O Brasil que não respira
Um Brasil que ginga, que samba, exporta a arte, joga bola para o mundo. Um Brasil que padece e morre, sem costumes, folclores e ídolos. Um futuro obscuro está à espera de nossa gente.
Veneramos a democracia. Uma luta de tempos, uma incessante batalha vencida, que hoje permite a maioria escolher representantes do povo. São engravatados, que têm a função de propor leis para o bem comum e fazer valer suas regras, que influenciam diretamente a rotina de cada cidadão.
Mas, algumas vezes a democracia é esquecida até por aqueles que lutaram por ela. Afinal, as mesmas propostas colocadas a mesa pelos parlamentares, passam longe dos direitos do cidadão e não são discutidas, interpretadas e votadas, por aqueles únicos afetados pelas medidas impostas.
Mas, não vim aqui promover críticas a este sistema de governo - que tem como funções principais a liberdade de expressão e as oportunidades de participação na vida política – apenas contesto uma assinatura na hora errada, seja ela de quem for, vermelha ou azul.
Explico: no último mês o governo federal lançou uma proposta de reforma do ensino médio brasileiro. Entre outras, uma das mudanças importantes determinada pela medida é que o conteúdo obrigatório em salas de aula será diminuído para privilegiar cinco áreas de concentração: linguagens, matemática, ciências da natureza, ciências humanas e formação técnica e profissional. Porém, conteúdos deixarão de ser obrigatórios nesta fase de ensino, são os casos de matérias como artes, educação física, filosofia e sociologia.
Ainda não entendi, não sei se tentarei, qual o objetivo principal da iniciativa federal. As explicações dão conta de que “em breve”, teremos resultados expressivos por aqui. Segundo os mediadores, a reforma dá opção para que as escolas ofereçam aos alunos cinco possibilidades de áreas nas quais queiram empregar mais tempo. É provável que a reforma entrará em vigor em 2018.
A educação, como o clichê diz, é o ‘futuro de uma nação’, mas, no Brasil me parece que não é bem assim. Agora não se pensa, não se joga, não se cria. Acaso os estudos, as pesquisas, os índices inimagináveis, apontam que é preciso algo ser mudado na educação dos jovens brasileiros, isso pode acontecer sem desprivilegiar nenhuma área.
A reforma proposta irá privar os adolescentes da prática esportiva - já tão precária – colocará fim a espetáculos por aqui – outros palcos abrirão suas cortinas mundo afora – desmentirá a poesia do universo - nada será como antes.
Estamos perdidos em um caminho em que a única saída é a própria educação. Os mesmos defensores da reforma, devem saber que o principal problema no ensino médio brasileiro é justamente o desinteresse do estudante pela sala de aula. Agora, coibindo um jovem em formação, sedento de expectativas e por informações, ao acesso a matérias que elevam seu conhecimento, instruem e ensinam a questionar o sistema em que ele está inserido, este problema irá piorar.
Ao menos obrigaram o “inglês” a estar presente nas grades educacionais. Vamos continuar criando mão-de-obra qualificada para os restaurantes lá fora. E ninguém terá subsídios para protestar. A explicação para a reforma no ensino médio brasileiro vale uma aula de Filosofia. Ficaremos sem resposta.
Kallil Dib – jornalista
www.kallil.com