CAPÍTULO VI
APAE-MOGI; A FUNDAÇÃO
O dia 27 de março de 1969, uma quinta-feira, parecia um dia comum, em um mês em que seria dos mais importantes para o nosso país. Foi um ano que passaria aos anais da nossa história como aquele em que o golpe militar de 1964 se tornaria, de fato e de direito, um regime de exceção, na qual os valores democráticos seriam mitigados em favor de um modelo autocrático de governo, onde a ideia de ordem e progresso econômico iria se sobrepor á antiga divisa iluminista-positivista (liberdade, igualdade, fraternidade), que norteara a proclamação da nossa República.
Pouco mais de três meses antes, exatamente no dia 13 de dezembro de 1968 o então presidente da República, General Arthur da Costa e Silva promulgava o Ato Institucional nº Cinco, conferindo poderes quase absolutos ao governo militar. E em 26 de fevereiro de 1969, o governo militar completava o processo de implantação da ditadura com a edição do Ato Institucional Número Sete, suspendendo as eleições para governadores e prefeitos nas capitais.
Os meios políticos do país entravam em franca ebulição, com o início da repressão a toda e qualquer oposição ao governo. Enquanto a violência recrudescia com a organização de uma tíbia resistência á ditadura, exercida principalmente dentro dos sindicatos e dos movimentos sociais, um grupo de comprometidos cidadãos residentes em Mogi das Cruzes, a despeito de todas as dificuldades que o momento político oferecia, se reuniam para fundar aquela que viria a ser uma das mais importantes e respeitáveis organizações não governamentais da região: a APAE, sigla da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais.
O movimento para a fundação da APAE-Mogi das Cruzes já vinha desde os fins do ano de 1968, liderado pelo comerciante Lineu Húngaro e sua esposa Auzenda Maria de Moreira Húngaro, os quais trouxeram de Jundiaí, cidade onde moravam antes, as experiências já realizadas naquela cidade com a fundação de uma organização semelhante.[1]
A reunião oficial de fundação da APAE- Mogi das Cruzes ocorreu oficialmente na noite do dia 27 de março de 1969, na sede da Associação Comercial de Mogi das Cruzes. Presentes os seguintes membros fundadores, que assinaram a ata de fundação. Lineu Húngaro e Euzenda Maria Moreira de Toledo Húngaro; Ricardo Strazzi,; Higino Pavan Filho e Clélia Maria de Araújo Pavan; Francisco Assis Moraes; Eduardo de Castro; Botyra Camorin Gatti; Azis Ansarad Rizek; Francisco José de Carvalho; Benedito Wanderley Sasso; Dolores Vieira Elias; Edmundo Rodrigues; Teresinha Longo Rodrigues; Ruth Moraes Vasconcelos Lopes; Armindo José de Deus; Álvaro de Campos Carneiro; Adayla Campos Carneiro; Bento Antonio de Oliveira; Elzira Rodrigues de Oliveira; Edenir Miranda de Almeida; Elizabeth Brandt Trivino.
A Primeira diretoria da APAE-Mogi foi eleita em reunião realizada em 24 de junho de 1969 e ficou assim constituída:
Presidente: Lineu Húngaro
Vice.presidente: Ricardo Strazzi
1º Secretário: Higino Pavan Filho
2º Secretario:Célia Maria Araújo Pavan
1º Tesoureiro:Francisco de Assis Moraes
2º Tesoureiro: Eduardo de Castro
Diretores Adjuntos
Botyra Camorin Gatti
Assis Ansarah Rizek
Francisco José de Carvalho
Auzenda Maria Moreira de Toledo Úngaro
Conselho Deliberativo
Benedito Wanderley Sasso
Dolores Vieira Elias
Epaphas Gonçalves Ennes
Edmundo Rodrigues
Terezinha Longo Rodrigues
Ruth Moraes Vasconcelos Lopes
Armindo José de Deus
Suplentes
Orlando Sebastião Mascarelli
Victor Esselin
Adayla Marques de Campos Carneiro
Elzira Rodrigues de Oliveira
Maria Aparecida de Oliveira Briquel
Alberto Soares Pinho
Genuíno de Almeida Marins
Conselho Fiscal
Alcino de Moura Campos
Bento Antonio de Oliveira
José Romanatti
Antonio Teixeira
Galileu Ramires
Lineu Húngaro- Fundador da APAE-Mogi das Cruzes
Já de início as dificuldades naturais de instalação. Como angariar recursos para começar esse trabalho? Onde instalar a base de operações? Qual seria a estratégia de trabalho? Quem iria fazer o que?
Decidiu-se que a primeira coisa a fazer seria fundar a Escola APAE, que depois se tornou a Escola de Educação Especial da APAE de Mogi das Cruzes. Mais de um ano de preparativos e lutas se passou até que o trabalho efetivo pudesse ser iniciado. Em 1º de abril de 1970, finalmente, a primeira aula da APAE-Mogi das Cruzes foi dada.
Muitas coisas estavam acontecendo no Brasil naqueles dias. No dia 11 de março o cônsul japonês Nobuo Okuchi havia sido sequestrado por integrantes da Vanguarda Popular Revolucionária em São Paulo. Seria solto três dias depois, em 14 de março, na troca por cinco prisioneiros políticos. No dia 25 de março o Presidente Emílio Garrastazu Médici assinara o decreto-lei nº 200, ampliando de 12 para 200 milhas marítimas, o mar territorial brasileiro.
Enquanto o país mergulhava cada vez mais em um pântano escuro de repressão e medo, os abnegados fundadores da APAE trabalhavam para criar um ambiente propício ao resgate, para a sociedade, das crianças e adolescentes com deficiência. Sem se importar com as dificuldades, temores e incompreensões, que num momento de incertezas e desconfiança, como o que estava vivendo a nação, os fundadores da APAE-Mogi das Cruzes, foram a campo para fazer aquilo que o Estado, pelo menos naquele momento, não se propunha a fazer.
Um começo difícil, como se podia esperar. Seis crianças com deficiências cognitivas foram reunidas em uma pequena sala na Rua Barão de Jaceguay, nº 475, cedida gratuitamente por um dos fundadores, o Sr. Azis Ansarah Rizek. Um ano depois, foi alugado um pequeno prédio, na mesma rua, no número 153, onde a APAE funcionou até setembro de 1972. Poucos meses depois foi preciso uma nova mudança de endereço, já que o prédio alugado não apresentava condições adequadas para o desenvolvimento do trabalho. Foi então que a professora Botyra Camorin, uma das mais operosas colaboradoras da APAE nesses começos, conseguiu locar um prédio ao lado da casa onde ela morava, na Rua Cabo Diogo Oliver, nº 272. Ali, com uma extensão de telefone gentilmente cedida pela professora Botyra, a APAE ficou até outubro de 1973, quando se mudou para um prédio maior, na rua José Bonifácio 316.
Essas constantes mudanças de endereço refletem a luta da APAE em Mogi das Cruzes para sobreviver e realizar o seu trabalho pioneiro. Isso porque, a par da crônica falta de recursos financeiros, da dificuldade para contratar profissionais para um ramo específico de educação, como era esse, e atrair voluntários para dar suporte às mais variadas tarefas que surgiam no desenvolvimento normal do trabalho, o que se fazia necessário dado ao grande aumento de crianças assistidas pela entidade, havia também a inexperiência e o noviciado de um movimento que, no Brasil, ainda não tinha alcançado a maturidade necessária. Poucas eram as unidades da APAE existentes no país e escassos os casos de sucesso, nos quais se pudesse buscar uma modelagem.
Destarte, a falta de conhecimento era suprida com boa vontade e muito amor. A escassez de recursos foi compensada com a generosidade de parceiros que compreenderam a necessidade de ajudar a entidade a se manter e ampliar os seus serviços. Nesse sentido, a Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes ajudou, nesses começos, pagando o aluguel dos prédios onde a APAE se instalou; o Lions Clube de Mogi das Cruzes doou as carteiras para a escola; empresas e pessoas físicas ajudaram com diversos donativos na construção de uma oficina de carpintaria, cujas máquinas também foram doadas pelo Lions Clube de Mogi das Cruzes.
Nessa altura, o número de crianças atendidas pela APAE-Mogi das Cruzes já tinha chegado a oitenta. Era preciso ampliar as instalações. Foi aí que entrou em cena o Dr. Sebastião Cascardo, então prefeito de Mogi das Cruzes. Foi esse prefeito que, entendendo a necessidade e a qualidade dos serviços prestados pela entidade, realizando um trabalho que, em tese, caberia ao próprio serviço público municipal, resolveu ajudar a APAE, cedendo-lhe, em comodato, por noventa e nove anos, um terreno medindo 4.542 m² e nele construindo um conjunto de instalações com 300 m². Esse imóvel situado, na rua Santa Terezinha, nº 134, é onde a entidade está até hoje. E para homenagear uma das primeiras voluntárias da entidade, a Sra. Carmem de Moura Santos, a rua Santa Terezinha foi rebatizada com o nome dessa colaboradora.
Essa doação, e a construção de uma sede definitiva para a entidade, foram o marco definitivo de uma realização que veio para ficar e engrandecer a história das ações sociais no município de Mogi das Cruzes. Importava, não só em um reconhecimento, por parte dos poderes públicos, da importância e da excelência do trabalho realizado pela APAE, como também dotava a comunidade mogicruzense de um equipamento que a distinguiria entre as cidades do Brasil, como uma das comunidades mais avançadas do país nesse tipo de educação especial.
A partir dessa base, a APAE-Mogi das Cruzes cresceu e prosperou, tornando-se a grande potência que é hoje.
No jornal Mogi News de 28 de janeiro de 1977, a APAE publicaria uma moção de agradecimento ao Dr. SebastiãoCascardo, sem o qual ela não teria dado o salto qualitativo que deu a partir de então.
Cabe por fim, registrar nesse capítulo que certifica o nascimento e os primeiros anos de vida da APAE-Mogi das Cruzes, a valiosa colaboração que têm sido prestada, nestes anos todos, pelo Lions Clube Mogi das Cruzes- Centro.
Vale dizer que esse clube de serviços têm estado presente na vida da entidade desde o seu nascimento, realizando campanhas, fazendo doações, provendo recursos e fornecendo voluntários para a realização dos serviços prestados pela APAE. Ressalte-se que a maioria dos seus diretores-presidentes também têm sido recrutados entre os membros desse operoso clube de serviços. Entre eles os senhores Ricardo Strazzi, Alfredo Casela Júnior, Marcus Adalberto Abib e o atual, João Montes. Sem esquecer grandes colaboradores, que prestaram inestimáveis serviços à entidade, como Leopoldo Vano, Jaime Bastos, Jorge César, Celso Moreira Leite, Milton Martins Coelho, Osvaldo Gennari e outros, que por modéstia, ou mesmo por falta de registro de seus feitos, preferiram se conservar no anonimato. Mas a eles todos, fica o agradecimento da direção da APAE e de todos os educandos e respectivas famílias, que de alguma forma, tiveram suas vidas abençoadas pela fundação dessa entidade.
Outros colaboradores, entretanto, por sua inestimável contribuição ao desenvolvimento da entidade merecem ser citados neste registro. Eles aparecem, nesses primeiros anos de vida da APAE, realizando ações e prestando serviços à entidade. Sem o comprometimento e a dedicação desses abnegados voluntários, a APAE-Mogi das Cruzes não seria o que é hoje. São eles: Alberto Soares Pinho; Alcino de Moura Campos, Alda Ferri, Alexandre Pietzak, Alfredo Campolino dos Santos Filho, Antonio Teixeira, Bento Antonio de Oliveira, Carlos :Garcia, Domingos Luís Fernandes, Epaphas Gonçalves Ennes, Francesli Martins, Francisco Martins Campos, Franz Steiner, Galileu Ramirez, Genuíno de Almeida Marins, Geraldo José Franco de Faria, Hamilton Pereira de Morais, João Ricardo Gonçalves, Josefa Maria Romanatti, José Fernandes, José Gonçalves Filho, José Onofre Paes, José Romanatti, Márcia Aparecida Rangel Engelender, Maria Aparecida de Oliveira Briquet, Maria do Carmo Nogueira, Massaharu Horigoshi, Moacir Folker Júnior, Nilberto Lainetti, Nilson de Moura Marins, Nilza Aparecida Moretti Ariza, Norberto de Camargo Engelender, Orlando Sebastião Mascarelli, Roberto Monteiro, Roberto Raimundo Cestari, Romeu Carrasco, Sérgio Hugo Pinheiro, Silas Fonseca Redondo, Victor Esselin, Victor Pinto da Fonseca, Valter Ferraz, Walter Rodrigues de Andrade, Washington Domingues Quintas, William José Feres, Yoshiaaky Yamada. A todos eles a APAE e as pessoas, que de algum modo, foram beneficiadas pelos seus serviços, devem e manifestam seus agradecimentos. A esses grandes colaboradores a entidade deve muito da sua infância, adolescência, juventude e princípio de maturidade, pois todos prestaram inestimável colaboração durante os trinta primeiros anos da sua vida.
A partir do dia nove de setembro de 1972, a APAE-Mogi das Cruzes passou a ser dirigida pelo Sr. Ricardo Strazzi, face á mudança do Sr. Lineu Húngaro para São José dos Campos. Na condição de vice-presidente, ele assumiu a diretoria da entidade e nela permaneceu até data do seu falecimento.[2]
Nota: este texto é uma preparação para o livro de comemoração dos cinquenta anos da APAE-MOGI DAS CRUZES. Quem tiver qualquer informação sobre a história da APAE ou atuação de qualquer de seus membros nesse período (1969 até hoje) favor entrar em contato com este autor através deste site.
APAE-MOGI; A FUNDAÇÃO
O dia 27 de março de 1969, uma quinta-feira, parecia um dia comum, em um mês em que seria dos mais importantes para o nosso país. Foi um ano que passaria aos anais da nossa história como aquele em que o golpe militar de 1964 se tornaria, de fato e de direito, um regime de exceção, na qual os valores democráticos seriam mitigados em favor de um modelo autocrático de governo, onde a ideia de ordem e progresso econômico iria se sobrepor á antiga divisa iluminista-positivista (liberdade, igualdade, fraternidade), que norteara a proclamação da nossa República.
Pouco mais de três meses antes, exatamente no dia 13 de dezembro de 1968 o então presidente da República, General Arthur da Costa e Silva promulgava o Ato Institucional nº Cinco, conferindo poderes quase absolutos ao governo militar. E em 26 de fevereiro de 1969, o governo militar completava o processo de implantação da ditadura com a edição do Ato Institucional Número Sete, suspendendo as eleições para governadores e prefeitos nas capitais.
Os meios políticos do país entravam em franca ebulição, com o início da repressão a toda e qualquer oposição ao governo. Enquanto a violência recrudescia com a organização de uma tíbia resistência á ditadura, exercida principalmente dentro dos sindicatos e dos movimentos sociais, um grupo de comprometidos cidadãos residentes em Mogi das Cruzes, a despeito de todas as dificuldades que o momento político oferecia, se reuniam para fundar aquela que viria a ser uma das mais importantes e respeitáveis organizações não governamentais da região: a APAE, sigla da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais.
O movimento para a fundação da APAE-Mogi das Cruzes já vinha desde os fins do ano de 1968, liderado pelo comerciante Lineu Húngaro e sua esposa Auzenda Maria de Moreira Húngaro, os quais trouxeram de Jundiaí, cidade onde moravam antes, as experiências já realizadas naquela cidade com a fundação de uma organização semelhante.[1]
A reunião oficial de fundação da APAE- Mogi das Cruzes ocorreu oficialmente na noite do dia 27 de março de 1969, na sede da Associação Comercial de Mogi das Cruzes. Presentes os seguintes membros fundadores, que assinaram a ata de fundação. Lineu Húngaro e Euzenda Maria Moreira de Toledo Húngaro; Ricardo Strazzi,; Higino Pavan Filho e Clélia Maria de Araújo Pavan; Francisco Assis Moraes; Eduardo de Castro; Botyra Camorin Gatti; Azis Ansarad Rizek; Francisco José de Carvalho; Benedito Wanderley Sasso; Dolores Vieira Elias; Edmundo Rodrigues; Teresinha Longo Rodrigues; Ruth Moraes Vasconcelos Lopes; Armindo José de Deus; Álvaro de Campos Carneiro; Adayla Campos Carneiro; Bento Antonio de Oliveira; Elzira Rodrigues de Oliveira; Edenir Miranda de Almeida; Elizabeth Brandt Trivino.
A Primeira diretoria da APAE-Mogi foi eleita em reunião realizada em 24 de junho de 1969 e ficou assim constituída:
Presidente: Lineu Húngaro
Vice.presidente: Ricardo Strazzi
1º Secretário: Higino Pavan Filho
2º Secretario:Célia Maria Araújo Pavan
1º Tesoureiro:Francisco de Assis Moraes
2º Tesoureiro: Eduardo de Castro
Diretores Adjuntos
Botyra Camorin Gatti
Assis Ansarah Rizek
Francisco José de Carvalho
Auzenda Maria Moreira de Toledo Úngaro
Conselho Deliberativo
Benedito Wanderley Sasso
Dolores Vieira Elias
Epaphas Gonçalves Ennes
Edmundo Rodrigues
Terezinha Longo Rodrigues
Ruth Moraes Vasconcelos Lopes
Armindo José de Deus
Suplentes
Orlando Sebastião Mascarelli
Victor Esselin
Adayla Marques de Campos Carneiro
Elzira Rodrigues de Oliveira
Maria Aparecida de Oliveira Briquel
Alberto Soares Pinho
Genuíno de Almeida Marins
Conselho Fiscal
Alcino de Moura Campos
Bento Antonio de Oliveira
José Romanatti
Antonio Teixeira
Galileu Ramires
Lineu Húngaro- Fundador da APAE-Mogi das Cruzes
Já de início as dificuldades naturais de instalação. Como angariar recursos para começar esse trabalho? Onde instalar a base de operações? Qual seria a estratégia de trabalho? Quem iria fazer o que?
Decidiu-se que a primeira coisa a fazer seria fundar a Escola APAE, que depois se tornou a Escola de Educação Especial da APAE de Mogi das Cruzes. Mais de um ano de preparativos e lutas se passou até que o trabalho efetivo pudesse ser iniciado. Em 1º de abril de 1970, finalmente, a primeira aula da APAE-Mogi das Cruzes foi dada.
Muitas coisas estavam acontecendo no Brasil naqueles dias. No dia 11 de março o cônsul japonês Nobuo Okuchi havia sido sequestrado por integrantes da Vanguarda Popular Revolucionária em São Paulo. Seria solto três dias depois, em 14 de março, na troca por cinco prisioneiros políticos. No dia 25 de março o Presidente Emílio Garrastazu Médici assinara o decreto-lei nº 200, ampliando de 12 para 200 milhas marítimas, o mar territorial brasileiro.
Enquanto o país mergulhava cada vez mais em um pântano escuro de repressão e medo, os abnegados fundadores da APAE trabalhavam para criar um ambiente propício ao resgate, para a sociedade, das crianças e adolescentes com deficiência. Sem se importar com as dificuldades, temores e incompreensões, que num momento de incertezas e desconfiança, como o que estava vivendo a nação, os fundadores da APAE-Mogi das Cruzes, foram a campo para fazer aquilo que o Estado, pelo menos naquele momento, não se propunha a fazer.
Um começo difícil, como se podia esperar. Seis crianças com deficiências cognitivas foram reunidas em uma pequena sala na Rua Barão de Jaceguay, nº 475, cedida gratuitamente por um dos fundadores, o Sr. Azis Ansarah Rizek. Um ano depois, foi alugado um pequeno prédio, na mesma rua, no número 153, onde a APAE funcionou até setembro de 1972. Poucos meses depois foi preciso uma nova mudança de endereço, já que o prédio alugado não apresentava condições adequadas para o desenvolvimento do trabalho. Foi então que a professora Botyra Camorin, uma das mais operosas colaboradoras da APAE nesses começos, conseguiu locar um prédio ao lado da casa onde ela morava, na Rua Cabo Diogo Oliver, nº 272. Ali, com uma extensão de telefone gentilmente cedida pela professora Botyra, a APAE ficou até outubro de 1973, quando se mudou para um prédio maior, na rua José Bonifácio 316.
Essas constantes mudanças de endereço refletem a luta da APAE em Mogi das Cruzes para sobreviver e realizar o seu trabalho pioneiro. Isso porque, a par da crônica falta de recursos financeiros, da dificuldade para contratar profissionais para um ramo específico de educação, como era esse, e atrair voluntários para dar suporte às mais variadas tarefas que surgiam no desenvolvimento normal do trabalho, o que se fazia necessário dado ao grande aumento de crianças assistidas pela entidade, havia também a inexperiência e o noviciado de um movimento que, no Brasil, ainda não tinha alcançado a maturidade necessária. Poucas eram as unidades da APAE existentes no país e escassos os casos de sucesso, nos quais se pudesse buscar uma modelagem.
Destarte, a falta de conhecimento era suprida com boa vontade e muito amor. A escassez de recursos foi compensada com a generosidade de parceiros que compreenderam a necessidade de ajudar a entidade a se manter e ampliar os seus serviços. Nesse sentido, a Prefeitura Municipal de Mogi das Cruzes ajudou, nesses começos, pagando o aluguel dos prédios onde a APAE se instalou; o Lions Clube de Mogi das Cruzes doou as carteiras para a escola; empresas e pessoas físicas ajudaram com diversos donativos na construção de uma oficina de carpintaria, cujas máquinas também foram doadas pelo Lions Clube de Mogi das Cruzes.
Nessa altura, o número de crianças atendidas pela APAE-Mogi das Cruzes já tinha chegado a oitenta. Era preciso ampliar as instalações. Foi aí que entrou em cena o Dr. Sebastião Cascardo, então prefeito de Mogi das Cruzes. Foi esse prefeito que, entendendo a necessidade e a qualidade dos serviços prestados pela entidade, realizando um trabalho que, em tese, caberia ao próprio serviço público municipal, resolveu ajudar a APAE, cedendo-lhe, em comodato, por noventa e nove anos, um terreno medindo 4.542 m² e nele construindo um conjunto de instalações com 300 m². Esse imóvel situado, na rua Santa Terezinha, nº 134, é onde a entidade está até hoje. E para homenagear uma das primeiras voluntárias da entidade, a Sra. Carmem de Moura Santos, a rua Santa Terezinha foi rebatizada com o nome dessa colaboradora.
Essa doação, e a construção de uma sede definitiva para a entidade, foram o marco definitivo de uma realização que veio para ficar e engrandecer a história das ações sociais no município de Mogi das Cruzes. Importava, não só em um reconhecimento, por parte dos poderes públicos, da importância e da excelência do trabalho realizado pela APAE, como também dotava a comunidade mogicruzense de um equipamento que a distinguiria entre as cidades do Brasil, como uma das comunidades mais avançadas do país nesse tipo de educação especial.
A partir dessa base, a APAE-Mogi das Cruzes cresceu e prosperou, tornando-se a grande potência que é hoje.
No jornal Mogi News de 28 de janeiro de 1977, a APAE publicaria uma moção de agradecimento ao Dr. SebastiãoCascardo, sem o qual ela não teria dado o salto qualitativo que deu a partir de então.
Cabe por fim, registrar nesse capítulo que certifica o nascimento e os primeiros anos de vida da APAE-Mogi das Cruzes, a valiosa colaboração que têm sido prestada, nestes anos todos, pelo Lions Clube Mogi das Cruzes- Centro.
Vale dizer que esse clube de serviços têm estado presente na vida da entidade desde o seu nascimento, realizando campanhas, fazendo doações, provendo recursos e fornecendo voluntários para a realização dos serviços prestados pela APAE. Ressalte-se que a maioria dos seus diretores-presidentes também têm sido recrutados entre os membros desse operoso clube de serviços. Entre eles os senhores Ricardo Strazzi, Alfredo Casela Júnior, Marcus Adalberto Abib e o atual, João Montes. Sem esquecer grandes colaboradores, que prestaram inestimáveis serviços à entidade, como Leopoldo Vano, Jaime Bastos, Jorge César, Celso Moreira Leite, Milton Martins Coelho, Osvaldo Gennari e outros, que por modéstia, ou mesmo por falta de registro de seus feitos, preferiram se conservar no anonimato. Mas a eles todos, fica o agradecimento da direção da APAE e de todos os educandos e respectivas famílias, que de alguma forma, tiveram suas vidas abençoadas pela fundação dessa entidade.
Outros colaboradores, entretanto, por sua inestimável contribuição ao desenvolvimento da entidade merecem ser citados neste registro. Eles aparecem, nesses primeiros anos de vida da APAE, realizando ações e prestando serviços à entidade. Sem o comprometimento e a dedicação desses abnegados voluntários, a APAE-Mogi das Cruzes não seria o que é hoje. São eles: Alberto Soares Pinho; Alcino de Moura Campos, Alda Ferri, Alexandre Pietzak, Alfredo Campolino dos Santos Filho, Antonio Teixeira, Bento Antonio de Oliveira, Carlos :Garcia, Domingos Luís Fernandes, Epaphas Gonçalves Ennes, Francesli Martins, Francisco Martins Campos, Franz Steiner, Galileu Ramirez, Genuíno de Almeida Marins, Geraldo José Franco de Faria, Hamilton Pereira de Morais, João Ricardo Gonçalves, Josefa Maria Romanatti, José Fernandes, José Gonçalves Filho, José Onofre Paes, José Romanatti, Márcia Aparecida Rangel Engelender, Maria Aparecida de Oliveira Briquet, Maria do Carmo Nogueira, Massaharu Horigoshi, Moacir Folker Júnior, Nilberto Lainetti, Nilson de Moura Marins, Nilza Aparecida Moretti Ariza, Norberto de Camargo Engelender, Orlando Sebastião Mascarelli, Roberto Monteiro, Roberto Raimundo Cestari, Romeu Carrasco, Sérgio Hugo Pinheiro, Silas Fonseca Redondo, Victor Esselin, Victor Pinto da Fonseca, Valter Ferraz, Walter Rodrigues de Andrade, Washington Domingues Quintas, William José Feres, Yoshiaaky Yamada. A todos eles a APAE e as pessoas, que de algum modo, foram beneficiadas pelos seus serviços, devem e manifestam seus agradecimentos. A esses grandes colaboradores a entidade deve muito da sua infância, adolescência, juventude e princípio de maturidade, pois todos prestaram inestimável colaboração durante os trinta primeiros anos da sua vida.
A partir do dia nove de setembro de 1972, a APAE-Mogi das Cruzes passou a ser dirigida pelo Sr. Ricardo Strazzi, face á mudança do Sr. Lineu Húngaro para São José dos Campos. Na condição de vice-presidente, ele assumiu a diretoria da entidade e nela permaneceu até data do seu falecimento.[2]
Nota: este texto é uma preparação para o livro de comemoração dos cinquenta anos da APAE-MOGI DAS CRUZES. Quem tiver qualquer informação sobre a história da APAE ou atuação de qualquer de seus membros nesse período (1969 até hoje) favor entrar em contato com este autor através deste site.
[1] Lineu Húngaro, comerciante, casado com Auzenda Maria de Moreira Hungaro veio de Jundiai para trabalhar em Mogi.
[2] Este capítulo foi composto com base nas informações fornecidas pelo boletim informativo da APAE nº 4, emitido para o bimestre março-abril de 1999, por ocasião da comemoração dos trinta anos da APAE-Mogi das Cruzes.