Um diagnóstico da educação no Brasil hoje

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Não há quem discorde que a educação é fundamental para o desenvolvimento social, profissional e pessoal de qualquer indivíduo. Mas embora essa concepção seja muito positiva, nem sempre o discurso casa com a prática como prova o cenário da educação no Brasil hoje.

Os atuais e futuros governantes estão diante um problema de proporções enormes e a cobrança popular por melhorias é crescente. Mas quais os reais motivos dessas constatações? O que foi e o que está sendo feito a respeito? E o que esperar do futuro da educação no Brasil com o governo Jair Bolsonaro?

Tentarei responder todas essas perguntas neste artigo me basendo em diferentes dados, artigos e matérias jornalísticas. Espero que as informações levantadas a seguir sejam muito úteis para sua pesquisa, trabalho ou reflexão. Boa leitura!


O retrato da educação no Brasil hoje

Longe de uma opinião pessoal, os mais recentes levantamentos realizados por diferentes entidades deixam claro como o problema da educação no Brasil é delicado:

Três em cada 10 brasileiros são analfabetos funcionais

Segundo estudo realizado pelo Ibope Inteligência e promovido pela ONG Ação Educativa e pelo Instituto Paulo Montenegro, três em cada 10 brasileiros jovens e adultos com idades entre 15 e 64 anos são considerados analfabetos funcionais.

Isso representa cerca de 38 milhões de pessoas, 29% do total de habitantes do país. O analfabetismo funcional pode ser definido como a incapacidade (ou dificuldade acentuada) de ler e interpretar textos ou fazer operações matemáticas básicas. Uma condição capaz de tornar situações corriqueiras, como calcular pequenas compras no supermercado ou ler uma pequeno texto, uma tarefa exaustiva e complexa.

Entre os quase um terço dos brasileiros com baixa proficiência em leitura e escrita, existem ainda 8% considerados analfabetos absolutos, estes incapazes de ler palavras ou frases. E o problema está longe de acabar aqui.

38% dos universitários brasileiros são analfabetos funcionais

Se você acha que os embaraços da educação no Brasil se restringem ao ensino básico, está muito enganado. Segundo dados do Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf) divulgados também pela ONG Ação Educativa e pelo Instituto Paulo Montenegro, 38% dos universitários brasileiros não dominam as habilidades básicas de leitura e escrita plenamente.

O indicador classifica os avaliados em quatro níveis diferentes de alfabetização: plena, básica, rudimentar e analfabetismo. Os universitários avaliados que não conseguiram atingir o nível pleno (classificados nos níveis básico e rudimentar) são considerados analfabetos funcionais.

As informações botam em cheque a qualidade do ensino superior no país e também reforçam que o investimento nas universidades não é capaz de gerar bons resultados enquanto a educação básica é negligenciada, sobretudo no interior do país.

Testes de ortografia e redação são os que mais reprovam candidatos

De acordo com o Núcleo Brasileiro de Estágios (Nube), os testes ortográficos e redações são as categorias avaliativas que mais reprovam candidatos em vagas de emprego e estágio. E só para reforçar, foram registradas 309.157 redações com nota zero no Enem 2017 e apenas 53 pessoas tiraram nota máxima em um total de 7,6 milhões de inscritos.

Alguns especialistas, entretanto, atribuíram o baixo desempenho do Enem 2017 ao tema específico da redação (Formação Educacional de Surdos), porém os números não diferem muito das edições anteriores do exame. O número de redações zeradas no Enem 2016 foi apenas 5,95% menor do que o registrado no ano seguinte. E as más notícias ainda não acabaram.

Na análise do Pisa, Programa Internacional de Avaliação de Alunos, o Brasil ficou na posição 59 no quesito leitura e interpretação de textos entre os 70 países avaliados (dados de 2016). Enfim, como constatado, a bandeira vermelha da educação já está erguida no país há muito tempo, mas as respostas governamentais para tantos fatos ainda são modestas.


O que está sendo feito para mudar esse quadro

Nunca se escreveu tanto, tão errado e se interpretou tão mal – Esse é o título da reportagem de Otávio Pinheiro (historiador e cientista político) para a Folha de S.Paulo que me motivou a escrever este artigo.

Otávio é CEO da Redação Online, startup catarinense que ajuda jovens de todo o país a melhorarem seus resultados em redações como as do Enem. A edutech, como são chamadas as empresas que utilizam recursos tecnológicos a serviço da aprendizagem, já conta com uma rede de 600 revisores em todo o país e foi uma das vencedoras do programa InovAtiva Brasil.

Iniciativas independentes

Iniciativas criativas e inteligentes como a Redação Online estão aumentando em todo o país revelando uma nova postura dos brasileiros, principalmente entre os jovens, de propor e aplicar soluções para a sociedade de maneira independente. Em outras palavras: tentar resolver (ou, pelo menos, minimizar) os problemas do país com as próprias mãos.

Os empreendimentos são importantes, mas é claro que uma situação dessa magnitude não pode ser revertida apenas com esforços particulares. É obrigação e prioridade do estado prover e manter uma educação de qualidade para toda a população.

Ampliação do acesso ao ensino superior

O acesso a educação superior foi ampliado nos últimos governos do Brasil, assim como um considerável aporte de recursos permitiu a expansão de universidades públicas, criação de novos cursos superiores, disponibilização de um maior número de bolsas em faculdades privadas e facilidade de acesso a programas de financiamento estudantil.

Nos últimos anos, entretanto, a turbulenta situação econômica do país pôs freio a boa parte dessas iniciativas. E se, por um lado, observou-se um avanço considerável na infraestrutura e acesso às instituições federais, a educação básica não parece ter sido muito favorecida e sofre ainda mais impactos no atual clima de “vacas magras” da educação no Brasil.

Reserva de vagas, mas pouca atenção ao ensino básico

O modesto apoio às escolas públicas fica mais claro diante da desigualdade do desempenho dos alunos em relação aos jovens de colégios particulares. Embora o Enem e o SISU (Sistema de Seleção Unificada) tenham unificado o caminho para o ensino superior, os alunos com melhor desempenho ainda são aqueles de classes mais altas que tiveram acesso a escolas e cursinhos privados.

O SISU reserva metade das vagas para alunos de escolas públicas, mas mesmo que o estudo em si seja gratuito, muitos desses jovens não dispõem de condições mínimas para se manter em outras cidades o que, somado ao esperado despreparo, pode implicar em maior tempo de conclusão do curso e maiores chances de abandono.

Reforma severa no ensino médio

Mais recentemente, o Ministério da Educação, sob chefia de Michel de Temer, impôs mudanças muito severas no ensino básico. Entre elas, a alteração e ampliação da Base Nacional Comum Curricular do ensino médio (conteúdo obrigatório definido para alunos de escolas públicas e particulares).

A proposta, por sua vez, foi alvo de uma série de críticas, sobretudo por não apresentar detalhes sobre os conteúdos das áreas de ciências humanas e ciências da natureza, e também sobre as chamadas “linhas de aprofundamento”, as competências que os alunos poderão optar por estudar ou não. Essa falta de “clareza” da proposta acabou exigindo alterações no texto original, no qual os conteúdos previstos devem ser ampliados.


O que esperar dos próximos anos

49 milhões de estudantes, baixos índices de aprendizagem, 2,7 milhões de jovens fora da escola e apenas 30% das crianças de 0 a 3 anos com vaga em creches. Este é o cenário da educação no Brasil que o presidente eleito está prestes a enfrentar.

Em meio as polêmicas sobre as operações nas universidades e o debates sobre o projeto Escola sem Partido, o que se sabe é que Bolsonaro já se declarou contrário à política de cotas, uma lei que já tem revisão prevista para 2022.

Revisão dos investimentos no ensino superior

Outro ponto importante são as discussões sobre o peso orçamentário das universidades públicas brasileiras, um debate que foi reaquecido com as declarações do futuro líder da economia, Paulo Guedes, que se diz a favor da cobrança de mensalidade nas instituições.

Vale ressaltar que essas mudanças dependem de alterações na Constituição e apoio da maioria do Congresso.

Maior foco no ensino básico

O trecho em que especialistas e a futura liderança do Executivo conversam está no contraste entre os recursos disponibilizados para o ensino superior (1,2% do PIB) que somam quase o dobro do que é consumido pela educação infatil (0,7%).

Ainda não há muitos detalhes sobre o plano final do governo Bolsonaro, mas a ideia, segundo suas propostas de campanha, é transferir recursos das universidades para o ensino infantil, fundamental e médio.

Combate a ideologias, vouchers e ensino a distância

A inversão orçamentária deverá ser somada aos esforços para a criação de uma escola de cunho mais "conservador" com a qual pretendem atacar a suposta "doutrinação de esquerda" praticada por professores e proibir debates de gênero dentro de sala de aula. Essa é uma das mais criticadas propostas de Bolsonaro, mas ainda assim deve ser posta em discussão no Congresso.

Polêmicas à parte, o futuro governo também prevê a criação de vouchers (uma espécie de bolsa) para alunos em colégios privados (dentro de um programa semelhante ao atual Prouni em Universidades Particulares) e a adoção de uma metodologia de ensino mista que mescle educação a distância com presencial.


O que se pode concluir

Os dados deixam claro que a situação da educação no Brasil é preocupante e necessita de reparos imediatos. O grande agravante da situação, entretanto, é que os representantes públicos e autoridades defendem visões e propostas de intervenção muito distintas, o que dificulta a adoção e a manutenção de medidas de longo prazo, essenciais em grandes projetos educacionais.

O futuro governo apresenta suas ideias pouco a pouco, mas ainda não há como afirmar se as suas sugestões serão aceitas e colocadas em prática. E nesse embate, os brasileiros se dividem entre dois extremos.

De um lado os pessimistas que temem um possível resultado catastrófico com a adoção de medidas muito radicais, principalmente para os mais pobres e para a ciência do páis, temas muito pouco comentados até então. Do outro os otimistas que apostam em uma mudança brusca para garantir reformas importantes que vem sendo continuamente adiadas.

Independente das posições, o que se pode afirmar é que um clima generalizado de incerteza domina o país, principalmente no que tange a educação no Brasil. Não há como prever o futuro, o único fato que podemos tomar como certo é o constante olha
r atento dos brasileiros que, embora defendam discursos polarizados, se mostram muito mais participativos e engajados nas decisões políticas.
Leandro Abreu
Enviado por Leandro Abreu em 06/11/2018
Reeditado em 21/11/2018
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