A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM DE LÍNGUA PORTUGUESA

A IMPORTÂNCIA DA AFETIVIDADE NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM DE LÍNGUA PORTUGUESA

Aline Grazielle Cardoso da Silveira

Estudos mostram que o processo de desenvolvimento do homem relaciona-se com o social e inclui os aspectos cognitivos, afetivos e morais (LA TAILLE,1992,p.63) . Para ele, a afetividade é caracterizada como uma “energia”, como algo que estimula as ações. Piaget mostra o mundo afetivo sempre no campo da moral, traçando um paralelo entre afetividade e razão.

Piaget (apud LA TAILLE,1992) , aponta duas morais nas suas pesquisas sobre afetividade e razão. Na primeira moral, são mencionados os afetos básicos como amor e medo, já na segunda, ele não prioriza mais a relação afetiva, porém faz permanecer somente a noção de necessidade, que pertence ao campo da razão, desenvolvendo dessa maneira, uma moral autônoma.

Para Vygostsky, o pensamento tem sua origem na motivação, dependendo das nossas necessidades, dos nossos interesses, dos impulsos, do afeto e da emoção. Assim, o aprendizado só acontece quando ocorre interação do sujeito com o meio, e as relações afetivas são fundamentais para que esse aprendizado aconteça de maneira significativa.

Vigotsky (apud OLIVEIRA, 1992), salienta a importância da interação dos indivíduos. O ser humano adquire uma língua porque interage em sociedade com os outros seres humanos. Todo conhecimento, incluindo a língua, é construído de modo social por meio da interação. Constitui-se um postulado da sua teoria: “a aprendizagem é fundamental para o desenvolvimento desde o nascimento da criança”. “A aprendizagem “de uma língua” (grifo meu), desperta processos internos de desenvolvimento, que só podem ocorrer quando o indivíduo interage com outras pessoas”. (OLIVEIRA,1992, p.33 ). Toda criança necessita da presença dos pais ou de outro adulto para lhe proporcionar segurança física e emocional, conduzindo-a à exploração do ambiente no qual está inserida e, portanto, a aprender. Como elemento essencial, este interagir da criança com uma pessoa adulta, mais precisamente os pais ou professores, envolve a emoção, a afetividade.

Vygotsky destaca dois pressupostos, os quais não só são complementares como também são de natureza geral em sua teoria que apresentam uma posição básica concernente ao lugar afetivo do homem. Antes de tudo, ele mostra uma perspectiva monista, a qual, apresenta-se contrária a qualquer cisão das dimensões humanas como corpo/alma, mente/alma, material/não material e até, mais especificamente pensamento/linguagem. Em segundo lugar, mostra uma abordagem holística, sistêmica, que se opõem ao atomismo, ao estudo isolado do todo, propondo a busca de unidades de análises que mantenham as propriedades da totalidade. Tanto no monismo, como na abordagem holística, buscam a pessoa sobre o todo e não separam os aspectos afetivos e cognitivos, elas não são dimensões isoladas.

Vigotsky faz uma crítica à psicologia tradicional que separa os aspectos intelectuais de um lado, e os aspectos afetivos e volitivos de outro; propondo uma unificação desses processos, pois para ele não há sentido a dissociação desses aspectos, uma vez que a compreensão completa do pensamento humano só é possível quando se compreende a sua base afetivo-volitiva. (apud LA TAILLE, 1992,p.76) .

Para Wallon (in DANTAS, 1992, p.85) a afetividade é de extrema importância no processo de construção do conhecimento humano. Sua teoria tem como base a emoção, que é vista como instrumento de sobrevivência da espécie humana.

Wallon associa também afetividade e inteligência em sua teoria. Para ele a afetividade, além de ser uma das dimensões da pessoa, é uma das fases mais antigas do desenvolvimento, pois o homem logo que deixou de ser puramente orgânico passou a ser afetivo e, da afetividade, lentamente passou para a vida racional. Nesse sentido, a afetividade e inteligência se misturam, havendo o predomínio da afetividade, existindo sempre uma permanente reciprocidade entre elas. “(...) a afetividade depende, para evoluir, de conquistas realizadas no plano da inteligência, e vice-versa" (DANTAS, 1992. p.90).

No aprendizado da língua materna, neste caso, da Língua Portuguesa, a presença da afetividade também faz-se necessário, pois ela referencia vários momentos da nossa vida, auxiliando no aprendizado de forma positiva.

Almeida (apud in SILVA, 2002, p.51), em seus estudos sobre Wallon em relação às emoções na sala de aula, escreve: “o desenvolvimento da criança é marcado pelo meio social, pelas relações que se estabelecem entre os indivíduos. A vida psíquica é resultado das influencias do meio humano” (p. 63) confirmando a influência afetiva com o meio social, presente na escola.

As pesquisas realizadas pelo neurocientista Damásio mostram que as emoções e os sentimentos são fundamentais em nossas vidas. Sendo assim, de extrema importância também, no aprendizado da língua.

Damásio (apud in SILVA, 202, p.38) afirma que a educação das emoções e dos sentimentos é necessária a todas as pessoas e em especial deve estar na escola.

Damásio (1998, p.14) define sentimento como “ o processo de viver uma emoção”. Diz que os sentimentos acabam por se tornar qualificadores da coisa que é percebida ou recortada. Refere-se também às emoções e aos sentimentos enquanto sensores, guias interiores, e complementa que os sentimentos são resultados de uma curiosa organização fisiológica que transformou o cérebro no público cativo das atividades teatrais do corpo (1998, p.15).

Krashen (1987) afirma que o afeto de um indivíduo com relação a algo, uma ação ou uma situação em particular, se expressa através de como este algo, ação ou situação, preenche as suas necessidades e objetivos, e através dos efeitos resultantes nas suas emoções. Segundo o pesquisador, a exposição à língua aciona o LAD, que é o Dispositivo para Aquisição de Línguas, e proporciona os detalhes da língua a serem aprendidos.

Para Krashen, o filtro afetivo é o primeiro obstáculo com que o insumo (que é a amostra de linguagem oferecida ao aluno) se depara antes de ser processado e internalizado. O filtro afetivo parte do processo interno no qual configuram os estados emocionais, as atitudes, as necessidades, a motivação do aprendiz ao aprender uma língua, e que regula e seleciona modelos de língua a serem aprendidos, a ordem de prioridade na aquisição e a velocidade.

A partir das suas considerações, Krashen acredita que, para que o filtro afetivo seja mantido baixo,“os aprendizes não deveriam ser colocados na defensiva” e, para isso o papel do professor é fundamental, pois eles podem manter uma relação de afetividade com os seus alunos , sempre colocando-se como professor mediador do conhecimento, sem ser autoritário , priorizando o aluno e as suas necessidades.

Para Brown (1997), a motivação é uma das mais importantes entre as variáveis afetivas, ela é a chave para a aprendizagem. O autor vê, de uma maneira geral, a motivação como um impulso, uma emoção ou um desejo interno que direciona uma pessoa para uma determinada ação e, portanto, se percebemos um objetivo, e este objetivo é suficientemente atraente, ficaremos fortemente motivados a fazer o que for necessário para alcançá-lo. Assim, nota-se que a motivação é essencial para um bom aprendizado da Língua Portuguesa, tornando esse aprendizado muito mais significativo, quando o aprendiz da língua materna se sente motivado a aprendê-la.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir dessas teorias e considerações, faz-se necessário estudar a importância da afetividade no aprendizado da Língua Portuguesa na educação formal, pois como percebemos aqui, ela é fundamental no processo de ensino e aprendizagem, é preciso analisá-la para promover o melhoramento do ensino na escola e fora dela e nas relações humanas em geral.

Os professores, enquanto mediadores do processo de ensino e aprendizagem precisam ter em mente que os indivíduos são seres integrais e atuam em sociedade, por isso, é preciso considerar não apenas os níveis cognitivos, as ações, os valores éticos, os métodos, mas também as questões relacionadas à afetividade. O professor de Português além de se preocupar com a transmissão de conteúdos, deve levar em consideração a afetividade em sala de aula, pois esta contribui de maneira significativa para o bom desempenho do aluno em sala de aula, através desta, os alunos se mostram mais recíprocos, motivados, participativos e amigáveis promovendo assim, uma boa relação entre aluno e professor.

É preciso estabelecer relações de afetividade em sala de aula, relações amistosas, de respeito mútuo, compromisso e cooperação entre agentes educativos. Sendo o estabelecimento dessas relações muito oportuno em sala de aula, isto requer, por parte dos educadores, uma postura mais afetiva, humana, solidária e criativa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, Ana Rita Silva. A emoção na sala de aula. Campinas: Papirus, 1999.

DAMÁSIO, Antonio R. O erro de Descartes; emoção, razão e cérebro humano. 20ºed. Portugal: Fórum da Ciência, 1998.

LA TAILLE, Y. de; OLIVEIRA, M. K. de; DANTAS, H. Piaget, Vigotsky, Wallon – Teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo:Summus, 1992.

SILVA, Lindomar Coutinho da.Emoções e sentimentos na escola: uma certa dimensão do domínio afetivo. Ilhéus-BA: UFBA/UESC, 2002. (Dissertação de Mestrado em Educação).

ARNOLD, J. (ed.) (1999). Affect in language learning. Cambridge: Cambridge University Press.

Aaline Grazielle
Enviado por Aaline Grazielle em 24/07/2018
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