Manaus em três momentos
Ontem, 24 de outubro, Manaus completou 347 anos de fundação, 168 de elevação à categoria de cidade. Nesses mais de três séculos de existência, passando pela subordinação ao Grão-Pará e por críticas de viajantes oitocentistas, a cidade teve momentos particulares, emblemáticos até, que seriam decisivos para sua evolução.
A tumultuosa relação com o Grão-Pará: Manaus, através de uma fortaleza, surge de uma missão de colonização, combate a forças estrangeiras e extração de Drogas do Sertão no Rio Negro. Acredita-se que essa fundação tenha se dado em 1669. Nessa fortaleza foram aglutinados soldados portugueses com indígenas das etnias baré, passé, manau e baniwa. Do outro lado, já no século XVIII, sua vizinha Belém despontava como capital do Estado do Grão-Pará e Maranhão, mantendo relação direta com Lisboa, capital do Império Português. Funda-se a Capitania de São José do Rio Negro em 1755, estando esta subordinada ao Grão-Pará e com capital em Mariuá, atual Barcelos. Manaus, ainda um simples Lugar, teve uma evolução marcada por altos e baixos. Em 1791, quando se tornou capital da Capitania, ganhou fábricas de algodão, tecidos, anil, uma padaria, um açougue, uma olaria e um engenho. Manobras políticas vindas do Grão-Pará fizeram o Lugar deixar de ser a capital em 1799. Todo um projeto de transformação econômica, política e social, encabeçado por Lobo D' Almada, desaba graças a essa manobra. Restava esperar dias melhores com o Império…
Fidelidade à Dom Pedro I, a primeira tentativa de emancipação e os viajantes oitocentistas: As notícias dos desdobramentos políticos chegaram ao Norte com três meses de atraso. Mesmo assim, a população da Barra jurou fidelidade ao Imperador Pedro I, partidário da independência. Tentava-se com essa jura conseguir a emancipação do Grão-Pará. O objetivo não foi alcançado, na verdade, parece ter sido pior, pois a Capitania fora incorporada ao Grão-Pará na condição de Comarca de segunda categoria. Em 1832, diferentes camadas sociais da cidade e de outras cidades se rebelaram, criando a Província do Rio Negro, iniciativa sufocada por forças militares de Belém, durando pouco mais de quatro meses. Em 1848 a antiga Vila da Barra é elevada à categoria de cidade, em 24 de outubro. Acanhada, ela recebeu visitantes, na sua maioria naturalistas, de vários países da Europa. Em síntese, eles não gostaram do que viram, teceram críticas ácidas em suas publicações. Louis Agassiz, de passagem pela cidade em 1865, fez uma previsão que em poucas décadas se concretizaria: “Insignificante hoje, Manaus se tornará, sem dúvida, um grande centro de comércio e navegação”. É digno de registro o esforço dos governos provinciais em tentar dotar Manaus das condições necessárias para seu crescimento. Nomes como Tenreiro Aranha, Alarico José Furtado e Teodureto Souto não devem ser esquecidos.
O Alvorecer da República, as transformações econômicas, a crise e a Zona Franca: A República traria consigo o boom econômico da Amazônia. Manaus, aquela cidade que vinha de um passado colonial e imperial não muito favoráveis, teria, pelo menos, duas décadas de esplendor. Teatro Amazonas, Palácio da Justiça, Alfândega, Avenida Eduardo Ribeiro; obras monumentais que se tornaram símbolos de uma época mais amena. A partir de 1910, os preços da borracha começaram a se tornar instáveis, por causa do início da concorrência das colônias inglesas no sudeste asiático. A crise econômica se instalou com maior força em 1920 e, em 1929, com a quebra da Bolsa dos EUA, completou-se o quadro de ruína. Ocorre uma breve recuperação da economia entre 1942 e 1945. Entre os anos 1960 e 1970, o projeto da Zona Franca de Manaus permitiu um novo avanço econômico da cidade. Até hoje esse modelo de zona de livre comércio, com foco em indústrias, é a principal mola econômica não só da capital, como de todo Estado.
Manaus é uma cidade marcada por altos e baixos. Da colônia à República, conseguiu se reerguer várias vezes. Aliás, considero essa uma das principais características da História da cidade, a habilidade de enfrentar graves crises econômicas e políticas. Parabéns Manaus, 347 anos, que consiga se reerguer e se tornar cada vez mais humana.