LER E CONTAR HISTÓRIAS: A ARTE DO ENCANTAMENTO

LER E CONTAR HISTÓRIAS: A ARTE DO ENCANTAMENTO

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Partindo do pressuposto de que o hábito da leitura não deve ser imposto e sim despertado no aluno de forma prazerosa, este artigo se propõe apresentar reflexões de leituras que poderão servir de recurso para o professor de literatura em sala de aula, com o objetivo de auxiliá-lo na formação de novos leitores através da literatura e da arte do encantamento de contar histórias, de diversas narrativas.

Nesse sentido, esta pesquisa bibliográfica intitulada “Ler e contar história: a arte do encantamento” tem como principal objetivo incentivar o professor a despertar no aluno o prazer da leitura através de narrativas contadas (oralizadas). Para isso, destacaremos a importância de diferentes gêneros textuais, tais como a Fábula, o Conto de Fadas, o Mito e a Lenda, além de alguns recursos que servem de veículo para a aproximação do novo leitor em formação com a narrativa literária, tais como a intertextualidade e as adaptações cinematográficas baseadas numa obra literária.

A escolha deste tema surgiu pela percepção em sala de aula no ensino da disciplina Literatura diante o desinteresse dos alunos pela leitura, uma vez que esta prática enfrenta um grande desafio diante dos recursos tecnológicos, tais como, a internet, as redes sociais, os e-books, filmes e vídeos. Neste sentido, o desafio proposto ao professor será conquistar esses leitores através de histórias contadas, para que o hábito da leitura se torne por prazer, além do estudo e da busca de conhecimentos.

Sabemos que a leitura é a base fundamental não só para a formação intelectual de qualquer indivíduo, como também para o aprendizado de conteúdos específicos e aprimoramento da escrita. O hábito da leitura, portanto, deve ser estimulado pelo professor, visto que ele é o principal responsável para formação do aluno leitor, por isso deve despertá-lo para o mundo maravilhoso e fantástico, onde o educando desenvolva o prazer pela leitura, assim como a imaginação, a escuta atenta e a linguagem. Contar histórias é um dos meios mais antigos de comunicação e interação humana.

Nesse sentido, Abramovich (1995) afirma que:

É ouvindo histórias que se pode sentir emoções importantes como a tristeza, o pavor, a insegurança, a tranquilidade e tantas outras mais. É através duma história que se podem descobrir outros lugares, outros tempos, outros jeitos de agir e de ser outra ética, outra ótica. É ficar sabendo, História, geografia, filosofia, Política, Sociologia, sem saber o nome disso tudo e muito menos achar que tem cara de aula. (ABRAMOVICH, 1995, p.30).

Desta forma, é importante destacar que o ato de contar histórias está relacionado ao presente cotidiano das pessoas de diferentes culturas ou classes sócias, em que vem passando através das gerações, tendo como finalidade encantar, transmitir conhecimentos, estimular a imaginação e a fantasia, tudo isso através da magia que representa.

Para a realização deste trabalho, foi elaborada uma pesquisa bibliográfica com autores relacionados à Literatura Infantil e a sua importância na formação de novos leitores. Para tanto, fez-se necessário dividi-lo em tópicos: no primeiro tópico, abordaremos “a importância da leitura na formação de novos leitores”, onde daremos destaques a autores referenciais, tais como, Mário A. Perini, Regina Zilberman, Lajolo, entre outros. No segundo tópico, “o leitor em formação”, apresentaremos o perfil desse leitor em formação em sala de aula e como o professor poderá reverter o desinteresse pela leitura. Ganham destaques os autores Kato, Machado, Araujo, Colombo e os PCNs. No terceiro e último tópico, intitulado “a arte do encantamento”, trataremos da importância de contar histórias como veículo primordial na conquista de novos leitores pelo encantamento da narrativa. Outros autores somam-se aos já citados nos capítulos anteriores, tais como, Coelho e Costa.

Esta pesquisa, portanto, faz-se relevante por ser, sobretudo, uma reflexão sobre a problemática encontrada pelo professor de literatura nas séries do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental, no desempenho de suas aulas e sobre a falta de interesse do aluno pela leitura, podendo ser esta um auxílio/orientação para que o profissional consiga despertar em seus alunos a leitura pelo prazer e não pela obrigatoriedade.

A leitura é a base fundamental do saber, isto é, ela é algo crucial ao desenvolvimento intelectual do ser humano. É por meio do texto que se adquirem conhecimentos. Cria-se o espírito crítico capaz de intervir com posicionamentos e reflexões acerca de conceitos e opiniões de autores, criando desta forma a sua própria concepção sobre determinado assunto.

Com o advento das novas tecnologias na contemporaneidade, percebemos que o ato da leitura de livros impressos tem se colocado de lado, perdendo espaço para salas de bate papo e todo o entretenimento que a internet proporciona a seus usuários. Esse fato torna-se preocupante quando observamos a postura de alunos cada vez mais desinteressados pelos livros, contribuindo assim para o baixo nível vocabular, como também o não entendimento de um simples texto.

Desta forma, segundo Perini (2002), quando se pergunta para que ler, deve-se levar em conta a situação dos alunos envolvidos no processo de ensino/aprendizagem. Para ele, esse aluno se encontra diante de uma situação emergencial. E questiona:

Que se pode fazer durante aquele breve período de escolarização nessa situação de carência de apoio extraescolar? Como conseguir que pelo menos uma boa parte dos alunos deixe a escola instrumentada a utilizar a leitura para solucionar problemas da vida quotidiana, e capaz de desenvolver suas habilidades de leitura de maneira autônoma? (PERINI, 2002, p.80).

Nesse sentido, é preciso que os educadores conquistem os alunos através da leitura, sendo que esta tem de vir do interesse individual de cada leitor e não de uma obrigatoriedade posta pelo docente. Formar um leitor também passou a ser prioridade na vida dos educadores, uma vez que é ainda na escola que se dá o primeiro encontro do leitor ainda não formado com a obra literária. Segundo Zilberman (2002):

Enquanto prática, a leitura associa-se desde seu aparecimento à difusão da escrita, à fixação do texto na matéria livro (ou numa forma similar a essa), à alfabetização do indivíduo, de preferência na fase infantil ou juvenil. [...] Colocada na base da educação, a leitura pôde assumir de imediato o componente democratizante e confundiu-se com alfabetização, pois ler veio a significar igualmente a introdução ao universo de sinais conhecidos como alfabeto e a constatação do domínio exercido sobre ele. (ZILBERMAN, 2002, p.12).

Segundo Silva (2011):

Os motivos são muitos e variados, mas o que mais se destaca nesse emaranhado prolixo é que muitas dessas obras não são trabalhadas pelo professor de literatura em sala de aula, ou quando o faz, é de forma desprazerosa e sem atrativo nenhum para o aluno. Outros motivos, tais como a despreparação do professor de literatura, que não tem o hábito da leitura; a limitação do aluno para compreender a obra, identificando o contexto histórico em que está inserida, nem o período literário; a inter-relação da obra com outra, contribuem para que o aluno não alcance a proposta esperada da instituição ao prestar o exame de vestibular.

Neste contexto, o material escrito que chega às mãos dos alunos se compõe especificamente de textos didáticos, causando em grande parte o desinteresse pela leitura. Perini (2002) destaca que:

Trata-se de material que, de certa forma, apresenta para eles um interesse imediato, na medida em que lhes possibilita, em princípio, melhorar seu desempenho escolar. No entanto, é singular o grau de desinteresse que os alunos mostram pelo livro didático. [...] Parte desse desinteresse pode ser oriundo de causas gerais, que contribuem para baixar o atrativo de qualquer atividade encomendada pela escola. (PERINI, 2002, p. 81).

Segundo Silva (2011), é preciso, portanto, aproximar o aluno da obra. Nesse sentido, o papel do professor de literatura se destaca como intermediador direto desse processo. E ainda afirma que, “é ele o responsável por essa indicação e até mesmo, na criação de forma canônica de seu leitor, despertando o interesse, tanto do clássico como o do contemporâneo”. Para Lajolo (1996, p.16), “a leitura é uma estratégia eficaz no processo de ensino/aprendizagem”, nessa perspectiva, é o leitor quem atribui significado ao texto. O mesmo pensamento é atribuído a Orlandi (1995, p.60), quando afirma que “o sujeito leitor é quem, em sua preexistência, se torna produtor da interpretação do texto”.

Segundo Lima (2010, p.29), “a leitura é algo pessoal, típico de cada ser humano. Contudo, ela necessita ser orientada e estimulada”. Neste sentido, o professor absorve e internaliza os textos lidos. Para Lima (2010):

O professor deve saber escolher o método adequado de abordagem dos mesmos, facilitando a compreensão, assimilação e aplicação prática. Dessa forma, o estudo produz resultados e dá origem a uma atividade desejada, proveitosa e interessante. (LIMA 2010, p. 29).

Portanto, é o professor o mediador da leitura, o espaço onde ocorre essa interação com a leitura é a escola. Neste sentido, Koch e Elias (2008) afirmam que é papel do professor refletir coletivamente sobre sua bagagem cultural acionando os mecanismos de aprendizagem para que desta forma haja uma integração interdisciplinar, implantando novas práticas pedagógicas visando aos interesses e às necessidades dos novos leitores. Para as autoras,

O ato de ler constitui-se da junção entre os sujeitos sociáveis com a linguagem sociocognitiva, o que lhes possibilita um contato eficaz com elementos significativos do texto. Sendo assim, o leitor é posto em contato direto com as palavras, de maneira peculiar, percebendo o elevado grau de sentido que elas preservam. (KHOCK e ELIAS 2008, p.63).

Nesse mesmo sentido, destaca-se a escola, pois cabe a ela organizar, criar e adequar novas propostas e estratégias em sua grade curricular favoráveis à formação de novos leitores. Segundo Silva (2011), a escola é vista como principal agente intermediário entre leitores e livros, e a leitura deve ser disponibilizada para os alunos (novos leitores) como algo prazeroso, de forma que ela possa escolher o que deseja ler. Mas, Aguiar (1993) chama atenção para o processo de leitura e afirma que deve haver uma continuidade. Para isso, é preciso que o hábito não seja apenas como um padrão rotineiro, mas uma busca frequente da literatura como uma atitude consciente com finalidade de enfrentar o desafio que o texto oferece como nova alternativa para o desenvolvimento intelectual e emocional do leitor.

O ato de contar história permite ao aluno elaborar conceitos em relação ao mundo que o cerca, desenvolvendo sua imaginação através da observação, interagindo com o que lê e ouve. Nessa concepção, segundo o Referencial Curricular para a Educação Infantil (2008, p.14):

O ato de ler é cultural. Quando o professor faz uma seleção prévia da história que irá contar para as crianças, independente da idade delas, dando atenção para a inteligibilidade e riqueza do texto para a beleza das ilustrações, ele permite às crianças construírem um sentimento de curiosidade pelo livro (ou revista, gibi, etc.) e pela escrita.

E sugere ainda aos professores da educação infantil que:

Organizem um ambiente especial para os livros na sala de aula, criem rodas de leituras, num clima aconchegante e prepare um ambiente que entusiasme os alunos, fazendo com que eles construam uma relação prazerosa com a leitura. Os professores podem e devem ler contos de fadas para cativar as crianças.

Dessa forma, o desafio imposto ao professor de literatura na formação de leitores poderá ser amenizado se houver um comprometimento com o conteúdo programático, que deve ser ensinado e o que se espera do aluno em relação ao exame do vestibular, preparando-os de forma adequada, procurando apresentá-los as obras, transformando a obrigatoriedade numa nova perspectiva: a do saber e o do descobrir ao invés do decorar.

Como fazer para reverter essa realidade pelo desinteresse da leitura? Como despertar no aluno o interesse na leitura sem a imposição? Ler é, sobretudo, um prazer que deve ser apreciado. O interesse deve partir do indivíduo e não por imposição, e o hábito da leitura independe da obrigatoriedade. Por outro lado, o professor de literatura deve estar atento ao que seus alunos estão lendo, para que se possa tirar dessa leitura algo em que se faça uma inter-relação com o que está ensinando. É papel de o docente aproveitar o interesse do aluno pela leitura, para poder inserir em suas aulas o conteúdo programático sem se tornar desinteressante ou cansativo.

Nesse sentido, Kato (1985) afirma que ao pesquisar a leitura do ponto de vista do leitor ideal, ele pode incorrer no grave erro de esperar que se possa ensinar à criança as estratégias do leitor maduro. A criança, no início das primeiras séries, não consegue diferenciar o mundo real com o fictício. Segundo Kato (1985):

A criança começa a mostrar a capacidade de decentração quando apresenta dúvidas quanto à estória ser verdadeira ou não. [...] Somente quando a estória emerge como uma ficção que a criança começa a jornada na exploração do mundo, não como ele representa, mas como ele poderia ser. (KATO 1985, p.34).

O primeiro contato da criança com o texto é de certa forma, através da oralidade ou da visualidade. Muitas destas narrativas são baseadas em diferentes gêneros textuais, dentre os quais se destacam os contos de fada, o conto maravilhoso, a fábula e histórias narradas através de adaptações literárias para o cinema ou para a televisão, como exemplo, as adaptações de histórias do Sítio do Pica-Pau Amarelo, de Monteiro Lobato. Nesse mesmo contexto, destacamos também as lendas e os mitos, que de certa forma encantam as crianças e são transmitidas oralmente, visando a explicar acontecimentos misteriosos ou sobrenaturais.

Segundo Machado (2002), a leitura de um bom livro remete o leitor a outro mundo como ao enriquecimento e vivência de práticas prazerosas de uma boa leitura. Para ela, o leitor tem que ter acesso a materiais de boa qualidade e afirma que:

Ninguém tem que ser obrigado a ler nada. Ler é um direito de cada cidadão, não é um dever. É alimento do espírito. [...] Todo mundo precisa, todo mundo deve ter à sua disposição – de boa qualidade, variada, em quantidades que saciem a fome [..]. Tentar criar gosto pela leitura, nos outros, por meio de um sistema de forçar a ler só para fazer prova. É uma maneira infalível de inocular o horror a livro em qualquer um. (MACHADO, 2002, p. 32).

Portanto, para que haja uma leitura de qualidade, segundo a autora, é preciso que aconteça uma interação entre o livro e o leitor. E nesse sentido, é no texto narrativo onde ocorre esta interação, visto que a leitura é um processo dinâmico que intercala o que se reconhece no texto e o que se absorve dele. Para Zilberman (2005), um bom livro é aquele que agrada, não importando se foi escrito para crianças ou adultos. Além de ser prazerosa, a leitura também tem grande importância no processo de educação, pois segundo Lima (2010):

Torna-se necessário entender que quanto mais lemos com qualidade, mais enriquecemos nosso vocabulário, aumentamos nosso repertório intelectual, e consequentemente, escrevemos melhor. Quando é bem feita, a leitura nos proporciona uma visão crítica de mundo. Diante disso, a importância que ela tem é imensurável. (LIMA, 2010, p. 31).

É importante frisar, porém, que não existe uma fórmula para despertar o prazer pela leitura. Nesse sentido, é preciso investir em educadores que tenham interesse em formar novos leitores, assim como, investir na aquisição de livros e materiais que venham enriquecer essa prática. Segundo Lajolo (2004), uma das prioridades da escola é oportunizar o aprendizado da leitura e da escrita, valorizando-as igualmente, pois para ela, ambas estão interligadas. Portanto, finaliza afirmando que a escola deve propiciar os instrumentos e condições para que a criança tenha um contato positivo com os livros, assim como, os mateiras de leitura de diversas fontes. De acordo com os PCNs (1997):

Para tornar os alunos bons leitores – para desenvolver, muito mais do que a capacidade de ler, o gosto e o compromisso com a leitura – a escola terá de mobilizá-los internamente, pois aprender a ler (e também ler para aprender), requer esforço. (PCN, 1997, p. 5)

Neste sentido, surge a necessidade de promover uma renovação metodológica nas escolas nas aulas de literatura, tornando-as capazes de repensar o ensino e buscar uma nova dinâmica de leitura, para que seja possível despertar no aluno o prazer de ler e não apenas se deter em busca de informação ou aprender regras e decodificar sinais. No processo de leitura, segundo Lajolo (2004):

Deve-se levar em consideração o conhecimento prévio do aluno, uma vez que o mesmo precisa estabelecer uma ponte entre o saber adquirido em seu dia-a-dia com os conhecimentos que obtém durante o processo ensino aprendizagem. Mas para que isto aconteça, o educador precisa dispor de estratégias de leitura que venham contribuir para que o aluno desperte em si o desejo de ler em decorrência de um conhecimento significativo. (LAJOLO, 2004, p. 32).

Portanto, a preocupação em despertar no aluno o interesse pela leitura de forma prazerosa não depende somente do professor e da escola, mas de estratégias elaboradas pelo próprio professor de Literatura, que possam orientar e subsidiar meios para que os nossos alunos se encontrem na leitura. Para isto, é preciso que o leitor tenha domínio do texto. Lima (2010) sugere as estratégias de leitura para antes, durante e depois da leitura, pretendendo desenvolver a prática na formação do leitor, para alcançar esse estágio de proficiência. O autor supracitado acrescenta que, quando uma pessoa passa a compreender e a interpretar qualquer tipo de texto, ela passa a ter uma visão crítica de mundo.

Diante desse quadro, o professor poderá desenvolver ainda várias atividades com o objetivo de mostrar que o texto tem muitos significados e funções, os quais permitem ao leitor novas descobertas, como também ampliam as possibilidades de pensar, de conhecer e registrar o que está inserido nesse texto e ao seu redor. Araujo (2010, p.70) acredita que após a leitura de um texto o aluno será capaz de fazer atividades diversificadas, dentre as quais podemos citar:

 Apresentações teatrais: contextualizar temas desenvolvidos em exposições verbais ou textos literários e científicos;

 Atividades de descrição: transcrever um texto escolhido pelo professor e apresentá-lo oralmente;

 Aula dialogada: um debate ou até mesmo momentos específicos de debate após o tema que se leu ou que se ouviu;

 Fantasia e realidade: criar uma história com uma parte real e outra imaginária;

Ainda segundo Araujo (2010):

A forma didática que as escolas usam para que os alunos desenvolvam a leitura é estimulá-los a trabalhar com a diversidade textual, desse modo se formarão leitores competentes, não só com o conhecimento mais com análise crítica, é um fator importante no desenvolvimento intelectual. (ARAUJO, 2010, p.70).

Ler é, sobretudo, participar de um processo de intercomunicações e, nesse contexto, o leitor é o receptor. O hábito da leitura deve ir além das necessidades e interesses, sempre motivando o aluno às suas práticas. Nesse sentido, de acordo com Araujo (2010), a formação de um leitor exige familiaridade com um grande número de textos, pois é preciso fazer da leitura um hábito determinado por motivos permanentes, os quais servirão para a formação deste novo leitor.

Dessa forma, este artigo se propõe a apresentar a importância dessas narrativas literárias na formação de novos leitores, especificamente no leitor infanto-juvenil. A leitura destes textos para criança é fundamental para o seu desenvolvimento intelectual, pois permite que ela se aproprie de um imaginário social, assim como, enriquecer o seu vocabulário, tornando-se um leitor crítico capaz de interpretar um texto corretamente. Segundo Colombo (2009), as primeiras leituras tanto realizadas pelas crianças, como as que são feitas para elas, marcam em suas memórias que perduram por anos.

Historicamente, de acordo com Lima (2010), a literatura infantil surge no Brasil no final do século XIX com caráter exclusivamente pedagógico. Devem-se destacar neste contexto, os nomes de Carlos Jansen e Figueiredo Pimentel, que se encarregaram de traduzir e de adaptar obras para o público infantil brasileiro, num momento em que a exploração dos mitos, lendas e histórias folclóricas nacionais passaram a ser cultuadas, assim como, houve uma maior preocupação em produzir livros destinados a um público infantil, com o lançamento do livro “O sítio do pica-pau amarelo”, de Monteiro Lobato, na segunda década do século XX.

A arte de contar história se deve ao professor de literatura, visto que, antes de tudo, o professor de literatura é um contador de histórias. Esse encantamento se dá primeiramente pela oralidade, ao narrar histórias que mexam com a imaginação do aluno, de forma interativa e lúdica. Segundo Coelho (2000), a literatura infantil:

É, antes de tudo, Literatura, ou melhor, é arte: fenômeno de criatividade que representa o mundo, o homem, a vida, através da palavra. Funde os sonhos e a vida prática, o imaginário e o real, os ideais e sua vida possível/impossível realização. (COELHO, 2000, p.27).

Nesse sentido, a literatura voltada ao público infantil não deve ser feita apenas com intenção pedagógica ou didática. Deve-se, no entanto, criar uma condição para que a leitura seja prazerosa dando ênfase ao que de fato importa: o desejo do leitor. O mesmo acontece com o texto apresentado para a criança. Segundo Coelho (2000), a literatura deve ser apresentada a criança com textos adequados a sua faixa etária, para tanto é preciso que o professor oriente e estimule o aluno para que ele perceba e compreenda o texto lido.

As histórias infantis, portanto, têm papel fundamental na formação de novos leitores. Neste aspecto, vale ressaltar que tratar dos gêneros literários da literatura infantil significa um diálogo permanente com a tradição oral e escrita do texto literário em diferentes épocas. Diante disto, é preciso compreender que a literatura infantil, segundo Lima (2010), deve chamar a atenção do pequeno leitor, levando-o a vivenciar das diversas experiências no campo do real ou do maravilhoso. Neste sentido, o professor de literatura deve estar familiarizado com os textos lidos para dar maior vivência à história, assim como, conhecer o acervo que a escola possui e utilizá-lo em sala de aula. Outro fator que poderá auxiliá-lo é o planejamento, pois para Araujo (2010):

Para não estar relacionada com dever, a leitura de livros de literatura deve ser planejada com antecedência para não aparentar improvisação, pois a leitura no processo de alfabetização deverá ser apresentada para as crianças com a noção de descoberta, de prazer. (ARAUJO 2010, p.84)

Ainda de acordo com Araujo (2010), a introdução da criança no universo da fantasia ocorre muito antes da sua alfabetização. Para ela, a criança tem uma capacidade evoluída de reproduzir elementos fantásticos que conheceu através de meios como a televisão, as histórias que lhes foram contadas e os livros que foram lidos para ela. Neste sentido, considera-se como maravilhoso esse mundo fantástico. Para Lima (2010):

O maravilhoso sempre foi e continua sendo um dos elementos mais importantes na literatura destinada às crianças. Através do prazer ou das emoções que as estórias lhes proporcionam, o simbolismo que está implícito nas tramas e personagens vai agir em seu inconsciente, atuando pouco para ajudar a resolver os conflitos interiores normais nessa fase da vida. (LIMA, 2010, p. 31).

Cabe, portanto, ao professor de literatura transformar a leitura em um mundo de prazer para os seus alunos, através de livros e materiais em espaços adequados e próprios para contar as histórias, seja na biblioteca ou em algum outro cantinho de leitura criado por ele.

Nesta perspectiva, espera-se que o professor traga para os seus alunos diversos contextos literários, a fim de promover a riqueza literária, visto que a literatura infantil é uma das principais ferramentas na construção de novos leitores, principalmente, nas séries iniciais. Costa (2008) afirma que os professores, além das técnicas de alfabetização, devem procurar novas maneiras de incentivar a leitura. Desta forma, por considerar que a fantasia estimula a imaginação da criança, é preciso enfatizar alguns gêneros literários que poderão contribuir para o encantamento da leitura de obras que despertem esta fantasia na formação de novos leitores, servindo como ferramenta de auxílio ao professor de literatura.

O primeiro gênero é a fábula. Visando à formação de valores nas crianças, as fábulas, como recurso didático, podem auxiliar ao professor como alternativa metodológica, a fim de ensinar a despertar virtudes na construção de conhecimentos no processo de ensino e aprendizagem. Segundo Coelho (2000), a fábula é uma narrativa de uma situação vivida por animais, que alude a uma situação humana e tem por objetivo transmitir certa moralidade. É, sobretudo, uma narração alegórica que finaliza com uma lição de moral, a qual nos leva a reflexão.

No que se refere ao seu enredo, a Enciclopédia Brasileira (2004) afirma que:

O enredo é vivido entre animais, pessoas, personagens mitológicos deuses e outros seres imagináveis e não só com animais e/ ou seres inanimados (apólogos), como também não só representados por homens como é o caso da parábola, mas sim numa mistura de personagens a fim de não impor limites à alma do fabulista.

Neste âmbito, a fábula torna-se um excelente recurso a ser utilizado pelo professor, uma vez que diverte, educa e instrui a criança, despertando emoções, prendendo sua atenção, realizando o seu objetivo: despertar na criança o prazer pela leitura, visto que a fábula é um gênero oriundo do conto popular, narradas em prosa ou verso, o que a aproxima do mito e da poesia. Como sugestão, o professor de literatura pode basear-se nas fábulas de dois grandes fabulistas: Esopo (A lebre e a tartaruga) e Jean de La Fontaine (O Lobo e o Cordeiro). Vejamos:

A lebre e a tartaruga (Esopo)

Era uma vez... uma lebre e uma tartaruga. A lebre vivia caçoando da lerdeza da tartaruga. Certa vez, a tartaruga já muito cansada por ser alvo de gozações, desafiou a lebre para uma corrida. A lebre muito segura de si, aceitou prontamente. Não perdendo tempo, a tartaruga pois-se a caminhar, com seus passinhos lentos, porém, firmes. Logo a lebre ultrapassou a adversária, e vendo que ganharia fácil, parou e resolveu cochilar. Quando acordou, não viu a tartaruga e começou a correr. Já na reta final, viu finalmente a sua adversária cruzando a linha de chegada, toda sorridente.

Moral da história: Devagar se vai ao longe!

O lobo e o cordeiro (La Fontaine)

Certa vez, um lobo estava bebendo água num riacho. Um cordeirinho chegou e também começou a beber, um pouco mais para baixo.

O lobo arreganhou os dentes e disse ao cordeiro:

- Como é que você tem a ousadia de vir sujar a água que estou bebendo?

- Como sujar? – respondeu o cordeiro – A água corre daí para cá, logo eu não posso estar sujando sua água.

- Não me responda! – tornou furioso. –Pois sei que você estragou o meu pasto – replicou o lobo sem perder o rebolado.

- Como é que posso ter estragado seu pasto, se nem dentes eu tenho? – respondeu o humilde cordeiro.

- Além disso – rosnou o lobo – fiquei sabendo que você andou falando mal de mim há um ano.

- Como poderia falar mal do senhor há um ano, se sequer completei um ano?

O lobo, não tendo mais como culpar o cordeiro, usou sua razão de animal esfomeado e não disse mais nada: pulou sobre o pescoço do pobre animalzinho e o devorou.

Moral da história: Contra a força não há argumentos.

O segundo gênero que daremos destaque é o conto de fadas, por ser este capaz de cativar e encantar as crianças através de suas histórias iniciadas com o Era uma vez, e da oralidade, uma vez que o encanto se dá na forma em que as histórias são contadas, pois conseguem despertar nas crianças a curiosidade e o fluir imaginário.

Segundo Nelly (1987), em nossa sociedade os contos de fadas ganharam uma nova roupagem indo além do prazer da leitura, pois com a descoberta de sua importância simbólica, do lúdico, da imaginação e da fantasia, proporcionamos a construção de uma personalidade sadia na criança. Para Lima (2010):

O mundo da fantasia consolidou-se como um mundo tipicamente infantil. Este universo povoado por fadas, bruxas, príncipes e moças pobres é o cenário das obras chamadas contos de fadas. [...] Sua linguagem volta especificamente para o público infantil e as “portas” da imaginação que esses contos são capazes de abrir foram pontos primordiais para o sucesso do gênero e para que essas histórias continuem sendo contadas até hoje. (LIMA, 2010, p. 58).

Neste sentido, a utilização deste gênero pelo professor de literatura poderá possibilitar o contato das crianças com a literatura infantil, desenvolvendo sua imaginação, a criação e a percepção de mundo. Dentre alguns grandes autores daremos destaque a Charles Perrault, autor de grandes contos, tais como: Chapeuzinho Vermelho, a Bela Adormecida, O Gato de botas, Cinderela e o Pequeno Polegar. A Andersen autor do conto O Patinho Feio. A Gabrielle-Suzanne Barbot, conhecida como a Dama de Villeneuve, com o conto A Bela e a Fera. A Charles Dickens, com o conto Oliver Twist, aos contos dos irmãos Grimm e a Monteiro Lobato autor de Reinações de Narizinho e Sítio do Pica-pau Amarelo.

No Brasil, os contos de fada se destacam entre os anos 1975 e 1985, época em que as obras eram recheadas de personagens que debatiam temáticas de interesse das crianças, tais como, fadas, bruxas, madrastas más e príncipes encantados. Dentre os autores e obras, podemos destacar: A Fada que Tinha Ideias (1971), de Fernanda Lopes de Almeida, A Fada Desencantada (1975), de Eliane Ganem, Onde Tem Bruxa Tem Fada (1979), de Bartolomeu Campos Queirós, O Fantástico Mistério de Feiurinha (1986), de Pedro Bandeira e Sapo Vira Rei Vira Sapo ou a Volta do Reizinho Mandão (1982), de Ruth Rocha.

O terceiro gênero sugerido é o mito e a lenda. Por se tratarem de narrativas da tradição oral dos povos, muitas vezes são confundidas como se fossem sinônimos, porém, são duas manifestações diferentes mesmo possuindo elementos em comum. Na definição de Araújo em seu texto Mito ou Lenda, publicado na revista Infoescola (2016), ficam claro essas diferenças entre os dois gêneros. Para ela:

Mitos são narrativas utilizadas pelos povos antigos para explicar fatos da realidade e fenômenos da natureza que não eram compreendidos por eles. Os mitos se utilizam de muita simbologia, personagens sobrenaturais, deuses e heróis. Todos estes componentes são misturados a fatos reais, características humanas e pessoas que realmente existiram. Um dos objetivos do mito é transmitir conhecimento e explicar fatos que a ciência ainda não havia explicado. (ARAÚJO, 2016, p. 15).

Enquanto as Lendas:

São narrativas transmitidas oralmente pelas pessoas com o objetivo de explicar acontecimentos misteriosos ou sobrenaturais. Para isso há uma mistura de fatos reais com imaginários. Misturam a história e a fantasia. As lendas vão sendo contadas ao longo do tempo e modificadas através da imaginação do povo. Ao se tornarem conhecidas, são registradas na linguagem escrita. Do latim legenda (aquilo que deve ser lido), as lendas inicialmente contavam histórias de santos, mas ao longo do tempo o conceito se transformou em histórias que falam sobre a tradição de um povo e que fazem parte de sua cultura. (ARAÚJO, 2016, p. 15).

Desde Ovídio (20 e 15 a.C) e suas Metamorfoses, escrita entre os anos 2 e 8 da era cristã, percebemos a influência da mitologia greco-romana na humanidade. Autores considerados clássicos, pela sua contribuição, tais como Homero, Dante Alighieri e Virgílio, perpetuam em suas obras todo o ingrediente necessário para o encanto do leitor diante de suas narrativas.

Neste contexto, o professor/leitor ávido por uma boa leitura, que o proporcione mergulhar pelas profundezas do imaginário, deixa-se envolver por um universo que o envolve nesse mundo fantástico que é, sobretudo, um istmo entre realidade e ficção. Os gregos souberam criar belos mitos que eternizaram suas mensagens e preservaram a história de seu povo. O mito e seus deuses tornam-se então fundamentais para que o ser humano, mero mortal, entenda o seu verdadeiro significado num mundo em que está inserido.

Por último, como recurso e sugestão para auxiliar ao professor em suas aulas de literatura e estratégia de encantamento e despertar o desejo pela leitura de forma prazerosa, destacaremos a intertextualidade literária. Neste sentido, é preciso evidenciar sua importância para a leitura na educação infantil, uma vez que todo texto se inter-relaciona com outro texto.

Na literatura infantil, é possível perceber o quanto a intertextualidade está presente. Os autores, constantemente, retomam em suas obras outros textos pré-existentes. É comum ouvir-se dizer que as crianças e os jovens não leem. Portanto, ao refletir acerca da intertextualidade na literatura infantil, logo surgem à mente os eternos clássicos que ainda hoje encantam e fascinam. Diante deste fato, alguns escritores, para tentar resgatar seus leitores e alcançar outros novos leitores, utilizam-se da intertextualidade como recurso para se criar o novo ou até mesmo dar uma nova roupagem em uma história que já foi contada.

Os clássicos da mitologia e os contos de fada, por exemplo, são constantemente retomados nas histórias contemporâneas, o que percebemos na série Percy Jackson e os Olimpianos, escrita pelo norte-americano Rick Riordan.

O que Riordan consegue fazer através de sua série é trazer para a realidade do século XXI a mitologia greco-romana, numa fusão realidade/ficção, repleta de aventuras, capturando e conquistando o leitor até o fim de cada história. O autor utiliza-se de várias histórias da mitologia, numa intertextualidade com os mitos gregos fazendo o leitor conhecer esse universo, que para muitos é o desconhecido. Neste sentido, a contribuição maior da obra é justamente apresentar para esses jovens leitores a importância da literatura clássica, num enredo adaptado, cheio de aventuras, suspense e, sobretudo, literariedade.

Outro livro de mesma importância é As brumas de Avalon de Marion Zimmer Bradley. A autora cria personagens e ambientes que reportam o leitor a época medieval com seus cavaleiros e guerras, narradas pela visão feminina. A lenda do rei Arthur é conhecida e contada de diversas maneiras com versões diferenciadas. Neste sentido, além do professor narrar à história na visão da autora, poderá também apresentar para os alunos o filme, que mesmo com pequenas alterações reflete fielmente a narrativa do livro.

Em As crônicas de Nárnia, de C. S. Lewis, a intertextualidade se dá com Alice no país das maravilhas de Lewis Carroll. Em ambas, o portal para o mundo fantástico se abre como um novo mundo de dentro de um guarda-roupa ou de um buraco de coelho. É importante frisar que ambas as obras são direcionadas a um público infantil, porém, há características peculiares e de valores, voltados tanto para jovens quanto para adultos, o que permite um mergulho na imaginação criadora.

No cinema, também é possível encontrarmos a intertextualidade literária, baseada em um livro que foi adaptado. Em 2001, Steven Spilberg lançou o filme AI – Inteligência Artificial a partir de um projeto de Stanley Kubrick, sobre a possibilidade da criação de máquinas com sentimentos. O enredo baseia-se em um menino-robô que possui um sonho: tornar-se humano para ser amado por sua mãe.

Na literatura, essa não é a primeira vez que esse tema é abordado: Pinóquio, de Cartlo Collodi, tornou-se um grande clássico da literatura infantil. Ele encanta com o seu desejo de também se tornar um menino. Com isso, gradativamente a leitura vai sendo enriquecida nesse processo de intertextualidade constante, possibilitando um diálogo entre produções de épocas e espaços diferentes.

Conquistar novos leitores através da leitura não é uma tarefa fácil, principalmente quando o professor de literatura se depara com a diversidade tecnológica na contemporaneidade. Desta forma, segundo a Referencial Curricular do Estado de Sergipe (2011), espera-se que o conteúdo, sob a forma de conhecimento, possa ser encontrado em qualquer lugar: no livro, na web, na TV, pois para ela, as novas tecnologias de comunicação colocam à disposição das pessoas o acesso rápido e fácil ao conhecimento.

O desafio para o professor de literatura, portanto, vai além de formar leitores habilitados apenas em decodificar o sistema de escrita. Formar um leitor competente subtende-se que ele seja capaz de compreender o que lê, como também, o que não está inserido nas entrelinhas, identificando todos os elementos implícitos, estabelecendo relações entre o texto com outros textos já lidos.

Neste sentido, a leitura deve ter significação, como também ser a motivadora da ação. Segundo Lima (2010):

Diante de tudo o que foi exposto até esse momento fica ainda mais evidente a importância da educação, afinal é através dela que o homem se tornará capaz de ler no sentido mais completo e amplo dessa ação. Assim, nossa preocupação aqui é despertar o interesse pela leitura, e, enquanto técnicos da área, saber orientar e subsidiar meios para que os nossos alunos se encontrem na leitura, praticando-a de forma que lhes traga prazer. (LIMA, 2010, p. 55).

Neste contexto, a leitura deve ser prazerosa. Quando se lê pelo prazer de ler, a leitura apesar de complexa é estimulante. Contudo, se a leitura for por obrigação, torna-se fragmentada e desmotivada. Ouvir e ler histórias são, sobretudo, mergulhar em um mundo encantador, cheio de mistérios e surpresas, onde o que diverte também ensina, criando, a partir daí, novos leitores que tem a leitura como instrumento essencial para o seu desenvolvimento intelectual.

REFERÊNCIAS

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Disponível em <www.infoescola.com/redação/mito-ou-lenda>. Acesso em 29 de julho de 2016.

ginaldo
Enviado por ginaldo em 22/09/2017
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