O QUE É SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO?
Em ti e por ti, educação é teu nome.
Francisco de Paula Melo Aguiar
Inicialmente entendemos por Sociologia da Educação, como sendo um componente curricular obrigatório do desenho, grade e ou paradigma curricular dos cursos superiores de graduação em qualquer parte do mundo, inclusive no Brasil de Mãe Preta e Pai João, segundo a visão do cantor paraibano Zé Ramalho¹:
Caravelas de Cabral
Do tempo colonial
Do reinado, do momento
Da carta, do documento
Que fez a revelação
Nascendo a grande nação
Desse tempo tão barroco
Nesse Brasil de cabôco
De Mãe-Preta e Pai João
Brasil dos compositores
Dos poetas populares
Dos cantores e cantares
Dos teatros e atores
Dos amantes, dos amores
Que causaram sensação
Antes da televisão
Fizeram o sonho mais louco
Nesse Brasil de cabôco
De Mãe-Preta e Pai João
Brasil, país do futuro
Tá em desenvolvimento
Preparando o seu momento
De sair desse escuro
Na justiça que procuro
E da grande multidão
Que espera, com razão
Sua hora e seu troco
Nesse Brasil de cabôco
De Mãe-Preta e Pai João.
Assim como a canção popular transcrita, enfatizamos de que “em sociologia, significa o processo pelo qual o individuo se equipa dos meios indispensáveis para viver em sociedade: aprendizagem da língua, aquisição de hábitos de sociabilidade, aceitação de um código de conduta. Neste sentido se diz que a educação é um processo de socialização”. (ÁVILA, 1976, P. 601). E disso nenhum pesquisador professor e ou não tem dúvida.
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¹ Cf.: https://www.vagalume.com.br/ze-ramalho/nesse-brasil-caboco-de-mae-preta-e-pai-joao.html>. Acesso: 11 Out. 2016.
Podemos também mencionar de que a Sociologia da Educação é um componente e ou disciplina e ou matéria que vive em estudar a sociedade e seus processos sociais, tendo como tema o ensino e a aprendizagem do ser humano em qualquer parte do mundo, não importante sua origem, sua raça, sua religiosidade, sua sociedade, seu regime de governo e bem assim sua diversidade em termos de orientação sexual. De modo que visualizamos que tanto os processos e ou formas pelas quais os indivíduos se realizam e ou interagem uns com os outros, e ou ainda, as formas e ou maneiras de estabelecer suas relações sociais, sejam elas institucionais e ou organizacionais nos quais a sociedade se fundamenta e ou se baseia para prover e ou estabelecer educação a todos os seus integrantes, como as relações sociais que marcam e ou desenham o desenvolvimento dos indivíduos de todas as classes sociais envolvidas, de modo que neste processo complexo e social são analisados pelo referido componente curricular formal na academia, aqui compreendida por escola de qualquer nível de ensino.
Diante da evolução da própria humanidade, vislumbramos que a Sociologia da Educação, nada mais é que a vertente da Sociologia Geral que tem a responsabilidade de estudar a realidade sócio-educacional e bem assim os processos educacionais e instrucionais que levam a socialização dos indivíduos em cada parte do mundo, segundo seus valores morais, éticos, políticos, econômicos, religiosos e filosóficos. Podemos, portanto, enumerar como seus fundadores maiores: Émille Durkheim, Karl Marx e Max Weber, dentre outros não menos importantes. Ressaltamos de que foi Émille Durkheim, foi o primeiro pensador propriamente dito da Sociologia da Educação, através de suas obras: A Evolução Pedagógica na França, a Educação Moral e a Educação e Sociologia, onde ele afirma que a influência das coisas sobre os homens é bem diferente e ou diversa daquela que provém dos próprios homens, e afirma ainda que a ação dos membros de uma geração sobre os outros, difere da geração dos adultos que exercem sobre as crianças e adolescentes, portanto, é isso que ele chama e ou denominada de educação.
A importância da Sociologia da Educação começa justamente porque ela oportuniza a todos os pesquisadores e demais estudiosos desta área do conhecimento humano, compreender o fenômeno da educação que se verifica e ou se dá via o contexto de uma certa e determinada sociedade e que é resultado da própria educação. E até porque as teorias sociológicas oportunizam a compreensão e caracterização da inter-relação do ser humano com a sociedade e a educação. E até porque a educação é um fenômeno social (DURKHEIM,1975, p. 5).
A importância da Sociologia da Educação é evidenciada mundialmente através do comitê de pesquisas, criado em 1971 pela Associação Internacional de Sociologia.
No território brasileiro, Fernando Azevedo, foi um dos pioneiros e defensores da Sociologia da Educação, inclusive foi também um dos signatários do Manifesto dos Pioneiros do movimento denominado de Escola Nova, lançado no ano de 1932, em plena Ditadura Vargas, e além do mais ele foi o responsável pela Reforma do Ensino do Distrito Federal, em 1927, sendo portanto, considerado um dentre os intelectuais e fundadores em 1934 da USP – Universidade de São Paulo, ainda hoje considerada a melhor universidade brasileira e um das melhores do mundo. A consciência de Fernando Azevedo enfatiza que:
[...] a escola organizada em regime de vida e trabalho comum não deve tender a sacrificar ou escravizar o indivíduo à comunidade, nem prescindir os valores morais, na formação da personalidade humana. (PENNA, 1987).
Na realidade é importante estudar sempre sociedades as mais diversificadas do mundo, em termos culturais, porque também terão sempre uma diversidade de ferramentas em tais estudos e visões de mundos, pois, existe sempre a necessidade de mudanças de mentalidades além do mais de constatações sobre o problema educacional envolvendo a ordem filosófica e política em todo tempo e lugar, pois, isso nunca vai ser um privilégio desse e ou daquele país. Todos os países são diferentes em seus processos culturais em todos os sentidos da palavra e da vivencia humana.
Portanto, em conhecendo outras realidades culturais, sociais e educacionais se contempla a extensão real dos estudos promovidos pela sociologia. O que vale entender a compreensão dos pesquisadores que a educação acontece no ambiente denominado de sociedade, não importa qual, e tal fenômeno não acontece apenas na sala de aula, caracterizando assim, tal relacionamento que existe entre o ser humano, sociedade e educação, via as mais diversas teorias sociológicas. Então o ser humano diante tais argumentos se socializa dentro e fora da sala de aula, portanto, através da educação formal e educação informal.
O nosso pensador Durkheim, enfatiza que a Sociologia da Educação deverá servir para que os nossos futuros professores terem uma moral racionalista, sem influência religiosa e portanto, laica ao pé da letra.
O sonho de Durkheim tem sua consolidação preliminar através dos estudos de Marx e Engels, sobre as sociedades de seu tempo vivenciado e ou existencial, no momento em que criou uma relação entre educação e produção. E assim sendo, teve inicio o que chamamos de Revolução Industrial, no momento em que a educação politécnica foi criada, havendo, portanto, o casamento e ou combinação entre educação e trabalho produtivo, diante do fato que poderia nascer de tal entendimento e ou relacionamento um dentre os mais eficazes meios que viriam transformar a sociedade.
Diante da junção da educação profissional com os meios de produção, se justifica o nascimento da sociologia como sendo uma necessidade do sistema capitalista para se obter mais lucro no trabalho e bem assim na produção.
Desse modo os futuros alunos terão instrumentos específicos para analisar o tipo de sociedade onde estão inseridos, pois, somente com essa ajuda poderão pensar o lugar do sistema educacional na ordem social e bem assim compreender os vínculos existentes entre a educação e as demais instituições, como por exemplo: igreja, comunidade, família, dentre tantas outras igualmente importantes. Assim ficam claros os horizontes da prática profissional diante das relações sociais e históricas da contemporaneidade.
A educação é um caminho que propicia o pleno desenvolvimento da personalidade, das aptidões e das potencialidades humanas, advindo assim à finalidade principal que é o exercício da cidadania. E até porque o que chamamos de educação é mais do que apenas a transmissão de conhecimentos e a aquisição de competências valorizadas no mercado. Estão necessariamente presentes os valores, o caráter forjado, o oferecimento de orientações, a criação horizontal de sentidos compartilhados e além do mais introduz e ou inicia os indivíduos em uma determinada ordem moral (TEDESCO,2004, p . 34).
Os sistemas educacionais funcionam como verdadeiros meios de transmissão e de integração culturais, levando-se em consideração o contexto cultural in loco, dando contas das transformações ora experimentadas via o desenvolvimento das tarefas formativas em termos de sentidos e significados. Em pensando assim, a sociologia “examina o campo, a estrutura e o funcionamento da escola como instituição social e analisa os processos sociológicos envolvidos na instituição educacional”.(LAKATOS, 1979,p. 23).
Em síntese, Augusto Comte (1798-1857) deu o primeiro passo no sentido de criar a palavra sociologia e o seu significado e tal acontecimento se deu no contexto do Posivitismo, onde foi priorizado a noção de consenso apoiado em idéias comuns e apoiado pelo menos pela maioria da sociedade de sua época e prevalecendo a supremacia do todo sobre as partes. Em Émille Durkheim, vamos encontrar a análise das estruturas e das instituições sociais do seu tempo, onde o mesmo ver na educação o caminho capaz de dirigir a ordem e a estabilidade, segundo os valores éticos educacionais que fossem transmitidos nas novas relações de poder que surgiam no Continente Europa. É aqui que o fato social pode ser tratado como coisa. Por outro lado, Karl Marx (1818-1883), chama de um todo composto de várias partes a sociedade, como por exemplo: a economia, as idéias e ou cultura e a política. O homem se constrói e em torno do sistema produtivo da sociedade, organiza suas de trabalho, via a atuação da classe operária, para tanto é preciso que a prática seja orientada via a teoria. Marx não admitia a idéia de que a educação poderia promover por si mesma o que ele chamava de transformação que a sociedade necessitava, haja vista que atividade do educador era apenas parte do sistema, e assim sendo, não poderia promover a superação efetiva do modo e ou da forma de produção, desde que compreendido como um todo. A atividade humana tem seus limites. Por fim, vamos encontrar Max Weber (1864-1920), ao analisar a sociedade em que viveu, vai encontrar o sistema capitalista consolidado através do modo de produção, motivo pelo qual vai travar diálogo com o que pensa e a obra de Marx, vindo discordar em vários pontos, motivo pelo qual se afasta dele. Não criou uma nova teoria sociológica sobre a educação que pensava , no entanto, sua contribuição é importante para a percepção do papel e da função educacional, onde visualiza os sistemas educacionais, a ordem burocrática, a diversificação de formas de acesso a educação, o próprio processo educativo, sua ideologia, sua estrutura e funcionamento.
REFERÊNCIAS
ÁVILA, Padre Fernando Bastos de. Pequena Enciclopédia de Moral e Civismo. 2ªed., Rio de Janeiro: FENAME/MEC,1976.
DURKHEIM, Émile. Educação e sociologia. 10ª ed. Trad. de Lourenço Filho. São Paulo, Melhoramentos, 1975.
_______________. As regras do método sociológico. In: Durkheim. 2ª ed. Trad. de Margarida Garrido Esteves. São Paulo, Abril Cultural, 1983. (Coleção Os Pensadores).
_______________. Sociologia e Ciências Sociais. Trad. Inês D. Ferreira. São Paulo, DIFEL, 1975.
LAKATOS, I. O falseamento e a metodologia dos programas de pesquisa científica. In: LAKATOS, I. e MUSGRAVE, A. (Orgs.). A crítica e o desenvolvimento do conhecimento. São Paulo: Cultrix, 1979
PENNA, Maria Luiza. Fernando de Azevedo: educação e transformação. São Paulo: Editora Perspectiva, 1987.
RODRIGUES, Alberto Tosi. Sociologia da educação. 6.ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2007.
TEDESCO, Juan Carlos. Educação e novas tecnologias.São Paulo:Editora Cortez, 2004.