De quem é a escola?
A quem a escola pertence? Esse e outros questionamentos, impregnados de emoção e ansiedade marcaram o discurso de improviso de uma aluna de 16 anos na Assembleia Legislativa paranaense. A fala chamou a atenção dos parlamentares não só pela pouca idade da protagonista, mas também pelo tom desafiador utilizado na defesa de seus posicionamentos que, obviamente, julga corretos. Em que pese a iniciativa louvável da jovem, é preciso analisar a questão com isonomia, mesmo porque a democracia é uma via de mão dupla. Sendo assim, o respeito, a serenidade e o equilíbrio haveriam de prevalecer em quaisquer ocasiões, mais ainda quando as opiniões divergentes se fazem presentes no momento em que os parlamentares representam toda a sociedade. Ainda que muitos creditem os arroubos juvenis demonstrados naquela Casa Legislativa à inexperiência e à impulsividade (manifestações naturais dessa fase da vida), há que se analisar o conjunto da obra, ou seja, os argumentos por demais contundentes empregados naquela ocasião. Mantendo-se desnecessariamente na ofensiva, disparando sua verborragia pueril para todos os lados, mirando a proposição governamental (PEC 241, que regulamenta o teto para as despesas da União) como alvo principal, sem deixar de exaltar o movimento estudantil do qual é participante ativa, a estudante mostrou ter personalidade, porém acabou maculando sua participação ao afirmar que os deputados tinham as mãos sujas de sangue, em referência à morte de um estudante em escola ocupada.
Esse é apenas mais um lamentável episódio na história da educação no Paraná. A lembrança do fatídico confronto de professores e policiais militares em 1988 e mais recentemente em 2015 expõe divergências quase incontornáveis entre o governo e a classe docente. A insatisfação rapidamente se transforma em manifestação, com suscetibilidade para sérios entreveros entre as partes. Ocorre que nesse imbróglio específico, a coisa é diferente. Os estudantes ocupam indiscriminadamente escolas estaduais e municipais (além de responsabilizarem diretamente os parlamentares estaduais, que nada têm com o caso), mostrando uma incoerência típica daqueles movidos por influências ideológicas partidárias. Mesmo com a garantia da estudante de que o movimento é apartidário, nota-se claramente o direcionamento para esse fim. Perdeu-se completamente o foco inicial e o mais grave é a utilização de menores para a consecução de objetivos desconhecidos. O conteúdo foi colocado em segundo plano e a forma de apresentação das reivindicações assumiu o papel principal. Responsabilizar o Estado pelo episódio de violência com resultados fatais no colégio ocupado, citando o previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) foi apenas uma estratégia da jovem para realçar o discurso, sabedora de que o acontecimento foi um fato isolado, sem conexão alguma com o movimento.
É necessário que o governo do Estado do Paraná tome providências para a desocupação imediata das escolas. Motivos para isso existem de sobra. Basta citar os transtornos causados com a mudança das sessões eleitorais e o adiamento do exame do ENEM, além da alteração do calendário escolar, postergando o encerramento do ano letivo para 2017. Não é possível que uma minoria radical e inconsequente continue a impor sofrimentos dessa magnitude à sociedade. O contribuinte paranaense exige a resolução definitiva desse impasse, ante a inexplicável inércia governamental. Por outro lado, em outros tempos, os pais certamente haveriam de brindar os filhos irredutíveis e teimosos como esses com vigorosas e sonoras chineladas na bunda. Hoje, alguns até apoiam esse tipo de comportamento. E o questionamento permanece: afinal, de quem é a escola...?