Movimento orquestrado
São mais de 440 escolas ocupadas no Paraná, cerca de 300 mil alunos sem aula e talvez três mil, pelo menos, sem poder fazer o ENEM no início agora de novembro. Situação que não deve ser muito diferente em alguns outros estados.
Trata-se de um movimento razoavelmente orquestrado, tal a sua amplitude, verificada em todo o país.
Seria ilícito perguntarmos quem se aproveita disso? Perguntarmos se não há algum partidarismo por trás de reivindicações estudantis que podem ser lícitas e mereçam de fato o apoio da sociedade?
De qualquer modo, a impressão que se tem é que não serão os alunos os maiores beneficiados. A julgarmos, por exemplo, pela estimativa de custo dessas ocupações – cerca de R$ 90,00/aluno. Quem irá pagar essa conta?
Em muitos estados, novos locais de votação, nas últimas eleições, tiveram que ser providenciados, face à ocupação de várias escolas. Implicando necessariamente num custo que terá que ser absorvido por algum órgão ou por alguém.
Em países mais sérios, aonde a seriedade em geral vem de casa e se consolida na escola ou com a vida, a partir dos “nãos” e de uma cobrança maior do comportamento social do indivíduo, quando num alojamento estudantil uma garota chama um garoto para estudar, é só para estudar mesmo. Em nossas escolas, inteiramente nas mãos de nossos estudantes, infelizmente não podemos garantir que durante todo o tempo de permanência dos alunos nos estabelecimentos, ainda que não seja na madrugada, eles estejam apenas discutindo a PEC 241 ou os meandros da Reforma do Ensino.
Não podemos jurar que acontece, mas não é demais desconfiar que a liberdade inteiramente irrestrita pode se tornar num pano de fundo para a licenciosidade. Dependerá da constituição moral (ou física) de cada um.
Além disso, há que se considerar a eventualidade de forças que operam por trás da condução da massa estudantil, mais interessadas talvez na compensação de interesses partidários frustrados que na busca de soluções concretas para o problema do ensino no país.
Rio, 03/11/2016