PROFESSORA APOSENTADA DA REDE ESTADUAL, UMA ILUSÃO A MENOS

Quando ingressei na atividade de professora na rede pública estadual, na condição de contratada, era o ano de 1971, ainda cursava o terceiro ano seriado do Instituto de Letras, Artes e Comunicação da UFS. Em 1976 fui aprovada em concurso público. Daí em diante foi uma longa lista de atividades em colégios, cursinhos de pré-vestibular, Secretaria da Educação, Faculdades e por aí em diante.

Recordo-me de ter visto muitas professoras se aposentando e indo “gozar o resto da vida”, viajando pelo país e pela Europa, especialmente. Todo mundo tinha um só sonho, conhecer a Europa. Um colega contemporâneo do Atheneu até já merece um título de cidadão europeu, pois já deve ter ido por lá cerca de vinte vezes, tendo visitado, acredito, quase todo o continente do outro lado do Atlântico. Vi professores se aposentando, recebendo seus direitos e, em seguida, comprando sítios onde iam passar fins de semana com a família, ou mesmo morar de vez em meio ao verde e ao canto da natureza, comendo cuscuz com ovos de capoeira, dormindo nas redes do alpendre, enfim, tudo de bom que haviam escolhido. Quando algum colega falecia, o enterro era decente e bem acompanhado pela família, alunos e colegas. Além disto, a cidade ficava pesarosa o tempo inteiro, sempre falando sobre o defunto e alguns chegavam a avistar-lhe o fantasma.

Naquela época, havia fila nos tototós do Banese (cashes atualmente), o banco não desfrutava a pose de hoje, então cumpria ter contas em outros bancos, eu mesma tive 4, todas com dinheiro. Dinheiro não era o problema, para uma moça solteira menos ainda. Eu comprava tudo o que via nas butiques finas (apenas duas) de Aracaju. Comprava joias! Viajava e me hospedava em hotéis 5 estrelas. Vida boa!

“O tempo foi rodando nas patas do meu cavalo” e quem “era “herói” e tinha um “cavalo que só falava inglês” se transformou em aposentado pelo FINAMPREV, que peste é isto? Quem cumpriu direitinho os deveres e acreditou nas leis, se bate agora com uma fila fora dela. Por quê? Receber dinheiro é estar em uma fila, quer daquelas do antigo Banese, quer virtualmente, no mundo digital. E então, como é que estou aos 69 anos de idade e passo para o fim da fila do pagamento? Me explique aí, ô pessoal distraído da Justiça, me explique pelo amor de Deus, ou pelos grossos compêndios do Direito, qual é o entendimento disto. Explicações também merece o fato de receber uma parte do ordenado fora do mês, quase no meio do mês seguinte, e ainda ter que esperar mais dez dias para receber o troco. Me explique aí em nome de Jesus, que praga de gafanhoto é essa. Pois ainda quero dizer que estou aos 69, mas me sinto com 20 e ficarei por aqui, por aí e por acolá cumprindo meu papel e minha sina de educadora, conscientizadora e esclarecedora. A vontade que me vem é de rogar uma praga na direção dos políticos, mas não é preciso, vocês (eles) terão as iras do Pai Eterno.