PRECONCEITO LINGUÍSTICO - Feridas Vivas
RESUMO
O texto traz algumas reflexões, partindo de estudos teóricos sobre as causas geradoras para o Preconceito Linguístico, demonstrando conceitos e denunciando situações recorrentes sobre o tema determinado. Os objetivos pretendidos são os de demonstrar circunstâcias e/ou noções determinantes a flagrantes relativos aos preconceitos, revelando e comparando os resultados que surgem em consequência de alguns motivos aqui apresentados; a definição e o conhecimento de algumas causas que geram o preconceito linguístico por meio dos campos sociais, geográficos, linguísticos e raciais. E, por último, a discussão a respeito de um dos preconceitos mais opressores em nossa sociedade, o preconceito Antinordestino. A metodologia aplicada foi a da pesquisa de caráter bibliográfico obtendo resultados satisfatórios no que tange à proposta inicial do estudo, em virtude de ter sido feita a amostragem de conceitos e causas geradoras, partindo daí para o campo da denúncia de um tipo de preconceito que é pouco debatido pelas pessoas, mas que é cometido diariamente. Outro resultado obtido foi a partir do último capítulo, após a apresentação do subtema, a posteriori, foi feita toda uma caracterização pejorativa da visão que se tem dos nordestinos nos grandes centros urbanos pela maioria dos habitantes dessas metrópoles. Enfim, o trabalho resume-se em expor o Preconceito Linguístico não no âmbito escolar, mas como ele é exercido no dia a dia.
Palavras-chaves: Preconceito Linguístico. Social. Antinordestino. Racial.
1- INTRODUÇÃO
Falar sobre Preconceito Linguístico, atualmente, envolve uma análise pictórica e de significados prismáticos que se dispersam por diversos ângulos. Várias situações e contextos podem incitar ou representar um quadro gerador de muitos conflitos. A prenoção pode se originar por fatores históricos, fatores sociais e regionais, questões raciais, econômicas e de escolaridade.
Partindo desses pressupostos, este trabalho busca, em sua temática, demonstrar algumas indagações que constituem o Preconceito Linguístico. O artigo apresentará noções sobre preconceitos e possíveis cenários motivacionais para o seu desencadeamento. A partir destes esclarecimentos, o corpo deste projeto será configurado em função de explanações de caráter linguístico-social. O tema aqui abordado tem uma abrangência que envolve conceitos lato - teóricos, linguísticos, sociais, geográficos, históricos e raciais.
O objetivo é demonstrar situações e/ou conceitos determinantes a uma deflagração explícita relativa ao preconceito, revelando e comparando as possíveis conjunturas que surgem em consequência de alguns motivos aqui apresentados.
A escolha em pesquisar sobre o preconceito linguístico decorre de leituras e pesquisas sobre outros tipos de preconceitos, principalmente a respeito daqueles que já possuem lei própria na Constituição. Além disso, há o interesse em expor o que ocorre diariamente com a maioria dos falantes das diversas variações linguísticas, os falantes pertencentes ao objeto estudado nesta pesquisa. A intensão é exibir a discriminação explícita que sofrem e que, mesmo existindo iniciativas de combates às injúrias, a impotência de suas ações e de outros perante o desprezo e à humilhação não surtem efeito algum, pois, o estereótipo já se tornou popular – Eles são invisíveis!
2 CONCEPÇÕES
Conhecem-se as definições de vários tipos de preconceitos. Concepções divergentes são frutos dos imbróglios históricos desde a formação cultural do homem. A divisão da sociedade ao longo dos tempos, o surgimento de impérios e povos dominantes, bem como, as suas divisões: camponeses, escravos, políticos, trabalhadores, artistas, definiram que fatores referentes a espaço, raça, religião, idade, cultura, bens, classe social e língua seriam determinantes para o surgimento dos vários tipos de preconceitos e discriminação. E o que se produziu ao longo dos anos, por conta de tais conceitos foi retratado pela história, através de resultados catastróficos, como o Holocausto, os genocídios religiosos, sociais e raciais, como os que aconteceram com os indígenas nos Estados Unidos ou com o genocídio em Ruanda; caça aos diversos gêneros, escravidão, segregação racial e das diversas guerras, que a Humanidade, através de uma ideia minimalista e subjetiva, imaginou ser mais fácil desprezar o que lhe parece diferente do que aceitar o fato de que todos são iguais. Independente do fator preponderante pertencente às pessoas, os preconceitos estigmatizam os indivíduos levando muitos a perderem sua autoconfiança, sua própria personalidade e sua identidade. Desta forma, passam a despertar o pior dos preconceitos – o preconceito contra si próprio.
Num contexto geral, Preconceito é a emissão de uma ideia sucinta e precipitada, geralmente vestida de opiniões formuladas de maneira arbitrária, sem consulta, conhecimento ou pesquisa cujos interessados são resumidos num ambiente pertencente apenas ao remetente e ao destinatário, podendo, a partir daí, se criar um quadro mais grave que seria a discriminação.
Para Crochik (2006, p. 17) o agir sem reflexão, de forma aparentemente imediata perante a alguém, marca o preconceito, que sendo, a priori, uma reação congelada, assemelha-se à reação de paralisia momentânea que temos frente a um perigo real ou imaginário. O autor demonstra a sua teoria com um exemplo do cotidiano, basta pensar nas situações constrangedoras em que nos envolvemos quando, frente a uma pessoa que apresenta particularidades que rompem com nossa percepção usual do que é uma pessoa do cotidiano, temos de disfarçar o susto ou justificá-lo para disfarçar a nossa reação.
Segundo o autor, outra forma que assumimos frente à pessoa estranha é a da rejeição, no sentido de não lhe darmos nenhum valor, ou, então, um valor preconcebido segundo o qual ela não merece a nossa atenção por ser inferior a nós, o que, em certos casos, leva à ideia fascista de eliminá-la, se for possível, antes mesmo de nascer. Ou seja, o preconceito incorporasse ao homem como um sentimento de desprezo. A exposição pública com determinadas pessoas é que causa o preconceito. A capacidade intelectual de um indivíduo para com outro pode ser expressa pelo nível de insignificância da negação.
A origem dos vários mecanismos que envolvem a raça humana (espaço, fator social e econômico, raça e gênero) está intimamente ligada ao ato da fala e da escrita. Sendo assim, foram delegadas ao longo dos anos, quais línguas seriam adotadas por determinados povos. Sempre, levando-se em consideração a lógica do poder e do elitismo, a língua oficial seria a pertencente a dos grupos mais abastados. Às outras esferas da sociedade, o que imperava era a língua popular, a língua falada nas ruas e transmitida sem a formalidade acadêmica e literária, mas que possuía internalizada uma gramática própria, um vocabulário próprio e uma linguística própria. Ela sobrevivia sozinha, era independente. Estas línguas, durante o curso da história, foram objeto de invasão, colonização, substituição, morte, nascimento e renascimento ao seu status de genuinidade. Este fator foi determinante para o surgimento de idiomas e seus dialetos, provocando também, as primeiras manifestações de Preconceito Linguístico.
2.1 PRECONCEITO LINGUÍSTICO – ATÉ ONDE VAI?
Nas atuais definições sobre Preconceito Linguístico pode-se citar os célebres oito mitos de (BAGNO, 2000, p.15-72): 1 - A língua como unidade linguística – 2 – Brasileiro não sabe português – 3 – Português é muito difícil – 4 – O preconceito contra as pessoas de estratos sociais diferentes – 5 – O lugar onde se fala “melhor” o português é o Maranhão (grifo meu) – 6 – O preconceito contra as variações linguísticas (falar como se escreve) – 7 – É preciso saber gramática para falar e escrever bem – 8 – A norma culta como instrumento de ascensão social.
Esses mitos, em sua maioria, possuem uma grande verdade diante da formação dos preconceitos, mas não são unanimidades. Em relação aos dois últimos mitos se podem fazer algumas considerações: “Um professor de português quer formar bons usuários da língua escrita e falada, e não prováveis candidatos ao Prêmio Nobel de Literatura! “ Para os professores, em geral, seus alunos, não estão com o futuro preestabelecido. Se forem bons usuários da língua falada ou escrita, com certeza a intervenção da Gramática terá sido de fundamental importância, bem como a norma culta para a sua formação. O ambiente escolar, já não é mais aquele modelo rígido da ditadura militar. As variantes linguísticas são amplamente exploradas pelos professores, qualquer livro didático traz informações sobre as variações linguísticas e trabalhar as duas normas possibilita melhores chances de ingresso no ensino superior, no mercado de trabalho, no convívio com as pessoas, na interação humana, ou seja, na inserção social. Não se pode esconder que ter interesse em dispor da liberdade de possuir a sua linguagem diária é fundamental, mas que a necessidade da norma culta é essencial para a vida e a interação com o mundo é indispensável.
O professor (CIPRO NETO, 2011, p. 12) fazendo considerações sobre Preconceito Linguístico cita o professor Adilson Rodrigues:
A gramática "formal" não pode nem deve ser uma ditadura da linguagem. Ela tem que ser esclarecedora e não discriminadora. (...) A questão é aceitar o que ele (o aluno) traz, até como elemento de cultura, e acrescentar a aprendizagem TAMBÉM da norma culta, até como forma de propiciar a ascensão econômica e social do aluno.
Ao fazer considerações a respeito do livro “Por Uma Vida Melhor “ de Heloísa Ramos, (LUCHESI, 2011, p. 47) fala no plano da cultura, manifestações de matrizes historicamente marginalizadas, como a africana, estão plenamente integradas, como os blocos afros no Carnaval da Bahia, a capoeira e o Candomblé. Porém, o preconceito e a intolerância ainda predominam em um plano essencial da cultura: a língua. Denuncia. (...) sobre o livro ele alerta a respeito das normas linguísticas que, apesar de serem “eficientes como meios de comunicação”, as duas recebem uma avaliação social diferenciada, existindo “um preconceito social em relação à variante popular, usada pela maioria dos brasileiros”, mas que “esse preconceito não é de razão linguística, mas social”. Em vista disso, conclui que “o falante tem de ser capaz de usar a variante adequada da língua para cada ocasião”.
Sinceridade. Mostrar aos falantes que existem dois modos de se usar a língua e os dois são importantes, por vários motivos – um, por motivos culturais e outro por motivos sociais e econômicos.
2.2 O PRECONCEITO RACIAL LINGUÍSTICO
O preconceito racial talvez venha ser a forma mais brutal que o ser humano desenvolveu para subjugar outro ser humano. O alvo do racismo são os povos denominados inferiores – conceito arbitrário e opressor idealizado pelos europeus.
Não existe supremacia de raças, nenhum estudo científico, até hoje, provou tamanha insensatez. O ideal de uma raça pura e superior às raças miscigenadas não é fator determinante para constatar suposições anacrônicas, antes defendidas por cientistas fanáticos, alienados por um código de dogmas que matou milhões de pessoas por causa de sua etnia ou religião. O Racismo é muito influenciado por ideias que derivam dos conceitos pejorativos do Darwinismo Social.
Existe uma evolução cronológica para o fator de raça superior a ser alcançado. O racismo irá começar não por uma questão de cor, mas por motivos xenofóbicos. Daí, ele já começou a incorporar mais elementos como questões de ordem territorial e a cultural. Não existia um ódio ou até um preconceito humilhante como vemos hoje, era mais para o lado do xenofobismo religioso.
Hoje, o que se experimenta são ataques à cor, à raça, à cultura, e se pode fazer uma associação entre todos esses ataques preconceituosos com o da língua. Pelo contexto histórico e social as raças que padecem com o preconceito não padecem apenas pela cor da pele, subjugam-se, também, pelo preconceito linguístico. Tal situação acontece porque se uma raça é desprezada, será desprezado também seus hábitos, cultura e linguagem. No processo linguístico, o branco, o negro, o índio e o amarelo possuem línguas bastante distintas, através de processos de colonização o idioma branco europeu determinou a sua superioridade a muitas raças. A língua nativa dos povos que sucumbiram foi desprezada e marginalizada, confinada aos guetos e malocas.
Na visão de Bagno (2008) nossas classes dominantes sempre tiveram absoluto horror a tudo o que fosse genuinamente nosso, nativo, autóctone. Ora, elas jamais aceitariam como sua a língua que Araripe Jr., em 1888, chamava de "o falar atravessado dos africanos". Para fugir disso, estabeleceram como padrão de "língua certa" um modelo importado que se afastava, ao mesmo tempo, do português popular brasileiro e das variedades urbanas da própria elite branca e letrada. Negação do outro, negação de si, alienação total e absoluta, esquizofrenia perfeita.
Assim ficaram as línguas: ambas isoladas; em total ignorância e num completo atraso. Por que uma esquizofrenia perfeita? Já que não tinham contato com outras línguas, a falta de interação com o mundo exterior fazia aparecer os cinco estágios do luto: Negação – Raiva – Negociação – Depressão – Aceitação.
O negro tem na música uma forma de expressão, desde os tempos da escravidão. Hoje, essa representação seria o Rap, surgido na década de 1970, nos EUA, derivado do movimento hip hop que possuía três aspectos de expressão: Rap, break e grafite. Mas este estilo de música sofre com o preconceito. Suas letras denunciam o seu cotidiano, o seu modo precário de morar, denunciam as instituições, a opressão da polícia, o tráfico de drogas e o convívio diário com elas; denunciam o preconceito educacional, o étnico e linguístico. O preconceito linguístico com as letras das músicas de rap fomenta, nessas pessoas, a falta de identidade cultural, não perceber mais a sua negritude ou miscigenação, deixar de ser rapper, pois, através da poesia mostra as agruras de onde vivem. Muitos se deixam ludibriar pelo status quo mentiroso das classes dominantes.
As causas que levam ao preconceito linguístico racial através da música aparecem por conta de serem compostas em sua grande maioria por falantes com baixo nível de escolaridade; geralmente as músicas surgem das favelas, comunidades e morros e lá os dialetos são repletos de gírias, palavrões e jargões. O Rap tenta mostrar, através da verossimilhança o cotidiano de quem escreve as letras das músicas com uma ótica voltada para o mundo exterior.
2.3 AS CAUSAS QUE POPULARIZARAM O PRECONCEITO ANTINORDESTINO - VARIAÇÃO DIASTRÁTICA
Falar em língua enquanto preconceito social tem-se que analisar questões como, poder aquisitivo, acesso à renda, posição social, grau de escolaridade, padrão de vida e não se pode deixar de mencionar que, não existe o preconceito social sem o geográfico, os dois se agregam. Esses fatores são exigidos e impostos pela sociedade de forma cruel. Eis o modelo ideal. Segundo Bagno, (2000), a ideia de preconceito linguístico igual ao preconceito social, surgiu por volta do ano III a.C, em que os formuladores da Gramática Tradicional defendiam que a “Língua Exemplar” só era falada por um grupo restrito de pessoas, a saber: pessoas do sexo masculino, livres (não escravos), membros da elite cultural, cidadãos (eleitores e elegíveis), membros da aristocracia política e detentores da riqueza econômica.
Interligando a esta questão de riqueza econômica pode-se fazer uma vinculação com a desigualdade social no mundo é muito séria, segundo a BBC Brasil, (2016) a riqueza acumulada pelo 1% mais abastado da população mundial agora equivale, pela primeira vez, à riqueza dos 99% restantes.
Assim define Bagno, (2010), quando fala sobre classes dominantes referindo-se ao que vem de cima, do poder, das classes dominantes, cria aos falantes das variedades de língua sem prestígio social e cultural um complexo de inferioridade, uma baixo autoestima linguística, a qual os sociolinguistas catalães chamam de “auto-ódio”.
Não se pode imaginar a humanidade muda. Ela caminha por milhares de anos com milhares de linguagens. Mas por que existe o preconceito? Trata-se de uma manifestação de valor social.
Dominar a língua padrão é um mérito que o falante deve possuir para conquistar uma ascensão social melhor.
2.4 VARIAÇÕES DIATÓPICAS
As chamadas variações geográficas também conhecidas por variações diatópicas são muito significativas em nosso território. Considerado um país-continente, as diversas regiões possuem dialetos que recebem influências de outras fronteiras, através de sua proximidade com outros estados e/ou países, as culturas se encontram, se juntam e se enriquecem. Sendo assim, a língua, que é patrimônio imaterial de um povo, se expande e se torna cada vez mais acessível.
Pode-se aventar um fato curioso que acontece no Brasil – têm-se centenas de dialetos e sotaques pertencentes a muitas etnias, e vê-se que uma das causas do preconceito se dá por questões geográficas.
De acordo com Villela e Costa, (2007 apud ALBUQUERQUE JÚNIOR, 2013) o preconceito geográfico é gerado da seguinte forma:
É o que marca alguém pelo simples fato deste pertencer ou advir de um território, de um espaço, de um lugar, de uma vila, de uma cidade, de uma província, de um estado, de uma região, de uma nação, de um país, de um continente considerado por outro ou outra, quase sempre mais poderoso ou poderosa, como sendo inferior, rústico, bárbaro, selvagem, atrasado, subdesenvolvido, menor, menos civilizado, feio, ignorante, culturalmente inferior, etc.
Na opinião de Albuquerque o que se vê é que o local em que se mora determina um fator social – aqueles que residem em lugares elitizados pertencerão à parcela da sociedade que não estará sujeita a pré-julgamentos. Aqueles que residem em zonas periféricas, em comunidades, favelas, assentamentos serão os considerados à mercê da sociedade, os flagelados, criminosos, potencialmente de alto risco à sociedade.
A respeito da juventude de baixa renda, conforme pesquisa assim descreve:
Quase a metade dos jovens que vivem em favelas evita dizer o local onde mora ao frequentar espaços fora de suas comunidades, segundo pesquisa das favelas brasileiras, divulgada nesta quarta-feira (20) pelo Instituto Data Popular, em parceria com a Central Única de Favelas. O estudo aponta que 49% dos entrevistados preferem não revelar que moram em favelas por medo de sofrer preconceito e que 75% acreditam que quem vive em favela sofre preconceito.
Apesar das dificuldades e do preconceito, o estudo identificou que 85% dos entrevistados estão satisfeitos com o lugar onde moram e 70% afirmam que continuariam a morar na favela mesmo se dobrassem a renda.
A pesquisa ouviu 500 jovens entre 15 e 25 anos de cinco favelas do Rio.
( VILLELA, 2013, p. 10)
2.5 DIALETOS
Em suas cinco regiões o Brasil apresenta modos de falar distintos. Em seus vinte e seis estados esses modos se diferenciam mais ainda. Isso deveria ser de um valor cultural sem precedentes, algo que orgulhasse os seus falantes. Mas o que acontece realmente é a pintura de um cenário bem distorcido.
Tem-se um predomínio de determinadas variações sobre outras. Há um verdadeiro desprezo aos falantes de variantes regionais, principalmente quando estes são oriundos das regiões Norte/Nordeste. Existe o preconceito diário e ele acontece explicitamente. Seja no trabalho, na escola, entre amigos... O nordestino e o nortista sofrem as consequências pela culpa (sic) de não terem nascido no Sul/Sudeste. Os dialetos predominantes no Brasil são os do estado de São Paulo e do Rio de Janeiro. Eles dominam a língua falada, escrita, midiática e da comunicação.
Alguns dialetos são bem populares, tem suas peculiaridades, nuances e texturas, por que não dizer: beleza exclusiva inerente ao nativo da língua. (Deve-se considerar que o fato de existirem vários dialetos diferentes não ocorre prejuízos ao entendimento da língua).
Baseado na vasta extensão de seu território e no processo de miscigenação linguística pelo qual foram submetidas as formas de falar do povo brasileiro será mostrado a origem de alguns dialetos brasileiros.
O dialeto baiano ou baianês nas palavras de Silva e Gomes, (2013 apud PACHECO, 2014) tem origem no período em que o Brasil era colônia de Portugal e tinha Salvador como capital. Como a cidade a maioria das instituições administrativas brasileiras sofreu influência de diversos povos, como europeus, indígenas e africanos. Com o passar dos anos ganhou identidade própria e acabou influenciando na formação de outros dialetos do país, principalmente o nordestino.
O dialeto baianês é fruto da multiplicidade dos povos que residiam na capital do Brasil, Salvador. Gente que habitava os lugares menos favorecidos da cidade, que não possuíam riquezas, nem escolaridade. A influência de diversas raças e demasiadas culturas culminou numa língua que se distanciou do português de Portugal. Enquanto o período Barroco influenciava a Literatura e a norma culta, nos guetos falava-se um idioma de pessoas comuns, vindas de migrações, de etnias indígenas e, em sua maioria, de africanos com seus cânticos de capoeira, candomblé e outras religiões, negros alforriados ou não.
Atualmente o sotaque baianês apresenta traços muito fortes do povo soteropolitano. Ele sofre, junto com outros sotaques nordestinos, uma forte discriminação por parte, principalmente dos habitantes do Rio de Janeiro e São Paulo é ridicularizado em filmes, novelas e minisséries, que o imitam dando um caráter de desmoralização, associando-o sempre a personagens coadjuvantes que desempenham funções, geralmente, de gente das favelas, descamisados, bestializados ou empregados de baixa renda.
De acordo à Enciclopédia livre Wikipédia (2016) o sotaque Nordestino central é utilizado em Pernambuco, Sergipe, Alagoas, Paraíba, Rio Grande do Norte, na porção sul do Ceará, e em algumas regiões da Bahia, do Piauí e do Maranhão.
O dialeto da região Norte é chamado de “Amazofonia” ou sotaque nortista.
É conhecido como “canua cheia de cucos de pupa a prúa”, que seria na língua culta “canoa cheia de cocos de popa a proa”, esse nome mostra como a população local pronuncia a vogal. Existem outros dialetos na região, que é tradicional do Pará, historicamente representativo e falado por pessoas que ajudaram a construir o estado, com influência de cearenses, maranhenses e nordestinos.
O dialeto nortista assume juntamente com o dialeto baianês e o nordestino, algumas peculiaridades: estes são os formadores das várias diversidades linguísticas que estariam por vir; aquele possui como característica um trato mais refinado em comparação com a norma culta da língua; o sotaque nordestino, o baianês e o nortista possuem, juntos, algo determinante em sua concepção: são representantes de duas regiões que tem dezesseis estados, deste modo, o volume de informações que os dialetos carregam, diversifica a sua construção diariamente, com isso, arrecadam um arsenal incomensurável de riqueza cultural; o dialeto nortista diferentemente do nordestino e do baianês se repelem, são substratos de uma formação totalmente diferente. Enquanto no Nordeste houve uma enorme migração, povoação, escravidão que influenciou a língua local através de línguas de diversos países, no Norte houve a evangelização feita pelos jesuítas que utilizavam o dialeto com influências do tupi. Lá, a escravidão quase que não aconteceu e o ofício dos jesuítas de alfabetizarem os índios nativos com a língua tupi, uma língua que pertencia aos índios do litoral brasileiro, ou seja, uma língua totalmente estranha, causou um choque linguístico o que fez com que tivessem que se adaptar, bruscamente, contra as suas crenças e tradições.
2.6 PRECONCEITO ANTINORDESTINO
Após a apresentação deste cenário, aqui surge uma questão que se coloca como uma intervenção social, uma premissa histórica que se desenhou e se desenha ao longo dos anos: O Preconceito Antinordestino.
Este tipo de preconceito é um dos mais poderosos. Ele consegue formar opiniões de ódio e opiniões racistas com muita facilidade. A discriminação é diária, os maus tratos para com essas pessoas não têm precedentes. Nos grandes centros urbanos do país, em estados como: São Paulo e Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, o nordestino é ridicularizado e muitas vezes humilhado, seja pelo seu modo de falar, seja pelo lugar de onde veio ou pelo lugar onde mora.
Mas como teria surgido esse tipo de Preconceito?
Segundo Magnoli, (1997 apud KUPSTAS (Org.), 2013, p. 119):
O Regionalismo nordestino nasceu e evoluiu como reação à decadência do Nordeste. Do ponto de vista histórico, surgiu no início do século XX, junto com o deslanche da industrialização no sudeste (...) O Regionalismo nordestino desenvolveu-se sobre o paradoxo de ser um discurso elitista cujo argumento central sempre foi a pobreza. Esse paradoxo contribuiu para o surgimento e a difusão de um outro discurso: o do preconceito Antinordestino. O preconceito Antinordestino existe desde os tempos antigos, como expressão do racismo. A participação majoritária dos negros e mulatos na população do Nordeste, que contrasta com a hegemonia dos brancos no Sudeste e, em proporção maior, no Sul, reflete a história da escravidão e da imigração europeia no Brasil. Aí se encontram os fundamentos do preconceito tradicional Antinordestino...Porém, o Preconceito Antinordestino atualizou-se aproveitando o próprio Regionalismo das elites do Nordeste. No Sudeste, difusamente, desenvolveram-se atitudes preconceituosas contra os migrantes provenientes dos estados nordestinos.
A atitude preconceituosa enxergou nos fluxos de nordestinos o espectro da invasão da pobreza, em vez de enxergar o papel desempenhado pela mão-de-obra migrante no crescimento econômico do Sudeste.
As pessoas que migram das regiões Norte/Nordeste, para aqueles que residem no Sul/Sudeste, não possuem uma representação, um nome, para estes, todas as pessoas de todos os estados destas duas regiões são classificadas, pejorativamente, como “baianos” ou “paraíbas”. Assim, ao darem codinomes, dicionarizar nomenclaturas para essas pessoas, chega-se há uma conclusão: Os nordestinos não são reproduções humanas, pode-se até, mal comparando, imprimir noções niilistas existenciais aos mesmos, noções criadas por um nicho segregativo.
Particularizando o preconceito regional ao preconceito linguístico, “baianos” e “paraíbas”, na gíria dos cariocas e paulistas, não possuem identidade, desta forma, não possuem um valor cultural, não possuem um lugar de origem, não possuem raízes, tampouco, ancestrais. Sua língua, entretanto, não é muda, mas, muito viva, símbolo de escárnio e chacota. A língua nortista/nordestina, com a ajuda das massas dominantes, elites, dos meios de comunicação (televisão, rádio, jornal, revistas, internet), num contexto geográfico, transformou-se na matéria-prima para a construção de estereótipos de personagens preguiçosos, burros, caipiras e caricaturais.
Diante deste cenário, pouca coisa é feita a favor do povo nordestino. Os dias se passam e eles vivem suas vidas, mesmo que sofrendo abusos e injúrias racistas constantes. Mas tendo esperança, como disse Mandela “Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar.”
2.6 METODOLOGIA
O Projeto de pesquisa tem caráter bibliográfico, sendo produzido a partir da argumentação e da coleta de informações referentes ao Preconceito Linguístico, com o intuito de mostrar e de denunciar as causas geradoras de tal discriminação, busca também conceituar essas causas, a fim de compreender tal fenômeno e de explicitar um mal que é pouco combatido, mas muito cometido. Procura fazer uma reflexão a respeito do tema através de referências de autores consagrados e por meio de muitas pesquisas consultadas.
Os procedimentos utilizados na elaboração da pesquisa foram feitos por coleta de dados através de fontes retiradas de livros físicos ou digitalizados, monografias, artigos científicos, sites, revistas on-line, periódicos, simpósios, teses, dissertações, pesquisas estatísticas. Foi feita a coleta de informações, resumos e citações do material bibliográfico, para, só, então, partir para a elaboração de uma leitura reflexiva e teórica para constituir uma análise crítica do material recolhido.
Os métodos utilizados na pesquisa consistiram, primeiramente, no levantamento de material bibliográfico, citando alguns: livros de especialistas na área de linguística, artigos científicos, monografias e teses que, após a leitura de seus resumos e de suas conclusões, se tivessem alguma relação com o tema aqui pesquisado seriam utilizados, também foram utilizados artigos de sites de fontes confiáveis. Após esse levantamento foi feita a interpretação de todo o material reunido para a postulação das ideias que comporiam o escopo do trabalho. Sendo assim, a pesquisa girou em torno da amostra de preconceitos preparatórios e suas ramificações, bem como, as causas geradoras desse mal. Desta forma, chega-se ao foco da pesquisa que é o Preconceito Linguístico – Feridas Vivas.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A seguinte pesquisa trouxe em sua abordagem final a proposta que se imaginou no início: Definir e conhecer conceitos, bem como, denunciar algumas causas geradoras para o Preconceito Linguístico, por meio dos campos sociais, geográficos, linguísticos e raciais. A partir destes fundamentos formulou-se toda uma preparação em volta do tema principal conforme conceitos e acontecimentos históricos, bem como, algumas classificações das formas de como se discriminar.
A distribuição do tema se deu inicialmente com a definição de Bagno através de seus oito mitos e considerações de alguns autores sobre as variações e a influência ao preconceito linguístico.
Dando sequência, foi desenvolvida uma relação entre preconceito racial e linguístico. Aonde os dois se cruzam?
Por fim, outra forma de preconceito discutida aqui, que tem muitas relações com a língua é o Preconceito Antinordestino. Como é? Quando surgiu? E quais os fatores geradores de tais preconceitos?
Os temas aqui abordados são de caráter quase que em sua totalidade de valor social, geográfico e linguístico e não coadunam com as teorias de que a escola seja a única culpada pelo fenômeno de se falar “certo” ou “errado”, quiçá, tendo em vista as causas exploradas pelo estudo, pouco responsável. As variedades não podem ter caracterizações pejorativas, qualquer tipo de discriminação deve ser combatida, pois, são essas variações que formaram e formam a linguagem popular, linguagem do cotidiano falada pelas pessoas comuns que representam verdadeiramente o Brasil.
Outras maneiras possíveis de se acrescentar bases sustentáveis ao tema aqui sugerido poderia ser a exploração no campo linguístico utilizando como foco o uso da Gramática Normativa, que foi pouco discutido aqui; outra manifestação muita interessante seria a da variação estética; através da pesquisa por coleta de dados, a reunião de grupos de faixa etárias diferentes e seus modos singulares de comunicação, comparando-os.
Enfim, o resultado esperado pela pesquisa foi delimitado desta forma, com a intensão de que esse material seja mais uma arma contra um mal que muito se persegue e pouco se percebe.
REFERÊNCIAS
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1- INTRODUÇÃO
Falar sobre Preconceito Linguístico, atualmente, envolve uma análise pictórica e de significados prismáticos que se dispersam por diversos ângulos. Várias situações e contextos podem incitar ou representar um quadro gerador de muitos conflitos. A prenoção pode se originar por fatores históricos, fatores sociais e regionais, questões raciais, econômicas e de escolaridade.
Partindo desses pressupostos, este trabalho busca, em sua temática, demonstrar algumas indagações que constituem o Preconceito Linguístico. O artigo apresentará noções sobre preconceitos e possíveis cenários motivacionais para o seu desencadeamento. A partir destes esclarecimentos, o corpo deste projeto será configurado em função de explanações de caráter linguístico-social. O tema aqui abordado tem uma abrangência que envolve conceitos lato - teóricos, linguísticos, sociais, geográficos, históricos e raciais.
O objetivo é demonstrar situações e/ou conceitos determinantes a uma deflagração explícita relativa ao preconceito, revelando e comparando as possíveis conjunturas que surgem em consequência de alguns motivos aqui apresentados.
A escolha em pesquisar sobre o preconceito linguístico decorre de leituras e pesquisas sobre outros tipos de preconceitos, principalmente a respeito daqueles que já possuem lei própria na Constituição. Além disso, há o interesse em expor o que ocorre diariamente com a maioria dos falantes das diversas variações linguísticas, os falantes pertencentes ao objeto estudado nesta pesquisa. A intensão é exibir a discriminação explícita que sofrem e que, mesmo existindo iniciativas de combates às injúrias, a impotência de suas ações e de outros perante o desprezo e à humilhação não surtem efeito algum, pois, o estereótipo já se tornou popular – Eles são invisíveis!
2 CONCEPÇÕES
Conhecem-se as definições de vários tipos de preconceitos. Concepções divergentes são frutos dos imbróglios históricos desde a formação cultural do homem. A divisão da sociedade ao longo dos tempos, o surgimento de impérios e povos dominantes, bem como, as suas divisões: camponeses, escravos, políticos, trabalhadores, artistas, definiram que fatores referentes a espaço, raça, religião, idade, cultura, bens, classe social e língua seriam determinantes para o surgimento dos vários tipos de preconceitos e discriminação. E o que se produziu ao longo dos anos, por conta de tais conceitos foi retratado pela história, através de resultados catastróficos, como o Holocausto, os genocídios religiosos, sociais e raciais, como os que aconteceram com os indígenas nos Estados Unidos ou com o genocídio em Ruanda; caça aos diversos gêneros, escravidão, segregação racial e das diversas guerras, que a Humanidade, através de uma ideia minimalista e subjetiva, imaginou ser mais fácil desprezar o que lhe parece diferente do que aceitar o fato de que todos são iguais. Independente do fator preponderante pertencente às pessoas, os preconceitos estigmatizam os indivíduos levando muitos a perderem sua autoconfiança, sua própria personalidade e sua identidade. Desta forma, passam a despertar o pior dos preconceitos – o preconceito contra si próprio.
Num contexto geral, Preconceito é a emissão de uma ideia sucinta e precipitada, geralmente vestida de opiniões formuladas de maneira arbitrária, sem consulta, conhecimento ou pesquisa cujos interessados são resumidos num ambiente pertencente apenas ao remetente e ao destinatário, podendo, a partir daí, se criar um quadro mais grave que seria a discriminação.
Para Crochik (2006, p. 17) o agir sem reflexão, de forma aparentemente imediata perante a alguém, marca o preconceito, que sendo, a priori, uma reação congelada, assemelha-se à reação de paralisia momentânea que temos frente a um perigo real ou imaginário. O autor demonstra a sua teoria com um exemplo do cotidiano, basta pensar nas situações constrangedoras em que nos envolvemos quando, frente a uma pessoa que apresenta particularidades que rompem com nossa percepção usual do que é uma pessoa do cotidiano, temos de disfarçar o susto ou justificá-lo para disfarçar a nossa reação.
Segundo o autor, outra forma que assumimos frente à pessoa estranha é a da rejeição, no sentido de não lhe darmos nenhum valor, ou, então, um valor preconcebido segundo o qual ela não merece a nossa atenção por ser inferior a nós, o que, em certos casos, leva à ideia fascista de eliminá-la, se for possível, antes mesmo de nascer. Ou seja, o preconceito incorporasse ao homem como um sentimento de desprezo. A exposição pública com determinadas pessoas é que causa o preconceito. A capacidade intelectual de um indivíduo para com outro pode ser expressa pelo nível de insignificância da negação.
A origem dos vários mecanismos que envolvem a raça humana (espaço, fator social e econômico, raça e gênero) está intimamente ligada ao ato da fala e da escrita. Sendo assim, foram delegadas ao longo dos anos, quais línguas seriam adotadas por determinados povos. Sempre, levando-se em consideração a lógica do poder e do elitismo, a língua oficial seria a pertencente a dos grupos mais abastados. Às outras esferas da sociedade, o que imperava era a língua popular, a língua falada nas ruas e transmitida sem a formalidade acadêmica e literária, mas que possuía internalizada uma gramática própria, um vocabulário próprio e uma linguística própria. Ela sobrevivia sozinha, era independente. Estas línguas, durante o curso da história, foram objeto de invasão, colonização, substituição, morte, nascimento e renascimento ao seu status de genuinidade. Este fator foi determinante para o surgimento de idiomas e seus dialetos, provocando também, as primeiras manifestações de Preconceito Linguístico.
2.1 PRECONCEITO LINGUÍSTICO – ATÉ ONDE VAI?
Nas atuais definições sobre Preconceito Linguístico pode-se citar os célebres oito mitos de (BAGNO, 2000, p.15-72): 1 - A língua como unidade linguística – 2 – Brasileiro não sabe português – 3 – Português é muito difícil – 4 – O preconceito contra as pessoas de estratos sociais diferentes – 5 – O lugar onde se fala “melhor” o português é o Maranhão (grifo meu) – 6 – O preconceito contra as variações linguísticas (falar como se escreve) – 7 – É preciso saber gramática para falar e escrever bem – 8 – A norma culta como instrumento de ascensão social.
Esses mitos, em sua maioria, possuem uma grande verdade diante da formação dos preconceitos, mas não são unanimidades. Em relação aos dois últimos mitos se podem fazer algumas considerações: “Um professor de português quer formar bons usuários da língua escrita e falada, e não prováveis candidatos ao Prêmio Nobel de Literatura! “ Para os professores, em geral, seus alunos, não estão com o futuro preestabelecido. Se forem bons usuários da língua falada ou escrita, com certeza a intervenção da Gramática terá sido de fundamental importância, bem como a norma culta para a sua formação. O ambiente escolar, já não é mais aquele modelo rígido da ditadura militar. As variantes linguísticas são amplamente exploradas pelos professores, qualquer livro didático traz informações sobre as variações linguísticas e trabalhar as duas normas possibilita melhores chances de ingresso no ensino superior, no mercado de trabalho, no convívio com as pessoas, na interação humana, ou seja, na inserção social. Não se pode esconder que ter interesse em dispor da liberdade de possuir a sua linguagem diária é fundamental, mas que a necessidade da norma culta é essencial para a vida e a interação com o mundo é indispensável.
O professor (CIPRO NETO, 2011, p. 12) fazendo considerações sobre Preconceito Linguístico cita o professor Adilson Rodrigues:
A gramática "formal" não pode nem deve ser uma ditadura da linguagem. Ela tem que ser esclarecedora e não discriminadora. (...) A questão é aceitar o que ele (o aluno) traz, até como elemento de cultura, e acrescentar a aprendizagem TAMBÉM da norma culta, até como forma de propiciar a ascensão econômica e social do aluno.
Ao fazer considerações a respeito do livro “Por Uma Vida Melhor “ de Heloísa Ramos, (LUCHESI, 2011, p. 47) fala no plano da cultura, manifestações de matrizes historicamente marginalizadas, como a africana, estão plenamente integradas, como os blocos afros no Carnaval da Bahia, a capoeira e o Candomblé. Porém, o preconceito e a intolerância ainda predominam em um plano essencial da cultura: a língua. Denuncia. (...) sobre o livro ele alerta a respeito das normas linguísticas que, apesar de serem “eficientes como meios de comunicação”, as duas recebem uma avaliação social diferenciada, existindo “um preconceito social em relação à variante popular, usada pela maioria dos brasileiros”, mas que “esse preconceito não é de razão linguística, mas social”. Em vista disso, conclui que “o falante tem de ser capaz de usar a variante adequada da língua para cada ocasião”.
Sinceridade. Mostrar aos falantes que existem dois modos de se usar a língua e os dois são importantes, por vários motivos – um, por motivos culturais e outro por motivos sociais e econômicos.
2.2 O PRECONCEITO RACIAL LINGUÍSTICO
O preconceito racial talvez venha ser a forma mais brutal que o ser humano desenvolveu para subjugar outro ser humano. O alvo do racismo são os povos denominados inferiores – conceito arbitrário e opressor idealizado pelos europeus.
Não existe supremacia de raças, nenhum estudo científico, até hoje, provou tamanha insensatez. O ideal de uma raça pura e superior às raças miscigenadas não é fator determinante para constatar suposições anacrônicas, antes defendidas por cientistas fanáticos, alienados por um código de dogmas que matou milhões de pessoas por causa de sua etnia ou religião. O Racismo é muito influenciado por ideias que derivam dos conceitos pejorativos do Darwinismo Social.
Existe uma evolução cronológica para o fator de raça superior a ser alcançado. O racismo irá começar não por uma questão de cor, mas por motivos xenofóbicos. Daí, ele já começou a incorporar mais elementos como questões de ordem territorial e a cultural. Não existia um ódio ou até um preconceito humilhante como vemos hoje, era mais para o lado do xenofobismo religioso.
Hoje, o que se experimenta são ataques à cor, à raça, à cultura, e se pode fazer uma associação entre todos esses ataques preconceituosos com o da língua. Pelo contexto histórico e social as raças que padecem com o preconceito não padecem apenas pela cor da pele, subjugam-se, também, pelo preconceito linguístico. Tal situação acontece porque se uma raça é desprezada, será desprezado também seus hábitos, cultura e linguagem. No processo linguístico, o branco, o negro, o índio e o amarelo possuem línguas bastante distintas, através de processos de colonização o idioma branco europeu determinou a sua superioridade a muitas raças. A língua nativa dos povos que sucumbiram foi desprezada e marginalizada, confinada aos guetos e malocas.
Na visão de Bagno (2008) nossas classes dominantes sempre tiveram absoluto horror a tudo o que fosse genuinamente nosso, nativo, autóctone. Ora, elas jamais aceitariam como sua a língua que Araripe Jr., em 1888, chamava de "o falar atravessado dos africanos". Para fugir disso, estabeleceram como padrão de "língua certa" um modelo importado que se afastava, ao mesmo tempo, do português popular brasileiro e das variedades urbanas da própria elite branca e letrada. Negação do outro, negação de si, alienação total e absoluta, esquizofrenia perfeita.
Assim ficaram as línguas: ambas isoladas; em total ignorância e num completo atraso. Por que uma esquizofrenia perfeita? Já que não tinham contato com outras línguas, a falta de interação com o mundo exterior fazia aparecer os cinco estágios do luto: Negação – Raiva – Negociação – Depressão – Aceitação.
O negro tem na música uma forma de expressão, desde os tempos da escravidão. Hoje, essa representação seria o Rap, surgido na década de 1970, nos EUA, derivado do movimento hip hop que possuía três aspectos de expressão: Rap, break e grafite. Mas este estilo de música sofre com o preconceito. Suas letras denunciam o seu cotidiano, o seu modo precário de morar, denunciam as instituições, a opressão da polícia, o tráfico de drogas e o convívio diário com elas; denunciam o preconceito educacional, o étnico e linguístico. O preconceito linguístico com as letras das músicas de rap fomenta, nessas pessoas, a falta de identidade cultural, não perceber mais a sua negritude ou miscigenação, deixar de ser rapper, pois, através da poesia mostra as agruras de onde vivem. Muitos se deixam ludibriar pelo status quo mentiroso das classes dominantes.
As causas que levam ao preconceito linguístico racial através da música aparecem por conta de serem compostas em sua grande maioria por falantes com baixo nível de escolaridade; geralmente as músicas surgem das favelas, comunidades e morros e lá os dialetos são repletos de gírias, palavrões e jargões. O Rap tenta mostrar, através da verossimilhança o cotidiano de quem escreve as letras das músicas com uma ótica voltada para o mundo exterior.
2.3 AS CAUSAS QUE POPULARIZARAM O PRECONCEITO ANTINORDESTINO - VARIAÇÃO DIASTRÁTICA
Falar em língua enquanto preconceito social tem-se que analisar questões como, poder aquisitivo, acesso à renda, posição social, grau de escolaridade, padrão de vida e não se pode deixar de mencionar que, não existe o preconceito social sem o geográfico, os dois se agregam. Esses fatores são exigidos e impostos pela sociedade de forma cruel. Eis o modelo ideal. Segundo Bagno, (2000), a ideia de preconceito linguístico igual ao preconceito social, surgiu por volta do ano III a.C, em que os formuladores da Gramática Tradicional defendiam que a “Língua Exemplar” só era falada por um grupo restrito de pessoas, a saber: pessoas do sexo masculino, livres (não escravos), membros da elite cultural, cidadãos (eleitores e elegíveis), membros da aristocracia política e detentores da riqueza econômica.
Interligando a esta questão de riqueza econômica pode-se fazer uma vinculação com a desigualdade social no mundo é muito séria, segundo a BBC Brasil, (2016) a riqueza acumulada pelo 1% mais abastado da população mundial agora equivale, pela primeira vez, à riqueza dos 99% restantes.
Assim define Bagno, (2010), quando fala sobre classes dominantes referindo-se ao que vem de cima, do poder, das classes dominantes, cria aos falantes das variedades de língua sem prestígio social e cultural um complexo de inferioridade, uma baixo autoestima linguística, a qual os sociolinguistas catalães chamam de “auto-ódio”.
Não se pode imaginar a humanidade muda. Ela caminha por milhares de anos com milhares de linguagens. Mas por que existe o preconceito? Trata-se de uma manifestação de valor social.
Dominar a língua padrão é um mérito que o falante deve possuir para conquistar uma ascensão social melhor.
2.4 VARIAÇÕES DIATÓPICAS
As chamadas variações geográficas também conhecidas por variações diatópicas são muito significativas em nosso território. Considerado um país-continente, as diversas regiões possuem dialetos que recebem influências de outras fronteiras, através de sua proximidade com outros estados e/ou países, as culturas se encontram, se juntam e se enriquecem. Sendo assim, a língua, que é patrimônio imaterial de um povo, se expande e se torna cada vez mais acessível.
Pode-se aventar um fato curioso que acontece no Brasil – têm-se centenas de dialetos e sotaques pertencentes a muitas etnias, e vê-se que uma das causas do preconceito se dá por questões geográficas.
De acordo com Villela e Costa, (2007 apud ALBUQUERQUE JÚNIOR, 2013) o preconceito geográfico é gerado da seguinte forma:
É o que marca alguém pelo simples fato deste pertencer ou advir de um território, de um espaço, de um lugar, de uma vila, de uma cidade, de uma província, de um estado, de uma região, de uma nação, de um país, de um continente considerado por outro ou outra, quase sempre mais poderoso ou poderosa, como sendo inferior, rústico, bárbaro, selvagem, atrasado, subdesenvolvido, menor, menos civilizado, feio, ignorante, culturalmente inferior, etc.
Na opinião de Albuquerque o que se vê é que o local em que se mora determina um fator social – aqueles que residem em lugares elitizados pertencerão à parcela da sociedade que não estará sujeita a pré-julgamentos. Aqueles que residem em zonas periféricas, em comunidades, favelas, assentamentos serão os considerados à mercê da sociedade, os flagelados, criminosos, potencialmente de alto risco à sociedade.
A respeito da juventude de baixa renda, conforme pesquisa assim descreve:
Quase a metade dos jovens que vivem em favelas evita dizer o local onde mora ao frequentar espaços fora de suas comunidades, segundo pesquisa das favelas brasileiras, divulgada nesta quarta-feira (20) pelo Instituto Data Popular, em parceria com a Central Única de Favelas. O estudo aponta que 49% dos entrevistados preferem não revelar que moram em favelas por medo de sofrer preconceito e que 75% acreditam que quem vive em favela sofre preconceito.
Apesar das dificuldades e do preconceito, o estudo identificou que 85% dos entrevistados estão satisfeitos com o lugar onde moram e 70% afirmam que continuariam a morar na favela mesmo se dobrassem a renda.
A pesquisa ouviu 500 jovens entre 15 e 25 anos de cinco favelas do Rio.
( VILLELA, 2013, p. 10)
2.5 DIALETOS
Em suas cinco regiões o Brasil apresenta modos de falar distintos. Em seus vinte e seis estados esses modos se diferenciam mais ainda. Isso deveria ser de um valor cultural sem precedentes, algo que orgulhasse os seus falantes. Mas o que acontece realmente é a pintura de um cenário bem distorcido.
Tem-se um predomínio de determinadas variações sobre outras. Há um verdadeiro desprezo aos falantes de variantes regionais, principalmente quando estes são oriundos das regiões Norte/Nordeste. Existe o preconceito diário e ele acontece explicitamente. Seja no trabalho, na escola, entre amigos... O nordestino e o nortista sofrem as consequências pela culpa (sic) de não terem nascido no Sul/Sudeste. Os dialetos predominantes no Brasil são os do estado de São Paulo e do Rio de Janeiro. Eles dominam a língua falada, escrita, midiática e da comunicação.
Alguns dialetos são bem populares, tem suas peculiaridades, nuances e texturas, por que não dizer: beleza exclusiva inerente ao nativo da língua. (Deve-se considerar que o fato de existirem vários dialetos diferentes não ocorre prejuízos ao entendimento da língua).
Baseado na vasta extensão de seu território e no processo de miscigenação linguística pelo qual foram submetidas as formas de falar do povo brasileiro será mostrado a origem de alguns dialetos brasileiros.
O dialeto baiano ou baianês nas palavras de Silva e Gomes, (2013 apud PACHECO, 2014) tem origem no período em que o Brasil era colônia de Portugal e tinha Salvador como capital. Como a cidade a maioria das instituições administrativas brasileiras sofreu influência de diversos povos, como europeus, indígenas e africanos. Com o passar dos anos ganhou identidade própria e acabou influenciando na formação de outros dialetos do país, principalmente o nordestino.
O dialeto baianês é fruto da multiplicidade dos povos que residiam na capital do Brasil, Salvador. Gente que habitava os lugares menos favorecidos da cidade, que não possuíam riquezas, nem escolaridade. A influência de diversas raças e demasiadas culturas culminou numa língua que se distanciou do português de Portugal. Enquanto o período Barroco influenciava a Literatura e a norma culta, nos guetos falava-se um idioma de pessoas comuns, vindas de migrações, de etnias indígenas e, em sua maioria, de africanos com seus cânticos de capoeira, candomblé e outras religiões, negros alforriados ou não.
Atualmente o sotaque baianês apresenta traços muito fortes do povo soteropolitano. Ele sofre, junto com outros sotaques nordestinos, uma forte discriminação por parte, principalmente dos habitantes do Rio de Janeiro e São Paulo é ridicularizado em filmes, novelas e minisséries, que o imitam dando um caráter de desmoralização, associando-o sempre a personagens coadjuvantes que desempenham funções, geralmente, de gente das favelas, descamisados, bestializados ou empregados de baixa renda.
De acordo à Enciclopédia livre Wikipédia (2016) o sotaque Nordestino central é utilizado em Pernambuco, Sergipe, Alagoas, Paraíba, Rio Grande do Norte, na porção sul do Ceará, e em algumas regiões da Bahia, do Piauí e do Maranhão.
O dialeto da região Norte é chamado de “Amazofonia” ou sotaque nortista.
É conhecido como “canua cheia de cucos de pupa a prúa”, que seria na língua culta “canoa cheia de cocos de popa a proa”, esse nome mostra como a população local pronuncia a vogal. Existem outros dialetos na região, que é tradicional do Pará, historicamente representativo e falado por pessoas que ajudaram a construir o estado, com influência de cearenses, maranhenses e nordestinos.
O dialeto nortista assume juntamente com o dialeto baianês e o nordestino, algumas peculiaridades: estes são os formadores das várias diversidades linguísticas que estariam por vir; aquele possui como característica um trato mais refinado em comparação com a norma culta da língua; o sotaque nordestino, o baianês e o nortista possuem, juntos, algo determinante em sua concepção: são representantes de duas regiões que tem dezesseis estados, deste modo, o volume de informações que os dialetos carregam, diversifica a sua construção diariamente, com isso, arrecadam um arsenal incomensurável de riqueza cultural; o dialeto nortista diferentemente do nordestino e do baianês se repelem, são substratos de uma formação totalmente diferente. Enquanto no Nordeste houve uma enorme migração, povoação, escravidão que influenciou a língua local através de línguas de diversos países, no Norte houve a evangelização feita pelos jesuítas que utilizavam o dialeto com influências do tupi. Lá, a escravidão quase que não aconteceu e o ofício dos jesuítas de alfabetizarem os índios nativos com a língua tupi, uma língua que pertencia aos índios do litoral brasileiro, ou seja, uma língua totalmente estranha, causou um choque linguístico o que fez com que tivessem que se adaptar, bruscamente, contra as suas crenças e tradições.
2.6 PRECONCEITO ANTINORDESTINO
Após a apresentação deste cenário, aqui surge uma questão que se coloca como uma intervenção social, uma premissa histórica que se desenhou e se desenha ao longo dos anos: O Preconceito Antinordestino.
Este tipo de preconceito é um dos mais poderosos. Ele consegue formar opiniões de ódio e opiniões racistas com muita facilidade. A discriminação é diária, os maus tratos para com essas pessoas não têm precedentes. Nos grandes centros urbanos do país, em estados como: São Paulo e Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, o nordestino é ridicularizado e muitas vezes humilhado, seja pelo seu modo de falar, seja pelo lugar de onde veio ou pelo lugar onde mora.
Mas como teria surgido esse tipo de Preconceito?
Segundo Magnoli, (1997 apud KUPSTAS (Org.), 2013, p. 119):
O Regionalismo nordestino nasceu e evoluiu como reação à decadência do Nordeste. Do ponto de vista histórico, surgiu no início do século XX, junto com o deslanche da industrialização no sudeste (...) O Regionalismo nordestino desenvolveu-se sobre o paradoxo de ser um discurso elitista cujo argumento central sempre foi a pobreza. Esse paradoxo contribuiu para o surgimento e a difusão de um outro discurso: o do preconceito Antinordestino. O preconceito Antinordestino existe desde os tempos antigos, como expressão do racismo. A participação majoritária dos negros e mulatos na população do Nordeste, que contrasta com a hegemonia dos brancos no Sudeste e, em proporção maior, no Sul, reflete a história da escravidão e da imigração europeia no Brasil. Aí se encontram os fundamentos do preconceito tradicional Antinordestino...Porém, o Preconceito Antinordestino atualizou-se aproveitando o próprio Regionalismo das elites do Nordeste. No Sudeste, difusamente, desenvolveram-se atitudes preconceituosas contra os migrantes provenientes dos estados nordestinos.
A atitude preconceituosa enxergou nos fluxos de nordestinos o espectro da invasão da pobreza, em vez de enxergar o papel desempenhado pela mão-de-obra migrante no crescimento econômico do Sudeste.
As pessoas que migram das regiões Norte/Nordeste, para aqueles que residem no Sul/Sudeste, não possuem uma representação, um nome, para estes, todas as pessoas de todos os estados destas duas regiões são classificadas, pejorativamente, como “baianos” ou “paraíbas”. Assim, ao darem codinomes, dicionarizar nomenclaturas para essas pessoas, chega-se há uma conclusão: Os nordestinos não são reproduções humanas, pode-se até, mal comparando, imprimir noções niilistas existenciais aos mesmos, noções criadas por um nicho segregativo.
Particularizando o preconceito regional ao preconceito linguístico, “baianos” e “paraíbas”, na gíria dos cariocas e paulistas, não possuem identidade, desta forma, não possuem um valor cultural, não possuem um lugar de origem, não possuem raízes, tampouco, ancestrais. Sua língua, entretanto, não é muda, mas, muito viva, símbolo de escárnio e chacota. A língua nortista/nordestina, com a ajuda das massas dominantes, elites, dos meios de comunicação (televisão, rádio, jornal, revistas, internet), num contexto geográfico, transformou-se na matéria-prima para a construção de estereótipos de personagens preguiçosos, burros, caipiras e caricaturais.
Diante deste cenário, pouca coisa é feita a favor do povo nordestino. Os dias se passam e eles vivem suas vidas, mesmo que sofrendo abusos e injúrias racistas constantes. Mas tendo esperança, como disse Mandela “Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar.”
2.6 METODOLOGIA
O Projeto de pesquisa tem caráter bibliográfico, sendo produzido a partir da argumentação e da coleta de informações referentes ao Preconceito Linguístico, com o intuito de mostrar e de denunciar as causas geradoras de tal discriminação, busca também conceituar essas causas, a fim de compreender tal fenômeno e de explicitar um mal que é pouco combatido, mas muito cometido. Procura fazer uma reflexão a respeito do tema através de referências de autores consagrados e por meio de muitas pesquisas consultadas.
Os procedimentos utilizados na elaboração da pesquisa foram feitos por coleta de dados através de fontes retiradas de livros físicos ou digitalizados, monografias, artigos científicos, sites, revistas on-line, periódicos, simpósios, teses, dissertações, pesquisas estatísticas. Foi feita a coleta de informações, resumos e citações do material bibliográfico, para, só, então, partir para a elaboração de uma leitura reflexiva e teórica para constituir uma análise crítica do material recolhido.
Os métodos utilizados na pesquisa consistiram, primeiramente, no levantamento de material bibliográfico, citando alguns: livros de especialistas na área de linguística, artigos científicos, monografias e teses que, após a leitura de seus resumos e de suas conclusões, se tivessem alguma relação com o tema aqui pesquisado seriam utilizados, também foram utilizados artigos de sites de fontes confiáveis. Após esse levantamento foi feita a interpretação de todo o material reunido para a postulação das ideias que comporiam o escopo do trabalho. Sendo assim, a pesquisa girou em torno da amostra de preconceitos preparatórios e suas ramificações, bem como, as causas geradoras desse mal. Desta forma, chega-se ao foco da pesquisa que é o Preconceito Linguístico – Feridas Vivas.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A seguinte pesquisa trouxe em sua abordagem final a proposta que se imaginou no início: Definir e conhecer conceitos, bem como, denunciar algumas causas geradoras para o Preconceito Linguístico, por meio dos campos sociais, geográficos, linguísticos e raciais. A partir destes fundamentos formulou-se toda uma preparação em volta do tema principal conforme conceitos e acontecimentos históricos, bem como, algumas classificações das formas de como se discriminar.
A distribuição do tema se deu inicialmente com a definição de Bagno através de seus oito mitos e considerações de alguns autores sobre as variações e a influência ao preconceito linguístico.
Dando sequência, foi desenvolvida uma relação entre preconceito racial e linguístico. Aonde os dois se cruzam?
Por fim, outra forma de preconceito discutida aqui, que tem muitas relações com a língua é o Preconceito Antinordestino. Como é? Quando surgiu? E quais os fatores geradores de tais preconceitos?
Os temas aqui abordados são de caráter quase que em sua totalidade de valor social, geográfico e linguístico e não coadunam com as teorias de que a escola seja a única culpada pelo fenômeno de se falar “certo” ou “errado”, quiçá, tendo em vista as causas exploradas pelo estudo, pouco responsável. As variedades não podem ter caracterizações pejorativas, qualquer tipo de discriminação deve ser combatida, pois, são essas variações que formaram e formam a linguagem popular, linguagem do cotidiano falada pelas pessoas comuns que representam verdadeiramente o Brasil.
Outras maneiras possíveis de se acrescentar bases sustentáveis ao tema aqui sugerido poderia ser a exploração no campo linguístico utilizando como foco o uso da Gramática Normativa, que foi pouco discutido aqui; outra manifestação muita interessante seria a da variação estética; através da pesquisa por coleta de dados, a reunião de grupos de faixa etárias diferentes e seus modos singulares de comunicação, comparando-os.
Enfim, o resultado esperado pela pesquisa foi delimitado desta forma, com a intensão de que esse material seja mais uma arma contra um mal que muito se persegue e pouco se percebe.
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