EDUCAÇÃO, EMPENHO E CIDADANIA

Um País se constrói com empenho, esforço, luta e cidadania, os cidadãos unidos para suprir a deficiência do Poder Público, que não dá o valor prioritário à educação para um desenvolvimento de seu povo.

Os políticos daqui têm uma mentalidade pequena sobre a educação e seus efeitos na formação do homem em busca de uma vida melhor.

Miguel Toledo

Um país se faz com homens e livros. (Monteiro Lobato)

Escola rural carrega história de luta, empenho e cidadania

A escola fica em São José dos Campos, SP.

Ela chegou a ser fechada, mas sobreviveu graças ao esforço de voluntários.

Helen Martins São José dos Campos, SP

Uma história de luta, empenho e cidadania que se passa em uma escolinha rural de São José dos Campos, em São Paulo. A escola chegou a ser fechada e sobreviveu graças ao esforço de voluntários, que superaram todas as dificuldades para oferecer educação de qualidade a 100 crianças do campo.

As crianças da escola rural brincam de bolinha de gude, andam a cavalo e jogam bola. Elas têm um quintal maior do que o mundo, como fala a poesia de Manoel de Barros.

Antes da aula, as crianças tomam café da manhã. Muitas chegam na escola de barriga vazia. Depois elas rezam e seguem para a sala de aula. Ao lado da escola, fica a casa das freiras do Instituto das Pequenas Missionárias de Maria Imaculada. Foram elas que fundaram a escola, em 1959, e durante muitos anos administraram o lugar.

A congregação sempre teve atividades na área de saúde e educação, mas em 2014, por falta de mão de obra e problemas financeiros, ela decidiu fechar a escola. Noventa e cinco crianças foram buscar outras escolas para estudar.

Donaide Bitencourt, a diretora da escola, já era voluntária desde a sua aposentadoria como professora. Foi ela que ajudou a organizar o grupo de pessoas que mudaria o rumo dessa história: "Eu fiquei indignada. Não é possível fechar uma escola desse padrão, com essa carência, com essa necessidade das crianças. Aí eu fui correr atrás pra não fechar a escola".

Nicolau Arbex Sarkis, dono de uma escola particular em São José dos Campos ajudou nos primeiros passos: “Eles solicitaram minha ajuda para ajudar na viabilização da parte legal da escola, aprovação na diretoria de ensino, na continuidade da escola”.

Outro voluntário é José Roberto de Paula Ferreira, que estudou na primeira turma da escola Madre Teresa e quando soube do fechamento resolveu ajudar: “Foi um sentimento de dor, mesma coisa que perder um ente querido. É um desafio desgastante, mas muito gratificante”.

Em busca de recursos, foram feitos carnês para quem quer adotar um aluno e quando o dinheiro não chega para pagar os 15 funcionários da escola, são organizados eventos beneficentes, como a pizzada no salão da igreja, que garantiu o 13º salário de 2016.

A Madre Teresa é uma escola rural particular filantrópica, onde as crianças estudam de graça. Apenas a alimentação e o transporte são fornecidos pelo município. “Dada a situação econômica, a gente tem conseguido muito pouco. Graças a Deus, até esse final de ano, a gente conseguiu, mas não sei o que vai ser em 2017, 2018”, afirma o empresário José Roberto Mateus.

Voluntários oferecem educação de qualidade a crianças do campo

O número de escolas rurais diminuiu ao longo dos anos.

Para os educadores, escola mais perto de casa evita a evasão escolar.

Helen Martins São José dos Campos,

Uma pintura no céu anuncia o novo dia. Nathaly Crisóstomo tem 9 anos e vai para a escola, mas até chegar no ponto onde passa a van tem uma longa caminhada. É a rotina das crianças do campo.

A distância entre a escola e a casa dos alunos normalmente é de vários quilômetros. E, como a estrada é de terra, esse trajeto fica ainda mais longo. Em dias de chuva, em trechos onde a estrada está pior, o transporte escolar nem consegue passar e as crianças ficam sem aula.

Olhando para os lados, dá pra ver a distância entre as casas no campo. Um amigo para brincar pode estar muito longe. A escola vira um lugar não só para adquirir conhecimento, mas também onde a criança aprende a se socializar.

Muita coisa se aprende na escola, mas escola, assim, na zona rural, está ficando difícil encontrar. O número de escolas rurais vem diminuindo ao longo dos anos. Segundo o Inep, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, ligado ao Ministério da Educação, cerca de 35 mil escolas foram fechadas de 2004 para cá, uma queda de 35,5%. O número de alunos no mesmo período também diminuiu, quase 26%. São 2 milhões de estudantes a menos na zona rural.

As crianças passaram a se deslocar até escolas nas zonas urbanas, mas para os educadores, escola mais perto de casa diminui a evasão escolar.

É isto que a Escola Madre Teresa faz pelos alunos, crianças do primeiro ao quinto ano, o chamado Ensino Fundamental I. No primeiro ano, os alunos capricham na letra, escrevem, apagam os erros, começam de novo. João Gabriel Gonçalves, do segundo ano, mostra que já aprendeu a ler.

Na sala da Nathaly, a aula é de matemática. Como já acabou o exercício, ela ajuda o colega nos cálculos. O nome de Nathaly aparece em todos os resultados das Olimpíadas de Matemática da escola, mas para quem não consegue acompanhar a classe, existe um grupo de estudo.

E é na aula de musicalização que eles esquecem a timidez e soltam a voz e o corpo. Margareth Pedrosa é professora voluntária e envolve as crianças com músicas antigas. “Eu tento colocar só músicas de 50 anos atrás e do folclore. Faço pesquisas na comunidade com as mães e os avós”, conta.

Apesar das dificuldades, a escola consegue seus feitos. O material didático é um deles. Atendimento odontológico, com um grupo de dentistas voluntários, é outro diferencial.

E quem disse que escola rural não pode ser antenada? Aqui tem sala de informática, outra grande conquista. A sala tem hoje 12 computadores e as crianças desde bem pequenas, já fazem suas pesquisas.

É o mundo se abrindo, o quintal ficando cada vez maior, inclusive com os passeios que a escola proporciona.

Depois do almoço, é hora de voltar pra casa. Na estrada, a mãe e o irmão da Nathaly, Moisés, de 14 anos, já esperam por ela. Descem a escada feita de pneus e quando chegam em casa, Nathaly mostra as medalhas das Olimpíadas de Matemática.

Nathaly está aprendendo a bordar com a mãe. Depois das aulas, elas fazem seus trabalhos manuais, mas isso não é só diversão, é complemento de renda também. O pai de Nathaly está em tratamento médico e, no momento, sem trabalho. A família vive com muito pouco.

Ser alguém na vida é algo que a cada dia exige mais estudo. E esse estudo está cada vez mais distante da zona rural. Assista ao vídeo com a reportagem completa e veja a homenagem que os alunos da Escola Madre Teresa fizeram para demonstrar o significado do estudo na vida deles.

http://g1.globo.com/economia/agronegocios/globo-rural/noticia/2017/01/escola-rural-carrega-historia-de-luta-empenho-e-cidadania.html

Miguel Toledo e Globo Rural de 01/01/2017
Enviado por Miguel Toledo em 01/01/2017
Reeditado em 02/01/2017
Código do texto: T5868924
Classificação de conteúdo: seguro