ESCRAVIDÃO E RESISTÊNCIA

Até o século XV (1401 a 1500) A África era habitada por vários povos de diferentes grupos, alguns estavam organizados em aldeias, constituída por várias famílias, comandadas por um ancião (chefe), outros mais desenvolvidos estavam organizados em reinos e Estados.

A escravidão era praticada em muitos reinos africanos, uns eram prisioneiros de guerra, outros eram pessoas que não conseguiam pagar suas dívidas. O modo de vida dos africanos mudou muito com a chegada dos europeus no século XV, os primeiros a chegar foram os portugueses, que construíram feitorias (posto de troca e comércio) ao longo do litoral e, procuraram monopolizar o comércio com os africanos. Os portugueses recebiam dos africanos ouro, marfim e escravos e, davam para eles tecido, tabaco, aguardente, ferramentas, cavalos e armas. No início eram os próprios portugueses que aprisionavam os escravos, mas depois esse trabalho era feito pelas tribos. Os africanos liderados por um chefe e contando com as armas recebidas dos portugueses, entravam pelo interior do continente e aprisionavam homens mulheres e crianças, as quais eram levadas até as feitorias e embarcadas nos navios lusitanos. A viagem para o Brasil demorava de 35 a 60 dias, por ser muito longa e as condições muito ruim uma grande parte dos escravos morriam no navio e eram lançados ao mar. É por esse motivo que os navios destinados a transportar os escravos eram chamados de Tumbeiros.

Chegando no Brasil eles eram vendidos, o preço variava de acordo com o sexo e porte físico do escravo. Eles eram levados para os engenhos, Minas, e outros locais de trabalho. Os escravos sofriam muitas violências, na captura, viagem e castigos que eram aplicados para controlar qualquer tipo de rebeldia, tais como chicote, tronco, gargalheiras, algemas, correntes, palmatórias. Os escravos que fugiam quando eram recapturados pelo (capitão do Mato) eram severamente castigados e marcados com a letra F com ferro em brasa. Os escravos usando meios pacíficos ou violentos resistiam ao cativeiro. Muitos escravos evitavam ter filhos, outros ficavam em estado de tristeza profunda (chamado Banzo) alguns até morriam.

Outra forma de resistência era quando eles se organizavam, roubavam tudo das fazendas e matavam o feitor e a família dos fazendeiros. Outros apelavam para a fuga, era uma forma de se livrar dos sofrimentos do cativeiro. Alguns eram recapturados e levados de volta para seu dono, os que conseguiam fugir formavam quilombos, isto é aldeia de escravos fugidos.

A CONVIVÊNCIA ENTRE SENHORES E ESCRAVOS> Em 1930 um sociólogo pernambucano Gilberto Freyre fez uma pesquisa e escreveu um livro “Casa Grande e Senzala” ele relata que apesar da violência, muitos escravos se davam bem com seu senhor. Vivendo juntos os filhos dos escravos brincavam com os filhos dos fazendeiros, as crianças mamavam na ama de leite, os brancos tinham filhos com suas escravas. Desse modo Gilberto Freyre afirma que houve uma integração racial na América Portuguesa e se verificou poucos conflitos, ao passo que com os espanhóis não havia essa intimidade.

UMA OUTRA INTERPRETAÇÃO> O historiador Jacob Gorender discorda de Freyre, ele afirma que apesar de haver uma integração das culturas, essa era uma forma de mascarar a exploração e dominação. Mesmo sendo contra a lei um escravo ser morto ou muito torturado isso ocorria e o fazendeiro não era punido. Outra forma de violência era o grande numero de mestiços, pois comprovava a violência contra a escrava, essas crianças não eram reconhecidas como filhos, eram mantidos como escravos. Devido aos maus tratos os escravos morriam em pouco tempo, sendo necessário manter o tráfico para suprir a mão de obra. Outra forma de integração foi o sincretismo religioso, em que houve uma mescla do catolicismo com as religiões e costumes africanos do Candomblé. Era uma forma de manter as tradições.

É perfeitamente correto afirmar que apesar de haver uma distancia social muito grande entre o Senhor e seu escravo, a duas culturas se integraram. Na musica principalmente as que tem como base instrumentos de percussão (tambores) , na religião temos o candomblé e outras do gênero, na culinária, no vocabulário onde incorporamos várias palavras.

Após muitos anos de escravidão a liberdade foi conquistada, não de uma vez, mas de forma gradativa, foi uma luta que demorou muitos anos, as vezes avançava, outras retrocedia.

O Brasil começou a sofrer pressões da Inglaterra para por fim a escravidão, os ingleses desejavam que no Brasil não houvesse mais escravidão, eles queriam vender seus produtos, a Inglaterra estava em plena expansão industrial, e escravo não tem dinheiro para comprar e eram a maioria entre a população brasileira, esse é o motivo pelo qual os ingleses queria acabar com a escravidão no Brasil.

Lei Euzébio de Queiroz foi assinada em 4 de setembro de 1850, proibia que o Brasil fosse buscar escravos na África. A partir dessa data estava proibido o tráfico negreiro, porém na realidade essa lei era burlada constantemente. No porto do Recife em Pernambuco o navio que estivesse trazendo negros não atracava, mas seguia viagem e ancorava em um local deserto para desembarcar os escravos. Quando um navio chegava com esse carregamento os fazendeiros diziam chegou um navio carregado com galinhas, é por esse motivo que esse local ficou conhecido como Porto de Galinhas, logal turístico muito visitado.

Lei do Ventre Livre (Lei Rio Branco), de 28 de setembro de 1871. Elaborada e aprovada pelo gabinete conservador do Visconde do Rio Branco. De acordo com essa lei, os filhos de escravos nascidos a partir da data de sua aprovação eram considerados livres. No entanto, ela mantinha o direito dos senhores ao trabalho dessas crianças até os 21 anos.

Lei dos Sexagenários (Lei Barão de Cotegipe), de 28 de setembro de 1885. Foi elaborada pelo gabinete liberal de José Saraiva e promulgada pelo gabinete conservador do Barão de Cotegipe. Essa lei tornava livres os escravos com mais de 60 anos, depois de três anos de trabalho, e libertava imediatamente os que tivessem mais de 65. Na verdade, a lei favorecia os fazendeiros, pois eles se livravam dos poucos escravos que chegavam a essa idade e já não tinham mais condições de trabalhar.

Lei Áurea, de 13 de maio de 1888. Foi elaborada pelo gabinete conservador de João Alfredo e sancionada pela princesa Isabel, durante a ausência do imperador Pedro II, que se encontrava em viagem pela Europa. A lei determinou a libertação imediata dos escravos, que na época calculava-se em torno de 700 mil. No texto original da Lei Áurea determinava que o escravo liberto recebesse de seu senhor uma indenização em dinheiro para poder começar sua vida, mas essa parte foi retirada do texto original.

A libertação dos escravos apesar de ter sido gradativa trouxe um erro gravíssimo que tem reflexos até os dias atuais. Os escravos não foram preparados para serem libertos, portanto a grande maioria vivia perambulando pelas fazendas e se sujeitavam a trabalhar em troca de algumas migalhas. Foram largados a margem da sociedade sofrendo todos os tipos de agressão, em que a pior delas era o preconceito e humilhação. O historiador Gilberto Freyre em suas pesquisas que culminou com o livro Casa Grande e Senzala tenta atenuar os sofrimentos impostos sobre os negros, mascarando ou dissimulando um preconceito velado. O simples fato de a criança negra poder brincar com a branca, necessariamente não implica que as duas eram iguais. Outro fator nos tempos atuais e termos de dizer “Afro descendente” dessa forma é negado ao cidadão negro de sentir orgulho de sua gente, da mesma forma que os demais.