A EDUCAÇÃO FORMAL COMO FONTE DE VALORES DA SOCIEDADE.

A crescente onda de violência que assola o Brasil tem arrastado pessoas esclarecidas ao discurso fácil da educação salvadora, como se o ensino formal, por si só, pudesse livrar a juventude da influencia nefasta do “vale tudo” estabelecido na sociedade em que proliferam triunfantes maus exemplos.

Simplificar as soluções equivale a subestimar o problema. Os defensores do atalho educacional não conhecem a natureza da violência e muito menos as possibilidades de transformação do processo educacional como replicador das praticas sociais.

Ao contrário do que imaginam, os costumes da sociedade é que influenciam os parâmetros curriculares e, como se sabe, a sociedade capitaneada pela televisão, está empenhada em valorizar a violência e o desrespeito às normas de boa conduta. Os novos valores vão, subliminarmente, sendo introjetados na consciência coletiva pela convivência extracurricular. A escola, apenas, legitima tais práticas na perspectiva cultural de cada momento.

Quando o problema é a violência urbana, cada época tem suas causas e antídotos. À semelhança do vírus nocivo que adquire resistência pelo uso repetitivo e incorreto dos antibióticos, os crimes que assustam a sociedade contemporânea, também, são recidivos de uma delinquência familiar mal curada.

A educação foi a mola propulsora de muitos povos pelo mundo, como se comprova pelos exemplos dos “tigres asiáticos”. Contudo, havia, como há na cultura daqueles povos valores morais intrínsecos e potencialmente fortes, em estado latente, bloqueados por culturas alienígenas, mas não suficientemente fortes para apagarem com os elos seculares daquela sociedade. Bastou um simples polimento na consciência nacionalista, retirando dela a poeira acumulada pelo modernismo alienigenas, para que as tradições voltassem com com a força revolucionária de vários séculos de cultura.

Não foi, portanto, a educação formal em si, direta, que revolucionou aqueles povos. Ao contrário, o retorno aos valores originais de sua cultura e o respaldo de uma tradição gloriosa é que exerceram influências nas práticas pedagógicas que criaram a educação revolucionária.

Valores é o que falta ao povo brasileiro. A conduta virtuosa que se espera capaz de formar uma sociedade íntegra tem de ser cultuada por alguma ala da sociedade. Mas qual?

As virtudes têm de ser colocadas em prática para que surjam seguidores. É preciso primeiro encontrar a fonte de pensamento e de convicção íntegra para criar a matriz do bom modelo.

Onde encontrá-la na sociedade brasileira, se quase todas as instituições nacionais estão contaminadas pela corrupção? Como extrair bom exemplo de lideranças ou de autoridades que vivem mergulhadas no ilícito ou se tornam cúmplices dos criminosos por omissão?

São raros neste país, os exemplos que servem de modelo para o que se imagina ser uma sociedade ideal. O povo patina há década entre a alienação e a manipulação, restando pouquíssimas opções para uma moralidade ativa, isenta, com credibilidades para liderar as transformações que se fazem necessárias.

Ética e moralidade são valores construídos, principalmente, na intimidade de um lar estruturado. A família é, foi e sempre será fonte de bons cidadãos. Indivíduos forjados em um ambiente respeitoso e digno, certamente, irão construir uma sociedade sadia. O inverso também é verdadeiro.

Os valores necessários à revolução que se pretende na sociedade brasileira, somente estarão disponíveis após uma longa, trabalhosa e complexa modificação na estrutura psicológica de cada indivíduo, como também, no sistema de compensação/punição vigente. Esse processo terá que ser iniciado já, para proveito das futuras gerações.

A romântica crença na educação salvadora poderá recrudescer a violência. Será preciso simultaneamente evitar que as famílias deixem de produzir irresponsáveis em série e que o Estado esteja disposto a punir com severidade os infratores, mas sem denegrir a dignidade do cidadão.

Bandidos educados mudam de status, conquistam mais proteção e simpatia, refinando a crueldade de suas práticas malignas. Não será por acaso que os crimes hediondos que se têm notícia no país, quase sempre, estão respaldados por um legítimo diploma universitário.

É inegável que se vive no Brasil uma crise de valores. Todas as formas de corrupção, espertezas e de malandragens são aqui premiados a ponto de aquele que se comporta com decência, de maneira digna e honesta ser considerado um idiota ou caso perdido.

Nesse contexto não é fácil tirar a violência da Escola. É na cabeça das pessoas, sob a forma de cultura popular, que o crime resiste.

A sociedade – aí incluída as salas de aula e os pátios escolares – são, apenas, palcos onde se exibem o espetáculo deprimente arquitetado no seio das famílias. É ali, na escola, onde convivem os variados grupos sociais, que se tornam mais evidentes as mazelas da realidade psicológica das pessoas.

A sociedade é violenta porque cada indivíduo é violento. A prática do desrespeito, da corrupção e da negligência não poderia criar nada diferente.

A escola espelha os valores de sua época, reproduzindo o sentimento coletivo. A educação sozinha poderá, no máximo, infeccionar as feridas da sociedade pelo atrito entre o real e o ideal, ampliando os danos.

Será preciso encontrar um ponto seguro para se intervir nessa sucessão de equívocos que seja capaz de inverter a tendência de as pessoas preferirem o ilícito.

A partir desse ponto aqueles que ousarem desafiar as regras vigentes no mundo dos justos, deverão ser submetidos, compulsoriamente, ao exílio no submundo dos injustos.

Enquanto nada disso acontecer o melhor que os honestos têm a fazer é desenvolver uma intolerância radical aos maus costumes, naquilo que tiverem ao seu alcance.

Afinal, pior que não poder contar com as virtudes alheias é ver a boa fé do justo, maliciosamente manipulada pela esperteza dos desonestos.

AZEDO DA SILVA
Enviado por AZEDO DA SILVA em 11/02/2019
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