Os pais dizem que não fazem
Todos os pais dizem que não discriminam os filhos. Entretanto, o tratamento diferenciado é bastante comum e muitos são os filhos que se sentem preteridos e até mesmo hostilizados por pelo menos um dos genitores. É normal que o pai ou a mãe se identifique mais com um filho ou filha, mas isso não significa necessariamente uma discriminação nem que haja menos amor pelos outros. Porém, há casos nos quais podemos ver perfeitamente que as relações familiares estão longe de ser justas e saudáveis e a discriminação será percebida através de gestos que fazem o filho ou filha perceber que o genitor parece sempre descontente com ele por ser como é. E muitos adultos que se sentiram discriminados pelos pais na juventude falam que tinham a impressão de que os pais se ofendiam com eles apenas pelo fato de eles existirem. Vários falam: “Bastava me ver que meu pai já gritava comigo.” Ou : “Quando eu estava sentada, mãe me chamava de lerda e, quando eu brincava, ela reclamava que eu só sabia fazer barulho.”
É comum que os pais costumem projetar nos filhos muitas expectativas e se sintam frustrados quando um deles não é como esperavam. Queixam-se que o filho é lerdo, bagunceiro demais, péssimo em Matemática, não entende as coisas, é malcriado. Há casos em que mesmo uma característica física da criança já é motivo para os pais criticá-la. Ficam a criticá-la por ser gorda ou pouco atlética. E a criança fica angustiada, porque, com certeza, sua intenção é que os pais estejam felizes com ela. Nenhuma criança quer aborrecer seus pais. Se um outro filho for como os pais aprovam, acabarão surgindo as injustas e nada saudáveis comparações entre os irmãos. Muitos são os filhos que crescem ouvindo: “Você não faz nada direito, mas seu irmão acerta tudo”; “Como você é lerda, sua irmã é tão esperta.”
Essas afirmações, além de muito cruéis, são danosas a alguém em desenvolvimento. Uma criança, como ser em formação, ainda tem muito a aprender e, com certeza, precisa de estímulo para desenvolver suas aptidões e descobrir as suas habilidades. Dizer a uma criança que ela é lerda, desmazelada ou pouco inteligente é dar um diagnóstico definitivo do que ela será na vida adulta. Se ela tem dificuldades em Matemática, isso não quer dizer que seja pouco capacitada, apenas que precisará se esforçar mais nessa matéria. E ninguém pode ser bom em tudo. Um gênio em Matemática não pode ser um craque em futebol ou um artista.
Outro grande problema é que a criança pode achar que os pais a amam menos por ela ser menos esperta, bonita ou desembaraçada do que o irmão com quem a comparam. Vale dizer que ninguém comete um erro porque quer ou com a intenção de aborrecer seus pais, as pessoas de quem espera a maior aprovação.
Para a criança, ouvir essas comparações é como ser ferida de morte. Ela pode chegar a pensar que só entristece e causa desgostos ao pai por ser como é e gostaria que eles entendessem que ela não erra nem se comporta como se comporta para ofendê-los. A criança quer ser amada e apreciada. E ser amado é essencial. O amor permite que uma criança desenvolva uma confiança saudável em si mesma e na sua capacidade de vencer os desafios do mundo.
Adultos que foram discriminados por um ou ambos os pais se queixam que frequentemente não sabiam o porquê de seus pais implicarem tanto com eles, criticando sua aparência, modo de falar, anda, desempenho na escola, esportes e tantos outros fatores que formariam uma lista interminável. Crianças gordas, por exemplo, sofrem com zombarias, gritos, críticas negativas e até apelidos ridículos. Várias começaram a sofrer preconceitos por causa do excesso de peso em casa, ouvindo seus pais a dizer: “Você é gordo, só pensa em comer”; “Essa roupa não lhe cai bem, você está enorme”. Alguns pais são tão cruéis que chegam a chamar esses filhos de “baleia”, “elefante” ou “tonelada”.
Pais podem fazer do filho discriminado um saco de pancadas ou mesmo torna-lo o bode expiatório, como se a criança ou adolescente fosse o responsável pelos problemas da casa e família. Falam que esses filhos são uma lástima, a vergonha e o desgosto da família. Não é peso demais para uma pessoa ainda muito jovem ouvir isso?
No caso de preferência exagerada por um dos filhos, o que for o preferido pode se tornar o príncipe ou a princesinha da casa. E os pais chegam a colocar o filho preterido em uma clara posição de inferioridade. Parece que até os erros do favorito são acertos e seus defeitos são virtudes. Não raro, o filho preferido se torna mimado e até provoca o irmão. Muitos adultos que foram discriminados pelos pais dizem que os pais não castigavam os erros de seus irmãos, dizendo que eles tinham que suportar. Frequentemente, o filho discriminado fica com obrigação de arrumar a bagunça ou limpar a sujeira que o outro faz.
Para mostrar que a discriminação entre filhos é real, pode-se falar de vários casos, como o de uma moça que, por ser pouco graciosa, era a única obrigada a arrumar a casa enquanto a irmã era tratada como princesa. Ela ainda tinha que recolher os brinquedos da irmã. Dizia-se da que era mais bonita que ela encontraria um bom marido e que a que era menos bonita cuidaria dos pais na velhice deles. Num caso bastante emocionante, um rapaz disse que os pais diziam que ele era o desgosto da família enquanto os irmãos eram a alegria da casa. Os irmãos o perseguiam e hostilizavam, chamando-o de lerdo e burro porque ele era disléxico e desastrado e os pais diziam que ele, além de realmente ser lerdo e burro, tinha de aguentar para aprender a ter controle emocional. Nunca exigiram dos irmãos que o respeitassem. Esse rapaz se automutilou por um bom tempo por não se sentir amado.
O que podemos concluir após analisar tudo que foi exposto? Que o que começa mal termina mal. Pais que não sabem dar amor de forma justa não conseguirão formar filhos emocionalmente saudáveis e com autoimagem positiva de si mesmos. Esses filhos com certeza terão um longo caminho à sua frente para refazer sua estrutura emocional e aprender a se dar valor.
Uma pessoa precisa começar a se sentir amada em seu lar.