NO TEMPO DOS CAVALEIROS DA TABULA REDONDA
NO TEMPO DOS CAVALEIROS DA TABULA REDONDA
A PARTE DO SONHO - LIVRO DE MICHEL PASTOUREAU
Clérigos, cavaleiros ou camponeses, rodeados de um mundo que não lhe agradam, de uma vida momentânea triste, de um mundo ilusório, buscam outro universo, os homens do século XII eram insatisfeitos com sua realidade, daí surgiu a vontade de tomar outros rumos, buscar um novo reino, se entregar a força poderosa da natureza e esquecer-se das coisas que os submetem, um mundo perfeito de paz e segurança, um lugar maravilhoso repleto de Animais fabulosos, um lugar onde todos possuem as mesmas riquezas onde cada um possa ser o herói e se aventurar em mundos fantásticos ao lado de magos, lutando com bruxas e bestas, buscando relíquias. Na idade média assim era o visão do homem que procurava se encontrar por trás das realidades enganosas o sentido do seu próprio destino...
AS PEREGRINAÇÕES E O CULTO DAS RELIQUIAS
A peregrinação seria a desculpa para cair na estrada em busca do sonho que não era encontrado no lugar onde vivia, mas nem sempre essa busca era o principal motivo, punir-se seria mais das vezes o motivo primordial. Obter um perdão a uma má ação tomava o lugar da mudança e quanto mais longe se fosse maior seria o beneficio espiritual, então os santuários mais distantes seria o objetivo final, enfim a busca por um milagre ou a resolução de situações desagradáveis.
No século XI o conjunto da cristandade forma a rede de peregrinações. A França os santuários que se destacam são os dedicados a Virgem ou aos santos particularmente venerados: Saint-Martin de Tours, Sainte-Foy de Coques, Notre-Dame du puy, Saint-Hilarie de Poitiers, Saith-Martial de Limoges. Na Inglaterra visitam especialmente os túmulos de São Cuthbert, em Durham, o de Eduardo, o confessor, em Westminster, e o de Thomas Becket, em Canterbury, que após sua canonização em 1173 ao fim do século XII foi acrescentado uma peregrinação especial: realizada na Abadia de Glastonbury, no confins do pais de Gales, onde supostamente foram achados os túmulos do rei Arthur e da rainha Guinevere.
Ao lado desses grandes santuários, existem uma infinidade de outros menores, que são objetos de peregrinação. Usado nas dioceses, essas relíquias são o sinônimo da maior festa celebrada, por isso todas as igrejas buscam obtê-las, nem que seja por tráfico. Após o saque a Constantinopla pelos cruzados em 1204 os cristãos do oriente fazem chegar regularmente ao ocidente todo tipo de relíquia cm autenticidade duvidosa. Podemos citar como exemplo as peças vendidas pelo imperador Balduino I que chegou a enviar a Felipe um pedaço da cruz, cabelos de Cristo, um pedaço de tecido que o envolveu ao nascer, assim como o dente e uma costela de São Felipe. Em 1239, Balduino II vendeu a São Luis o que supostamente seria a coroa de espinhos por vinte mil libras quando dois pedaços dessa suposta coroa já eram conservados perto de paris, um em Saint-Germain-des-Prés outro em Saint-Denis.
A verdadeira peregrinação seria aquela que exige heroísmo, a que se faz ao longe, em terra estrangeira, ate Roma, Compostela, aos lugares santos. Teólogos afirmam que todo cristão deve pelo menos uma vez fazer esse percurso. Compostela seria a mais freqüentada por ser onde teriam descobertos no fim do século IX os restos de São Tiago. Roma tem seus inúmeros viajantes que vem em busca de fazer preces sobre os túmulos de Pedro e Paulo e dos primeiros mártires.
O largo chapéu de Feltro, a sacola a tiracolo e a grande vara com um botão na ponta e o bordão identifica os peregrinos, eles se deslocam em pequenos grupos carregando todos os aparatos necessários. Durante a caminhada são hospedados gratuitamente nas Abadias e nas casas hospitaleiras, geralmente um castelão os recebe e pedem que contem suas aventuras e desventuras por países visitados, pois mesmo protegido e seus bens, os peregrinos estão sujeitos aos perigos da estrada.
Mais que as cruzadas, são as peregrinações solitária ou em grupos que levou ao longo do século XII, cavaleiros ocidentais aos lugares santos, em busca de uma realização de um destino grandioso que sua vida no ocidente não consegue alcançar.
Cruzadas ou expedições militares, peregrinação ou a busca do sonho, um motivo para alterar a vida rotineira e mesmo que tudo isso resulte em um lamentável fracasso, o apelo do oriente vai sempre exercer esse fascínio que beira a neurose coletiva.
OS ANIMAIS E OS BESTIÁRIOS
O universo animal tem seu lugar privilegiado onde dorme todas as crenças, esperanças e fantasmas de povos para qual o sonho é uma necessidade, então esse fantástico mundo assim como o geográfico não poderia deixar-se de relacionar a esse mundo de bestas maravilhosas.
Na vida diária, o homem do século XII, mantém um contato aproximado com os animais que o cerca, mas estes não tinham nada de fantástico, os animais domésticos não são diferentes do de hoje, a não ser o cão que não atraia atenção pelo menos até a metade do século XIII. Os animais mais apreciados eram o cavalo, o falcão e o porco. Os animais ferozes não eram menos conhecidos, lobos, ursos e javalis viviam nas florestas perto das vilas e outras grandes feras que não era comum naquele território eram expostas pelos soberanos que possuíam coleções desses animais que vinham da África e Ásia, assim a população podia apreciar em dia de folga.
Esse conhecimento do mundo animal não estava relacionada pelo gosto a zoologia, na qual não expunha o bestiária, o maravilhoso mas sim o real e do cotidiano essas pessoas já fugiam. Os bestiários descreviam costumes de animais estranhos, extraído assim símbolos religiosos e preceitos morais e tudo isso de deve aos autores da antigüidade e da alta idade média e essa influência criava em si a criação artística em fim a mitologia associando essas bestas fábulas próprias para impressionar o camponês, maravilhar o cavaleiro, seduzir o artista e inspirar o pregador.
O lobo é o primeiro a se tornar essa besta, aos olhos da população seria o animal mais astuto e cruel, andava sozinho sempre no sentido do vento para despistar cães, tinha a mordida venenosa era considerado diabólico e onde pisava não nascia mais grama, e quando o homem visse o primeiro escaparia, mas se o lobo o visse com certeza o homem morreria e se escapasse ficaria mudo.
Outro animal interessante é o urso, grande e com forças somente nas pernas, o macho é mais fraco que a fêmea e são bastante difícil de capturar, cheiram mal e são difícil de capturar, o urso macho ao contrario pode ser domesticado, com a condição de lhe darem mel e ceguem seus olhos. Seus filhotes nascem mortos e não são maiores que um rato e a mãe os devolve a vida e a forma os lambendo vários dias seguidos.
Essa ressurreição possui um significado cristológico, o reencontrado em diversos outros contos. Contudo o cervo é mais freqüente adotado como símbolo de cristo. Eles odeiam serpentes e ao caçá-las têm que em num mínimo três horas beber água de uma fonte e assim recupera também a juventude.
O camaleão é considerado o mais extraordinário, pode mudar de cor, adotando qualquer uma exceto a branca e vermelha, não tem sangue e se alimenta de ar, possui corpo de lagarto, escamas de peixe, cabeças de macaco e patas de falcão. Dotado de um estomago mágico: se alguém por fogo nele, fará chover ou desabar uma tempestade.
O crocodilo, mais bem conhecido, é uma serpente de cor amarelada com pés gigantes e desprovido de língua, mesmo assim é insaciável come e passa dias digerindo e depois chora o ato de gula. Os bestiários não falam somente de animais verdadeiros, longos capítulos são dedicados aos mostro quiméricos não se levando em conta o dragão, o grifo, o Basilisco e as sereias que no século XIII já não se tinha tanta crença, a de se levar em conta seres menos conhecidos e estranhos como é o caso da Mantícora, besta sanguinária com cor de sangue corpo de leão e cauda de escorpião e cabeça de homem é considerada rápida pega qualquer presa, somente o leão não a teme. Mas o leão é aterrorizado pelo Leontofonos; o menor dos roedores, pode derrotar o leão apenas com o cheiro da urina. O mais inofensivo é o tarando; boi com cabeça de cervo e pele de urso. Vive no frio e é medroso, Já o Leoncrute resulta do cruzamento do Lobo-cerval com a leoa, mas tem corpo de asno, cabeça de camelo, juba de leão e as vezes voz de homem.
DO LIVRO NO TEMPO DOS CAVALEIROS DA TABULA REDONDA