PSICOPEDAGOGO INSTITUCIONAL: ENSINO COLABORATIVO NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA
2.1 PSICOPEDAGOGO INSTITUCIONAL: ENSINO COLABORATIVO NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA
RESUMO
Essa pesquisa tem como objetivo demonstrar a importância do psicopedagogo na instituição escolar no contexto do ensino colaborativo, principalmente durante o processo de inclusão de alunos com Necessidades Educacionais Especiais (NEE). Como metodologia foi utilizada o relato de uma experiência de inclusão com uma aluna com Hidrocefalia, Deficiência Intelectual (DI), matriculada em uma turma regular de uma escola pública municipal situada na Zona Rural no município de Ilhéus-Bahia durante o ano de 2016. Na ocasião percebeu-se que a atuação do psicopedagogo na instituição para a inclusão dentro de um contexto colaborativo se faz necessária em todos os âmbitos, entre as relações que se estreitam ou alargam dependendo de como se aborda o tema. Nesse aspecto é abordada a importância do profissional de psicopedagogia durante o processo de inclusão.
PALAVRAS-CHAVE: ensino colaborativo; psicopedagogia, inclusão
1 Introdução
A inclusão é um processo sem volta, e que exige muita dedicação e trabalho. E para que esse trabalho seja desenvolvido de forma satisfatória, a ponto de atingir seus objetivos, se faz necessário uma equipe multidisciplinar na instituição escolar. O exemplo de pedagogos, psicólogos, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, e demais profissionais que possam estar diagnosticando e tornando a permanência dos portadores de Necessidades Educativas Especiais (NEE), estejam bem assistidos. E, o profissional da Psicopedagogia não poderá ficar de fora desse processo no espaço escolar inclusivo.
O psicopedagogo na instituição escolar tem um papel imprescindível na inclusão, pois incluir as diferenças, principalmente dos alunos com NEE juntamente com as suas famílias e os professores envolvidos nesse processo necessitam de uma intervenção especializada. Uma vez que os alunos necessitam de intervenções no aprendizado cognitivo, nos aspectos emocionais, e quando necessário serem encaminhados a outros especialistas em prol de diagnósticos, de esclarecimentos ou de tratamentos que favoreça o processo de aprendizagem dos mesmos.
Nesse contexto do processo inclusivo, está a proposta do ensino colaborativo como estratégia para efetivação de inclusões escolares que é uma real e produtiva possibilidade de ação pedagógica a ser construída em práticas cotidianas. Assim sendo, o fazer do psicopedagogo na instituição escolar vai além da intervenção em relação ao aprendizado cognitivo do aluno com necessidade especial, ele pode estabelecer uma relação de troca de experiências com os professores, e intervenções produtivas com os pais desses alunos ou dos demais. O objeto de estudo é atuação do psicopedagogo junto aos alunos com Necessidades Educativas Especiais (NEE) na comunidade escolar, inserindo o contexto do ensino colaborativo.
Considerando a necessidade de discutir ações efetivas quanto a inclusão das diferenças no âmbito do ensino colaborativo, principalmente dos alunos com Necessidades Educativas Especiais (NEE), envolvendo os professores envolvidos nesse processo necessitam de uma intervenção especializada.
Daí o presente estudo que vem contemplar o papel do psicopedagogo na instituição escolar durante o processo de inclusão de alunos com NEE, levando em consideração o fazer desse profissional e objetivando compreender a importância do psicopedagogo na inclusão escolar, especificar o papel do psicopedagogo na instituição escolar e estabelecer possíveis intervenções do psicopedagogo com alunos com Necessidades Educativas Especiais (NEE), levando em consideração como o mesmo pode contribuir com o ensino colaborativo como parte importante do processo ensino-aprendizagem, seja ela cognitiva, afetiva ou social,
A pesquisa foi realizada em uma instituição escolar, na qual há muitos alunos com NEE, onde foi feita uma pesquisa com os professores, sendo utilizado um questionário, bem como a observação de uma aluna com NEE, onde a mesma tem uma professora de co-ensino, em sala de aula regular.
2. Escola Inclusiva e o Ensino Colaborativo
Uma escola inclusiva não é fruto apenas do esforço individual de professores ou das atitudes positivas da comunidade educacional, é muito mais do que isso, é um conjunto de condições que se tornam possível, isso resulta em uma reposta satisfatória de alunos com NEE. Tal conjunto de condições situa-se em três níveis diferentes relacionados estreitamente: os contextos político e social, o contexto da escola e o contexto da sala de aula.
Segundo Marchesi (2004, p.42):
Cada um deles tem suas características próprias e mantém um certo grau de independência em relação aos outros, embora os níveis gerais tenham uma grande influência sobre as possibilidades de mudança dos níveis inferiores.
Dessa forma, um firme posicionamento político em favor da inclusão contribuirá de forma significativa para que as escolas se situem nessa posição. No mesmo sentido, quando uma escola estabelece entre seus objetivos a prioridade de incluir todos os alunos, fica mais simples transferir estratégias posteriormente à prática educativa nas salas de aula. No âmbito educacional, diferenciam três ideologias principais: liberal, pluralista e igualitarista.
Quando a proposta liberal predomina em uma sociedade, as dificuldades para elaborar projetos inclusivos são maiores, por fazer que as escolas selecionem os alunos com maiores possibilidades de êxito, já que resultados ruins podem influir negativamente em seu prestígio e nos recursos que receberá.
Ao contrário, as outras ideologias, pluralista ou igualitária, dão importância tanto para a aprendizagem quanto a socialização e à formação de atitudes solidária. Nessas ideologias se leva em conta onde está situada cada escola e valorizam as que procuram oferecer uma boa educação a todos os seus alunos, sem nenhum tipo de separação, são as mais adequadas para criar uma dinâmica de estímulo à integração dos alunos com NEE.
A transição para a educação inclusiva não representa mudança pontual de caráter técnico ou organizacional. As declarações e convenções internacionais são instrumentos com base nos quais cada nação, de acordo com suas condições e características locais, deve definir a sua orientação política e filosófica. Normas e princípio norteadores da transição à educação inclusiva devem ser formulados pelos governos e terão mais força se forem incorporados na legislação de cada país.
A partir de pesquisas e estudos de monitoramento realizados em determinadas escolas (DUK 2006) foi possível estabelecer algumas condições de organização que facilitam a execução de ações inovadoras por parte dos professores. Foram identificados elementos chave do processo de mudança, que dizem respeito à estruturação da organização escolar, as diretrizes de lideranças, ao processo de planejamento, as políticas de formação permanente dos docentes e aspectos diretamente ligados à política escolar que imperam a em cada unidade escolar e influenciam a mudança.
Neste contexto, a eliminação de barreiras à aprendizagem constitui um desafio e é um processo complexo. Porém, é possível avançar em direção à inclusão sempre que o aperfeiçoamento e o crescimento profissional permanentes ocorram nos contextos escolares.
De certo, a escola inclusiva é um espaço onde seus alunos são compreendidos em sua particularidade, em que cada avanço é significativo, é um local onde todos os alunos são valorizados de acordo com seu rendimento, e esse sempre de acordo com suas capacidades. O aluno da escola inclusiva com NEE deve ser avaliado tendo seu processo de desenvolvimento como parâmetro comparativo.
Para desenvolver a inclusão social do aluno é necessário que crie condições para que eles possam viver em sociedade, desta forma, a escola fica sendo o ponto de partida para ações de inclusão que possam realmente incluir equiparando todos os direitos, fornecendo acesso e oportunidade de aprender e de viver efetivamente em sociedade (ZANATA, 2009).
Para entender a escola inclusiva exige uma profunda revisão das práticas educacionais e mudanças na forma como recursos são identificados e disponibilizados no contexto escolar. Contudo, hoje há evidencias de que a orientação inclusiva contribui para melhorar a escola para todos os membros da comunidade escolar e, em particular, para todos os estudantes.
Nesse contexto de mudanças, o ensino colaborativo entra como uma alternativa de trabalho que busca garantir a aprendizagem de alunos com NEE, a partir dos desafios impostos pelo contexto escolar, trazendo as contradições e limites presentes no cotidiano e os progressos possíveis para uma a intervenção pedagógica mais eficaz. Tais sujeitos, participantes dessas reflexões, constituem-se no público alvo da educação especial, conforme previsão da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (BRASIL, 2008, p. 15), e são eles os estudantes com deficiência, transtornos globais de desenvolvimento e altas habilidades/superdotação.
Nestes casos que implicam em transtornos funcionais específicos (como dislexia, déficit de atenção), a educação especial atua de forma articulada com o ensino comum, na busca de respostas educativas às necessidades de cada sujeito.
Diante do desafio de educar esse sujeito, inserindo-o dentro de um contexto social e funcional, o ensino colaborativo apresenta-se como uma ação pedagógica que busca atender novas demandas apresentadas, tanto pelos estudantes quanto por seus professores, no paradigma da inclusão.
3. O Psicopedagogo Institucional e o Ensino Colaborativo
A atuação do psicopedagogo institucional tornou-se necessária ao surgir o anseio de compreender os problemas de aprendizagem, e com isso, surgindo também reflexões sobre as questões relacionadas ao desenvolvimento cognitivo, psicomotor e afetivo, implícitas nas situações de aprendizagem (FAGALI; VALE, 2009, p.9).
A Psicopedagogia Institucional permite um olhar globalizado sobre o fenômeno escolar, considerando aspectos variados em relação aluno-professor; condições do ambiente escolar; relação família-escola; a relação de apropriação do aluno com o objeto do conhecimento. Uma vez que, a psicopedagogia institucional possui um papel muito importante no sentido de cuidar de todos os processos de aprendizagem que acontecem durante esse processo na escola. Isto significa dar conta dos processos de aprendizagens docentes e discentes, dos seus anseios, preconceitos, dificuldades e acessibilidades que, articulados no conjunto, retratam a identidade de todo o grupo escolar.
Portanto, “a psicopedagogia institucional se propõe, a estar atenta às inúmeras possibilidades de construção do conhecimento e valorizar o imenso universo de informações que nos circunda”. (OLIVEIRA, 2009, p. 39).
Diante de uma sociedade que está em plena evolução, em uma sociedade globalizada onde os desafios de estar incluído vem crescendo, o ensino colaborativo vem ganhando espaço e uma considerável importância para o processo de ensino-aprendizagem dos alunos com NEE. Atualmente, todas as áreas do conhecimento humano apresentam grande ênfase no tema colaboração, pois a maioria das invenções definidas no século XX foi resultado de muita colaboração. Superar os desafios que estes impostos por esse início de século não será possível sem colaboração. Levando em consideração que as escolas refletem a sociedade na qual está inserida, dentre as diversas estratégias existentes para remover as barreiras da aprendizagem na escola, a colaboração entre educadores comuns, especialistas em Educação Especial, psicopedagogos, bem como entre equipes de consultores especialistas, ou mesmo entre os alunos, tem sido uma das ações mais significativas no processo de inclusão escolar.
Gargiulo (2003) apresenta três diferentes formas de trabalho coletivo na implementação de práticas inclusivas: serviços de consultoria de uma equipe de profissionais especialistas, onde creio estar inserido o psicopedagogo, ensino cooperativo (co-professor ou coregente) e equipes de serviços.
O ensino colaborativo nas escolas se dá pela importância de possibilitar a troca de experiências entre professores em relação a solução de sérios problemas envolvendo aprendizagem e/ou comportamento de seus alunos. Diante desse aspecto, o ensino colaborativo tem sido utilizado para favorecer a inclusão escolar, levando em consideração que a vase do mesmo é o trabalho em conjunto, e consequentemente envolvendo a parceria direta entre professores da Educação Comum e Especial.
Diante desse contexto de ensino colaborativo, o psicopedagogo institucional pode exercer um papel importante nesse processo de ensino aprendizagem dos alunos com NEE, pois o mesmo também atua em suas dificuldades bem como necessidades de adaptação de Curriculum, intervenções e estratégias especializadas para esse sujeito.
“O ensino colaborativo é uma estratégia didática inclusiva em que o professor da classe comum e o professor, ou especialista planejam de forma colaborativa, procedimentos de ensino para ajudar no atendimento a estudantes com deficiência, em classes comuns, mediante um ajuste por parte dos professores. Nesse modelo, dois ou mais professores possuindo habilidades de trabalho distintas, juntam-se de forma coativa e coordenada, ou seja, em um trabalho sistematizado, com funções previamente definidas para ensinar grupos heterogêneos, tanto em questões acadêmicas quanto em questões comportamentais em cenários inclusivos. Ambos compartilham a responsabilidade de planejar e de implementar o ensino e a disciplina da sala de aula. O trabalho colaborativo efetivo requer compromisso, apoio mútuo, respeito, flexibilidade e uma partilha dos saberes. Ninguém deveria considerar-se melhor que outros. Cada profissional envolvido pode aprender e beneficiar-se dos saberes dos demais e, com isso, o beneficiário maior será sempre o aluno” (CAPELLINI, 2008, p.10).
A atuação do psicopedagogo na instituição nas situações de Inclusão das NEE no ensino regular é de suma importância, em especial tem um papel mediador, onde ele pode atuar tanto em relação ao aprendizado e autonomia desse sujeito, como na atuação junto aos profissionais envolvidos no ensino colaborativo, e bem como no acompanhamento pedagógico, Psicopedagógico eficaz, junto a outros profissionais da área.
4. A Opção Metodológica Psicopedagógica
Considerando que o foco da atuação docente é a inclusão das Necessidades Educacionais Especiais (NEE), mais especificamente no ensino regular público. Daí o porquê de me especializar nessa área fazendo a pós de Psicopedagogia nos enfoques Institucional, Clínico e Hospitalar. Aqui relatarei a minha prática pedagógica inclusiva junto aos alunos com NEE, embora esteja falando do ensino colaborativo como algo funcional para que a inclusão seja mais eficaz, limitarei ao relato de um caso de inclusão do ensino regular público, pois exige um maior aprofundamento e compreensão destes aspectos. E ao decorrer do relato, irei expor os motivos pelo qual acredito que o ensino colaborativo seria de extrema importância valia para esse e outros casos de inclusão.
O caso a ser analisado é de uma aluna de 09 anos, R. L. M., apresenta diagnóstico de Hidrocefalia e Deficiência Intelectual (DI), estuda em uma escola pública municipal situada na Zona Rural no município de Ilhéus Bahia. Ela tem dificuldade ao caminhar, tem o lado esquerdo do corpo paralisado, o que faz com que sua mobilidade seja ainda mais prejudicada. Comunica-se através da fala oral, entende tudo que acontece a sua volta, porém seu aspecto cognitivo não está preservado.
Vale considerar, a aluna tem uma família disfuncional, uma vez que no inicio do ano letivo teve muitas faltas, porém, a mãe ao ser chamada à escola, relatou que há muitos problemas, pois não tem moradia fixa, mora em residência emprestada no local. Ela estuda em uma turma regular e cursa o terceiro ano do ensino fundamental. O processo de inclusão de R.L.M. tem se dado desde que ela tinha 6 anos, quando começou a estudar nessa escola, porém, os professores que ela tem tido até o momento não consegue acreditar no processo de inclusão da mesma. Mesmo com todas as dificuldades a aluna obteve avanços significativos, em muitos aspectos.
Um deles foi em relação a interação social, pois ela ampliou seu leque de relacionamentos, aprendeu a expressar-se de forma mais clara a cada dia; as relações se ampliaram, foram além da sala de aula, pois alguns profissionais da comunidade escolar e local perceberam, mesmo com desconfiança que uma “pessoa como ela” poderia aprender. Para os alunos foi um avanço e tanto, pois eles compreenderam que ela capaz, o foco aqui não é doença, mas sim as potencialidades e capacidades da mesma.
No meio do ano letivo, o CRIE ( Centro de referencia a Inclusão Escolar) enviou uma professora de co-ensino para que desse suporte a aluna. Esse foi um importante passo para que uma forma do modelo do ensino colaborativo fosse implementado na escola. O que infelizmente não ocorreu. Já havia sido notada nas respostas do questionário e em conversas com alguns profissionais da instituição certa resistência à inclusão, e que nunca haviam ouvido falar no modelo de ensino colaborativo, porém, quando souberam do que se tratava, disseram estar interessados, caso a instituição o adotasse.
Em um modelo colaborativo, os professores da Educação Comum e Especial devem juntar suas habilidades, seus conhecimentos e perspectivas à equipe, procurando estabelecer uma combinação de recursos para fortalecer o processo de ensino-aprendizagem, pois segundo (DIEKER & BARNETT, 1996, p. 7). “aprendendo uns com os outros, garantindo com esta relação positiva a satisfação das necessidades de todos os alunos”.
No aspecto cognitivo ela avançou muito pouco, sem ainda reconhecer a maioria das letras do alfabeto, o ano letivo de 2010 reconhecendo as letras do alfabeto, ela não traça as letras por conta dos movimentos atrofiados de uma das mãos (justamente o lado dominante de seu corpo). A meu ver Psicopedagógico encontrava-se na hipótese pré-silábica, utilizando de letras aleatórias.
As atividades realizadas com a aluna eram totalmente diferentes das feitas com os colegas, pois os profissionais envolvidos alegavam muito trabalho fazer adaptações em algumas delas. Durante as atividades onde ela não tem condições físicas de realizar, ela fica sem participar. A interação com os colegas e funcionários da instituição está sendo o maior ganho da aluna. Uma sugestão seria as Tecnologias Assistivas, onde poderia possibilitar que a mesma participasse ativamente das atividades.
A tecnologia assistiva é uma área do conhecimento que vem sendo reformulada com o passar dos anos e que vem ganhando cada vez mais espaço em congressos e fóruns de discussão. Pensando no conceito de tecnologia que é sem dúvida o estudo de técnicas que tem o objetivo de melhorar as condições humanas e facilitar processos, foi baseado nesse conceito que os recursos começaram a serem empregados na vida dos deficientes. (BRASIL, 2009).
A atuação do psicopedagogo na instituição nessas situações de Inclusão das NEE no ensino regular é de suma importância, em especial tem um papel mediador, onde ele pode atuar tanto em relação ao aprendizado e autonomia desse sujeito, como na atuação junto a sua família; principalmente para desenvolver aceitação duas NEE, e bem como no acompanhamento pedagógico, Psicopedagógico eficaz, junto a outros profissionais da área. E no contexto do ensino colaborativo, o profissional de psicopedagogia, é de extrema importância, sendo que o mesmo se dá com a participação de profissionais de várias áreas.