MITOLOGIA GREGA E CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA: Um olhar sobre o mito de Erisícton e sua aplicação educacional

Enciclopédia Biosfera (2006)

EIXO TEMÁTICO: EDUCAÇÃO

MITOLOGIA GREGA E CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA:

Um olhar sobre o mito de Erisícton e sua aplicação educacional

Leonardo Daniel Ribeiro Borges (G), e-mail: leodanielrb@yahoo.com.br

Universidade Federal de Goiás, Faculdade de Letras, Campus II (Samambaia), CEP 74001-970, Goiânia - Goiás

RESUMO

Este trabalho tem por objetivo estabelecer um contato entre a Mitologia Grega e a Consciência Ecológica, permitindo que a associação entre catarse mítica e percepção ambiental resulte em educação ambiental. Nos valeremos do Mito de Erisícton, analisado historicamente e literariamente cuja aplicação educacional está relatada por meio da contação de histórias o que poderá inspirar outras abordagens interpretativas e pedagógicas.

PALAVRAS - CHAVES: Mitologia Grega, Erisícton, Contação de Histórias, Percepção Ambiental, Consciência Ecológica.

ABSTRACT

The goal this work is establish a link between Greek Mithological and Ecological Conscience, allowing for the association between mythical catharsis and environmental perception result in Environmental Education. The Erisicton’s fable went analysed historically and literarially which application educational is related through of the telling story what could inspire other interpretative and pedagogicals approach.

Keywords: Greek Mithological, Erisícton, telling story, Environmental perception, ecological conscience.

OBJETIVOS

O presente trabalho tem por objetivo recuperar a noção do comprometimento ético-ecológico (VIEIRA, 1999) a partir de repercussões psicológicas vindas da Mitologia Grega, sobretudo do Mito de Erisícton, incluindo a experiência educacional mediada pela de narração deste mito a crianças do ensino fundamental de rede pública de do Município de Araraquara no ano de 2002, no projeto “A arte de contar e encantar” desenvolvido a partir de material elaborado durante estágio acadêmico, sob a orientação da Prof. Dra. Maria Celeste Consolin Dezotti, professora de língua e literatura grega no curso de Letras da Unesp de Araraquara.

No mundo grego antigo, o imaginário mítico concebia a força das Moiras (Klotô, Lákhesis, Átropos), como senhoras fiandeiras do Destino, que fizeram da divisão hierárquica divina uma divisão de habitat, tendo Zeus se apoderado do céu, seu irmão Poseidon, possuidor do tridente, dominou os mares e, por fim, Hades veio a reinar no mundo subterrâneo dos mortos. Esta divisão cosmogônica parece também refletir o mundo social helênico na qual a pólis com toda sua conjuntura integrativa se diferenciava do campo cultivável (agrós) e da natureza em seu estado campestre, selvagem (ágrios). Em relação à influência das dificuldades geográficas no advento da civilização grega, Bowra (1967, p. 15) afirma: “Uma terra como aquela exigia que seus habitantes fossem educados para serem ativos, empreendedores e inteligentes”.

Portanto, não queremos afirmar que foi somente dificuldades do clima, relevo, vegetação, etc. que levaram os gregos a nos deixar o valiosíssimo legado humano, fundamento do pensamento ocidental, mas sim que a pólis era um espaço dos homens, era uma cidadela que permitia as trocas sociais em uma ampliação do conceito de comunidade. Bowra (1967) também afirma que unidade grega se deu graças a “qualidades helênicas únicas” que para o nosso olhar é fruto da habilidade dos gregos em lidarem com o ambiente e com o social pela mediação com o sagrado.

Essa relação entre o urbano e a natureza é própria da relação entre o homem e o divinal. Nos bosques gregos os templos sagrados consagravam também os bosques, conforme observou (ELIADE, 1992) ao constatar o profano em sua extensão do sagrado, assim, era uma falta gravíssima o desrespeito ao local epifânico dos sacerdotes e sacerdotisas, tanto que famílias inteiras deixavam suas riquezas materiais na proteção desses bosques.

O animismo apontado por Freud em Totem e Tabu e depois recuperado como uma das características do egocentrismo infantil responsável pelo desenvolvimento cognitivo da criança via epistemologia piagetiana (LIMA, 1980), não era para o grego antigo uma característica a ser suplantada pela racionalidade e sim o ponto de contato com questões filosóficas da maior urgência, conforme observou Jolles (1976, p. 88) ‘’Quando o universo cria assim para o homem, por pergunta e resposta, tem lugar a Forma que chamamos Mito”.

Desta forma, compreendemos que esse ver no mundo algo a ser interrogado é o movimento capaz de criar a cultura tal como observou Stort (1993, p.22):

Os símbolos acrescentam ao mundo um sentido, uma ordem. Em função de seus desejos, o homem, o homem toma a natureza e transforma-a, surgindo então a cultura. Através da cultura, os objetos e as ações estão impregnados de sentidos. Pela cultura é que o homem cumpre seu destino, o seu destino ético.

A mitologia grega, quanto ao seu Comprometimento Ecológico Conscientizador, nos faz considerar que essa relação entre mito e natureza é a própria ponte harmônica entre o mundo existencial tridimensional e a metafísica.

Com isso, concordamos com Pierre Grimal ao dizer em seu livro A Mitologia Grega que: “Os gregos, em busca, como tantos outros, de um princípio motor no seio do Ser, julgaram descobri-lo no Amor”. p.22. Este mesmo Amor em seus atributos divinos de Eros é retomado como conjuntura psicológica por Freud em Mal estar da Civilização para se contrapor à força destruidora impulsionada por Tânatos a Morte, nos fazendo pensar a palavra como fundação e soterramento, o criador da psicanálise termina esta obra motivado pelo seguinte assombro que nos faz pensar os temas homem-morte; cultura-vida:

“A questão fatídica para a espécie humana parece-me ser saber se, e até que ponto, seu desenvolvimento cultural conseguirá dominar a perturbação de sua vida comunal causada pelo Instinto humano de agressão e autodestruição”. p.147.

Quando se deu o início do estudo de apropriação da mítica helena para a confecção de uma oficina de contação de histórias para crianças, considerei o que bem como pontuou Benjamin (1983, p.69):

O grande narrador se enraizará sempre no povo, antes de mais nada na suas camadas artesanais. Mas como estas compreendem as camadas rurais, marítimas e urbanas nos vários estágios do seu grau de desenvolvimento econômico e técnico, multiplicam-se os conceitos em que sedimenta para nós o acervo de sua experiência.

E mesmo antes de conhecer esta ponderação do famoso texto de Benjamim, O Narrador, já sabia da existência do alerta; haverá chegado o fim da oralidade em nossa sociedade tão estratificada por outros suportes, excludentes da dialogia básica das trocas humanas, e, o que isso vem a significar na formação cultural da humanidade? E, sobretudo das crianças?

Contudo, não esperava encontrar na materialidade textual da Mitologia Grega um mito como o de Erisícton. O que só corroborou com o fortalecimento de nossa empatia com os mitos helênicos considerados por Grimal como “mitos menores”, ou seja, mitos que narram um terceiro momento da Mitologia Grega na qual já há a protagonização humana. No entanto não devemos entender uma sistemática organizacional no surgimento mítico, pois como percebeu Grimal: “a unidade só é introduzida de modo artificial e secundário, os mitos não nascem como um conjunto organizado, a maneira de um sistema filosófico, teológico ou científico”. p 13.

METODOLOGIA

A) TEÓRICA

A metodologia utilizada para o estudo teórico acadêmico que fundamentou a elaboração da oficina “A arte de contar e encantar” se baseou na:

a) leitura e interpretação do maior número possível de mitos;

b) classificá-los de acordo com os valores sociais trabalhados.

Para tanto, os mitos tomados e interpretados à luz de sua estrutura narrativa, procurando-se descrever o comportamento dos heróis em relação à realização dos seus ideais, bem como os valores e sentimentos que movem suas ações. A partir da reflexão sobre as seguintes questões:

a) O que o herói quer?

b)•Por que ele quer?

c)•Como ele faz para conseguir o que quer?

O corpus utilizado na pesquisa foi constituído por material recolhido em duas fontes:

a) Hesíodo, poeta grego do séc. VIII A.C., autor da Teogonia e de Os Trabalhos e os Dias;

b) Antologias de mitos gregos narrados em português e disponíveis no mercado editorial brasileiro.

Com essa orientação, realizamos leituras introdutórias a respeito da cultura grega antiga para posteriormente contextualizar as narrativas míticas com este estudo helênico (BOWRA, 1967). Depois disto, tivemos contato com textos do poeta Hesíodo (1996, 1992), o que nos permitiu ter uma experiência poética mais direta com a expressividade poética clássica, complementando a leitura de “A mitologia Grega” de Pierre Grimal.

Ao término do estudo dessas obras de Hesíodo, nos detivemos em estudar antologias recentes dessas narrativas (BULFINCH, 2001; SCHWAB, 1995). O que resultou na organização de um corpus contendo 82 (oitenta e duas) histórias, das quais 20 (vinte) formam o material de trabalho da oficina “A arte de contar e encantar”, das quais destacamos: Perseu, Eros e Psiquê, Teseu e o Minotauro, Deucalião e Pirra, Prometeu, Órion, Orfeu e Eurídice e o objeto de estudo educacional deste trabalho, Erisícton.

Com concretização deste corpus o relacionamos com a investigação da literatura infantil (MEIRELES, 1979) e com a especificidade da contação de histórias (COELHO, 2000).

METODOLOGIA

B) PRÁTICA

Este embasamento metodológico teórico nos permitiu o desenvolvimento de uma metodologia enquanto à prática da contação de histórias, na qual o incentivo dado pela apreensão imagética dos símbolos representa conforme apontou Chevalier na introdução da obra Dicionário de símbolos (CHEVALIER; CHEERBRANT, 1999) uma transposição dramática pluridimensional, o que foi o suficiente para pensarmos e praticarmos um método que em síntese se realiza da seguinte forma:

Primeiro: A compreensão

Compreender não é somente entender, compreender é alcançar o conhecimento da sua própria realidade interna pelo espelho da história estudada. Em cada parada na leitura, o sabor de cada cena é verossímil e necessário conforme ensinou Aristóteles em sua Poética. Portanto, antes de se contar uma história num contexto educacional formal tem que compreendê-la e refletir profundamente nas passagens que mais nos chamaram atenção e descobrir porque isso ocorreu.

Segundo: A seleção

A seleção tem dois aspectos, um macro conjuntural que é a montagem de um corpus com as histórias que mais nos agradaram e, até mesmo convergindo gêneros distintos (fábulas, mitos de diferentes culturas, contos de fadas), e um micro textual no qual está contido um trabalho de intra-seleção que é a percepção das passagens que mais nos interessou e que, justamente terão sua importância confirmada na próxima etapa, a recordação.

Terceiro: A recordação

Etnologicamente, recordar é retirar do coração aquilo que você já sabe, não é uma vaga lembrança e nem uma rememoração, recordar é transparecer ao mundo a sua sabedoria de vida.

Em acordo com orientações estéreo-gnóstica do Método Montessori, deve-se relaxar o corpo e a mente concentrando na própria história, passando-a na mente como se ela fosse um filme e vendo se esse filme tem sentido na sua vida ou na vida de alguém (mesmo que esse alguém, em seja ficcional) é essa relação entre o real e o ficcional que temos que recordar. Afinal são as passagens que mais nos tocou que, mais nos trouxe sabedoria e por isso mesmo as mais importantes.

Quarto: Sistematização discursiva

Este método dispensa que se decore toda a história a ser contada, já que ninguém compreende da mesma forma e nem as mesmas coisas, uns compreende mais, outros menos, o que vale é que cada um em acordo com a atividade da própria consciência exercite sua capacidade compreensiva, para inclusive evitar o sociologismo desgastante e o pedagogismo moralista.

Ë bem provável que muitas passagens selecionadas sejam parecidas ou até as mesmas de outros colegas, isso é perfeitamente normal talvez seja isso uma das razoes pelas quais essas historias vêm resistindo os séculos.

A sistematização é simples e direta, devemos estabelecer um elo linear encadeando as passagens numa seqüência progressiva temporal em que há um esquema estrutural (PROPP, 1984) pelo menos no que tange: a partida, a busca, o retorno e as núpcias.

Particularidades da contação, tais como voz, movimentação corporal, suportes materiais nos valemos das indicações de Betty Coelho (2000) e no pensamento de Zinker sobre a criatividade (ZINKER, 1991 apud LILIENTHAL, 1998):

A criatividade é a celebração de nossa própria grandeza, o sentimento de que podemos fazer qualquer coisa que se torne possível. É uma celebração da vida, minha celebração da vida. É uma afirmação ardente: Estou aqui! Amo a vida! Me amo! Posso ser tudo! Posso fazer tudo!

A criatividade não é somente o conceito, senão o ato em si; a realização do que é urgente, do que necessita ser afirmado. Não é somente a afirmação do espectro total da experiência e sentimento de unidade de cada pessoa, mas também um ato social, um compartilhar com nossos semelhantes esta celebração, esta afirmação de viver uma vida plena.

Esta foi a fundamentação metodológica usada na prática com as crianças que freqüentaram a oficina A arte de contar e encantar realizada ao longo segundo semestre de 2002 na Biblioteca Municipal Infantil Monteiro Lobato (Araraquara/SP) numa parceria entre a Secretaria Municipal de Cultura e o Colégio Método.

As crianças da quarta série a sexta série do ensino fundamental da rede pública, participavam uma única vez da oficina, a contação do mito de Erisícton ocorreu no dia 02/10/02 das 13:00 às 15:00h e teve como público uma turma da quinta série do ensino fundamental.com 46 participantes (42 crianças, 2 professores e 2 monitores).

As oficinas tinham a duração de duas horas subdividida da seguinte forma:

1. contação da história (30 minutos)

2. discussão filosófica respaldadas pelos pressupostos metodológicos de Matthew Lipman (1990) com o acréscimo do estímulo a livre interpretação direcionada pela (re)contações das histórias (35 minutos)

3. encerramento com atividades psico-pedagógicas livres e sugestionadas ao referencial da narrativa trabalhada. As atividades principais foram: pinturas, colagens, composição de poemas e, estavam sob um enfoque crítico do fazer artístico que considera o desenho infantil um conjunto de linguagens (MASON, 2001, CARDOSO, 2000). Estas atividades psico-pedagógicas tiveram coordenação conjunta das professoras e professores das escolas participantes e das monitoras da Biblioteca Municipal Monteiro Lobato, sendo que o material produzido era levado pelas crianças.

O trabalho em Araraquara valeu-se da apropriação das histórias, mudando aspectos secundários para efeito narrativo e imagético, porém sem alterar a materialidade fundamental do arcabouço essencial dos mitos compreendido pela reflexão das três questões a serem respondidas (O que o herói quer?; Por que ele quer? E Como ele faz para conseguir o que quer?).

Conta-nos Bulfinch (2001, p. 205-208) que Erisícton “era um homem grosseiro, que desprezava os deuses” e certo dia resolve cortar uma árvore de um bosque consagrado à deusa da agricultura, Deméter (Ceres para os romanos), Bulfinch é dotado de um notável estilo poético, chegado a nós pela justa e exuberante tradução de David Jardim Júnior, vejamos:

Ali erguia-se um venerável carvalho, tão grande que ele sozinho dava a impressão de uma floresta inteira. Em seu velho tronco, que dominava as outras árvores, freqüentemente eram colocadas guirlandas votivas e entalhadas inscrições manifestando gratidão à ninfa da árvore. Muitas vezes tinham as dríades dançando em torno do carvalho. p 205.

Erisícton, de machado na mão corta o carvalho, amaldiçoa o bosque e despreza a deusa do lugar, e assim traça para si as conseqüências de tal ato, a ninfa agora tida como morta por suas companheiras vão ao encontro da deusa Deméter, narram-lhe o fato e Deméter não tarda em sua justiça, faz com que a imprudência seja punida, ao chamar uma divindade da montanha e levar a Fome a missão de adentrar em Erisícton. Conta-nos Bulfinch que a deusa mesmo por ser abundancia de provimento e multimutriz de colheitas, por desígnios das Moiras, não pode por se aproximar da Fome.

Esta, por sua vez, obediente deixa sua eterna busca por comida num desolado e pedregoso campo e entra pela boca de Erisícton enquanto o insensato dormia que, sobressaltado acorda desesperado com tanta fome que come todos mantimentos da casa, vende seus bens e propriedade, quanto mais comia mais fome sentia. Nas seguintes palavras de Bulfinch podemos ter uma idéia de tal fome: “Era uma fome semelhante ao mar, que recebe todos os rios e, no entanto, não se enche, ou o fogo que consome todo combustível que tem junto de si e continua pronto a destruir outros”. p 207.

Por causa disso, ele vende sua filha que atendida por Poseidon é salva temporariamente por metamorfoses e ao ser descoberta em sua forma original é revendida por seu pai, isto acontece várias vezes, mas, mesmo com o dinheiro dessas vendas, o faminto Erisícton sente-se devorado por dentro e acaba por devorar a si mesmo, pondo assim fim ao sofrimento, com o término de sua própria vida.

A expressão trágica deste mito não limita nosso olhar para um apontamento diretamente moral e pedagógico, afinal como confirmou Grimal na obra supracitada: “Graças ao mito, o sagrado perdeu seus terrores e toda uma região da alma abriu-se a uma reflexão; a poesia pode tornar-se sabedoria”. p. 11. o valor estético desta narrativa é que nos traz o contato com a catarse.

Então resta-nos dizer este aprendizado profundo não está separado do tempo e do espaço, porém a arte, a mística, a filosofia, estão interligadas de forma uníssona e guardando algo particular a cada uma. Essa unidade está envolta ao mito e isso mostra uma força motriz capaz, mesmo que, momentaneamente, aproximar o homem de seu objeto ontológico perdido, fazendo que a continua busca pela satisfação de desejos reconheça o sentido simbólico do desejado (LACAN, 1985).

No caso de Erisícton é percebido que ele quis cortar a árvore, mas o mito que nos chegou, não narra o porquê disso, sendo assim, ao indagarmos as crianças sobre quais motivos o levariam a fazer isso, a discussão filosófica se polarizou de um para os que afirmaram que ele era lenhador, que ele precisava da madeira para construir uma casa ou uma ponte, e de outro para os que disseram que: ele era mal e queria destruir o bosque, que ele não teve pena da árvore, agora já considerada possuidora de uma alma, a ninfa, atribuía a Erisícton o status de assassino.

As visões diferentes sobre a história foram manifestadas, o nosso esforço central, foi exatamente deixar essa ambivalência na mentalidade das crianças, pois paradoxalmente temos numa superfície a ato nefasto de um criminoso e noutro nível temos esse mesmo ato agora motivado por precisão da sobrevivência.

O que levou as crianças a pensarem sobre o respeito à vida e a necessidade de sobreviverem, sem que para isso houvesse radicalismos sobre o não uso da madeira e a destruição de floretas para o “progresso” (FIGURA 1).

(1)

(2)

Figura 1- O equilíbrio entre o ser humano e a natureza (1) e a vitória como uma coroa da natureza (louro).

A atividade psico-pedagógica para o mito de Erisícton foi o desenho e colagem de uma árvore a partir de cascas de árvores e folhas (secas e verdes) recolhidas anteriormente à oficina. Surge disto, uma metalinguagem praticada pela metáfora, na qual a história é materializada pelo uso de materiais da própria natureza (folhas e cascas) trazendo como já havíamos dito uma lição humana-ecológica não pragmática. O estudo deste grafismo infantil demanda um recorte semiológico e até psicanalítico que ultrapassam os limites teóricos deste artigo, mesmo assim, o retorno do objeto ao seu criador constituindo uma resignificação do sentido simbólico numa camada íntima (idiossincrática) e em outra coletiva (autárquica) foi percebido na interação entre as crianças, seja pela estima ao objeto, seja pela apresentação do mesmo.

RESULTADOS

Contar histórias é uma arte, e sendo arte requer: aptidão, talento e treino. Muitas vezes esta capacidade só será desenvolvida quando o professor, contador de histórias (arte-educador) ou o pedagogo descobrir porque ele gosta de sua atividade, porque gosta de crianças e porque gosta de histórias. E aí deve se perguntar com sinceridade:

Posso contar histórias?

Esperamos que a leitura deste artigo responda que sim, todos nós podemos contar histórias, o contexto profissional da educação hoje é separatista ao atribuir valências técnicas e científicas a um determinado grupo de professores e habilidades lúdicas e artísticas a outro, desconsiderando que a ferramenta principal desta atividade é o uso da palavra, é o uso da linguagem, conforme priorizou Sousa (2005, p.252):

Poderíamos dizer que dessa mesma argila básica da linguagem, composta de muitas grafias, arrumada de forma variada, dita de maneira diversa, escrita em línguas que sequer muitos de nós conhece – a palavra foi, e é e será, essa matéria bruta que o pensamento ao mesmo tempo cria e recria para continuar dando-lhe as formas a partir das quais nomeia e pensa o mundo.

Este esforço de compreender o significado dos mitos para a educação não é recente (BACON 1561-1626, 1992) e ele não é uma dicotomia entre a reflexão teórica e a narração mítica, pois a teoria é um olhar sobre esta narração num víeis discursivo que, cria uma nova narração. O que devemos fazer é reconhecer na linguagem poética o primado fundamental desta manifestação, tanto em polissemia criativa, como em estatura tradicional.

Enfim, a relação entre Conscientização Ambiental (delimitada pela conscientização da preservação do ecossistema florestal) e a Mitologia Grega (apresentada pelo mito de Erisícton) revela que a percepção simbólica do que é árvore em sua relação coma vida, com o religar religioso (CHEVALIER, 1999 p.84-90) e do que é machado em sua ambigüidade de proteção e destruição (CHEVALIER, 1999 p.576-577) é a mesma percepção ambiental (FAGGIONATO, 2005) capaz de resultar numa repercussão anímica profunda, uma educação significativa, vivenciada pela caminhada da criação uma sociedade melhor. Onde o chão pisado é o palco para a criatividade verdadeira do homem, expressão da harmonia entre individual e coletivo. Agradeço as contribuições das professoras Maria Celeste Consolin Dezotti (Unesp) e Margareth Cavalcanti de Castro Lobato (UFG).

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