AS DOUTRINAS DO PODERIO DO EUA

RESUMO

A história dos Estados Unidos da América reflete uma trajetória que culmina com seu poderio econômico e bélico atual. De treze colônias esquecidas no séculos XVI, XVII e XVIII, passou, já nas primeiras décadas do século XX, a potência e após a segunda guerra mundial a uma superpotência. Posição mantida até hoje.

Algumas doutrinas, posicionamentos intelectuais, filosóficos e até religiosos colaboraram para esse sucesso. Vejamos os principais.

O Iluminismo.

Esse movimento filosófico contribuiu com ideias de relevante importância para a política e a economia dos EUA. O Iluminismo prega, dentre outras coisas, a democracia, o liberalismo econômico, liberdade de culto e de pensamento.A ciência se sobrepõe sobre os dogmas religiosos. A independência dos EUA foi feita sob a égide desses pensamentos.

O Destino Manifesto. = Após sua independência os EUA desenvolveram a ideia do Destino Manifesto, a qual os colocava como eleitos por Deus para levar o "progresso" e a "civilização"a outros povos. Em meados do século XIX, essa doutrina deu embasamento às expansões territoriais para oeste, onde milhares de índios e mexicanos foram mortos.

O Liberalismo Econômico. = Apesar de estar no contexto do Iluminismo, o Liberalismo Econômico contribuiu por demais com a industrialização dos EUA, de modo que em meados do século XIX, o país já despontava como a quinta nação do mundo em produção industrial o que acontecia de fato é que os EUA pregava o liberalismo mas dentro do próprio país havia grande concentração de monopólios e trustes. Uma época em que se desenvolveram grandes grupos empresariais, alguns que permanecem até os dias de hoje.

Doutrina Monroe. = Essa doutrina pregava que a América teria que ser para os americanos, para os EUA qualquer intrusão das potências europeias (Inglaterra,França, Alemanha) na América seria visto como um ato de agressão. A Doutrina Monroe colaborou para o início da hegemonia estadunidense em toda América.

O Protestantismo. = Em especial o Puritanismo, uma ideia defendida por Max Weber . Segundo ele, para um protestante acumular dinheiro, ter lucro e aproveitá-lo para um propósito próprio era sinal de ser eleito por Deus, ou seja, era um merecimento. Essa ideia inicialmente não fazia parte da doutrina pregada por Martinho Lutero (reforma Protestantes 1520) mas foi introduzida por João Calvino (Igreja Calvinista) que pregava a ideia da predestinação, na qual o homem seria conhecido por suas obras. Houve portanto uma completa inversão, enquanto para a igreja católica a usura era condenada e o trabalho visto como degradante, a igreja protestante pregava que: “Deus Ajuda quem cedo Madruga, O trabalho enobrece o Homem”. Segundo Calvino um homem de bem deveria deitar cedo, levantar cedo, ter uma vida regrada e poupar.

Os Estados Unidos e o início da Guerra Fria (1945-49)

O poder dos Estados Unidos da América = Apesar de envolverem-se em duas guerras mundiais, a de 1914-18 e a de 1939-45, os americanos, por estarem bem afastados dos frontes, protegidos por dois imensos Oceanos, o Pacífico e o Atlântico, pouco sofreram diretamente com as consequências delas. Morreram, entre 1941-45, 300 mil homens, praticamente não contabilizaram vitimas civis. Nova Iorque, Chicago, Detroit, e demais centros industriais, não sofreram um só ataque aéreo, nem seus campos tiveram que suspender as colheitas ou abater o gado às pressas em razão de ataques ou invasões. Ao contrário. As fábricas americanas, sem medo de se verem destruídas, produziram quantidades fantásticas de material bélico, permitindo suprir todas as necessidades das forças armadas nos frontes de batalha. 17 milhões de homens e mulheres foram convocados para todo o tipo de serviço de guerra, terminando definitivamente com a Grande Depressão que atormentara o país nos anos trinta, iniciado com a quebra da Bolsa de New York em 1929.

Conscientes que o mundo do pós-guerra giraria ao redor dos seus interesses, os Estados Unidos preocuparam-se em criar as novas bases da Ordem Mundial do pós-guerra. Convocaram para tanto, bem antes que a guerra acabasse, entre 1º e 22 de julho de 1944, no EUA, uma conferencia para determinar quais seriam as diretrizes econômicas futuras. Acertou-se lá, na presença de 44 delegados de diversos países, inclusive a URSS, que seria criado um Fundo Monetário Internacional (FMI) para regular as relações financeiras entre as nações e um Banco para a Reconstrução Mundial (Banco Mundial), responsável pela recuperação das economias combalidas pela guerra. Acatou-se que o sistema funcionaria com o dólar sendo lastreado pelo ouro. Como os Estados Unidos possuíam a maior reserva aurífera do mundo (acredita-se que perfazia 60% do total) e a sua moeda - o dólar - era a única aceita e conversível por todos os demais, isto fez com que sua liderança fosse quase incontestável no após-guerra.

Terminada a guerra contra a Alemanha nazista em maio, e contra o Japão em agosto de 1945, num mundo exaurido e arruinado, os Estados Unidos estavam intocados. Tinha naquele momento, apesar de perfazerem menos de 6% da população mundial, o controle sobre 50% da produção industrial existente (entre 1938 a 1947, o índice da produção cresceu em 63%); quase todas as reservas de ouro do mundo; as cidades e a população civis intocadas; suas forças espalhadas pelo mundo inteiro; e, como arremate, nesta incrível concentração de poder, eram a única das nações em posse de um arsenal nuclear. Nunca um só país na História arrematara, simultaneamente, o poder militar, o econômico, o financeiro e o atômico.

A contenção ao comunismo = Dois acontecimentos internos, quase simultâneos, criaram as pré-condições para que os Estados Unidos se lançassem na Guerra Fria. O primeiro foi a morte do Presidente Franklin Delano Roosevelt, em maio de 1945 e, em seguida, em 1946, a eleição de um Congresso predominantemente republicano (partido conservador). Roosevelt acreditava num mundo do após-guerra controlado pelos EUA, em comum acordo com a URSS (o que Stalin denominou de “coexistência pacífica”). Sua morte fez com que seu sucessor Harry Truman, consciente do poder nuclear, abandonasse esta posição de coexistência pacífica, aderindo à tese de Kennan do “enfrentamento com o comunismo”. A eleição de um congresso de maioria republicana, estreitamente ligados à indústria de armamento e às atividades anticomunistas, revelou igualmente uma mudança da opinião pública americana. Manifestando-se, simultaneamente, contra as reformas sociais e contra acordos com os comunistas. Eles, “os vermelhos”, deveriam ser combatidos em todas as frentes. A ascensão de Truman e o congresso republicano tornaram o clima tenso com a URSS. Passado o perigo nazista, os americanos receavam os comunistas. O elemento desencadeador da mobilização anticomunista deu-se a partir do célebre discurso de Winston Churchill, feito no Missouri, em1946, quando o ex-primeiro ministro britânico denunciou o Comunismo Soviético por estender uma “Cortina de Ferro”, sobre a sua área ocupada na Europa, conclamando os poderes da Grã-Bretanha e os Estados Unidos, a enfrentarem-na. Com essa inversão, essa completa mudança de postura, de aliados da URSS para seus adversários, os Estados Unidos obrigaram-se a elaborar uma nova doutrina: a Doutrina da Segurança Nacional. Segundo ela um tipo singular de enfrentamento mortal desenhava-se no horizonte; simultaneamente estratégico e ideológico. Os Estados Unidos tinham agora seus interesses e suas bases militares espalhadas por todos os continentes. Era uma potência global, não estando mais confinados aos seus limites continentais. O seu único rival era o movimento comunista que tinha sede em Moscou, e manifestava ambições expansionistas. O marxismo, para os estrategistas do Pentágono, nada mais era do que o pretexto para o domínio russo do mundo. Haviam dois frontes portanto. Um estratégico-militar, que seria coberto por tratados específicos, e outro ideológico, que mobilizaria a opinião pública e o serviço de contraespionagem a CIA criada em 1947, para o combate ao “perigo vermelho”. Os soviéticos somente seriam detidos por meio de uma enérgica política de enfrentamento, de jogo duro. Esta política contribuiu para que os Estados Unidos reativassem a sua industria bélica para atender as necessidades da Guerra Fria. A íntima relação da política militar com as fábricas de artefatos bélicos, levou a que, mais tarde, o Presidente Dwight Eisenhower a denominasse de “complexo militar-industrial”.

A doutrina Truman e o Plano Marshall = A consequência lógica da “contenção ao comunismo” foi o lançamento da Doutrina Truman, o primeiro pilar da Guerra Fria. Anunciada em 1947, a pretexto de socorrer a Turquia e a Grécia (envolvida numa guerra civil entre comunistas e monarquistas), o presidente dos Estados Unidos garantia que suas forças militares estariam sempre prontas a intervir em escala mundial desde que fosse preciso defender um país aliado da agressão externa (da URSS) ou da subversão interna, insuflada pelo movimento comunista internacional. Na prática os Estados Unidos se tornariam dali em diante na polícia do mundo, realizando intervenções em escala planetária na defesa da sua estratégia. O segundo pilar, separando ainda mais as superpotências, deu-se com o Plano Marshall que foi um projeto de recuperação econômica dos países envolvidos na guerra. Anunciado, em 1947. Por ele, os americanos colocariam à disposição uma quantia fabulosa de dólares para que os países europeus pudessem se reerguer social e economicamente, nas quais poderiam sobreviver as instituições livres, para que os livrasse da “tentação vermelha”, isto é de votar nos partidos comunistas, mantendo-se assim fiéis aos Estados Unidos. Enquanto os europeus ocidentais (ingleses, franceses, belgas, holandeses, italianos e alemães) aderiram ao plano com entusiasmo, Stalin não só rejeitou-o como proibiu aos países da sua órbita (Polônia, Hungria, Tchecoslováquia, Iugoslávia, Romênia e Bulgária) a que o aceitassem. A doutrina e o plano fizeram ainda mais por separar o mundo em duas esferas de influência. Obedecendo à doutrina Truman os EUA intervieram na Guerra da Coréia (1950-3) e na Guerra do Vietnã (1962-75), como também derrubaram os regimes de Mossadegh no Irã em 1953, e na Guatemala em 1954. Em 1961 apoiaram a invasão de Cuba para derrubar Fidel Castro e, com a criação da Escola das Américas, no Panamá, adestraram os militares latino-americanos na contra-insurgência, estimulando-os a que tomassem o poder nos seus respectivos países.

Os Tratados da Guerra Fria = Com a crescente histeria anticomunista nos EUA, a diplomacia americana tratou de arregimentar parceiros no seu grande embate ideológico contra a URSS. O primeiro de uma série de tratados que assinaram foi o TIAR (Tratado interamericano de auxilio recíproco) acertado no Rio de Janeiro em 1947, afirmando o conceito de “defesa coletiva” do continente americano. Por ele as nações latino-americanas, formariam uma frente comum caso houvesse a agressão de uma “potência externa” (isto é a URSS). O TIAR serviu também para que as relações entre os militares se estreitassem. Os generais latino-americanos passaram a defender a ideia de apoiar a Guerra Fria. Também passaram a preocupar-se com a “subversão interna”, especialmente depois da Revolução Cubana de 1959. A luta anticomunista interna, estendida aos governos populistas, considerados aliados dos comunistas, levou-os à instituírem, por meio de golpes militares, os Estados de Segurança Nacional (Brasil em 1964; Argentina em 1966 e novamente em 1976; Peru e Equador em 1968; Uruguai e Chile em 1973). Em 1949, foi a vez dos países europeus abraçarem uma aliança liderada pelos Estados Unidos: a OTAN. Inicialmente com 12 membros, hoje ela conta com 19. Com um estado-maior comum, a OTAN tinha a função original de proteger os países europeus ocidentais de um possível ataque das divisões soviéticas estacionadas na Alemanha Oriental. A motivação para que a aliança se realizasse deveu-se a crise de Berlim. Os EUA., ao se decidirem reerguer a indústria pesada alemã, assustaram os soviéticos. Esses tratados refletiam cada um a seu modo, a evidência do colossal poder que os Estados Unidos exerceram no mundo do após-guerra e fizeram por ajudar ainda mais seu vigor econômico e financeiro. Num planeta arruinado pela Guerra Mundial foi natural que os EUA, única potência sobrevivente, reordenassem o mundo, agora como superpotência, à sua vontade. Exemplo disso é a fundação das Escola Superior de Guerra no Brasil, em 1949, contou com o apoio do General Golbery do Couto e Silva. Os seus membros da nova aliança eram os EUA., Canadá, Inglaterra, Alemanha Ocidental, Itália, Islândia, Noruega, Portugal e Dinamarca. Em 1998 foram acolhidas a Polônia, a República Tcheca e a Hungria, que, anteriormente pertenciam ao Pacto de Varsóvia, arquitetado pela URSS em 1955.