PÃO E CIRCO ?
O ser humano é a estrela principal de tudo o que acontece e quase tudo o que a ele se refere é objeto de manchetes nos meios de comunicação. Depois da transmissão oral ou da edição escrita dos fatos - chega a vez das ciências de querer também, retirados os excessos passionais e emocionais, configurar os fatos em conhecimento científico.
Esta última etapa racional e lógica pouco ou quase nada interessa a nós outros mortais, atentos e preocupados com coisas tangíveis. O pão nosso de cada dia passa a ser a força propulsora que move os nossos desejos de sobrevivência. No labor diário, os sonhos particulares de ascensão econômica vão senddo adiados, senão esquecidos.
Fica, entretanto, na caminhada humana, a grande dúvida existêncial - onde está a felicidade? Na riqueza, no fausto da realeza, na glória dos feitos humanos, na beleza física que encanta e seduz, provocando paixões, no depojamento dos santos e dos mártires ou na caminhada silenciosa e anônima do povo?
Ouvi, criança ainda, alguém dizer que a felicidade estaria na descoberta sistemática e desinteressada, curiosa e apaixonada do mundo e das coisas. Ou na concepção de Walter Gropius: "Amar e criar a beleza são as condições elementares da felicidade". A interrogação nasceu com o homem. Filosofias, religiões, crendices e tudo o mais que se atreva a desvendar os seus mistérios e indicar caminhos nascem a cada dia.
Indigentes de felicidade, a preferência humana parece optar pelo grotesto, raramente pelo sublime. Temos avidez pelo drama alheio e secreto, talvez quem sabe como mecanismo psicológico de defesa no palco da vida. As grandes vendagens de jornais, revistas e livros, têm quase sempre no seu enredo biografias humanas. Consomen-se mais o escandâlo do que qualquer coisa.
Do carnaveleco Joãozinho Trinta tem-se a afirmação de que "o povo gosta de luxo", Tanto faz se é o luxo da mulher que samba ao lado do presidente sem a sua principal "lingerie ou se o do princípe inglês que, ao telefone à sua amada-amante, confidencia a vontade de ser um simples absorvente. Os Tribunais do Juri lotam os seus assentos quando o crime passional envolve riqueza e luxúria. A canção de Chico Buarque "construção", além de bela composição, deixa na contramão do já caótico trânsito urbano não mais que a simples falência dos sonhos.
Tricas e futricas parecem ser, aqui e em qualquer lugar, entretenimento para uns e profissão para outros. Ainda assim, aplauda-se o homem onde quer que ele esteja - no trono, ao lado da amada, na cruz, nos campos de batalha, fazendo o que for.
Roberto Gonçalves
Escritor
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