Os Ideólogos da Educação: a inclusão demagógica
A escola é o único lugar em que a inclusão é, ainda que precariamente, promovida. Não há outro lugar onde o aluno preguiçoso, incompetente, desrespeitoso, violento ou irresponsável será justificado.
Trabalho, serviço, convívio com vizinhos, faculdade e relações amorosas, em nenhum lugar destes será regra o perdão, a compreensão, o relevar, o justificar, o relativizar e o abonar os erros acima citados.
Nenhum destes lugares perdoam. Nenhum deles procurará ver o por que do erro, ou perguntará pela família, pelas razões pessoais, ou verá como um coitado incapaz. São lugares em que ser visto como incompetente, irresponsável, relapso ou coisa do tipo praticamente te exclui da permanência ou mesmo de oportunidades.
A escola não. Lá todos estes problemas não serão combatidos, por que lá já não são vistos como problemas dos alunos, mas dos professores. Cabe ao professor impedir que qualquer destes problemas se tornem problemas. Ele mastiga a matéria para o incompetente aprender, se culpa por sua didática "fraca".
Ele adia prazos de entrega de trabalhos, acha que apertou demais os alunos. Ele finge que não vê o descompromisso, os alunos são só adolescentes. Enfim, na escola coisas que são fatalmente excludentes em outros lugares, lá deixam de ser problemas a não ser para o professor.
A escola é um lugar onde a incompetência e irresponsabilidade da família são automaticamente transferidas e convertidas em um problema para o professor. Este profissional precisa combater estes problemas como se fossem seus, embora fora da escola estes problemas continuam sendo dos alunos.
Em outros aspectos, mais positivos, a escola ainda será menos excludente quando se trata de ser negro, mulher, homossexual e outras minorias. Mas é um mundo a parte por que fora da mesma tudo isto implica em chances maiores de exclusões tanto no mercado quanto nas relações sociais.
Na escola o aluno raramente erra, esquece, não se esforça ou se aplica. É o professor que não explicou, que não lembrou, que não estimulou ou encorajou seus alunos a estudar. Fora da escola, não há empresa, associações, igrejas e relações cotidianas onde se possa transferir para outra pessoa qualquer incompetência ou irresponsabilidade.
Não estou entrando no mérito, se este deve ou não ser o papel da escola. Só descrevo o que ocorre nela comparado ao que ocorre fora dela.
Que a escola é o lugar social menos excludente de todos é fato. Por outro lado, se cabe a escola promover a inclusão nos outros lugares sociais, como ela poderia fazer isto se ela ameniza e relativiza competências e habilidades ao invés de promove-las?
Cabe a escola ensinar a responsabilidade, a competência, o respeito e comprometimento? Ou cabe a escola compensar ou suavizar a insuficiência destas qualidades? O que mais vejo é esta última prática.
Agredir um professor, não se comprometer com a matéria, colar, empurrar com a barriga são coisas comuns cuja a responsabilidade é atribuída ao professor. Ora, se a responsabilidade é do professor cabe ao mesmo evitar estas coisas ou cabe ao aluno aprender não fazer estas coisas?
Passamos décadas, e ainda hoje, com pesquisadores da educação apregoando e reproduzindo este discurso. Na inépcia de encontrarem a pedagogia ou os projetos educacionais que estimulassem as competências básicas destes alunos, estes ideólogos educacionais se dedicaram a construir a responsabilidade do professor.
Para estes ideólogos a violência, o descompromisso, a irresponsabilidade e a incompetência são resultados das práticas dos professores. E não algo que muitos alunos vivem como parte dos problemas que vivem para a sala de aula.
Este ideólogos da educação, digo muitos pesquisadores ligados a instituições públicas, ganham muitos recursos e financiamentos governamentais vendendo a seguinte ideia: "o aluno não aprende como deveria por culpa do professor, é preciso responsabiliza-lo".
Quem compra estes discurso? Dois compradores típicos: O governo que busca nisto um pretexto para sucatear os salários dos professores, afinal não merecem ganhar bem por trabalharem mal. Empresas educacionais e escolas particulares, pois vendem a ideia de que o mercado é mais eficiente para administrar estes profissionais do que o Estado.
Se os ideólogos da educação ao invés de venderem esta imagem do professor se dedicassem a compreender a complexidade de se alfabetizar e motivar alunos com realidades sociais tão precárias, teríamos muito mais professores realizados e alunos aprendendo.
Mas estes ideólogos não farão isto. Sim, existem pesquisadores educacionais sérios, mas não serão vistos financiados ou tendo seus métodos propagados em políticas educacionais. Quem tem a voz são estes ideólogos.
Estes ideólogos da educação nunca apresentam propostas. São raramente capazes de apresentar alternativas para as realidades educacionais das quais gostam tanto de relatar para vitimizar alunos e vilanizar os professores. Sabem criticar e observar os erros, mas não sabem fazer melhor - por isto os chamo merecidamente de ideólogos da educação.