Você não pode proteger seus filhos para sempre
O mundo realmente está perigoso e qualquer pai ou mãe que ame seus filhos não quer que eles sofram com as maldades do mundo. Porém, é necessário que os pais tenham consciência de que não podem proteger os filhos para sempre. A superproteção, longe de guardar nossos filhos dos perigos do mundo, vai gerar seres despreparados para a já árdua missão de traçar seu caminho e cuidar de si mesmos. Dizer que tem medo de se soltar os filhos no mundo por causa da maldade é justificável, mas antiprático e ineficiente no sentido de fazer com que os filhos possam se cuidar quando os pais não estiverem mais neste mundo ou, no mínimo, estiverem inválidos e incapacitados de prover suas necessidades.
Aliás, de qualquer forma os filhos terão de se deparar com a maldade existente no mundo. Basta assistirem à televisão ou acessarem a Internet que eles verão vídeos e/ou notícias sobre guerras, assassinatos e todos os tipos de atrocidades. Um bom exemplo de como superproteger os filhos não os isolará das maldades é o livro Marcas de nascença, de Nancy Huston, que começa nos tempos atuais, durante a Guerra do Iraque. Neste livro, Solomon, menino de seis anos, é criado por uma mãe superprotetora que o mima e faz todas suas vontades. Ela é tão obcecada com proteção que adaptou a casa toda para que o filho não se machuque. Porém, mesmo sendo tão presente, ela ignora que o filho tem como hobby acessar a Internet para ver vídeos de zoofilia e de corpos mutilados de soldados da guerra do Iraque. Na vida real, quantos pais não ignoram que seus filhos veem pornografia no Youtube?
Assim como as crianças tomam consciência da maldade do mundo apenas pela televisão ou Internet, eles verão a maldade na escola, presenciando ou sofrendo bullying; ou até dentro de casa. Muitas crianças são abusadas, negligenciadas e maltratadas pelos próprios pais. Várias mães sabem que seus filhos e filhas são abusadas pelos pais e padrastos e se omitem. Que podemos concluir? Nenhum lugar do mundo está seguro. A gente não pode criar os filhos sob uma redoma. E, como todo mundo, eles querem conhecer o mundo e viver suas próprias experiências. A superproteção, em certos casos, é até uma forma de egoísmo.
Mesmo que saibamos que o mundo é difícil e perigoso, não podemos usar isso como desculpa para prender nossos filhos. Isso é privá-los do direito de ter suas vidas e experimentar o mundo. Assim como pesquisas têm mostrado que o excesso de higiene e limpeza tem tornado os organismos mais susceptíveis a doenças, a superproteção(que é uma jaula invisível) gerará seres fracos e medrosos, com pouca confiança na sua capacidade de tomar decisões e enfrentar os perigos do mundo. Se você prender demais seus filhos com a desculpa de que age assim por medo e amor, você, além de o estar deixando despreparado para o mundo, está privando-o de viver momentos únicos e enriquecedores. Muitas mães não deixaram os filhos aprender a andar de bicicleta porque tinham medo deles se machucarem. E como teria sido se eles tivessem aprendido? Com certeza, após aprenderem, eles esqueceriam os tombos, pensando apenas na sensação de vitória e de superação das dificuldades. Não podemos nos privar de experiências por causa de dificuldades ou porque levaremos alguns tombos ou nos frustraremos. Isso nos impedirá de adquirir experiência, sabedoria e de viver momentos que ficarão na nossa memória.
Alguns pais, talvez porque não querem que os filhos os "abandonem", ficam a assombrá-los com a ideia de que "tal pessoa não é boa para você" ou "nenhum homem presta". Não é preciso fazer muito esforço de raciocínio para ver o quanto esses argumentos são ridículos. Se uma mãe fica dizendo à filha que nenhum homem presta ou que os casamentos logo terminam em divórcio, ela não está sendo uma mãe preocupada e amorosa, está sendo egoísta. Mesmo que haja uma grande probabilidade de que a filha venha a se frustrar e se decepcionar ao casar, optando por se divorciar no final, a mãe não pode privá-la de andar com suas pernas. Ninguém tem bola de cristal para dizer se tal experiência dará ou não certo e a filha precisa viver sua vida para saber o que lhe serve ou não. Os pais precisam se conscientizar de que os filhos não poderão contar sempre com eles. Se você sempre superproteger seu filho, o que será dele se, de repente, se vir sozinho? Procure entender isso. E ele não é uma extensão sua. Tem seus sonhos, sentimentos e maneira de ver o mundo. Você também não é Deus para querer decidir a vida dele. Isso é mutilar seu espírito. Querer decidir a vida de um filho com o argumento de que "isso é o melhor para você" não é um ato de amor, mas de desrespeito, egoísmo e violência. Só gerará filhos frustrados e infelizes. E como um filho adulto se sentirá ao pensar que os pais acham que precisam lhe dizer o que lhe serve? Ele só pensará que o veem como um incapaz.
Essa superproteção tem gerado um fenômeno cada vez mais comum: o dos adultoscentes. Muitos adultos com bem mais de vinte(ou trinta anos), mesmo trabalhando e podendo viver sozinhos, preferem viver na casa dos pais. São vários os que têm um ponto de vista infantil e nunca lavaram um prato ou dobraram um lençol em casa. Ao se verem privados da companhia dos pais, eles irão sofrer muito, pois não deixaram o ninho. Qualquer dependência excessiva, até a emocional, é prejudicial.