A Bíblia Como Pressuposto Teórico Para a Educação

*Marcelo Junio Silva

Resumo.

A falta de um referencial imutável, sólido na educação tem feito com que essa caminhada seja um tanto quanto confusa. A educação que falamos, diz respeito à educação no sentido de ensino sistematizado por instituições credenciadas para tal tarefa. A confusão de que falamos é notória quando se observa a diversidade de teorias propostas sem um principio unificador que dê sentido a vida e a educação em si. Ao longo da história, evidencia-se o progresso que os homens fizeram quando tinha em mente um referencial teórico solido como é a bíblia, pois a partir deste livro, considerando-o como a palavra registrada de Deus, têm-se as diretrizes para uma vida tranquila que preserve a integridade humana e o conduz pelas veredas da justiça. Houve na história da humanidade um tempo em que foi negligenciado este referencial, porém, em meados do século XVI, homens movidos pelo Espirito de Deus redescobriram este tesouro, que não está restrito ao campo religioso, antes, através da bíblia moldou-se a visão que a humanidade tinha de mundo, trazendo grandes benefícios por um longo tempo; contudo, esta visão unificada de mundo tem se perdido, e a educação, sem este referencial tem caminhado por lugares distantes de seu propósito. Portanto, a intenção deste trabalho é trazer a tona este tema como proposta para uma educação que eleve o ser humano ao seu devido lugar, sabendo que este é a imagem de quem o criou, e para tal sugerimos a bíblia como referencial teórico para a educação.

Palavras chave: Bíblia, Deus, Educação, Referencial, Reforma Protestante.

ABSTRACT.

The lack of an immutable standard, solid education has made this journey is somewhat confusing. The education we speak, with regard to education in the sense of teaching systematized by accredited institutions for such a task. The confusion of which we speak is evident when observing the diversity of proposed theories without a unifying principle which gives meaning to life and education itself. Throughout history, progress is evident that men did when they had in mind a solid theoretical framework as is the Bible, because from this book, considering it as the word recorded of God, the guidelines have been for an quiet life that preserves human health and leads in paths of righteousness. There was the history of mankind a time that was neglected this reference, however, in the mid-sixteenth century, men moved by the Spirit of God rediscovered this treasure, which is not restricted to the religious field before, through the Bible has shaped up vision that humanity had in the world, bringing great benefits for a long time; however, this unified view of the world has been lost, and education without this reference has walked through places far from its purpose. Therefore, the intention of this work is to bring up this issue as a proposal for an education that elevates the human being to its rightful place, knowing that this is the image of who created it, and for this we suggest bible as a theoretical framework for education

Keywords: Bible, God, education, Reference, Protestant Reformation.

Résumé.

L'absence d'une norme immuable, solide éducation a fait cette promenade est un peu déroutant. L'éducation que nous parlons, en ce qui concerne l'éducation dans le sens de l'enseignement systématisé par des institutions accréditées pour une telle tâche. La confusion dont nous parlons est évident lorsque l'on observe la diversité des théories proposées sans principe unificateur qui donne un sens à la vie et de l'éducation elle-même. Tout au long de l'histoire, le progrès est évident que les hommes ont fait quand ils avaient à l'esprit un cadre théorique solide est la Bible, parce que de ce livre, le considérant comme le mot enregistré de Dieu, les lignes directrices ont été un vie tranquille qui préserve l'intégrité humaine et conduit dans les sentiers de la justice. Il y avait l'histoire de l'humanité un temps qui a été négligé cette référence, cependant, au milieu du XVIe siècle, les hommes mus par l'Esprit de Dieu ont redécouvert ce trésor, qui ne se limite pas au domaine religieux, avant, à travers la Bible a façonné la vision que l'humanité avait dans le monde, apportant de grands avantages pour longtemps; Cependant, cette vision unifiée du monde a été perdu, et l'éducation sans cette référence a marché à travers des lieux loin de son but. Par conséquent, l'intention de ce travail est de mettre en place cette question une proposition d'éducation qui élève l'être humain à sa juste place, sachant que c'est l'image qui l'a créé, et pour cela, nous suggérons la Bible comme un cadre théorique pour l'éducation .

Mots-clés: Bible, Dieu, Education, Référence, Réforme protestante.

Introdução.

Atualmente há uma diversidade de literatura, que vem sendo produzida com a intenção de fazer voltar os olhos da humanidade para o erro que se comete em negligenciar a presença de Deus como objetivo central na vida do homem. Parece-nos que o referido tem começado onde se fundamenta as bases do conhecimento transmitido, isto é, na educação, pois esta tem-se modificado ao longo dos tempos de tantas formas que não há muito consenso do que venha ser educação, e a mudança pode-se supor ter como causa a falta de um referencial sólido que estabeleça o principio, o caminho e o objetivo final do homem.

Percebe-se que aumentaram o numero de alunos nas escolas, de maneira que em relação a números não há problema nenhum, parece inclusive um serviço militar obrigatório, sendo punidos os pais que não colocarem seus filhos em uma escola . A questão é, tem-se uma educação de qualidade em nosso país? Tem-se colhido frutos pela quantidade de semente que se planta? Quais têm sido os métodos e as filosofias usadas na área da educação, e que não tem dado certo no processo de cultivar uma educação de qualidade, que eleve o ser humano a uma condição de ter uma mente critica e não ser levado por seus instintos naturais?

A proposta nas linhas que se seguem, é estabelecer um diálogo, propondo a reavaliação dos referenciais teóricos usados como base para a educação. Se há pretensão de chegar a algum lugar, é necessário que se tenha referências para tal, e com isto não se pode ter referenciais confusos, pois do contrário caminhar-se-á para lugares diferentes dos quais se quer verdadeiramente chegar, se é que se quer chegar a algum lugar com o ensino proposto com o rotulo de educação.

Portanto, dentro deste objetivo, nos propomos a apresentar, e analisar um breve histórico da educação como forma de transmissão de conhecimento, e suas muitas formas, levando em conta alguns aspectos gerais sobre educação, e em seguida abordaremos a concepção de educação no Antigo e Novo Testamento, continuando com a relação da Reforma Protestante e a educação, apresentando seus principais personagens, que nos deixaram um legado invejável de luta pela educação alicerçada nas Escrituras Sagradas, neste ponto nos prenderemos com maior intensidade, visto ter sido um ponto de transição na história da humanidade, elevando as Escrituras ao seu devido lugar, estabelecendo assim uma cosmovisão a partir dos objetivos de Deus para o homem, que por muito tempo prevaleceu trazendo grandes benefícios para a humanidade.

Desta forma teremos uma base para expormos a nossa ênfase na Bíblia como pressuposto para a educação, seja ela em escolas confessionais ou não, pois conforme se apresenta os fatos consolidados no decorrer da história, somos então levados a nos curvar diante da majestade do criador, que nos deu tamanha preciosidade, sua palavra. Contudo nossa perspectiva está além do campo da fé, pois tentaremos expor a Bíblia como um referencial para a educação da humanidade, que transcende a área dogmática dessa ou daquela Igreja, e responde aos anseios da formação integral da pessoa, quer seja esta religiosa ou não.

• Aspectos gerais da educação

Percebe-se que na educação as diversas teorias e práticas tem-se mostrado insuficientes para alcançar os objetivos educacionais (e por educação, nesse trabalho o termo se restringe ao campo sistema de educação do País. Ainda que propriamente não devêssemos usar tal termo nesta área, pois educação compreende algo bem superior ao ensino, e que abordaremos a definição à frente), em relação à pratica pedagógica observa-se que tem sido um laboratório a desenvolver experiências assustadoras, isto pode-se ver com clareza estampado nas paginas de noticias que se ocupam em transmitir tais informações . Talvez seja necessário situar de onde se fala, isto é, o Brasil.

É possível perceber do ponto de vista cristão o quanto algumas teorias educacionais tem sido colocadas em desacordo com os preceitos estabelecidos na palavra de Deus, fonte de instrução para uma vida integral.

• O educador (Professor) como responsável pela educação.

“O senhor pode me dizer, por favor, qual o caminho que devo tomar para sair daqui?” Esta é a pergunta que fez a jovem Alice ao gato de Chelshire no clássico de Lewis Carroll (1832 - 1898) Alice no país das maravilhas. Podemos dizer que esta é a pergunta que consciente ou inconscientemente muitos tem feito, e que como a jovem Alice, tem se decepcionado com a resposta. Isto talvez se deva pela falta de lucidez daqueles que são confrontados com as perguntas que lhes são dirigidas, pois como poderiam responder se eles também assim como o gato estão no mesmo lugar, isto é, participantes de uma mesma historia em que não se sabe quais os caminhos se devem seguir.

“Isso depende muito de para onde queres ir - respondeu o gato”. Com uma resposta desta não se precisa de mais nada para continuar perdido e sem rumo. Mas esta tem sido a resposta dada para as perguntas que fazem as pessoas carentes de um norte nesta longa jornada da vida. De maneira mais especifica na área da educação, pois paira sobre a escola, posturas de absolutismo em relação ao ato de educar, por parte de muitos que pela falta de oportunidade e acesso as informações destituídas de caráter partidário, acreditam que as crianças são de fato educadas quando estão na escola, quando na verdade nos parece ser um lugar onde as pessoas entram buscando uma referencia, e saem sem ela, ou até mesmo sem as quais possuía de antemão.

A proposta desse trabalho não é fazer uma análise do texto em questão, mas sim usar esta ideia para desenvolver nossa temática proposta no titulo da obra, ainda que seja apenas um breve comentário, pois tratar sobre a educação em suas diferentes abordagens é uma tarefa que não nos sentimos a altura para desenvolver a fundo tal tema. Sendo assim nossa pesquisa abordará não com a profundidade que merece o assunto, antes será o inicio, e colaboração para futuras pesquisas na área.

Nunca houve tanta necessidade de referências na área da educação como nos tempos atuais, e por educação podemos falar daquela que recebemos informalmente, como também daquela que se desenvolve formalmente nos bancos escolares, sabendo que ambas não excluem a necessidade de uma referencia para apontar o caminho a seguir, e podemos dizer que o exemplo é o melhor meio de educação, haja vista o exemplo deixado pelo mestre dos mestres, que segundo as escrituras sagradas, isto é, a Bíblia, diz, [...] “relatando todas as coisas que Jesus começou a fazer e a ensinar”. Atos 1.1. Este texto nos da um tom para falar da extrema importância dos educadores ensinarem e serem exemplos de pessoas que possam cativar os educandos a os seguirem, e não se eximirem da responsabilidade que lhes cabe de apontar o caminho. Para tal, é necessário que eles, os educadores, saibam qual seja este caminho, pois do contrario serão como o gato que lançou sobre Alice a responsabilidade de saber onde se queira ir.

Os conceitos de educação formal, e informal são do Dr. Albino Aresi, um incansável lutador pelo fim das mazelas humanas, e que em seu livro “O HOMEM TOTAL E A PARAPSICOLOGIA”, desenvolve este assunto como sendo a educação:

Etimologicamente educar é: “fazer com que a criança cresça de tal forma que ela mesma, livremente, possa dominar suas tendências biológicas, de modo que dentro do ambiente em que vive, possa conseguir seu fim ultimo que é a felicidade eterna.” Em resumo: educar é fazer com que a razão (alma) controle o uso dos instintos dentro das leis morais: bem temporal e eterno. (ARESI 1975 p. 101)

Algo de extrema importância nas palavras do Dr. Albino Aresi, é que ele define a educação como “Fazer”, isto é, uma ação de um sujeito externo, ato pelo qual é desenvolvida uma relação que pressupõe a autoridade deste agente ativo, que pela sua experiência e conhecimento torna-se alguém capaz de educar, e não deixar que a criança faça, no sentido de ela ter o controle da situação, mas sim que alguém a eduque, isto contudo, por quem seja preparado para tal, como é o caso dos pais, no lar, e do professor (a) no ambiente escolar, contudo mesmo parecendo paradoxal, o ideal deve ser observado, ou seja, que sua autonomia seja trabalhada, exercitada.

Voltando um pouco no tempo, e analisando o significado da palavra pedagogia em sua origem, teremos uma melhor compreensão, pois o termo pedagogia provém da palavra grega  (paidagogo), uma junção de duas palavras que na concepção original tinha a ideia daquele que conduz a criança até que a mesma possa livremente decidir por si. Na antiguidade tinha-se o costume de entregar a responsabilidade da educação ao  (paidagogo), desta forma encontramos certa consonância com o que observou o sábio Salomão quando disse: “Ensina a criança no caminho em que deve andar, e ainda quando for velho não se desviara dele” Pv 22.6. Dentro desta perspectiva temos um caso muito significativo que foi de Alexandre o grande ( 334-331 a.C ) o qual teve por paidagogo, Aristóteles, um grande filosofo que muito contribuiu com seu pensamento em várias áreas do conhecimento.

Continuando ainda nesta concepção do pedagogo, como sendo responsável pela educação, não só do profissional, mas também dos pais, Saviani (2007) trabalha o duplo sentido do termo quando diz que:

Desde a Grécia delineou-se uma dupla referência para o conceito de pedagogia. De um lado, desenvolveu-se uma reflexão estreitamente ligada à filosofia, elaborada em função da finalidade ética que guia a atividade educativa. De outro lado, o sentido empírico e prático inerente à Paidéia, entendida como a formação da criança para a vida, reforçou o aspecto metodológico presente já no sentido etimológico da pedagogia como meio, caminho: a condução da criança. A partir do século XVII esses dois aspectos tenderam a se unificar como o demonstra o esforço realizado por Comênio. (SAVIANI, 2007).

Contudo, o foco da humanidade mudou do criador para a criatura, e os homens que pensavam nas coisas do alto, voltaram-se para eles mesmos buscando autonomia em relação a Deus. Schaeffer (2002) falando sobre a desintegração da vida e da cultura no livro, a Morte da Razão, diz que este mudar de foco aconteceu quando Tomás de Aquino (1225-1274) propôs uma separação entre o mundo da graça, isto é, as coisas celestes, e o mundo natural, isto é, as coisas terrestres.

Seguindo esta concepção, podemos ver que a educação também foi afetada com esta visão em que não há espaço para Deus, onde os olhos são voltados para as necessidades subjetivas dos educandos, assim como voltaram-se para a humanidade. Há desta forma uma mudança na ordem pela qual conhecemos a educação, e o educador passou com o tempo não ter tanta relevância, sendo o educando o responsável. Isto muito se assemelha a questão da jovem Alice que mencionamos acima, a qual buscava a saída, mas que é entregue em suas mãos tal responsabilidade.

Ainda dentro da definição do processo de educar supracitado, podemos destacar o fim da educação proposto pelo autor, que diz ser conseguir o fim ultimo da pessoa, e que é a felicidade eterna, tendo assim consonância com o pensamento de Comênio que tinha a seguinte concepção “Somos destinados à eternidade. Porque, portanto, pertencemos à eternidade, é necessário que a vida seja apenas uma passagem” (Costa 2009, p.346). Para se conceber um fim, um objetivo a ser alcançado, pressupõe que haja um inicio, um ponto de partida, não somente do processo educativo, como também dos educandos e educadores.

Se então a educação tem um inicio, é natural que se encontre onde este começa, quando começa, e quem começa a educar? A isto voltamos no conceito de educação informal e formal que começamos a expor acima. Para Aresi (1975) a educação se inicia no âmbito informal, que é o ambiente familiar. A família é a primeira agencia socializadora que uma pessoa passa, é aqui que suas relações são iniciadas, e desta forma cabe aos pais ou responsáveis proporcionar um ambiente onde a criança receba através de um comportamento moral daqueles que vivem nesta esfera, a transmissão dos primeiros valores a se buscar.

Aqui podemos destacar a coerência com os princípios estabelecidos na palavra de Deus, onde podemos ler, por exemplo, os vários conselhos para a família destacados principalmente nas cartas do apostolo Paulo instruindo a convivência no lar Cristão.

As mulheres sejam submissas ao seu próprio marido, como ao Senhor, [...] Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, [...] Filhos, obedecei a vossos pais no Senhor, pois isto é justo, Honra teu pai e tua mãe que é o primeiro mandamento com promessa. (Ef 5.22-25. 6.1-2.)

Quanto à educação formal, esta se inicia na primeira infância, e é exigida dos pais a maturidade para envolver progressivamente a criança no mundo e seus diferentes espaços, sabendo que a criança busca alguém em que possa se espelhar, por isso é comum vermos crianças usando os calçados dos pais, repetindo aquilo que os pais dizem. Para Aresi (1975):

A criança que se abre para um mundo novo procura um modelo a imitar, uma forma a tomar como modelo. Por isso, nos primeiros 10 anos, a presença e a vivencia harmoniosa dos pais é a melhor educação transmitida aos filhos. (ARESI 1975 p. 104).

Dentro desta perspectiva apresentada, sob a ótica da educação no sentido de se desenvolver na criança uma personalidade firme, um caráter ilibado, alguém capaz de, no decorrer da vida saber por si só comportar diante das mais diversas situações na vida. Somos levados a entender a educação como um caminho pelo qual devemos passar, e que do contrário então seremos privados desta.

Já o caráter de educação como ensino formal e escolar, sob a perspectiva de formar cidadãos capazes de participar das discussões da sociedade, carece de algo que não somente seja um caminho, mas também que lhe aponte um norte, isto é, o objetivo da educação neste sentido, pois não se pode compreender que seja nos bancos escolares o fim ultimo da educação escolar, antes, deve se pensar em um principio unificador do conhecimento, um principio que transcenda o mero ato de estudar, um aporte solido que não se modifique com o passar dos anos, que não esteja fundamentado no ser humano volúvel como é, e sim no Criador que é bendito eternamente.

Portanto, vamos então abaixo trabalhar como se deu a concepção de educação na perspectiva do Antigo e Novo Testamento, e em seguida entrar na Reforma Protestante, que foi um movimento muito relevante nesta área, e que trouxe grande contribuição para a humanidade ao trazer a tona a autoridade da Bíblia como o referencial para a educação, e para todas as áreas da vida, eles, os reformadores, entenderam que o principio unificador de todas as coisas esta em Deus, e somente o conheceremos quando em todas as áreas da vida a bíblia for o referencial.

• A educação no Antigo e Novo Testamento

“Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te. Também as atarás como sinal na tua mão, e te serão por frontal entre os olhos. E as escreverás nos umbrais de tua casa e nas tuas portas.” (Deuteronômio 6:6-9)

Esta passagem é talvez a palavra chave no antigo testamento, que fundamenta na lei de Deus a necessidade da educação como um agente de transmissão do conhecimento de Deus e sua lei, que contem não somente aspectos religiosos, como também trata do relacionamento do homem com Deus, e de diretrizes para o relacionamento com os semelhantes e com a criação em geral.

Os primeiros ouvintes, eram pessoas que viveram no regime de escravidão no Egito, levando uma vida longe de ser considerada humana. Sem saber a dimensão que acarretava ser o povo que fizera aliança com um Deus vivo, o qual exigia nesta lei, a transmissão de seus ensinamentos, foi necessário que esta mesma lei estivesse escrita, para que dela pudessem ouvir, aprender, e assim consecutivamente passa-la as novas gerações.

Desta forma a educação nos moldes do Antigo Testamento, teve como propósito passar o conhecimento adquirido, e neste caso recebido por revelação, de uma geração à outra. Portanto é importante compreender que fora de um contexto de aliança, não pode haver esta continuação no transmitir da mensagem da aliança. Talvez não poderíamos nem ter em mente como seria a humanidade sem esta transmissão geracional do conhecimento de Deus, como seria a humanidade sem a lei de Deus revelada em sua palavra.

No decorrer da narrativa do Antigo Testamento, evidenciamos por varias vezes as gerações que não cumpriam esta aliança por não conhecerem sobre os mandamentos de Deus. Um típico caso destes acontecimentos, se deu logo depois que os israelitas entraram na terra prometida, e conforme o escritor do livro dos Juízes:

Foi também congregada a seus pais toda aquela geração; e outra geração após eles se levantou, que não conhecia o Senhor, nem tampouco as obras que fizera a Israel. Então, fizeram os filhos de Israel o que era mau perante o Senhor; pois serviram aos baalins. Deixaram o Senhor, Deus de seus pais, que os tirara da terra do Egito, e foram-se após outros deuses, dentre os deuses das gentes que havia ao redor deles, e os adoraram, e provocaram o Senhor à ira. Porquanto deixaram o Senhor e serviram a Baal e a Astarote. (Jz 2.10-13)

Este texto é apenas um dos muitos registros que mostram como o povo a abandonou sua aliança com Deus por falta do conhecimento da palavra, e o erro para estes acontecimentos sempre se deu por que aqueles que eram, responsáveis pela educação negligenciavam sua tarefa. As consequências disto sempre resultavam na escravidão do povo hebreu, e também em grandes conflitos com outras nações.

Contudo o conhecimento que é transmitido, não é um mero conhecimento especulativo, antes, ele tem como objetivo principal a gloria de Deus, e a maioria dos cristãos, que hoje tem o Antigo Testamento como parte importante da revelação deste Deus, tem esta consciência de que todos os tesouros do conhecimento, e da sabedoria se encontram em Deus (Cl 2.2-3).

Para que este ensino das Escrituras fosse cumprido, Deus sempre levantou homens piedosos para alertar a nação de possíveis desvios do caminho. Um deste foi o profeta Oseias, que deixou bem claro em uma de suas profecias a seguinte mensagem:

O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento. Porque tu, sacerdote, rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim; visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também eu me esquecerei de teus filhos. (Oseias 4.6)

Portanto, a educação em todo Antigo Testamento, se estabelece em torno da revelação de Deus, tanto em sua palavra como também no mundo criado por suas mãos, pois segundo disse o Salmista, “Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos” (Sl 19.1). Compreender as Escrituras Sagradas, e a natureza como fonte da revelação de Deus sempre foi, no antigo testamento conhecer o próprio Deus. Desta forma concluímos que o Antigo Testamento tem extrema relevância na educação da humanidade, pois através dele tem-se acesso ao conhecimento de Deus e sua vontade para nossas vidas.

Já no Novo testamento, a começar por Jesus, que foi um mestre por excelência, percebesse em sua própria pessoa o exemplo de alguém que valoriza o ensinamento pautado nas Escrituras Sagradas, e por diversas vezes repreendeu as pessoas de seu tempo dizendo que seus erros provinham do fato de não conhecer as Escrituras (Mc 12.24). Depois de todo seu ministério terreno, e logo após sua ressureição, Jesus disse da seguinte maneira na grande comissão: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações [...] ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século” (MT 28.20), observamos assim sua preocupação na transmissão do conhecimento através do ensinamento, compreendendo que este deve abranger o ser humano por completo, pois conforme Moura (2008) “A formação integral do ser humano é a proposição nuclear da educação cristã. Tal proposição está em consonância com a doutrina cristã da centralidade do conhecimento de Deus como propósito principal da vida humana” (Moura 2008, p. 2).

Ao longo de todo Novo Testamento evidencia-se a educação como forma de transmitir os ensinamentos centrados na pessoa de Jesus que se auto declarou ser “o caminho, e a verdade e a vida” (Jo 14.6), e foi seguindo este caminho que os discípulos de Jesus ao longo do tempo, diante de todas as dificuldades que os cercaram levaram o conhecimento de Deus ao mundo, cumprindo assim a comissão que Jesus lhes dera.

• A reforma protestante e a educação

Considerar o movimento denominado de Reforma Protestante como algo restrito ao campo da religião, não tendo sua relevância em outras áreas da vida é não dar o valor a que de fato tem. Antes de serem religiosos, homens como Martinho Lutero, João Calvino, Filipe Melanchthon, entre outros, que com empenho lutaram por mudanças no curso do mundo no século XVI, eram também honrados pensadores que tinham uma capacidade tamanha, que acima de tudo depositavam suas esperanças em Deus como Senhor da história, e não na corrupta Igreja Católica Romana da época que deploravelmente conseguiu levar a humanidade para as trevas da ignorância ocultando-a o bem mais precioso que o homem pode ter “A palavra de Deus”.

Com o objetivo de explicitá-la que através da educação, encontraram o caminho ideal para lançar as bases de uma fé genuína alicerçada na inerrante e infalível revelação de Deus. Assim a educação é uma das áreas que a Reforma Protestante teve grande influência, e ainda hoje tem-se reflexo desse movimento guiado pelo Espirito de Deus. Portanto, falar sobre a Reforma Protestante é algo fascinante, porque apesar de muitos a conceberem como algo isolado, ou de forma pejorativa, não se pode classificá-la como algo meramente exclusivo do campo religioso, desconsiderando sua relevância para o mundo moderno no qual se vive.

Esse movimento está marcado na história da humanidade como um processo de transição, isto é, um momento em que a humanidade passa das trevas para a luz, e é presenteada com aquilo que é um bem supremo, a palavra de Deus, que é “Lâmpada para os pés, e luz para o caminho” (Sl 119.105)

Desta forma, a intenção é trazer à tona o assunto em questão, ou seja, “A Reforma Protestante e a educação”, considerando e dando o devido crédito a este movimento que causou uma revolução. Abrangeu todas as áreas da vida humana, e trouxe um bem maravilhoso para o homem que vivia em extrema ignorância, cerceado do seu direito a educação. Em relação a ela os reformadores lutaram com todas as suas forças para dá-la ao povo, libertando-os de suas mentes cativas por um sistema corrupto e deturpador das Escrituras Sagradas, influenciados pela igreja romana e seu sistema papal.

A contribuição do protestantismo para a educação, deve-se ao fato dos reformadores estarem conscientes da ferramenta necessária a eles, que era a alfabetização dos leigos. Havia também a necessidade de instrução do clero, pois estes desempenharam uma papel fundamental na evangelização dos povos. Desta forma a Reforma Protestante foi pioneira na educação popular, através da abertura de escolas onde se oferecia o ensino gratuito.

Considerando desta forma que a reforma protestante do século XVI não foi apenas um movimento religioso, mas que promoveu uma considerável mudança na concepção da humanidade, principalmente pela influencia na educação, a intenção é de discorrer sobre este tema levando em conta alguns antecedentes que proporcionaram o cenário para que este movimento pudesse acontecer. Frederick Eby descreve:

“Nenhum aspecto da vida humana ficou inato, pois abrangeu transformações politica, econômicas, religiosas, morais, filosóficas, literárias e nas instituições, de caráter definitivo; foi, de fato, uma revolta e uma reconstrução do Norte” (EBY 1976, p. 1)

É importante observar que o autor destaca a movimentação que acontece no norte da Europa, pois neste mesmo período no sul, segundo Schaeffer (2013), a renascença, outro movimento que também é notório nesta época, acontecia. Assim também contribuiu de forma significativa, o destaca que tanto um, quanto o outro estava buscando soluções para os mesmos problemas. Porém as respostas fornecidas foram diferentes, até mesmo porque os objetivos também não foram os mesmos. Desta forma paralelamente, estes movimentos aconteciam com um intuito em comum, isto é, a libertação.

• A reforma protestante como movimento libertador.

“Pagai a todos o que é devido [...] a quem honra, honra” (Rm 13.7), oque queremos dizer com esta citação do apostolo Paulo aos romanos? Basicamente a ideia é de que ao falarmos da reforma protestante como um movimento libertador, temos que levar em conta em primeiro lugar de que ou de quem foi à libertação, ou seja, quem ou o que estava aprisionando quem? E em segundo lugar não podemos nos esquecer dos predecessores a este movimento que contribuíram para que o mesmo viesse a ter êxito.

No crepúsculo da idade média, momento este na historia marcado pelo domínio da igreja católica romana, que não teve preocupação nenhuma com as Escrituras Sagradas e o que nelas continham, e assim perpetuavam a ignorância coletiva pela detenção do poder nas esferas eclesiásticas e seculares. Foi desenvolvido um cristianismo distorcido, e carregado de elementos humanistas no seu seio, mas que não era conhecido devido à obscuridade exercida pela ausência da palavra de Deus.

Este cenário que precedeu a reforma é caracterizado pelo papado como uma potencia tanto politica, quanto religiosa, e que generalizou a corrupção econômica e moral dentro mesmo da igreja, atitudes estas que geraram um sentimento forte de aversão ao clero.

Assim sendo a libertação mencionada acontece não apenas para um grupo especifico de pessoas, com ideais deferentes, mas, antes é uma libertação da humanidade, pois tanto cristãos piedosos, quanto aqueles nominais estavam sob o jugo do papado que com mãos de ferro dominava a tudo e todos.

De certa forma, podemos dizer que a reforma surgiu paralelamente ao movimento humanista renascentista, principalmente pela necessidade de uma mudança no mundo. Desta forma, contribuíram significativamente para os reformadores, pois a ênfase que os humanistas deram em um retorno as fontes originais, despertou o apreço de humanistas cristãos a observância de estudos da bíblia, e outros autores em sua forma original.

Um dos eventos que contribuiu para esta busca pelos originais e que disto se valeu os reformadores explicitada na fala de Schaeffer (2013) ao afirmar que “A queda de Constantinopla em 1453 resultou em um êxodo de intelectuais gregos que trouxeram manuscritos para Florença e outras cidades do norte da Itália” (Schaeffer 2013, p.31). Desta forma, observa-se que o desenvolvimento da história está atrelado a uma diversidade de fatos que vão ocorrendo e desencadeando outros. Um exemplo disso é o próprio movimento de reformadores que por vezes teve suspiros antes mesmo de Lutero e Calvino, que no entanto foram sufocados; homens como John Wyclife (c. 1330-1384) e John Huss (c. 1369-1415), que deram seus brados por uma mudança contribuíram e ressoaram para que o cenário da reforma fosse estabelecido.

Sendo assim, o movimento humanista renascentista contribuiu de forma clara para a libertação de mentes brilhantes que conduziriam a história para momentos turbulentos, porém gloriosos, porque a palavra de Deus que outrora esteve oculta, começa a ser conhecida. A importância do movimento acima citado, não diminui de forma nenhuma o brilho da reforma. Costa (2009, p.39) afirma que “Isto não diminui as causas nem o valor intrínseco da Reforma; pelo contrário, demonstra oque a Palavra de Deus ensina e no que creram os Reformadores: Deus é o Senhor da História”

Outro detalhe de grande importância a se destacar no período da Renascença e Reforma é a invenção da imprensa, ideia esta que revolucionou seu tempo e trouxe grande beneficio. Costa (2004) esclarece que: “A imprensa foi à satisfação de uma necessidade vital. Aliás, como não poderia deixar de ser, a imprensa não teria tanto sucesso se não houvesse um público carente do seu produto e disposto a adquiri-lo” (Costa 2004, p. 53).

Porem é importante destacar um nome que contribuiu grandemente para a reforma e que pertenceu ao grupo dos conhecidos filósofos da renascença. Trata-se de Erasmo de Roterdã, que também foi um teólogo. Este teve presença marcante neste período principalmente pela contribuição na educação, que é o aspecto principal da Reforma que se quer destacar.

Erasmo de Roterdã dedicou grande parte de sua obra para a educação, inclusive ressaltando a importância de ensinar o quanto antes possível às crianças, conforme citado por Francine (2011), Erasmo dizia que: “Não vou, aqui falar, de novo, que, naqueles primeiros anos, com facilidade aprendem-se coisas que só, as duras penas, os adultos dominam” (Francine 2011, p.177). Além de estabelecer este rigor no tempo dedicado à criança, Erasmo elaborou uma filosofia da educação na qual consistia de algumas etapas, sendo a primeira:

“[...] fazer com que o espirito ainda tenro receba as sementes da piedade; a segunda, que tome amor pelas belas artes e aprenda bem; a terceira, que seja iniciada nos deveres da vida; a quarta que se habitue, desde cedo, com as regras da civilidade” (Francine 2011, p. 25).

Mesmo não se aliando aos reformadores, pois segundo Eby (1976), Erasmo era: "Um pouco tímido e avesso por natureza a conflitos, recusou-se a aderir à causa Protestante, não obstante deplorou tão profundamente como qualquer outro a degeneração da igreja Romana” (Eby 1976, p.37). Portanto, é preciso considerar a influência deste vulto da Renascença para com os reformadores. Ao realizar a tradução do novo testamento, deu força a reformador Martinho Lutero, seu colega com quem teve intensos debates. Além de que sua influência como humanista, teve uma marca predominante na pessoa de Calvino, por isto damos a este movimento, e principalmente a Erasmo a devida honra pela contribuição benéfica.

Contudo, a marca distintiva dos Reformadores como um movimento libertador, a despeito de toda a contribuição dos Humanistas da Renascença, é que estes, conforme o Dr. Hermisten citando Timothy George, “[...] e principalmente Erasmo (1466-1536) entre eles, nunca alcançou nem a gravidade da condição humana, nem o triunfo da graça divina” (Costa 2009, p.20), e nem alcançariam, pois suas intenções estavam restritas ao elemento humano, extraindo Deus do cenário e da história. Assim é conferido a libertação aos corajosos e piedosos homens conhecidos como reformadores, ou quem sabe para a oposição “Os perturbadores de Israel” (1 Reis 18.18).

• Os reformadores e a relação com a educação.

Assim, ao mencionar que a Reforma protestante não foi um movimento isolado no tempo, e em aspectos puramente religiosos, agora faz-se necessário esclarecer um pouco mais sobre a relação dos reformadores diretamente com a educação. Estes homens que mudaram consideravelmente o mundo em muitas esferas da realidade, eram muito capazes. Pensadores renomados que não tinham como proposito fazer uma revolução sangrenta baseada em um fanatismo religioso.

A contribuição da Reforma Protestante para a popularização da educação é inegável, de forma que os reformadores não estavam somente preocupados com a formação espiritual do indivíduo, antes, buscavam também fornecer-lhe uma base cultural sólida com a intenção de contribuir para que o mesmo pudesse ser útil e capaz de trabalhar no serviço sagrado. Contribuíram significamente na sociedade que é o lugar onde se alcança sua realização cultural, e posteriormente honrar a Deus como Senhor de todas as coisas.

Aqueles que hoje são conhecidos como reformadores, trabalharam no propósito de mudar o rumo do mundo que estava em total degradação. Eles não ficaram estagnados quanto à questão educativa. No entanto tiveram uma profunda relação com a mesma, e foram fundamentais para a formação da pedagogia até hoje, como é o caso de João Comenius (1592-1670).

É importante destacar que esforços para a tradução da Bíblia já haviam sido feitos algum tempo antes de Lutero afixar suas 95 teses na catedral de Wittenberg em 31/10/1517, como descrito pelo Dr. Hermisten Maia em Raízes da teologia contemporânea:

Já se tomara visível o esforço por colocar a Bíblia no idioma nativo de cada povo. John Wycliffe (c. 1320-1384), Nicholas de Hereford ( t c. 1420) e John Purvey (c. 1353-1428) traduziram a Bíblia para o inglês em 1382-1384.55 Coube a Nicholas a tradução da maior parte do Antigo Testamento.56 Esta tradução que incluía os apócrifos foi feita diretamente da Yulgata, sem consultar os Originais Hebraicos e Gregos. (Costa 2004, p.82).

Pode-se dizer que a questão protestante estava diretamente ligada à educação, pois a nuvem de ignorância que trouxe a igreja católica Romana para seus fins dominadores deixou a humanidade em um estado intelectual deplorável, e assim colocando a palavra de Deus em acesso ao povo pela educação, as coisas assim mudariam. Costa (2004) ainda afirma que:

“Partindo desses princípios, a Reforma onde quer que chegasse, se preocupava em colocar a Bíblia na língua do povo - e neste particular a tipografia foi fundamental para a Reforma a fim de que todos tivessem acesso à Sua leitura” (Costa 2004, p.80).

Portanto em decorrência dos princípios da Reforma, surgiu uma ênfase na necessidade da leitura, compreensão e interpretação da Bíblia, e desta forma, era fundamental, oferecer instrução adequada às pessoas. Diante dessa realidade, houve necessidade de oferecer uma educação geral e mais abrangente, já que todos deveriam ler as Sagradas Escrituras. Não poderia haver distinção e discriminação, para conhecerem a vontade de Deus e assim compreenderem a distorção das doutrinas católicas ensinadas à população. A grande e vasta maioria era analfabeta, pois a leitura era um privilegio restrito a médicos, nobres, clero e também alguns comerciantes.

Para muitos monarcas era interessante a emancipação de Roma. Lutero, por exemplo, teve grande apoio a sua causa, e desde então sugeriu a separação do ensino cristão do ensino escolar regular, e dessa forma possibilitar com que as pessoas, como um todo, tivessem acesso à educação. Era de interesse da Reforma que todos fossem alfabetizados.

• Lutero e sua relação com a educação.

Fiz uma aliança com Deus: que Ele não me mande visões, nem sonhos, nem mesmo anjos. Estou satisfeito com o dom das Escrituras Sagradas que me dão instrução abundante e tudo o que preciso conhecer tanto para esta vida quanto para o que há de vir. (Martinho Lutero)

Sem duvida nenhuma, e considerando todos antecedentes já mencionados, Martinho Lutero (1483-1546) foi o grande protagonista da Reforma Protestante. Assim, quando ele assume a liderança do movimento educacional que começara na Alemanha, iniciou-se sua intensa luta para libertar a educação por meio do Estado, da Igreja católica que por séculos dominou também esta área da vida sem que trouxesse grandes benefícios para a população.

Costa afirma que: “Analisando uma outra vertente da questão, devemos frisar que foi Lutero quem lançou as bases da moderna escola pública e do ensino obrigatório; e para isso a sua tradução das Escrituras foi fundamental” (Costa 2004, p.85). Esta luta tinha por causa a propagação das oportunidades para a educação e consequentemente sustentava a real necessidade da educação para a vida religiosa e secular do ser humano.

Lutero não descansou do seu labor, lutou por uma condição melhor para a população que vivia em extrema miséria e afundada na ignorância. Como consequência da falta de garantia de futuras atividades profissionais e meios de subsistência “[...] os pais perderam todo o incentivo para educar seus filhos” (Eby, 1976, p. 57). Martinho Lutero considerava um grave erro não educar as crianças, os jovens, pois eles representavam a continuação da nação, de forma que esmerou em fazer com que houvesse empenho das autoridades para a criação de escolas de nível médio, e também primário publico, Costa (2004)

Em sua Carta aos Prefeitos e Conselheiros das Cidades Alemãs escreve que:

“Ainda que não houvesse alma, ou céu, nem inferno, seria necessário haver escolas para a segurança dos negócios deste mundo, como a história dos gregos e romanos claramente nos ensina. O mundo tem necessidade de homens e mulheres educados, para que os homens possam governar o país acertadamente e para que as mulheres possam criar convenientemente seus filhos, dirigir os seus criados e os negócios domésticos”

Continuando sua reflexão severa contra a ignorância que fazia com que os governantes não empenhassem na tarefa de educar as pessoas, ele aponta:

O progresso de uma cidade não depende apenas do acúmulo de grandes tesouros, da construção de muros de fortificação, de casas bonitas, de muitos canhões e da fabricação de muitas armaduras (...). Muito antes, o melhor e mais rico progresso para uma cidade é quando possui muitos homens bem instruídos, muitos cidadãos ajuizados, honestos e bem educados. Estes então também podem acumular, preservar e usar corretamente riquezas e todo tipo de bens. (Costa 2004, p. 86)

De forma clara e contundente, Lutero era avesso à negligência dos pais e governantes por não educarem os filhos. Dedicado como era em seu labor intelectual, grande foi seu legado para a educação que ainda hoje é possível contemplar os reflexos de sua bravura em declarar que: “Em minha opinião não há nenhuma outra ofensa visível que, aos olhos de Deus, seja um fardo tão pesado para o mundo e mereça castigo tão duro quanto à negligência na educação das crianças” (Gadotti 1993, p.71).

Consideravelmente Lutero teve e ainda tem grande relevância como um reformador que se dedicou a refletir e agir sobre esta área tão imprescindível da vida humana para a gloria de Deus.

• Calvino e sua relação com educação

“É necessário educar as próximas gerações, para que não se deixe a igreja deserta para nossos filhos, um colégio deve ser instituído para instruir as crianças, preparando-as para o ministério e para o governo civil.” (Calvino)

João Calvino nasceu em 1509, na cidade de Noyon, em Picardy, ao norte da França, e morreu em Genebra em 1564. Seu pai que era secretário apostólico do bispo de Noyon, e também procurador fiscal do município, concedeu a este a possibilidade de estar estudando em alguns renomados colégios da época. Calvino teve assim a oportunidade de estudar Gramatica, Filosofia, Teologia e direito, sendo ainda notável conhecedor das línguas Hebraicas e Gregas. Quando completou seus 25 anos em 1534, tendo assim a idade legal para ser ordenado ao sacerdócio, Calvino renuncia seus benefícios eclesiásticos, e começa sua jornada em algumas cidades, refugiando-se de perseguições.

Calvino estava familiarizado com as ideias reformadas pela leitura dos escritos de Lutero e Zuínglio, assuntos que com seu primo Olivétan discutiam quando eram ainda colegas de estudo. Um importante nome em sua vida também foi seu professor de grego Wolmar que lhe falava dessas novidades Costa (2004). Quando em contato com os originais gregos e latinos da Bíblia, deparou-se com os temas centrais da Reforma, como a justificação pela fé, por meio unicamente da Palavra, o que ocasionou perseguições por suas ideias.

Considerando as comemorações dos 500 anos do nascimento desse grande reformador, é importante explorar consideravelmente sua influencia na esfera da educação, ele é uma das mais brilhantes mentes do mundo ocidental, e que teve grande importância na construção da teologia reformada, contribuindo de forma grandiosa para a compreensão de vários aspectos da vida humana através de uma cosmovisão bíblica, trazendo muitos benefícios aos homens para glória de Deus.

Para Calvino, o homem redimido é fundamental na construção de um mundo verdadeiramente cristão sob os aspectos, politico, econômico, saúde etc. A questão da educação em Calvino emerge de sua proposta teológica para o homem, considerando que, se devidamente instruído, poderia ser iluminado pelo Espírito Santo. Lutou com certa intensidade para que a educação tivesse a notoriedade dos governantes, contudo não concebia a educação distante da Igreja. Costa esclarece que:

Ele insistiu junto aos Conselhos para melhorar as próprias condições do ensino, bem como os recursos das escolas. Visto que o Estado estava empobrecido, apelou para doações e legados. Sem duvida, entre os Reformadores, Calvino foi quem mais amplamente compreendeu a abrangência das implicações do Evangelho, nas diversas facetas da vida humana [...] (Costa 2004, p.111).

Em Genebra, Calvino desempenhou um papel fundamental na construção da academia de Genebra, tendo como base educacional a Bíblia, e os ministros do evangelho eram os professores nos colégios. Em sua primeira permanência na cidade, Calvino apresentou projetos que destinavam a uma educação gratuita para meninos e meninas Costa (2009).

O homem como imagem e semelhança de Deus deve ter a dignidade de compreender que seu semelhante deve através da instrução viver a beleza desta verdade, a qual para Calvino se dava pela educação, ainda que esta não conduzisse diretamente o homem a Deus. Contudo, é um deste, e um direito para que esse saia das trevas de ignorância. Torna-se interessante refletir como em tão pouco tempo tais homens perceberam a importância da educação para a propagação do Reino de Deus, com o objetivo de ter a igreja Católica o domínio por tanto tempo e não compreender, ou quem sabe não querer que as pessoas fossem educadas.

Portanto, com os 500 anos de Reforma Protestante, é importante missão, indagar através do legado de vida postulado pelos grandes reformadores, e em especial, no que concerne à educação, considerar em nossa volta a atual realidade social, política e econômica da sociedade ocidental, e seguir na mesma trilha destes homens, crendo que há muito a ser pensado, e que todos pensamento cativo a palavra de Deus trará maiores benefícios a humanidade.

Parafraseando o autor da epistola aos Hebreus, refletindo a respeito dos heróis da fé, “E que mais direi? Certamente, me faltará tempo necessário para falar sobre”: (Hb 11.32) John Knox (1515-1572), que estudou na academia de Genebra, e elaborou um sistema educacional tão bem sucedido na Escócia, que só viria sofrer alterações significativas no século 19 (Costa 2004, p.111).

Um reformador nestes tempos, e parceiro de Lutero foi Filipe Melanchthon (1479-1560) que foi conhecido como o preceptor da Alemanha, e exerceu fundamental influência no que diz respeito ao sistema educacional desse país. Para ele a ignorância era uma grande adversária da fé, e assim deve ser combatida desde a infância através de uma reforma das escolas (EBY 1976, p.69).

Considerando ainda esses reformadores, outro nome que não se pode deixar de mencionar, pois talvez seja este um dos maiores frutos da geração pós reforma na área da educação, foi João Amos Comênio (1592-1670). Ficou conhecido como pai da didática moderna, que revolucionou seu tempo, deixando marcas indeléveis na historia da educação. Influenciado pelo pensamento de Calvino, logo compreendeu que seu chamado estava além da atividade pastoral, e aliando a piedade de uma vida Cristã ao pensamento cativo a palavra, entendeu que a educação não se destinava somente a este mundo, antes, ele dizia: “Somos destinados à eternidade. Porque, portanto, pertencemos à eternidade, é necessário que a vida seja apenas uma passagem” (Costa 2009, p.346).

Desta forma somos levados a reconhecer com admiração esses homens que reconheceram a dimensão de suas vocações, que não estava restrita ao campo religioso e sacramental em si, mas sim, pela vida piedosa e pela mente iluminada pelo Espirito Santo influenciar o mundo nas mais diversas áreas, e isto através da educação, direcionada por uma cosmovisão bíblica, tendo como fim ultimo, a gloria de Deus.

• Contribuições diversas do Cristianismo para a educação.

E se Jesus não tivesse nascido? Esta é a pergunta que D. James Kennedy e Jerry Newcombe procuram responder em seu livro que tem a pergunta como titulo, e ao longo da narrativa os autores mostram as diversas áreas que o cristianismo influenciou, e não poderia faltar é claro a área da educação, pois conforme os autores, “Cada escola ou faculdade que você vê, pública ou particular, evangélica ou não, é uma lembrança visível da religião de Jesus Cristo” (Kennedy e Newcombe 2003, p.63).

No decorrer do livro os autores nos mostram com evidencias o quanto a educação foi enriquecida quando pautada pelos princípios bíblicos, universidades como Oxford, Cambridge, Yale, Princeton e outras muitas, “foram fundadas por cristãos com propósitos cristãos”.

O movimento dos Puritanos, logo que chegou aos Estados Unidos em 1630, começaram educar suas crianças usando a Bíblia como material para aprenderem e ler e escrever, criando uma cartilha baseada em temas bíblicos para alfabetizar as crianças (Kennedy e Newcombe 2003).

Tendo como fundamento teórico a bíblia, poderíamos citar incontáveis missionário cristãos que, segundo Kennedy e Newcombe (2003) educaram milhões de pessoas em diversos países e tribos, codificando idiomas e criando alfabetos, tornando assim possível a comunicação com outros povos.

De forma sucinta, o que difere a educação alienada de Deus, e aquela que tem a bíblia como referencial é justamente a visão de mundo que ambas tem. Portela (2012) trabalhando a ideia de cosmovisão na educação diz que:

Na Bíblia temos o conjunto da revelação proposicional e objetiva de Deus [...] Vários trechos falam especificamente sobre a criação, sobre como adquirimos conhecimentos, sobre nossas responsabilidades uns para com os outros e para com Deus. Obtendo assim uma compreensão unificada, e não fragmentada (Portela 2012, p. 152).

Desta forma podemos dizer que o sucesso da educação esta ligado a cosmovisão do educador e dos processos educacionais, e tendo a bíblia como fundamento para uma cosmovisão, compreender-se-á o homem como um todo, harmonizando todas as áreas do saber, pois conforme Moura (2008):

Sendo Deus o padrão de coerência pessoal interna e o centro unificador da formação do indivíduo, vislumbra-se o núcleo que harmoniza a instrução escolar com as demais áreas de instrução, tais como o lar, o grupo cultural e a instituição religiosa. (Moura 2008, p.3)

Portanto, consideramos que este núcleo unificador que propõe uma cosmovisão clara e objetiva para a educação, está fundamentalmente ligado a Deus, e que é evidenciado em sua palavra, a bíblia, daí que esta torna-se um pressuposto teórico sólido para a educação.

Considerações finais

Inúmeros nomes de pessoas e de grupos poderiam ser citados aqui, como quem se serviu da bíblia como um referencial, e a partir disto fizeram na história movimentos que valorizavam a educação como um bem a humanidade. Contudo, este relato aqui apresentado visa tão somente que o leitor observe todo o contingente histórico de fatos que foram desencadeados pelo encontro de homens piedosos com a palavra de Deus. Toda a movimentação que ocorreu no mundo impulsionado pelo reconhecimento de que a vontade de Deus para com o homem, sua imagem e semelhança, é que este viva uma vida gloriosa, e saiba através da educação alguns princípios básicos para uma vida tranquila, livre da ignorância, que como trevas obscurece o entendimento das pessoas.

Consideravelmente a Reforma protestante trouxe significativas contribuições para a humanidade, em todos os tempos, e vem trazendo uma contribuição positiva para todos aqueles que querem viver uma vida piedosa e santa, porque santo é aquele que nos chamou das trevas para sua maravilhosa luz.

Diante de tudo isto, observa-se que a bíblia, como palavra de Deus tem sido ao longo dos tempos um princípio unificador, que emana de si uma visão integral da vida, fazendo com que aqueles que a utilizem como um referencial para a educação tenha êxito na difícil arte de educar.

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Marcelo Junio Silva
Enviado por Marcelo Junio Silva em 04/07/2017
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