A necessidade de Pertencimento!

O termo Pertencimento é bastante antigo, mas somente agora, com o surgimento do cyberbullying, ganhou maior espaço nas redes sociais e em vários trabalhos acadêmicos. Dentre os diversos significados para o verbo “pertencer” encontrados nos dicionários e aceitos pela maioria, está “ser parte” do qual deriva a palavra pertencimento.

Portanto “pertencimento” é a crença subjetiva numa origem comum que une os indivíduos pensantes em si mesmos como parte de uma coletividade. O sentimento de pertencimento exige comunhão de ideias o que não significa que todos devam ter as mesmas ideias, gostos ou visão a respeito de determinado assunto, mas que todos pensam e agem de forma coesa, com parcimônia, coerência e sem atritos.

Isto pode ser visto de forma bastante interessante, na metáfora sobre o relacionamento humano, proposta pelo filósofo Arthur Schopenhauer, no seu livro O Mundo como Vontade e Representação. Ele conta que um grupo de porcos-espinhos perambulava num dia bastante frio de inverno e para se aquecerem chegavam mais perto uns dos outros.

Mas, devido aos seus espinhos, no momento em que ficavam suficientemente próximos para se aquecer, começavam a espetar uns aos outros e então se dispersavam e logo voltavam a sentir frio. Isso os levava a buscar novamente companhia e o ciclo se repetia na luta para encontrar uma distância confortável entre a aproximação suficiente para se aquecerem. Claro, muitos poderão dizer: ora, estamos tratando de gente, de seres humanos e não de porcos-espinhos. Sim, os adolescentes não são porcos espinhos, mas na adolescência passam por vivências que os aproximam dos mamíferos descritos por Schopenhauer: a difícil arte de conviver em grupo.

Afinal, ao fazer parte de determinado grupo na escola, na rua em que mora, nos lugares que frequenta, ele está dando sinal de que tem algo em comum com os outros e consegue assim o "calor" na forma de aceitação e acolhimento. Ao mesmo tempo, precisa ficar atento e se defender dos "espinhos", entendidos aqui como as opiniões e posicionamentos que vão de encontro com a sua individualidade e que poderão gerar motivos de discriminação, preconceito, atrito, agressividade, causando dispersão no grupo e facilitando a prática do cyberbullying.

Pertencer a um grupo, além de fazer parte do processo de elaboração da identidade é um acontecimento inevitável nas fases da vida humana: infância-pré-adolescência; pré-adolescência-adolescência e adolescência-vida adulta. Na puberdade, o adolescente não se contenta apenas com a rede protetora da família e busca fora de casa outras referências para se formar como sujeito. Nessa fase, mais do que os pais, os amigos crescem em importância e juntos, passam a exercer os papéis sociais, se identificam com comportamentos, valorem e buscam segurança para lutar contra a angústia da solidão vivida, nessa complicada transição adolescência - vida adulta.

O pertencimento faz bem aos adolescentes, à medida que protege, permite o caminhar sem máscaras, porque entre iguais. Permite dizer verdades, estar com os amigos preferidos, dizer gosto, não gosto, tudo sem problemas e sem culpas num espaço público no qual nada é físico, mas ao mesmo tempo, tudo é real, ou seja, ao mesmo tempo em que anseiam pela identidade própria, eles percebem que ser igual aos outros é a saída mais segura para não se expor e perder a aprovação do grupo.

Sônia Maria dos Santos Araújo – Ms. em Educação

O RESPEITAR FAZ BEM!