Ensino Médio: Federalização X Unificação do Plano Pedagógico
Muito se tem falado do Ensino Médio estes dias. A verdade que dados revelam uma situação alarmante: hoje um jovem de 15 anos, sabe menos de matemática, que um jovem de 15 anos sabia nos anos 2000. Ou seja, há 15 anos atrás, o ensino era melhor do que é hoje -- por incrível que isso possa parecer. Eu falo de forma aberta e clara, porque além de professor de filosofia, sou oriundo do ensino público. E advirto. Ele era ruim. Terrível. Mas de um algum jeito, conseguiram piorar o que já era péssimo, e quando eu tinha 15 anos, sabia mais de matemática do que minha sobrinha hoje, que tem quinze.
Como melhorar essa situação? A proposta discutida e pesquisada pelo governo anterior (Dilma) foi baseada em diversos países aonde a educação básica funciona. Dentre eles, o que mais gosto é a Coreia do Sul. Estes países não são um Japão ou uma Finlândia, mas o ensino sul coreano é muito bom sim, e custa bem mais barato que aqui -- não só pelas dimensões do país e números populacionais. Não sei como, mas lá eles são mais baratos e mais eficientes do que nós, de fato, proporcionalmente falando.
Então, uma mudança do ensino médio baseada num país que leva sua educação a sério parece ser uma boa. Mas e como professor, como vejo? Eu não quero falar da mudança, e nem da proposta -- até porque, ainda não sei bem o que fizeram com a filosofia... se vou dar aula para um, ou dois anos do ensino médio -- enquanto isso se tem filosofia desde o fundamental na Noruega... Voltando, o que quero discutir é uma possível federalização do ensino médio.
Essa proposta foi levantada por um senador que tem meu respeito, e levando em conta que o IFs possuem uma educação de qualidade, comparável a dos Colégios Militares, parece ser uma boa ideia. Imagine só: cada colégio publico do país, aquele mesmo do seu bairro e da sua rua, do porte de um colégio federal, ou quem sabe, com a ordem e a institucionalidade de uma escola militar. Ambos são muito bons, mas eu faço um questionamento: SÃO CAROS -- e quem paga a conta é o povo, lembre-se.
Bom, para quem não sabe, o que mantém hoje a maioria dos custos das escolas públicas é o FUNDEF. O Fundef tem seus dividendos tirando de vários impostos, e no geral, estados, municípios e união pagam as contas. No geral mesmo, há uma briga sempre, mas quem paga a maioria do fundo é a União mesmo -- leia-se governo federal. Por isso se vê sempre uma briga entre municípios e governos estaduais pelas verbas do Fundef -- lembre-se, quem paga o Fundef é você e eu.
Se esses recursos são oriundos, em sua maioria, da União (ao menos a ideia do Fundef era esta... que a união pagasse a maioria do fundo...), porque não se federaliza logo? Porque o custo seria proibitivo. É esta minha resposta. Não dá para ser mais cristalino. Os IFs tem prédios de primeiro nível, professores doutores, enfim. Os custos de um IFs são infinitamente maiores que da escola pública dali da sua rua. E se mal tem verba para pagar um ônibus que leva os meninos no meio do sertão, ou o barquinho para atravessar o rio no Amazonas, imagina pagar professores-doutores e prédios com ar condicionado em cada canto do Brasil? Pois é, vamos virar a página -- vejam bem que estou excluindo aqui os casos de corrupção.
Como resolver a questão de forma pública e que não aumente os impostos? Primeiro é preciso entender a questão e assim, encontrar o problema, para começar um tratamento. A verdade é que o grande problema do ensino publico hoje... é que ele é uma loucura de desorganizado. Se no seu bairro tem duas escolas públicas, além de você ter sorte, eu te digo um fato: cada uma das duas escolas, apesar de estarem na mesma rua, tem seu próprio plano pedagógico.
Sucintamente, isso quer dizer que cada uma dá sua aula do jeito que achar melhor. Pode ser que tenha duas avaliações, ou que tenha ou não aulas de recuperação, ou que dê aulas fora das salas de aula, enfim, cada escola tem liberdade para escolher como será seu plano pedagógico -- desde que seguindo as diretrizes do MEC, que serão estas novas, com novas carga-horárias e tudo mais. Mas tirando as diretrizes, uma escola pode ser anarquista e a outra positivista, alí, as duas defrontes, uma da outra.
Vocês estão entendendo a situação? Enquanto isso nos IFs e nas escolas militares... todos seguem o mesmo plano pedagógico, não importando a localização. Pode ser um de Manaus, o outro no Rio Grande do Sul, o colégio militar do Rio e um outro do Acre... os IFs seguem seus planejamentos pedagógicos unificados -- o que um faz no Acre o outro faz na Bahia. O mesmo dito para as escolas militares. O que há então de igualdade entre ambos, além do fato um ter muita disciplina e o outro professores doutores? Fica claro que é a Organização. A Ordem. Aliás, nos países que as escolas dão certo, como Japão, Finlândia, Coreia do Sul... os planejamentos pedagógicos são seguidos arrisca e com critério, não importando se as escolas fiquem na mesma rua, ou separadas por longas distâncias.
De uma forma Burra, dividimos demais nossas escolas. Com o pretenso motivo de tornamos elas livres (porque o nome é bonito), acabamos por torná-las simplesmente perdidas no meio do redemunho. Ás vezes não se tem as verbas para pôr em prática o projeto que se queria... às vezes simplesmente não se sabe o que fazer ou como escolher um plano pedagógico eficiente. O fato é que foi dado uma falsa liberdade às escolas -- o que deveria ser um prêmio, acabou se tornando um ônus sobre os ombros de cada uma, que justamente por ficar perdida em meio a tantas possibilidades... acabou por se ficarem perdidas em meio ao escuro, tateando sozinhas buscando o tesouro escondido.
Claro que o fato de cada escola ter livre seu planejamento pedagógico, abrem chances de aparecerem oásis no deserto -- ou seja, escolas que fazem algo novo e que apresentam melhor rendimento escolar, quando comparadas com as outras em meio à escuridão. Estes Oásis existem por aí. São pouquíssimos, mas existem. E oras, se funcionam, que fiquem como estão. Mas as outras... que estão perdidas em meio a escuridão... O que fazer com elas? Estas têm de ser organizadas e precisam ter seus planejamentos pedagógicos unificados. Se o colégio estadual do Acre faz aula de recuperação, o colégio estadual do Paraná também tem de fazer. Se um tem certa carga horária, o outro também tem de ter.
É justamente esta organização que é a verdadeira preocupação com o ensino, que torna os outros países tão melhores do que nós. Claro... existem países que cada colégio é livre -- assim como aqui. Mas são países de uma cultura enraizada na liberdade. E isso muitas vezes faz com que os pais, se não gostarem de uma escola, mudem seus filhos para outra. Mas aqui... Essa liberdade acabou se tornando um completo caos e uma falta de racionalidade tremenda. Somos tão desacordados que nem ao menos notamos, que a escola do meu sobrinho tem aula de recuperação mas a do meu filho, não tem.
Chega a ser risível, para não dizer terrível, que conseguiram piorar algo que já era péssimo, graças a simples desorganização e portanto, falta de preocupação com o ensino -- porque se oras, está uma bagunça e ninguém quer reverter o fato, é porque não se está nem aí! É porque não se tem o mínimo de preocupação com o ensino.
E o custo desta racionalidade e organização ao invés de uma Falsa Liberdade, qual seria? Zero. Para seu e para meu bolso. Nada de aumentar o imposto ou de gastar MAL GASTO mundos e fundos do dinheiro publico, como vimos há dois anos atrás. Vamos esquecer o papo que o dinheiro é do governo. Governo não tem dinheiro. O governo não produz. Quem produz é o povo. O dinheiro é do povo. E se é para gastar o seu e o meu dinheiro, que se gaste num ensino publico racional, organizado e portanto, respeitoso, conosco e com os alunos.
Mais ordem, mais amor e mais progresso.