"Criança" de vinte anos agride professor em sala de aula
Nesta semana, li no site: www1.folha.uol.com.br, a notícia de que uma criança de vinte aninhos de idade havia agredido com socos e pontapés, um professor em uma escola estadual na zona sul de São Paulo.
A princípio, não dei qualquer importância àquela notícia, pois num momento em que tantos fatos relevantes acontecem no país, penso que não seja inteligente desperdiçar tempo com algo tão insignificante. Constato, com facilidade, que estou certo em não perder tempo com tal frivolidade, primeiramente quando me pergunto: " O que há de novidade nisso?", e percebo que é algo tão corriqueiro, tão comum, que já não vejo qualquer razão para demorar meus pensamentos em tal objeto. Afinal de contas, é só mais uma agressão contra um professor e não vejo nada de mais nisso. Pessoas são agredidas no mundo inteiro há todo momento.
Em segundo lugar, gosto de ter como referências para, ao menos, al guns de meus posicionamentos ideológicos, filosóficos, entre outros, pessoas respeitadas, eminentes, enfim, que de fato sejam dignas da admiração e estima da massa popular. E nesse caso, sinto-me honrado pelo privilégio de poder fixar meu olhar sobre os referenciais mais sólidos e dignos possíveis, os líderes políticos brasileiros. E quando busco saber sobre suas posturas frente a notícias com tal teor, encontro que, para eles, estas nada representam. Assim, por que razão uma pessoa como eu deveria assumir um posicionamento diferente?
No entanto, contrariando os princípios que eu mesmo tenho estabelecido para regerem minha conduta, resolvi observar mais cuidadosamente a notícia. O que levou-me a ponderar sobre o ocorrido. Comecei a imaginar aquilo. Os gritos, os xingamentos, os socos, os pontapés, enfim, a sala de aula.
Em minhas reflexões, devo dizer antes que não sou afeiçoado a qualquer tipo de violência, concluí que o professor bem mereceu passar pelo que passou. Para alcançarmos tal conclusão, basta pensarmos um pouco, levando em conta o seguinte raciocínio. Um garotinho de vinte anos de idade, que provavelmente devia estar passando por inúmeros problemas familiares, que certamente trabalha desde cedo da manhã até o final da tarde diariamente, talvez fazendo serviços braçais que demandem muito esforço físico. Ao encerrar sua jornada diária, sai correndo como um louco para pegar um ônibus superlotado, a fim de chegar à escola há tempo de, mais uma vez, mostrar sua dedicação aos estudos, já que reconhece a singular importância deste para a sua obtenção de uma boa sorte no futuro. E isso fica melhor evidenciado pela pequena porção de maconha que o menino portava para seu uso pessoal. O que é um potencializador da mente e sem dúvidas o ajudaria a entender melhor as explicações dadas pelos professores.
Essa pessoa recém saída da infância, que tem sua vida dividida entre o trabalho e a dedicação aos estudos, vê seus gigantescos esforços de um ano inteiro sendo jogados no lixo (peço desculpas ao lixo) por um professorzinho despreparado que, irresponsavelmente, resolve atribuir uma nota baixa à sua atividade realizada com tanto zelo.É mais que razoável que esse ser humano perca a cabeça a parta para a agressão. Qualquer um de nós em tal situação, se revoltaria e faria o mesmo.
Agora, como nesse país o cidadão é injustiçado, lesado, e por isso, ele mesmo é penalizado. O pobre do garoto, que o redator faz questão de lembrar-nos, que é um "estudante", foi absurdamente suspenso das aulas. Vejam todos, a que ponto chegamos! Será que não há nenhuma autoridade sensata, que possa pensar nos irreversíveis prejuízos que serão causados à vida desse estudante por essa ridícula suspensão, que nada mais é do que um verdadeiro atestado de incompetência dos profissionais da escola?!
Minha revolta se intensifica, ao saber que em contrapartida, o incompetente professor, como genialmente escreve o redator "ganhou licença por uma semana". preciso dizer aqui, que fico imaginando se o jornalista que redigiu essa notícia fosse um poeta, certamente teríamos a disposição, belíssimos poemas, os quais seriam notáveis pela adequação e precisão das palavras escolhidas para os constituírem. Mas me conformo com o fato de que nem tudo o que desejamos podemos ter.
Caso ainda não enxergue com clareza o motivo da intensificação de minha revolta, tentarei elucidar de outra maneira. No texto, está escrito que o professor "GANHOU LICENÇA". A meu ver, "GANHAR", grosso modo, sugere algo bom, sugere ser "premiado" com algo que sobrepuje os méritos do ganhador ou, na pior das hipóteses, que o ganhador receberá alguma recompensa condizente com os seus méritos.
Sendo assim, qual a razão da suspensão do "estudante"? Visto que, com sua atitude, este proporcionou um prêmio ao professor?! Onde se encontram os fundamentos que justifiquem a punição de alguém que proporciona premiações legítimas ou promove a justiça para com os homens? Isso é, no mínimo incoerente!.
Resta dizer que, embora a notícia em discussão não tenha qualquer relevância para os líderes e nem para a sociedade brasileira, penso que valha a reflexão a respeito, já que traz a nossa atenção, se não para o fato em si, ao menos para as profundas injustiças que são praticadas nas escolas, cotidianamente, contra nossos pobres "estudantes"; para as incoerentes decisões, com precipitação, tomadas pelos gestores escolares; para o completo despreparo dos profissionais docentes e por fim, para a maestria com que escolhem palavras fundamentais para a construção de seus textos, que demonstram alguns de nossos jornalistas.
* Professor, sinceramente, solidarizo-me com você e estendo minha solidariedade a todos os colegas que infelizmente, têm sofrido com esse tipo de crime, no exercício de seu trabalho e também fora dele. O que para esses governantes medíocres e sórdidos, não causa qualquer tipo de constrangimento, pois isto tornou-se uma prática e nada de efetivo tem sido realizado a respeito. Colega, aqui vai meu grito de indignação pelo que você sofreu e sinceramente torço para que sua ferida não seja ainda mais aberta pela possível coerção a entregar, com um sorriso no rosto, o canudo a esse "estudante", que muito possivelmente participará de uma formatura, obviamente, ainda este ano.