O Povo Brasileiro, comentário formulado por Edjar Dias de Vasconcelos, a respeito do livro escrito pelo professor Darcy Ribeiro.

O Povo Brasileiro.

A estrutura da formação do povo brasileiro.

Darcy Ribeiro em seu livro desmancha a ideologia da integração racial pacífica.

Segundo o autor a composição nacional do povo brasileiro nasceu de um mecanismo continuado e violento a serviço da unificação política, suprimindo diferenças étnicas e oprimindo todas as formas de liberdade, inclusive as separatistas a serviço das elites econômicas no tempo histórico da colonização.

A colonização do Brasil foi palco de uma grande tragédia, não aconteceu a aparente uniformidade cultural do povo brasileiro, resultado do mecanismo da colonização pelo caminho da estratificação social e desse modo formou o povo em diferentes classes.

O forte antagonismo das diferenças sociais, a serviço de uma estreita camada privilegiada que governava a colônia. As diferenças sociais intransponíveis para qualquer modificação de classe social, uma terra sem nenhuma mobilidade do ponto de vista de mudança de classe social.

Em função desse procedimento as elites dirigentes, primeiro os lusitanos, posteriormente os luso-brasileiros e, finalmente os brasileiros, viveram sempre sob o pêndulo do pânico do alçamento das classes oprimidas.

A mobilidade social foi inexistente. A mais cruel lógica nunca conduziu as possibilidades de superação da situação concreta, transformou-se politicamente em um modus vivendi.

Os pobres transformados em guetos. O povo sofrido e perplexo sem perspectiva entendia a ordem social, como designação divina, tudo ideologicamente era determinado por Deus, como se fosse a natureza do próprio mundo, a tragédia o fundamento da natureza da vida política.

Em pleno século XX com a CF de 1988 apesar de afirmar que todos são iguais perante a lei, é negado ao povo pobre o direito à cidadania, as pessoas são sempre julgados e condenados por qualquer motivo.

A pobreza como justificativa de procedimentos ideológicos, resultados da colonização, quando qualquer ação é transformada em crime.

No primeiro capítulo do livro, o professor Darcy nos dá uma visão geral do Novo Mundo. E nos diz o que temos como testemunho dos protagonistas, o invasor, ou seja, a elite colonizadora, como detentora da história da colonização brasileira.

A história oficial da colonização não considera os oprimidos como pessoas, suas falas ou lógica de vida são desconsideradas, como algo sem credibilidade.

A documentação relata o papel dos dominadores. No segundo capítulo, reflete a gestação ética, ou seja, do processo de fusão das diversas matrizes indígenas, a questão negra como valor fundamental a colonização.

O índio pobre criatura cativa foi obrigado a converter em escravo, numa sociedade em que os europeus deixaram de fazer qualquer trabalho manual, vivia as custas do trabalho escravo das diversas etnias.

À medida que os portugueses engravidam negras e índias, uma nação de mestiças foi sendo criada. Os brasilíndios ou mamelucos foram vítimas de duas rejeições drásticas.

Primeiramente dos pais, com quem teria que identificar-se, mas viam como impuros filhos da terra aproveitavam bem seu trabalho quando meninos e rapazes e, depois, os integravam em suas bandeiras, como explorados pela colonização.

Outra rejeição era do gentio materno. Na concepção dos índios, a mulher um simples animal em que o macho deposita o esperma a serviço da procriação.

Quem nascia era é o filho do pai, e não da mãe, pois a mulher nunca foi considerada na função social, desse modo, a criança era visto pelos índios.

Não podia identificar-se com uns nem com outros seus ancestrais, rejeitada naturalmente, o mameluco fazia parte de uma terra de ninguém, a partir da qual construía a identidade de povo brasileiro.

No entanto, nem todas as tribos indígenas tiveram o mesmo destino muitas foram eliminadas em razão de serem hostis, não aceitarem a colonização.

Várias fugiram para o interior. Outras foram destruídas em seus povoamentos, tendo também um triste fim. Quando o gentio do litoral se tornava escasso, a serviço da elite colonizadora, os mamelucos capturavam índios das mais diversas origens culturais e linguísticas no interior e os reuniam-se ficando à disposição para serem escravizados e catequizados.

Muitos grupos tribais conscritos à economia colonial pode manter certa autonomia na função de aliados dos brancos para suas guerras contra outros índios, ajudando na escravização dos vencidos.

Após certa consolidação a ocupação do solo do litoral, os portugueses começaram a trazer os negros africanos para o desenvolvimento nas atividades nos engenhos de açúcar.

Com a estratégia do uso das diversidades linguísticas e cultural das origens dos negros colocados no Brasil, somado aos antagonismos diversos de origem nativos, o grande objetivo era evitar a concentração de escravos oriundos de uma mesma etnia.

Com isso impediu a formação de núcleos solidários que tivessem o patrimônio cultural africano. Portanto, o processo de destruição das culturas indígenas e negras foi bastante semelhante, na aplicação da colonização.

O livro reflete o entendimento colonial com fatalidades ao próprio empreendimento colonial. O investimento do escravo africano fundamentado no domínio dos seres humanos pelo caminho da violência a mais terrível coerção diária exercida através dos castigos insuportáveis, atuava como prática desumanizadora tendo como eficácia o domínio.

Submetido a tal situação, qualquer povo é desapropriado da sua natureza, deixando de ser ele próprio, não sendo naturalmente ninguém sendo reduzido a uma condição de animal de carga.

Darcy Ribeiro analisando a história da colônia, entende que o tupi foi inicialmente a língua materna dos primeiros brasileiros, até praticamente o início do século XVIII, quando aos poucos foi sendo substituída pela linguagem do dominador.

O autor defende que o Brasil foi à efetivação da realização do sacrifício dos tupis, à costa atlântica um ou dois séculos antes dos portugueses, e que transfigurados, vieram dar no que somos.

Latinos posteriormente amorenados na definição da fusão com brancos e com negros e índios, destituídos das tradições de suas matrizes ancestrais, entretanto, carregando resquícios delas que ajudados na síntese mimética dos mecanismos de uma cultura cristã ocidental.

A tese fundamental do professor Darcy Ribeiro combina sincreticamente com a toponímia tupi que foi preservada pelos brasileiros. Os nomes das localidades, rios, acidentes geográficos e outras denominações a origem Tupi o que de forma coerentemente foi analisado.

O que é importante entender, afirma o autor, surgimento da etnia brasileira, resultou de variáveis diversas somadas à anulação das identificações étnicas de índios, africanos e europeus.

Por outro lado, como também a diferenciação entre as várias formas de mestiçagem, como os mulatos, negros com brancos, caboclos brancos com índios e curibocas negros com índios.

Com efeito, a história ideológica segundo a qual os índios foram amadurecendo para a civilização de forma que cada aldeia foi se convertendo em vila, é totalmente falsa.

Deixou claro o professor Darcy Ribeiro, o índio não aceita a sua destruição étnica, como qualquer outro povo, seja islâmico judeu etc. o caminho só foi possível pela violência.

Desse modo a tese fundamental aceita não mais como hipótese, a incorporação dos índios ao patrimônio brasileiro só foi possível pela realização do plano biológico e mediante o processo também de miscigenação e violência.

Portanto, as índias eram roubadas e transformadas em mulheres de brancos uma vez que os portugueses deixavam suas esposas na Europa.

O processo de gestação de mamelucos, filhos do dominador com as mulheres desgarradas de sua tribo, que se identificavam apenas com o pai.

Por outro lado, os comerciantes do tráfico negreiro, um dos negócios mais lucrativos da colônia, três séculos de existência, permitindo milhões de africanos para o Brasil, responsáveis pelo rendimento das empresas açucareiras, entre outras, como algodão, ouro, cacau, café etc.

O mecanismo que possibilitou a mestiçagem, desenvolvendo o fenômeno do mulatismo.

Aos negros, o Brasil deve todas as suas formas de desenvolvimento, criando inclusive as condições, para o último momento da evolução política, a proclamação da República e a pré-industrialização.

O terceiro capítulo do livro o professor reflete o conflito Inter étnico e o processo em curso de um movimento secular de sucessão a população original do território e o invasor que fustiga a finalidade de criar uma nova nação à desfiguração total das diversas etnias, a necessidade de um novo modelo de economia e de Estado.

Para efetivação de tal propósito formulou-se uma guerra de extermínio. A cada passo dessa guerra pode ser analisada, pois são descritivos.

A luta entre portugueses e índios que não admitiram o domínio português, Revolta dos Tamoios, guerra entre colonos e jesuítas que defendiam os índios.

As guerras entre lusitanos e caboclos à questão da cabanagem, entre negros fugidos e senhores de escravos, a questão dos Palmares e guerras entre pobres e fazendeiros, Canudos. Os conflitos descritos pelo o autor tinham única finalidade: ajudar a exploração da Empresa no Brasil.

A principal por sua eficácia de rendimento, à empresa escravista, desenvolvimento da produção do açúcar, a segunda à mineração do ouro, fundamentadas na força de trabalho importado da África.

Outro ponto referenciado, com certo êxito, à empresa comunitária jesuítica, originada na mão de obra servil dos índios, com profundos conflitos com o processo de cristianização do Brasil.

Todavia, a rentabilidade que deve ser lembrada, com valoração, com foi também fonte de enriquecimento, à multiplicidade de microempresas de produção de diversos produtos de subsistência ligados a criação de gado.

Fundamentaram-se em diferentes formas de exploração de mão de obra, as espúrias relações de parceria até a escravização do indígena, disfarçada entre outros meios.

A maior parte do povo brasileiro ainda é pobre, esse fenômeno se deve em grande parte, a nossa história, a continuidade das relações políticas e sociais vem como produto do nosso passado não tão distante.

A colonização do litoral brasileiro foi fundamental como forma de defesa do próprio Brasil, por esse motivo resultaram cidades tais quais como: Salvador, Rio de Janeiro, São Luís, Belém, Florianópolis entre outras.

A colonização do interior do Brasil, já teve outra finalidade, ocupado com certa lentidão em função da necessidade de escravizar os índios, o que ajudou na definição do território brasileiro.

Durante muito tempo, o Brasil foi o que está sendo descrito aqui até agora, como fundamento do livro do professor Darcy Ribeiro, um país agrário.

Entretanto, com a revolução industrial na Europa, foi necessário o desenvolvimento da substituição das importações, motivo pelo qual se efetivou a nossa revolução industrial, processo vindo de fora para dentro, motivo do atraso da criação de uma burguesia nacional e forte.

Edjar Dias de Vasconcelos.

Edjar Dias de Vasconcelos
Enviado por Edjar Dias de Vasconcelos em 09/03/2017
Reeditado em 09/03/2017
Código do texto: T5935422
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