A VIOLÊNCIA NA ESCOLA E AS CONSEQUÊNCIAS PARA A APRENDIZAGEM DA CRIANÇA

____________________________________________________________

Arlethe Monteiro Pinto

Com Licenciatura em Pedagogia - UEPA

Francisco de Assis Pinto Bezerra

Economia – UFPA. Educador e Consultor Acadêmico

Rosa Tereza Morais

Com Licenciatura em Pedagogia - UEPA

Sinopse

A violência no ambiente de ensino gera pânico e todos direta e/ou indiretamente fazem parte dela, em particular para quem sofre agressão, com impactos para a aprendizagem da vitima e coloca em risco a sua permanência na escola. Este ensaio científico analisa em que circunstância de risco e de vulnerabilidade a criança se torna vitima de violência no ambiente interno do estabelecimento escolar. Recorremos a Pesquisa bibliográfica, a qual permitiu analisar a temática envolvendo categorias de análise, obter dados secundários sobre o tema em questão e formar um quadro teórico, com enfoque exploratório e descritivo sobre a violência escolar. Os autores supracitados e analisados sugerem que a escola seja constituída por muitas crianças (agressoras) dotadas de sentimentos negativos, provenientes da imposição de disciplinas ou por conflito familiar, como também o modelo de família paternalista, que permite a criança ser arrogante, a partir de atos arbitrários, além da repreensão, proibição, reprovação e a punição da própria escola, contribuindo para gerar sentimento antiefetivo e de agressividade na criança. Enfim, é neste contexto escolar hostil que a criança se torna vulnerável e vitima da violência.

Palavras-Chave: Agressores. Vítimas. Aprendizagem. Risco.Traumas. Abandono.

1 INTRODUÇÃO

No atualmente momento contemporâneo e global a violência vem ganhando espaço em vários segmentos da vida social, tornando-se um tema polêmico e que vem sendo muito explorado pela mídia televisiva. Na educação a violência também se reproduz, sendo que o caso mais emblemático dessa situação é as ocorrências nos Estados Unidos e em Países da Europa, onde são registradas violências entre estudantes e com o uso de armas de fogo.

A violência na escola passou ser tão recorrente a partir dos anos de 1990 que passou a ser denominada Bullying para expressar os conflitos no ambiente de ensino aprendizagem, com grande repercussão na da Grã Bretanha, onde foi constatado que 37% dos alunos do ensino fundamental e 10% dos alunos do nível médio foram vítimas da violência nas escolas (RAMBOW, 2009).

O Bullying é caracterizado como um conjunto de atitudes agressivas, intencionais e repetitivas, adotado por um ou mais alunos contra outro(s),causando dor, angústia e sofrimento, insultos, intimidações, apelidos cruéis e constrangedores, gozações que magoam profundamente, acusações injustas, entre outros infortúnios no espaço escolar (RAMBOW, 2009).

A violência escolar é uma questão que está presente em qualquer parte do mundo, não se restringindo a nenhum tipo de instituição de ensino, se pública ou privada, se primária ou secundária, se rural ou urbana e por ai vai. No Brasil, essa realidade não é diferente, visto que a violência nas escolas se prolifera entre os adolescentes, onde os alvos dos ataques físicos e psicológicos resultam em sequelas nefastas, cujo lado mais visível é o baixo desempenho de aprendizagem.

No Brasil um dos marcos da violência nas escolas foi a partir do final dos anos de 1990, quando o médico Aramis Lopes Neto passou a estudar aspecto patológico tanto do agressor, como da vítima para explicar como o Bullying se manifesta. Os primeiros levantamentos revelaram que, de um universo de 5.875 estudantes da 5ª a 8ª séries de 111 escolas do Município do Rio de Janeiro, 40,5% dos jovens já haviam se envolvido com alguma prática de Bullying (BARBOSA; BEZERRA, 2013). Essa prática traz consequências tanto para o agressor como para a vítima, comprometendo à sua saúde física e emocional, além de trazer sequelas imediatas do tipo depressão, angústia, baixa estima, stress, repetência e evasão.

Desde então, a questão da violência escolar passou a fazer parte da agenda do dia, tornando-se objeto de discussão no meio intelectual e no espaço acadêmico. Assim, muitos trabalhos científicos têm contribuído para fundamentar a temática, entre os mais expressivos, destaca-se: Rambow (2009); Barbosa e Bezerra (2013); Rosa (2010); Assis e Marriel (2010); Cunha (2010), entre outros pensadores.

A relevância do desenvolvimento deste tema se justifica por considerarmos que a escola não seja um espaço para produzir violência, mas significa uma instituição voltada para a socialização, formação pessoal, com bons valores éticos e de relações sociais civilizatórias entre os alunos, a partir da instrumentalização do saber escolar.

Portanto, a escola vive um dilema, pois a educação passa por uma crise, onde o seu papel passa ser questionado, em função da violência generalizada que vem enfrentando. Neste ambiente de violência, a escola tenta sair da sua tradicional finalidade de apenas ministrar e ensinar conteúdos, em prol de um espaço de interação entre seus participantes, sendo fonte de valores e de desenvolvem de senso crítico e com autonomia dos alunos (RAMBOW, 2009).

Nessa perda de identidade da escola, a violência ganha força, gerando grande incomodo para àqueles que dela fazem parte (Gestores, professores, pais e comunidade em geral). Na prática, a violência na escola se expressa em forma de agressões verbais e físicas, intimidações, pichações e furtos de materiais didáticos, porém sem nenhuma causa aparente que justifique tais comportamentos.

Desequilibra a ordem no ambiente de ensino, deixando em pânico todos que fazem parte dela, em particular para quem sofre a violência, colocando em risco a sua aprendizagem e a sua permanência na escola. Ou seja, a violência na escola gera problema de aprendizagem e coloca em risco a permanência da criança na escola e, se a mesma continuar, pode ter uma formação também violenta e que, por certo, vai se refletir na vida futura.

Diante desses itens levantados, o estudo se orienta na seguinte linha de investigação: Em que circunstancia de risco e de vulnerabilidade a criança pode ser vitima de violência no ambiente interno da escola?

Muito embora a violência na escola tenha várias faces, dimensões e perspectivas, porém este artigo se restringe discutir o tema, abordando apenas o ambiente interno da escola, cujo personagem central seja o aluno, como agressor e como vítima, com recorte nas principais conseqüências da prática de Bullying. Afinal, Rosa (2010, p. 5) sustenta que “a violência mais recorrente no ambiente de ensino ocorre entre alunos”. De fato, essa categoria de violência escolar ficou evidente, quando, a partir do inicio da contemporaneidade, os sociólogos, antropólogos e psicólogos passaram a privilegiar a análise da violência praticada entre alunos (ABRAMOVAY, 2002).

O objetivo geral deste artigo é analisar a circunstancia de risco e de vulnerabilidade em que a criança pode ser vitima de violência no ambiente interno da escola. Entre as especificidades, esta pesquisa busca alcançar as seguintes metas de estudo:

a) Identificar as formas de violência mais recorrente no ambiente escolar;

b) Avaliar os principais fatores que colocam a criança em um ambiente de risco de violência; e

c) Levantar as principais consequências da violência para a criança.

No demais, esperamos que os resultados deste estudo possam subsidiar os Gestores e/ou as políticas educacionais nas tomadas de decisões, quanto a adoção de mecanismos para mitigar a violência escolar, trazendo harmonia, paz e tranquilidade no ambiente escolar, garantindo assim uma aprendizagem de qualidade.

2 METODOLOGIA

O ponto de partida deste artigo foi a realização de um Projeto de intervenção, sob o tema “diga não a violência”, realizado em uma Escola Estadual de ensino fundamental da periferia de Belém, Estado do Pará, no período de 10/10 a 15/10 de 2015.

Este Projeto de intervenção teve a participação de vários atores (professoras, equipe técnicas, estagiários, coordenadoras, alunos e a comunidade familiar), os quais se envolveram afetivamente nas atividades difusas oferecidas, como: exposição do tema violência, apresentação de filme, Roda de conversa para discutir filme sobre o tema, Palestras, com exposição das causas e consequências da violência escolar, produção textual sobre a questão e, por fim, tivemos a exposição de trabalhos em forma de mural e álbum seriado.

O público alvo trabalhado foi às crianças do 5º ano do Ensino Fundamental. Optamos por essa faixa de ensino, porque é ai que constatamos maior incidência de violência entre os alunos, como também o menor desempenho de aprendizagem nas séries iniciais.

Além do Projeto de intervenção, esse artigo foi alicerçado em um conjunto de autores que discutem e fundamenta a violência escolar, cuja pesquisa nos permitiu maior conhecimento sobre o tema. Trata-se da Pesquisa bibliográfica que, de acordo com Samara e Barros (2002), tem a finalidade de explicar o objeto de estudo a partir do referencial teórico, onde os autores fundamentam e definem conceitos, de acordo com as particularidades do tema.

Estas mesmas autoras sintetizam a pesquisa bibliográfica a partir de três características: Análise da temática envolvendo categorias de análise; Obtenção de dados secundários sobre o tema; e Formação de um quadro teórico, com enfoque exploratório e descritivo.

Nesta orientação, o estudo foi desenvolvimento a partir de duas categorias de termos: a) A violência escolar e b) A conseqüência para a criança. O recorte das publicações investigadas foi nos objetivos, definições das categorias dos termos envolvidos na violência escolar, resultados e conclusão dos estudos. Este conteúdo selecionado permitiu construir a redação do artigo, tendo como base os objetivos traçados, configurando assim também na pesquisa descritiva.

3 REVISÃO DA LITERATURA

3.1 DISCUSSÃO SOBRE A VIOLÊNCIA ESCOLAR

A violência pode surgir a partir de uma simples brincadeira no ambiente escolar, cujo fundo é a intimidação, perseguição, provocação, incomodação, chegando a ponto de gerar danos físicos ou psicológicos na vitima e, por conseguinte, afeta a sua aprendizagem. Para a Organização Mundial da Saúde (OMS) esse tipo de violência significa:

O uso intencional da força física ou do poder real ou em ameaça contra outra pessoa ou contra um grupo, que resulte na possibilidade de lesão, dano psicológico, deficiência em algum tipo de desenvolvimento ou privação (ASSIS; MARRIEL, 2010, p. 43-44).

Como verificamos a violência pode ter vários alvos na escola, não se restringindo ao individual. Por isso, que não é fácil a sua conceituação por se tratar de um fenômeno complexo e multicausal,pois abrange várias situações. Tanto que Sposito (2004, apud ASSIS; MARRIEL, 2010, p. 45) acredita que:

A análise das causas e das relações que geram condutas violentas no interior da instituição escolar impõe alguns desafios aos pesquisadores e profissionais do ensino, pois demanda tanto o reconhecimento da especificidade das situações como a compreensão de processos mais abrangentes que produzem a violência como um componente da vida social e das instituições.

Ainda conforme esses autores, as condições precárias em que o ensino público brasileiro se reproduz também contribuem para gerar violência, em função da concorrência de acesso aos espaços, equipamentos, material didático, enfim a disputa pela infraestrutura resulta em conflitos. Essa desigualdade de acesso aos bens e serviços nada mais do que reflete a desigualdade social que se reproduz no espaço escolar.

Autores como Abramovay (2002); Fonte (2011); Barbosa e Bezerra (2013) discutem a violência escolar a partir do termo inglês Bullying, cujo ponto em comum entre esses autores é que se trata de formas diversas de abusos físicos ou psicológicos contra alguém que não é capaz de se defender. O comportamento violento da criança pode ser atribuído aos seguintes fatores:

- uma percepção negativa dos pais ou de quem cuida da criança,

- uma atitude tolerante e permissiva quanto ao comportamento agressivo da criança,

- um estilo de paternidade que se utilizada violência para controlar a criança, e

- uma tendência natural da criança de ser arrogante.

Segundo ainda Abramovay (2002), a violência nas escolas pode ser associada e discutida a partir de três dimensões:

a) Dificuldade na Gestão escolar, que resulta em estruturas deficientes e em desmandos,

b) Contexto onde a escola esta situada, pois o ambiente externo influencia a violência, principalmente em Bairros periféricos, onde predomina as gangues, tráfico de drogas, prostituição, alcoolismo, enfim diversos problemas sociais, e

c) Questões internas as escolas, que diz respeito ao tipo de clientela que o estabelecimento acomoda.

Seguramente podemos afirmar que o comportamento violento da criança é mais propenso a se desenvolver com a Dificuldade na Gestão escolar, em escolas que estejam situadas nos Bairros periféricos e com clientelas oriundas de classes de menor poder aquisitivo, cuja dificuldade de acesso aos bens e serviços gera conflitos interpessoais.

Nos estudos de Njaine e Minayo (2003) a principal forma de violência na escola foi à humilhação, seguida dos furtos, ameaças e destruição dos objetos das vitimas. Essas autoras constataram que o comportamento violento é fruto de os alunos (agressores) serem humilhados pela própria família, na escola e na comunidade onde reside. Essa relação de causa e efeito sugere que o comportamento violento nada mais é o resultado de como a criança é tratada pelos adultos.

Cardia (1997, apud NJAINE; MINAYO, 2003) aponta alguns fatores que contribuem para a criança ficar violenta, como: família composta por muitos filhos, nas quais os pais dedicam pouco tempo à sua educação e, por conta disso, as crianças têm dificuldades de dialogo com os mesmos. Enfim, notamos a presença cada vez menor do adulto na vida da criança e, isso, é evidente por ocasião quando os pais são chamados nas reuniões periódicas nas escolas.

Além da ausência dos pais da vida escolar das crianças, outro componente vem ganhando espaço na escola e que é fator de violência, é a presença de armas de fogo e armas brancas que, muitas das vezes, são usadas pelos alunos para ferir o seu rival (NJAINE; MINAYO, 2003). Inclusive, pesquisas dessas mesmas autoras mostram que, entre todos os grupos etários, os adolescentes, entre 15 a 19 anos, apresentam maior crescimento de taxas de homicídios (47,8%), sendo que o uso de arma de fogo foi predominante em todas as regiões analisadas.

Daí nota-se a supra-importância de ser combater a violência escolar, através de programas específicos, sob o risco de uma simples brincadeira se transformar em assassinato na escola. Momento oportuno de identificarmos os atores que participam da violência escolar que, segundo Ristum (2010), são os seguintes:

- Os Alvos, que diz respeito às vítimas da violência,

- Os Autores, isto é, àqueles que praticam a ação da violência,

- As Testemunhas, que não sofrem e nem praticam o ato de bullying, mas o presenciam e convivem em ambiente escolar violento.

Cabe destacar que, no processo da violência, os papeis podem se inverter, pois àquele que sofre também pode praticar a violência, em que a literatura vigente atribui a categoria de “Alvos/autores”. Acreditamos que muitos aceitam ou se acomodam com a violência recebida, porém outros não, reagindo e se tornando também uma pessoa com comportamento violento, ou seja, reproduz o ato violento na escola, podendo ser contra o seu agressor ou contra outra pessoa.

Farrington (2002) discute a violência escolar, explicando que o comportamento violento das crianças é resultado dos elevados níveis de testosterona que aumentam durante a adolescência. Este autor constatou que os transgressores violentos são versáteis e menos especializados, já que os mesmos tendem a cometer diferentes tipos de violência, como também apresentam problemas de outra natureza, como o consumo de substâncias químicas e o não-comparecimento às aulas.

Este pensador apresenta outras características do agente que pratica a violência, tais como baixo autocontrole, baixo desempenho escolar, estar presente em todas as situações, porém possui vínculos frágeis com os demais e com a sociedade.

Aprofundando a discussão das substâncias químicas, como um dos fatores que estar por traz da violência, Souza (2008) considera o tráfico de drogas nas escolas algo preocupante por parte dos professores, diretores, pais e sociedade em geral, sendo esse fenômeno cresce e se agrava a cada dia. Para essa autora, os alunos usuários de drogas apresentam prejuízos no rendimento escolar, na saúde, na relação familiar e são mais propensos a cometer violência na escola.

O mais grave é que, além de gerar violência, a droga:

Ao fazer parte da rotina da escola, resulta em uma dinâmica de cooptação, em função da disputa entre traficantes pelo ponto de venda no interior da escola, como também os usuários tentam influenciar os demais alunos para o mundo trafico. O fundo de tudo isso é que os alunos passam a ser alvo narcotráfico no próprio ambiente escolar, contribuindo para aumentar a violência (SOUZA, 2008, p. 129).

Se por um lado, a violência na escola é fruto de vários fatores, por outro Souza (2008) diz que a própria escola tem a sua parte na violência, pois esta instituição busca socializara criança de maneira repressiva, imprimindo rígidas disciplinas, reprimindo o aluno, o qual se torna violenta. Trata-se, segundo este autor, da violência institucional escolar que pode ser disseminada no ambiente de ensino através de norma, hierarquia e regra, no sentido de manter a ordem no estabelecimento escolar.

Aquino (2007 apud BARBOSA; BEZERRA, 2013) reforça que a violência na escola é reflexo direto do modelo curricular tradicional adotado nas escolas públicas, cujas normas são impostas por vários atores ao mesmo tempo (secretárias, copeiras, porteiros, diretora, chefe de turma, etc.), cabendo ao professor punir os alunos indisciplinados e/ou quem não concordar com as regras estabelecidas. Acrescenta ainda que tudo isto deva se traduzir em força de coerção, sendo a reprovação o instrumental para punir o estudante, resultando em sentimento antiefetivo e de agressividade no ambiente de ensino aprendizagem.

Independente dos fatores que contribuem para gerar a violência, Peralva (1997, apud ROSA, 2010, p. 5) afirma que:

A violência entre alunos é algo construído em torno de duas lógicas, as quais se complementam: de um lado, encenação ritual de uma violência verbal e física; de outro, o engajamento pessoal de relações de forças vazias e sem qualquer conteúdo preciso. Nas duas situações, o que está em jogo é a construção de uma autoreprodução da cultura da violência.

Fazendo uma análise sob esta passagem, acreditamos que se a violência na escola é construída, como bem coloca essa autora, então esta mesma cultura pode ser desconstruída, a partir de ações efetivas, podendo ser através de projeto pedagógico de intervenção, entre outras políticas. Para tanto, é interessante, antes de qualquer coisa, investigar as causas mais recorrentes, local e as circunstancias mais representativas, entre outras situações que permeiam a violência escolar.

Barbosa e Bezerra (2013) investigaram a violência escolar a partir do Município de Ananindeua e revelaram que o Bullying ocorre na sala de aula e sem a presença do professor, com maior frequência em forma de apelido. Os elementos pertinentes que contribuem para alimentar a violência são as seguintes: O desejo de ser popular, demonstração de poder, a pouca importância dada pelos dos pais a narração de violência dada pelos filhos, impunidade, a rigidez da família tradicional e a imposição de diversas normas na escola.

Notamos que o agente que produz a violência é dotado de valores de superioridades, de egoísmo e de individualismo, os quais são inerentes ao próprio sistema em que vivemos: o capitalismo, que prima pela competitividade e pela detenção de poder, onde vale quem demonstrar ser mais forte. Ou seja, queremos dizer que a violência escolar faz parte de um contexto mais amplo, imposto pela própria sociedade capitalista.

Nas pesquisas de Lyra, Constantino e Ferreira (2010) a mitigação da violência na escola passa pela família, pois consideram ser o primeiro núcleo de socialização dos indivíduos, sendo espaço indispensável para a garantia do desenvolvimento e proteção integral de crianças, na formação de bons valores e ética de socialização. Esses autores entendem ser a família que propicia aportes afetivos e, sobretudo, materiais necessários ao bem-estar das crianças e os laços de solidariedade e da boa convivência em sociedade.

Por outro lado, não podemos deixar de destacar que essa mesma família vem passando por transformações, onde muitas se reproduzem em situação de elevada vulnerabilidade, afetando o comportamento da criança, como: crianças que desenvolve trabalho doméstico e cuida de seus irmãos menores; famílias chefiadas por mulheres; meninas que têm filhos cedo; vários membros vivendo sob o teto de um mesmo domicílio, porém um ou dois são provedores de renda. Enfim, o ambiente e as condições de vida precárias provocam conflitos e estresse, o que corrobora na ruptura de vínculos e dos valores familiar que, na ponta dessa cadeia, afeta a criança, notadamente quanto a sua aprendizagem e desenvolvimento.

Em suma, os autores supracitados que discutem a violência escolar sinalizam que esse termo tem relação direta com formas diversas de abusos físicos e/ou psicológicos, com destaque as humilhações contra a criança ou adolescente incapaz de se defender contra qualquer ataque violento. Mostram que o bullying é resultado de várias causas, indo desde a disciplina imposta pela educação tradicional, das condições precárias dos estabelecimentos de ensino, das famílias mal estruturadas, da localização onde a escola esta situada, principalmente em Bairros periféricos, ingresso de drogas e de armas no recinto escolar, etc.

3.2 CONSEQUÊNCIAS PARA ACRIANÇA

Não precisa ser especialista no assunto para dizermos que o Bullyingou a violência nos estabelecimentos de ensino resulta em consequências nefastas e, muitas delas, irreversíveis para a criança, em função dos traumas físicos e psicológicos. Nesse contexto, a aprendizagem é prejudicada, onde a vitima passa a carregar com sigo várias características que lhe perseguem por toda a vida.

Na avaliação de Ristum (2010) os efeitos da violência escolar podem surgir de imediato, médio ou longo prazo e se traduzem a primeira vista no baixo rendimento escolar e, num segundo plano, a vítima se isola, apresenta baixa autoestima, timidez; tristeza; apresenta problemas de sono; alteração no peso e no apetite; dificuldade de concentração; se recusar a ir à escola, alegando ter sintomas diversos, indo desde a dor de cabeça, dor no estômago até as doenças. No longo prazo, a vítima pode apresentar dificuldades de relacionamento e sintomas de depressão, trazendo complicações para a sua vida pessoal e profissional.

Cabe destacar que não se pode discutir a violência escolar apenas pelo lado da vitima, tendo assim uma visão unilateral da situação, já que os agressores também apresentam baixo rendimento nos estudos, já que se distanciam dos objetivos da escola, bem como da supervalorização da violência como forma de obter poder no meio social em que vivem. Na visão de Ristum (2010) o mais grave dessa situação é que àqueles que comentem Bullying pode desenvolver comportamentos mais agressivos, quando adultos, como crimes e uso de drogas.

Para Abramovay (2002) as situações de violência não apenas afeta a criança, mas a própria identidade da instituição da escola, como espaço de sociabilidade positiva, de aprendizagem e de formação de valores éticos, pautados no diálogo, no reconhecimento da diversidade, no sentido de consolidar a civilização entre os pares. Ao contrário, a violência repercute sobre a qualidade de ensino e na aprendizagem, afetando tanto alunos, quanto professores.

Rosa (2010) acentua sobre as consequências do bullying, dizendo que os danos que as vitimas sofrem são incalculáveis, visto que mexer com o psicológico é muito complexo, ainda mais quando se trata de criança, que ainda não possui discernimento para reagir a determinadas situações de violência. Daí que reside o perigo, na medida em que a criança se forma em um ambiente violento, podendo adquirir valores de violência ou ela mesma se tornar violenta.

Barbosa e Bezerra (2013) constataram que o isolamento no ambiente escolar pode ser o principal efeito do Bullying, já que a criança – vitima se torna insegurança quanto às pessoas que o rodeiam. De modo semelhante, esses estudiosos consideram que um aluno com poucos ou muitos amigos pode ser fruto de imposição de agressores que, ao formarem grupos, inserem ou excluem pessoas, conforme as suas conveniências.

Em síntese: o lado mais visível das conseqüências da violência escolar é o baixo desempenho da criança nos estudos, seguido por situações de ordens psicológicas (baixa autoestima, timidez; tristeza; problemas de sono; alteração no peso; dificuldade de concentração; e sintomas de doenças diversas), que podem afetar a sua vida pessoal e profissional futura. Nessa mesma esteira seguem também os agressores, os quais valorizam a violência como fonte de poder, em detrimento dos estudos, sem falar que falar que podem se tornar futuros delinqüentes, criminosos ou algo do gênero.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Este artigo foi desenvolvido no sentido de descrever e explicar em que circunstancia de risco e de vulnerabilidade a criança pode ser vitima de violência no ambiente interno da escola, a partir das respostas alcançadas para os seguintes objetivos específicos, alicerçadas nos autores supracitados.

A pesquisa permitiu identificar as seguintes formas de violência no ambiente interno da escola: apelidos, humilhação, intimidação, perseguição, provocação, ameaça, destruição dos objetos da vitima, seguido de furtos, lesão física, etc. Enfim, o Bullying se manifesta em formas diversas que, no geral, não são levados em conta pelos pais e a escola, e não que este fenômeno signifique apenas agressão física.

Dentre os fatores prevalentes que colocam a criança em um ambiente de risco de vulnerabilidade à violência o estudo permitiu destacar os seguintes: dificuldade na Gestão escolar, que resulta em estruturas deficientes e em desmandos; os ambientes periféricos, onde a escola está situada, em função da predominância de crônicos problemas sociais; a forma violenta como os adultos tratam os agressores; a desestruturação familiar que resulta na perda de bons valores; menos participação dos pais na vida escolar dos filhos; a presença de armas de fogo, armas brancas e, até a constatação de drogas na escola.

Para acentuar a propensão da violência a própria escola tem parte também nesse evento, na medida em adota Normas e Regras de condutas e de rígida disciplina para ser cumpridas, gerando sentimentos negativos nos alunos.

Quanto às principais consequências da violência para a criança, os resultados da investigação permitiram constatar as seguintes:

- De imediato, o lado mais visível do Bullying é o baixo rendimento na aprendizagem, e, diga-se de passagem, tanto da vítima como do seu agressor.

- No médio prazo, a vítima se isola, apresenta baixa estima, timidez e tristeza; seguido de problemas de sono; alteração no peso; dificuldade de concentração e, o que é pior, se recusa a ir à escola, alegando problemas de saúde ou algo do gênero.

- No longo prazo, a vítima apresenta efeitos mais graves, como dificuldades de relacionamento, medo e depressão, afetando a sua vida pessoal e profissional.

Em síntese, são traumas de ordens psicológicas que mais incomodam àqueles que são vitimas da violência escolar. Afinal, o próprio marco conceitual, definido pelos autores analisados, mostra que a violência escolar contra alguém indefesa, com efeitos danosos, é motivada por fatores socioeconômicos e culturais em que o agente agressor está inserido.

5 CONSIDERAÇÕES

Este Artigo tomou como objeto de discussão a circunstancia de risco e de vulnerabilidade em que a criança pode ser vitima de violência no ambiente interno da escolar. A pesquisa Bibliográfica nos permitiu descrever a seguinte circunstancia de risco e vulnerabilidade em que a criança pode ser vitima de violência:

• Além dos diversos fatores que estão por traz da violência já descrito, o ambiente de ensino é constituído por muitas crianças (agressoras) que são dotadas de sentimentos negativos dos pais, provenientes da imposição de disciplinas e/ou por conflito familiar. Contribui também para isso, o modelo de família paternalista, a qual tudo permite inclusive atos arbitrários que torna a criança arrogante.

• Este contexto de violência é acentuado pela própria escola, na media em que repreende, proíbe, reprova e pune, cujas imposições disciplinares geram sentimento antiefetivo e de agressividade na criança.

Diante desses indicativos alcançados, concluímos que são vários fatores de ordens sociais, econômicas e culturais, mais o desejo de poder e de ser popular dos agressores que, ao se interagirem, criam condições propícias para tornar a escola um ambiente de risco e de vulnerabilidade em que a criança pode ser vitima de violência.

No entanto, reafirmamos que a violência escolar faz parte de um contexto mais amplo, sendo fruto das desigualdades socioeconômicas, as quais se reproduzem no espaço escolar. Ou seja, a violência no ambiente escolar nada mais é do que a reprodução da violência social que ocorre fora desse estabelecimento.

Como o estudo apontou que a violência na escola é algo construída, então sugerimos algumas propostas para tentar desconstruir a cultura da violência na escola, como:

- buscar conhecer melhor os alunos, através de atividades pedagógicas adequadas no sentido de alcançar a interação e socialização entre alunos, pais e colaboradores em geral, visando estabelecer vínculos de amizade, solidariedade e de bons valores,

- Mais participação dos responsáveis das crianças na vida escolar de seus filhos, mediante a promoção de eventos festivos e culturas,

- Dar mais atenção as causas dos conflitos entre os alunos, buscando coibir os constrangimentos, ameaças e as humilhações, com correções adequadas e com a participação dos pais, podendo ser através do diálogo,

- Desenvolver mais atividade de lazer e de entretenimento na escola, de modo a reduzir o stress dos alunos,

Ao lado dessas providências, recomendamos que as famílias possam estar mais atentas ao comportamento dos seus filhos dentro e fora da escola, principalmente quanto às influencias de colegas ou pessoas alheias. Acreditamos, pois, que a família ainda seja o principal componente dos programas de combate ao Bullying escolar.

Como produto final deste estudo, podemos afirmar – nobre leitor – que o avanço da violência no ambiente de ensino, com danos significativos tanto para o agressor, como para a vítima, reflete a perda da identidade da instituição escola, enquanto espaço de sociabilidade, de aprendizagem e de formação de valores éticos e de recursos humanos da criança.

Este Bullying escolar se manifesta diretamente na aprendizagem das crianças, ou seja, os baixos indicadores da educação na rede pública de ensino podem estar associados à violência física e psicológica disseminado no ambiente de ensino. Todavia, essa conjectura deve ser tomada como objeto de estudos futuros, para mais bem fundamentar esta questão.

REFERÊNCIAS

ABRAMOVAY, Miriam (coord.). Cotidiano da escola: entre violências. Brasília: APEOESP - Pesquisa Violências nas Escolas  Uma visão dos delegados ao Congresso da APEOESP, 2002.

ASSIS, S. G.; MARRIEL, N. S. M. Reflexões sobre violência e suas manifestações na escola. In: ASSIS, SG.,CONSTANTINO, P.; AVANCI, JQ., Org. Impactos da violência na escola: um diálogo com professores [online]. Rio de Janeiro: Ministério da Educação/ Editora FIOCRUZ, 2010.

BARBOSA, Dino Curtis Nogueira; BEZERRA, Francisco de Assis Pinto. Bullying: A violência na Escola Pública a partir do Município de Ananindeua, Estado do Pará. Amazônia em Foco, Castanhal, v. 2, n. 2, p. 25-46, jan. 2013.

CUNHA, M. C. Organização da Gestão Educacional nos Municípios: entraves e perspectivas [online]. Salvador: EDUFBA, 2010. Disponível em: <http://books.scielo.org>. Acesso em: 25 Set. 2016.

FARRINGTON, D. P. Fatores de risco para a violência juvenil. In: DEBARBIEUX, E. e BLAYA, C. (Org.). Violência nas escolas e políticas públicas. Brasília: UNESCO, 2002.

LIRA, P. A. CONSTATINO, D. L. FERREIRO, G. L. Violência na Escola. Programa de redução do comportamento agressivo entre estudantes. Rio de Janeiro, 2010.

NJAINE, K.; MINAYO, M. C. S. Fala galera: juventude, violência e cidadania na cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Garamond, 2003

RAMBOW, V. ALMEIDA, S. M. A. F. Violência: Um Olhar Voltado Para a Escola. Anais do X Salão de Iniciação Científica–PUCRS, Unisinos. Universidade do Vale do Rio dos Sinos, 2009.

RISTUM, M. O Conceito de Violência de Professoras do Ensino Fundamental. 2010. Tese (Doutorado) - Salvador: Faculdade de Educação, Universidade Federal da Bahia.

ROSA, Maria José Araujo. Violência no ambiente escolar: refletindo sobre as consequências para o processo ensino aprendizagem. Rev. Tabaiana - GEPIADDE, Ano 4, v. 8, jul. 2010.

SAMARA, M. C.; BARROS, L. G. Métodos e técnicas de pesquisa científica. São Paulo: Atlas, 2002.

SOUZA, E. R.; ASSIS, S. G. (Coord.). Avaliação do processo de implantação e dos resultados do Programa Cuidar. Rio de Janeiro: FIOCRUZ/ENSP/CLAVES, 2008

ASSIS BEZERRA e Rosa & Arlethe
Enviado por ASSIS BEZERRA em 18/01/2017
Reeditado em 21/01/2017
Código do texto: T5885599
Classificação de conteúdo: seguro