CERTO OU ERRADO?
As vezes me pego a pensar: estamos indo no caminho certo ou pelo caminho errado?
Vejo a cada dia, mais um político ou uma leva deles, envolvidos em corrupção, em manobras, em maracutaias, objetivando, tão somente, ver o lado ou o umbigo deles. Se esquecem que foram eleitos por um povo, que acreditou nas promessas deles; que iriam fazer algo em prol do tão sofrido cidadão eleitor; que iriam cuidar da saúde deles, da segurança e da paz.
Cada um que deu seu voto, não o fez por aquela "cesta básica" de última hora, não o fez por aquela "conta de luz ou de água" que o político pagou. Ele não vendeu seu voto. Ele acreditou que seria aquela "ajuda" uma maneira de conhecer a bondade ou o coração do candidato. Pensam assim: agora estamos diante de um político que vai nos ajudar e vai fazer a diferença. Já começou nos oferecendo alimentos ou dinheiro, que seria uma garantia de que, em ganhando, continuaria a trabalhar em prol de cada um dos eleitores.
Certamente que a análise acima, se torna até aceitável, uma vez que nosso povo é de pouca ou quase nenhuma instrução e de coração bondoso que acredita em tudo que é falado, já que não muito distante, pouco pais de 5 décadas, ainda se firmava compromissos com o fio de bigode.
Nesse meio tempo, por volta de 1976, criaram uma famigerada e equivocada "lei de Gerson", que insinuava que todos deveriam levar vantagem em tudo, por uma interpretação errônea da propaganda que levava a sua imagem, que finalizava com a seguinte frase: Por que pagar mais caro se o Vila - falando do cigarro Vila Rica - me dá tudo aquilo que eu quero de um bom cigarro? Gosto de levar vantagem em tudo, certo? Leve vantagem você também, leve Vila Rica!"
E, com a disseminação da frase, o povo que é muito criativo e, uma juventude em formação, começou a pensar naquela frase de efeito e, a maioria daqueles jovens a que me refiro, se transformou em políticos corruptos e desavergonhados, que só pensam no seu próprio umbigo e seus familiares, os quais, aliás, servem não só para receberem a ajuda direta, como camuflarem o enriquecimento ilícito dos políticos, e olha que temos muitos casos famosos, de rapazes que há pouco tempo eram tratadores de animais e hoje, com sua "expertise" se tornaram multimilionários.
Voltando no início de nossa conversa, para não perder o foco, vimos nos dias de terror, podemos até chamar de "black week" vivida entre os dias 04 a 10 de fevereiro de 2017, que muita gente que era considerada "gente boa" no sentido estrito da palavra, não foi capaz de se solidarizar com aqueles que estavam sendo arrombados, surrupiados e até perdendo tudo que tinha na vida, para aproveitar-se da situação e levar um bom bocado para sua casa. E olha, a crise de consciência não foi o forte. O que foi determinante para que grande parte da população visse e criticasse ou condenasse atitudes impensadas ou de fraqueza, de abstinência de seriedade, de moral e de ética, foram as câmaras. Ah, estas sim, não cobram aumentos, não fazem greves, não se mostram revoltadas, tampouco se casam, de forma que fiquem impedida de atuar, por vontade de outrem. Elas, as câmaras fizeram o seu papel. Filmaram tudo, presenciaram e registraram todas as desordens, todos os assassinatos, todos os abusos e até alguns ensaiados arrependimentos. Vamos ver se os órgãos competentes, em especial a Polícia Civil, a Patrimonial e o Ministério Público requisitas as fitas e iniciam ai as investigações.
Então. Vendo um professor na roda viva traçando um paralelo de nossas vidas, ele fez uma comparação incrível que nos remete a um outro raciocínio do que seja criar e educar filhos. Muito se houve, muitos são os apelos, para que nós preparemos nossos filhos para o futuro, o que está mais que provado que não fomos capazes de assim proceder. Então surge uma outra questão. Deixar um mundo melhor para nossos filhos ou deixar filhos melhores para o mundo? E o professor falava: "...no início de minha carreira tive uma mãe rigorosa, que só lhe dava o que era possível e jamais me fazia promessas. "...você tem o dever de passar de ano; você tem a obrigação de estudar e nada lhe darei em troca". Às vezes eu revoltado retrucava: "você não me ama, tampouco eu lhe amarei" E ela, com toda sapiência dizia: "filho, minha obrigação é lhe criar de forma que se torne um bom cidadão, sem promessas e vivendo com o que temos. Jamais sacrificarei nossas vidas para conquistar seu amor. Querendo me amar é uma opção sua. Eu quero que você me respeite e fim de papo". Hoje vejo que ela não só conseguiu o meu respeito, como conseguiu o meu mais puro e intenso amor. Os pais de hoje, que saíram de uma disciplina arrojada - que dava, como deu certo - sucumbiram na disciplina de querer o amor a qualquer custo. Amor não se compra, amor é conquistado e nasce, em primeiro lugar, pelo respeito!
Um dos erros cruciais que surge no início da criação é o de fazer todas as vontades de um filho ou neto. Não é dessa forma que se consegue o seu respeito. Respeito se consegue com rigor, disciplina e ordem. Na casa e em qualquer entidade que se queira ver crescendo sadia e forte, antes de um amor platônico ou sem medidas, deve ser exigido e praticado o respeito! Não adianta dizer que um bravo, um gritador vá conseguir ser vitorioso numa empreitada. O que todos querem é um tratamento igualitário e humanitário, contudo não aceitam gritos, os quais geram ódio e resquícios. Não se iludam: tratamento digno é uma das maiores formas de respeitar o nosso semelhante.
Então. Eu mesmo venho de uma disciplina rígida, que não precisava dizer uma só palavra, bastava o olhar do meu pai ou um "raspar de garganta", para entender tudo o que ele queria dizer ou prometer. Exemplificando, lembro uma cena que se passava em nossa casa. O papai, como todo italiano que se preza, gostava de jogar um baralho, na maioria das vezes, uma inocente escopa, noutras vezes, uma divertida e agradável bisca de reles, ou o mais sofisticado três setes, onde o sete, pouco ou nada vale. Para uma partida completa são necessários quatro jogadores, sendo dois de cada parceria. Era muito comum o Sr. Bezerra, José de Oliveira e Edmundo (irmão do Bezerra) fazerem a parceria com o papai, porém, nem sempre os três chegavam no horário combinado. Ai o papai me chamava para compor a mesa. Iniciava o jogo, ríamos, comentávamos os jogos de forma bem animada (éramos parceiros) e, digo mais, quando era distribuída a "marvada da pinga", o papai ensaiava alguns pingos no fundo de uma canequinha para que eu participasse daquele momento de entretenimento e lazer. Quando de longe avistava o parceiro que estaria chegando, como se fosse uma peça descartável - que não passava disso mesmo - ele, sem dó nem piedade - acho que fica bom assim - dizia: sai e dá lugar para o senhor....(Bezerra, Edmundo ou José de Oliveira), aquele que chegara atrasado. A partir de então - depois da transição compulsória - eu, que até então era um parceiro que participava dos jogos, não poderia mais ficar, nem perto. Teria que sair e ficar o mais comportado possível. Se ousasse conversar alto - que de alguma forma atrapalhasse o raciocínio deles - ele, imediatamente tossia ou "raspava a garganta" que para mim era o recado: quando terminar nós vamos acertar as contas. Se estivesse ao alcance dos olhos dele, somente na "encarada" já sabia o recado. E olha que não adiantava mais. Poderia até fingir que estava dormindo. Ele acordava a gente e dava umas duas ou três batidas com a bainha de facão em nossas nádegas.
Mas hoje, digo com todas as letras: "nenhuma daquelas bainhadas de facão foram em vão. Ele conseguiu criar homens de fato, que sabem respeitar as pessoas, que sabem respeitar os mais velhos, o direito de cada um, sem nenhuma crise que possa nos levar a sair do caminho certo. Fomos forjados com ferro quente e, ao mesmo tempo maleável. Fomos forjados com rigor para que hoje sentíssemos falta dele, daquele cidadão honrado e sem mácula, que mesmo sendo muito rigoroso soube criar uma família numerosa, mesmo com a falta de minha mãe, que morreu muito nova. Somos cinco filhos do primeiro casamento e mais sete filhos do segundo casamento.
Avelino Malacarne - 11/02/2017