitem ou reforçam abertamente a agressão, é possível que as crianças se comportem agressivamente em casa e, consequentemente, em outros lugares em que sintam ser a agressão naturalizada, esperada ou encorajada. A presença de um adulto omisso e irresponsável perante uma situação dessas favorece a expressão do comportamento agressivo.

Para Mizell (2003), desde que a família é considerada o primeiro agente de socialização, muitos especialistas têm apontado os estilos parentais junto com a violência e discórdia entre os pais como as principais causas de problemas de comportamento em crianças.

Ao se falar de comportamento e seus desencadeamentos agressivos, percebemos que a interação familiar, dependendo do nível de atenção dos pais para com os filhos, também gera mudanças de comportamento, daí nota-se a importância da boa convivência no seio familiar, no processo formativo da criança, como podemos observar na citação de Winnicott (1987):

Uma criança normal, se tem confiança no pai e na mãe, provoca constantes sobressaltos. No decorrer do tempo, procura exercer o seu poder desunião, de destruição, tenta amedrontar, cansar, desperdiçar, seduzir e apropriar-se das coisas. Tudo o que leva as pessoas aos tribunais (ou aos hospícios, tanto importa para o caso) tem o seu equivalente normal na infância, na relação entre a criança e o seu próprio lar. Se o lar pode suportar com êxito tudo o que a criança fizer para desuni-lo, ela acaba por acalmar-se através de brincadeiras. (p.256/257).

Na contemporaneidade, a infância passa a ter espaço no qual a criança não pode ser mais "criança" e vive uma eterna adolescência. É como se os pais e a sociedade em geral, estivessem imputando obrigações e valores muito cedo e, com isso, estariam vivenciando uma diluição da infância como um espaço social que foi adquirido ao longo de alguns séculos e regredindo para preceitos sobre o que é ser criança.

Em décadas anteriores a criança (como nas sociedades primitivas), após breves rituais de iniciação se tornava um adulto. Hoje, a adolescência se alonga cada vez mais, e a infância se encurta, como se o período de latência sombreasse a infância e como se essa fase estivesse ligada à estatura dos indivíduos.

Ao retratar essa precocidade permissiva de fases da vida, muitas vezes, pulando equivocadamente cada uma, temos nitidamente focos de onde podem surgir situações de violências, tendo em vista que a adolescência é considerada para muitos pais uma fase de muitos aborrecimentos, estresse e decepções de todas as naturezas. Para os filhos, é uma fase de descobertas, de ruptura de limites, de provação de suas potencialidades, o que muitas vezes os levam a caminhos obscuros e tortuosos.

Costa (1986), afirma que:

...a violência "é o emprego desejado da agressividade”, com fins destrutivos e principalmente percebida por quem observa o ato de agressividade, assim como por quem recebe essa agressividade como havendo uma intencionalidade em praticar essa agressão, transformando-a numa "ação” violenta. Quando a ação agressiva é pura expressão do instinto ou quando não exprime um desejo de destruição, não é traduzida nem pelo sujeito, nem pelo agente, nem pelo observador como uma ação violenta (p.30).

Muito comumente houve-se falar em casos de adolescentes que destratam familiares, principalmente as mães ou pais, avós e tios, às vezes, chegando até o ponto de agredi-los, mas que acabam se arrependendo da ação impensada.

3.3 Manifestações da violência no contexto escolar

No contexto escolar, a violência dos estudantes se manifesta por meio de situações como: vandalismo, pichações em muros, paredes ou móveis da escola, xingamentos contra colegas ou professores, agressões físicas e morais, comportamento indisciplinar no recreio e roubos no ambiente escolar. Aqui, destacamos que atos de vandalismo estão diretamente ligados a má criação e a conduta pessoal de cada indivíduo, colocando a família como epicentro da culpa no processo de formação do caráter e da cidadania da criança. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), há vários tipos de diferentes motivações para a violência, que são elas:

• Violência física: uso da força para produzir lesões, traumas, feridas, dores ou incapacidades;

• Violência psicológica: agressões verbais ou gestuais com o objetivo de aterrorizar, rejeitar, humilhar, restringir a liberdade ou isolar a pessoa do convívio e interação social;

• Violência sexual: ato ou jogo sexual que ocorre nas relações hétero ou homossexuais e visa estimular a vítima a utilizá-la para obter excitação sexual ou práticas sexuais permissivas, sem segurança, impostas a base da agressão e degradação da pessoa, muitas vezes através do aliciamento, violência física e ameaça;

• Negligência ou abandono: ausência, recusa ou deserção da atenção necessária a pessoas consideradas incapazes (crianças, idosos ou pessoas com deficiência) e que merecem receber cuidados e atenção redobrada.

Obviamente que essa classificação da natureza da violência, assim como qualquer outra, é falha e não traduz a complexidade e veracidade do tema, tendo em vista tantas outras facetas. Todavia, é útil e fornece uma estrutura básica para se compreender os campos das violências que flagelam nosso país diariamente, bem como o cotidiano das pessoas, das famílias e comunidades.

Além das opiniões dos teóricos apresentados acima, ainda apresentamos dados da educação pública feitos pelo IBGE e INEP. Muitos estudos apontam a relação entre o processo de trabalho docente, as reais condições sob as quais tal trabalho se desenvolve e o possível adoecimento físico e mental dos professores. Portanto, é necessário conhecer profundamente o cotidiano e as condições de trabalho existentes, despontando uma dinâmica sobre infraestrutura dessas escolas, salários pagos aos docentes, clientela atendida e acompanhamento familiar. Nessa perspectiva, é possível verificar algumas falhas na educação que levam ao cometimento da violência. Por exemplo, professores desestimulados com o salário e a infraestrutura da escola, que não dão uma boa aula e não sabem como lidar com a pluralidade do alunado.

Esses profissionais são responsáveis por 53 milhões de crianças e adolescentes matriculados no Ensino Básico no Brasil, dos quais 88% estão no ensino público (MEC, Inep, 2008). Embora os indicadores educacionais ascendentes, ainda nos deparamos com muitos problemas na Educação Básica Brasileira: em média 7,3 anos de estudo na faixa de 15 a 17 anos. 10% de analfabetismo (14,2 milhões de brasileiros acima de 15 anos sem saber ler e escrever e 429 mil crianças e adolescentes entre 10 e 14 anos analfabetas, que não conseguem redigir um simples bilhete. (2,8% dessa faixa etária). (IBGE, 2009).

A partir desses dados oficiais, podemos perceber que a grande taxa de analfabetismo gera futuros adultos desinformados e mais propensos a ignorância, o que leva ao cometimento da violência não só na escola, mas em outros ambientes e a evasão escolar reforça os estigmas herdados para os que não tiveram as mesmas oportunidades de se manterem na escola.

Como sugestão para o incisivo combate as violências cometidas no âmbito escolar, é interessante a criação de plataformas de denúncia e um Plano de Combate à Violência Escolar, que será como uma cartilha, uma ferramenta que dará suporte as escolas no planejamento preventivo de suas ações de segurança e aplicações de medidas socioeducativas no interior do ambiente escolar, com o auxílio de todos os profissionais da educação e poder público: (MEC, Secretarias Municipais e Estaduais de Educação, Conselho Tutelar, Juizado da Infância e da Juventude, Ministério Público e Polícia)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É nítido que a violência escolar, seja ela dentro ou fora da sala de aula, atrapalha e muito o desenvolvimento da aprendizagem, e na escola pública, foco desse trabalho, há um fator relevante: o da exclusão social. O dinamismo das relações sociais que envolvem questões históricos culturais levam professores a promover a exclusão social, ao se aliarem ao processo de empobrecimento e desvalorização social da própria classe do magistério, provocando depressão nesses profissionais.

Percebe-se que a violência na escola tem diversas causas e se desenvolve de muitas maneiras. As principais causas de violência tem sido, entre outras ou principalmente, a desagregação familiar; a violência que o aluno experiência em casa; a baixa autoestima; a falta de diálogo na família e na escola.

As principais definições utilizadas no trabalho mostraram uma pluralidade de violências encontradas no cotidiano das escolas, que não são obrigatoriamente penalizadas, levando em conta as opiniões de diversos teóricos da área da educação, que deixaram claro que tanto os tipos de violência como suas causas são provenientes principalmente da falta de estrutura familiar, de diálogos e de limites o que fragiliza a formação de valores.

Espera-se que outras pessoas se sintam motivadas a dar continuidade a essa pesquisa, tendo em vista um campo tão vasto e complexo, com fontes inesgotáveis e subtemas pouco explorados.

Para o sucesso de tal empreitada é necessário que os educadores sejam os principais parceiros desse processo e que estejam devidamente preparados para realizar um trabalho sistemático de prevenção da violência e que acima de tudo sejam pessoas sensíveis, pois estamos lidando com seres humanos passiveis de erros e falhas e que podem se ressocializar. Se enfrentar pessoalmente o problema, se o professor utilizar de recursos como o diálogo, procurar o apoio dos gestores da escola e trabalhar a violência como um tema complementar, realizar mais projetos de prevenção de combate à violência através de palestras, dissertação, trabalhos em grupos e principalmente, dinâmicas.

REFERÊNCIAS

ABRAMOVAY, Miriam. VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS. BRASÍLIA: UNESCO, 2002.

ABRAMOVAY, Miriam. Cotidiano das escolas: entre violências, Brasília: UNESCO, Observatório de Violência, Ministério da Educação, 2005. 404 p.

____________, Miriam; RUA, Maria das Graças. Violências nas escolas. 2. ed. Brasília-DF: UNESCO, 2002.

____________, Violências nas escolas: versão resumida. Brasília: UNESCO, 2003. Disponível em: Acesso em: 10 nov. 2018.

BONETI, Lindomar Wessler; PRIOTTO, Elis Palma. Violência Escolar: na escola, da escola e contra a escola. Revista Diálogo Educacional, v. 9, n. 26, p. 161-179, Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba, 2009.

BOHNSACK, Ralf & NOHL, Arnd-Michael. Ethnisierung und Differenzerfahrung. Fremdheit als alltägliches und als methodologisches Problem. Zeitschrift für qualitative Bildungs-, Beratungs- und Sozialforschung, n. 1, p. 15-36. 2001b.

CHARLOT, Bernard. A violência na escola: como os sociólogos franceses abordam essa questão. Sociologias, Porto Alegre v. 4, n. 8, p. 432-443, 2002.

CHARLOT, B. Prefácio. In. ABROMOVAY, M. et al. Cotidiano das Escolas: entre violências. Brasília. Unesco. Observatório de Violências nas Escolas, MEC, 2006.

CHRISPINO, Alvaro; DUSI, Miriam Lucia. Uma proposta de modelagem de política pública para a redução da violência escolar e promoção da Cultura da Paz. Ensaio: Avaliação em Políticas públicas e Educação, Rio de Janeiro, v. 16, n. 61, p. 597-624, 2008.

COSTA, J. F. (1986). Violência e psicanálise. Rio de Janeiro: Graal.

DEBARBIEUX, Éric. Violência nas escolas: divergências sobre palavras e um desafio político. In: DEBERBIEUX, Éric; BLAYA, Catherine (Org.). Violência nas escolas e políticas públicas. Brasília, DF: Unesco, 2002. p. 57-87.

DE PAULA, Joyce Mary Adam; SALLES, Leila Maria Ferreira. A violência na escola: abordagens teóricas e propostas de prevenção. Educar em Revista, Curitiba, n. especial 2, p. 217-232, 2010.

FUNDAÇÃO INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Pesquisa Nacional de Domicílios (Pnad), 2008, Rio de Janeiro, IBGE, 2009.

LÜDKE, Menga; ANDRÉ, Marli Elisa. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: E.P.U., 1986.

MANZO, A. J., Manual para la preparación de monografías: una guia para presentar informes y tesis. Buenos Aires: Humanitas, 1971.

MICHAELIS, Dicionário Prático de Língua Portuguesa. São Paulo: Melhoramentos, 2008.

MINAYO, M. C. S. Social Violence from a Public Health Perspective. Cad. Saúde Públ. Rio de Janeiro, 10 (supplement 1): 07-18, 1994.

MINAYO M. C. de S et al. (org.). Fala, galera: juventude, violência e cidadania na cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Garamond, 1999.

MINISTÉRIO DE EDUCAÇÃO/INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA (MEC/INEP) Avaliação de Cursos na Educação Superior: a função e a mecânica do Concerto Preliminar de Curso. Brasília: MEC, Inep, 2009.

MIZELL, A. C. Bullying: the consequences of interparental discord and child’s self-concept. In: Family Process, 42(2), 2003.

MORGADINHO, Otávio Gil. A família e a violência na escola, 2007. Disponível em:http://ojornaldafamilia.blogspot.com.br/2007/06/famlia-e-violncia-na-escola.html. Acesso em: 20 de nov. 2018.

PAIN, Jacques. Os desafios da escola em face da violência e da globalização: submeter-se ou resistir. In: SILVA, Joyce Mary Adam; SALLES, Leila Maria Ferreira. Jovens, violência e escola: um desafio contemporâneo, São Paulo: Cultura Acadêmica, 2010. p. 7-26.

REIS, Linda G. Produção de monografia - da teoria à prática: o método educar pela pesquisa. 2008.

RIBEIRO, Elisa. A perspectiva da entrevista na investigação qualitativa. In: Evidência, olhares e pesquisas em saberes educacionais. Número 4, maio de 2008. Araxá. Centro Universitário do Planalto de Araxá.

SOUZA, E. L. A (s/d) A eloqüência da agressividade e o silêncio da violência (cópia mimeo).

WINNICOTT, D. W. (1987). Crianças sob estresse: experiência em tempo de guerra. In D. W. Winnicott, Privação e delinqüência. São Paulo: Martins Fontes.