Educação e controle emocional
Embora o assunto seja recorrente, eu o considero importante. Na minha percepção o que diferencia as pessoas não é seu status social ou material, mas a sua capacidade civilizada de se relacionar com os outros. Quando temos a necessidade de interagir com outros setores da sociedade, uma das nossas expectativas é a qualidade dessa conexão e a interação. Quando saímos para uma negociação, seja ela por necessidade ou por interesse, gera-se de maneira antecipada um esboço prévio desse processo que está por acontecer e, dependendo do nosso estado de “espírito”, colocamo-nos em alerta preventivo desnecessário, são os chamados mecanismos de defesa. Mas a consciênciado do uso da proporcionalidade da emoção e a ração é importante e não podemos deixar de enxergar, com o risco de gerarmos desconforto num processo de interação social.
Trabalhar nossas emoções nos dá qualidade de vida, mas é um desafio difícil de ser conquistado. Quem já não teve vontade de “morder a canela” de alguém, desfecho máximo do descontrole emocional. O que fazer nesses momentos? Atacar ou recuar? Em uma discussão verbal, quando há a perda do controle, a grande estratégia e recuar; criar uma desculpa e sair desse processo fermentado pela emoção.
Naturalmente admiramos pessoas educadas e emocionalmente controladas. Mas nós, o que estamos fazendo para sermos educadas e emocionalmente controladas? Estamos olhando para dentro de nós para avaliarmos e questionarmos o nosso nível de educação e comportamento nas relações do dia-a-dia? Qual é o diagnóstico?
Confesso que a minhas escolhas estão ligados a dois pontos: pessoas de “coração” bom e educadas, o que no passado o Aristóteles teria dado o nome de virtudes. Extrapolo esses elementos de escolha inclusive para os programas de TV: entrevistas, críticas, manifestações pessoais ou em grupo, pareceres, etc.
Recentemente, pelas circunstâncias políticas e policialescas em que vive o país, temos visto pessoas ou grupo de pessoas que ao falarem não conseguem controlarem suas emoções, falam o que não deveriam falar, falam besteiras e tornando-se desagradáveis. No contraponto desse retrato da desqualificação da falta de educação e descontrole emocional, trago um belo e admirável exemplo de uma peça de cinema com o nome de “Os Mistérios do Detetive Murdoch”. Trata-se de um detetive que vive sua realidade em Toronto, no Canadá no final do século XIX. Como detetive ele tem a incumbência de investigar/solucionar todos os casos de crimes/delitos que chegam à delegacia em que trabalha. Mas o que mais me chama a atenção é a forma educada e respeitosa com que ele trata seus suspeitos e investigados; trata todos com o maior respeito, não levanta a voz, não agride e raramente se utiliza da sua força física e arma de fogo na relação com criminosos mais tempestivos. A minha admiração pela figura fictícia do detetive vem justamente pela sua função pública e de suas virtudes: educação, ponderação, uso da inteligência, respeito pelo próximo. Outra coisa que toca a minha visão crítica em tempos de “besteirol” é poder apresentar um exemplo de pessoa educada, mesmo no campo da ficção. A minha esperança é que os bons exemplos gerem mudanças, que sejam copiados, que traga bons ventos e nos livre de tempestades e de pessoas danosas.