O QUE É FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO?

O modo, ainda que imaginário do educador ao relacionar-se com crianças, respeitando e valorizando suas infâncias é fazer Filosofia da Educação.

Francisco de Paula Melo Aguiar

Em um primeiro momento podemos mencionar de que todas as civilizações tiveram e tem sua própria educação, fonte de transmissão cultural informal e ou por meio de suas instituições escolares laicas e ou religiosas. Sempre foi assim e continuará sendo assim em qualquer parte da terra. Por outro lado, ressaltamos de que o ser humano nem sempre viveu fazendo reflexões visando o processo de educar. É a partir de tal entendimento que surge a educação de forma e ou modo espontâneo, via o que chamamos de senso comum, onde repetimos os costumes da comunidade que geralmente são contados e ou transmitidos e ou repetidos de geração em geração.

Então filosofar é preciso levando-se em consideração:

O que leva o educador a filosofar são os problemas (entendido esse termo com o significado que lhe foi consignado) que ele encontra ao realizar a tarefa educativa. E como a educação visa o homem, é conveniente começar por uma reflexão sobre a realidade humana, procurando descobrir quais os aspectos que ele comporta, quais as suas exigências referindo-as sempre à situação existencial concreta do homem brasileiro, pois é aí (ou pelo menos a partir daí) que se desenvolverá o nosso trabalho. (SAVIANI, 2000,p.23).

É importante mencionar de que a filosofia é acima de tudo uma reflexão ativa e radical, rigorosa e que representa conjunto, levando-se em consideração os problemas existentes pelo próprio ato da existência humana. Assim sendo, dentre todos os problemas da humanidade, estão os problemas relacionados à educação.

Diante de tal afirmativa o filósofo deve acompanhar, observar, planejar, criticar e refletir a ação pedagógica, visando promover a educação assistemática, segundo o aprendizado do senso comum para a educação sistemática, avanço e alçamento do nível da consciência filosófica.

Assim sendo, é indispensável à fundamentação teórica visando justamente a superação do espontaneísmo, haja vista que somente assim, eficaz e coerente a ação.

É salutar ressaltarmos que jamais poderemos separar o conceito de teoria do conceito de prática, por ser o próprio fundamento, o que vale dizer que a teoria nunca deve ser desligada da realidade existencial, uma vez que tudo deve partir dos contextos: social, político e econômico, focus da atuação.

Diante disso, é possível definir os valores e bem assim os objetivos orientadores da ação, tendo em vista que não se pode apenas teorizar sobre a educação como fato em si e por si, o homem em si e por si, o valor em si e por si. De modo que a partir da reflexão e da análise do contexto vivenciado e/ou real, o filósofo deve indagar sempre a respeito de que tipo de homem se quer formar, e quais são os valores emergentes que se contrapõem a outros valores já decadentes na sociedade.

Os currículos escolares, as técnicas e metodologias de ensino, devem sempre ser analisados e reavaliados pelo filósofo, visando julgá-los adequados e ou não para os fins propostos em cada planejamento de atividades pedagógicas.

O acompanhar de forma reflexiva das atividades pedagógicas impede justamente que si entre no beco sem saída chamado de tecnicismo, considerado como supervalorização dos meios para se atingir os fins desejados.

O ato de questionar direta e indiretamente do significado da educação para o ser humano, vem da filosofia que jamais permitiu e ou permitirá que a pedagogia se transforme em dogma e muito menos em algo parecido como adestramento e ou pseudo-educação. Assim exposta, a Filosofia da Educação denuncia as diversas formas ideológicas que usam a educação como instrumento de poder e ou de dominação. Algo parecido com a educação reprodutora da ideologia e/ou prática dominante, portanto, em oposição à educação transformadora que critica e faz nascer à liberdade de pensar e criar novas maneiras de se viver e interpretar o mundo em vivemos.

A função da Filosofia da Educação é acompanhar e fazer reflexão critica a atividade educacional, explicitando seus fundamentos, esclarecendo a contribuição e a tarefa das disciplinas pedagógicas em suas diversidades e além do mais, avaliar as soluções escolhidas, transformando assim a ação pedagógica algo coerente, lúcido e justo, inclusive mais humano.

Aqui no Brasil, somente a partir da primeira década do século XX tiveram origem as raízes da historicidade da Filosofia da Educação, através do discurso de professores que fizeram a inserir a referida disciplina em cursos de formação para o magistério.

Por outro lado, é bom ressalta de que as primitivas preocupações em inserir a Filosofia da Educação nos currículos datam do fim do século XIX. A partir de então foram surgindo a produção e divulgação da temática, verdadeiro e rico material filosófico pedagógico, tendo em vista as obras literárias, de religião, de poesia, de direito e até mesmo de assuntos relacionados com a política.

Não foram poucas também as preocupações de ordem econômica, haja visto o vinculo com o próprio rumo do Brasil, diante das transformações e ou mudanças internacionais, a exemplo do que ocorreu no Continente Europeu. Desse modo, surgiram uma diversidade de discursos e ou de idéias, que ainda que por analogia são semelhantes e ou não aos pontos discordantes do chamado desenvolvimento brasileiro.

Diante de tais transformações nacionais e internacionais, a educação, em presenciando e vivendo a trajetória dos acontecimentos, se pronuncia na fala de educadores críticos que não ficaram de braços cruzados, ao contrário procuram a forma mais adequada para transformar e acompanhar a nova visão de mundo ditada pelos novos tempos de sua historicidade.

E até porque o ensino de filosofia em qualquer nível escolar representa a configuração de um espaço real para a realização da experiência filosófica, tendo em vista que este é o lugar privilegiado para a provocação direta e indiretamente do pensamento, da reflexão, da busca, da imaginação, da compreensão, da criação e da criação de conceitos e conseqüentes significados.

Não faz pouco tempo que os filósofos gregos, dentre os quais Platão, viam na educação o caminho preciso e ou necessário para a comunidade avançar em termos de buscar uma cultural que fosse ideal, porque somente assim o senhor humano poderia alcançar o conhecimento e ou saber inteligível que o levaria ao caminho do saber. Foi aí que Platão entendeu que o papel da filosofia é justamente o de elevação da alma humana. Em outras palavras, em alcançando a intenção, o ato, a idéia do que seria a educação em termos de virtude, isso só possível através do ensinamento dos valores humanos mais nobres possíveis.

Diante de tal perspectiva, o modelo filosófico do brasileiro filosofar no ambiente educacional é caracterizado e constituído por duas formas distintas e ou seguimentos: pelo tradicional constituído pelo paradigma filosófico influenciado pelo pensamento de determinados autores clássicos da filosofia ocidental; e bem assim, pelo modelo progressista, via o reconhecimento da historicidade apresentada e isso requer uma educação inovadora e ou crítica.

Por analogia a tal contexto, assim sendo, a filosofia vai se pronunciando em termos reflexivos e críticos da vida dos cidadãos residentes na Polis, conforme Aristófanes, o faz em sua obra satírica:” As Vespas”. Ressaltamos que tal peça teatral, além de apresentada para o público, também fazia menção aos processos esperados e ou desejados, para serem seguidos de cidadão para cidadão. De modo que eram assim as defesas e/ou acusações pronunciadas e ou julgadas em praça pública, segundo a argumentação e ou na contra argumentação apresentada, pois, tais ferramentas eram necessárias a todos os cidadãos para “vencer” o processo. Assim não temos dúvida de que neste sentido, naquele momento, era nas discussões, no seu desenvolvimento argumentativo e na contra argumentação, que se encontrava a motivação para a reflexão filosófica na formação da cidadania. Vem daí desde antiguidade quando os primeiros filósofos gregos, nasceu a filosofia reflexiva, crítica e argumentativa, capaz do encaminhar para uma pedagogia vivencial.

Diante de tal reflexão e ou discussão tendo como palco a Europa do início do século XVIII e o seu fortalecimento no século XIX, diante das pesquisas e ou trabalhos publicados por: Rousseau, de Kant, de Hegel, de William James e posteriormente por Dewey, dentre outros filósofos e pensadores, responsáveis diretos e ou diretos pelo confronto dos pressupostos teóricos do racionalismo científico e da metafísica.

Com o passar do tempo, surgiram novas propostas de análise, de crítica e de reflexão filosófica, dentre as quais, por exemplo: Kant (1724-1804), que segundo o idealismo alemão, concebe a constituição do homem através da educação, tendo como base a razão prática. O conhecimento é algo relacionado à ação e ou agir do fazer humano em seu relacionamento com seus semelhantes. O conhecimento empírico – a posteriori, tem destaque fundamental na referida obra filosófica e além do mais defende o conhecimento puro – a priori, na obra: “A crítica da razão pura” (1781) e em “A crítica da razão prática”, publicada em 1788, onde enfatiza o o problema da moral. E até porque o pensamento de Kant, de Hegel e do evolucionismo motivavam os educadores, especialmente aqueles portadores de formação filosófica católica.

Foram diversos pensadores e manifestantes de outras concepções e ou visões de mundo entre os séculos XVIII-XIX e que suas obras tiveram repercussão no século XX, dentre os quais, podemos citar: Fichet, que defende a idéia de que a educação e a política, deve está correlacionada com a formação do homem, levando-se em consideração de que na filosofia e ou sistema filosófico existe uma teoria pedagógica e ou educacional.

É nesse cenário que surge a Filosofia da Educação, segundo sua historicidade no Brasil, nas décadas de 20 e de 30 do século XX, época em que foi implantada nos currículos das Instituições de Ensino Superiores de formação do magistério, onde assumiu dupla função: para preservar os fundamentos morais, segundo os princípios da metafísica e da teologia cristã; quando a Escola Nova remodelou seus conteúdos, segundo as novas tendências apoiadas nos princípios e preceitos científicos do novo modelo educacional. Assim sendo, tem razão Kant (2004), quando enfatiza que o ser humano é o único ser que precisa ser educado por que não nasce pronto. E por outro lado, a educação é administrada de várias maneiras e ou formas em diversos lugares e tempos.

Vamos encontrar o mito de Prometeu, criado por Platão no diálogo Protágoras, como sendo a melhor e bem assim a mais fácil maneira e ou forma para compreender a natureza e as tarefas da educação, conforme Abbagnano e Visalberghi (1999). O ser humano nasce inacabado e não pode viver sem a arte mecânica e sem a arte da convivência, porque tudo isso deve ser aprendido enquanto vida tiver (REBOUL, sd).

Muitas são as Teorias e ou Visões e ou Paradigmas Educacionais, dentre as quais podemos citar: Tradicional; Escola Nova; Renovada; Não-diretiva; Progressista; Literária; Libertadora e o Crítico Social dos conteúdos. E isso é concebível inclusive no tocante aos filósofos da educação, da Grécia aos nossos dias temos uma verdadeira diversidade de pensadores educacionais, dentre os quais citamos: A.S. Neill; Rudolf Steiner; Maria Montessori; Michel Foucault; Martin Buber; Karl Jaspers; John Dewey; Dermeval Saviani; Delfim Santos; Jean Piaget; Jean-Jacques Rousseau; Platão; Immanuel Kant; Paulo Freire e Erasmo de Roterdão.

Em síntese, diante das influências dos pensadores, podemos enfatizar de que “o caminho da Filosofia, para Platão, era o de conhecer a realidade por conceitos, até perceber que a própria realidade é, ela mesma, o mundo das idéias, dos conceitos puros, ou mais exatamente, das formas puras”(GHIRALDELLI, 2001, p.32-33). Ante o exposto não temos dúvida de que a Filosofia é a matriz de todas as demais ciências, inclusive da Ciência da Educação, por exemplo, pois, diante do imaginário social, político, familiar, religioso e educacional que a humanidade encontra-se envolvida em todos os sentidos educando suas crianças, jovens e adultos, haja vista que o ser humano nasce inacabado e morre inacabado. E até porque a Filosofia da Educação é o campo e ou área da Filosofia Geral que tem a ocupação e ou reflexão os diversos processos educativos, os diversos sistemas educativos, a própria sistematização da diversidade dos métodos didáticos, dentre os temas referentes e ou relacionados com a Pedagogia, enquanto Ciência da Educação. De modo que o espoco principal é a compreensão das relações do seu envolvimento entre o fenômeno educativo (via teoria e a prática pedagógica) e o dinâmico funcionamento da sociedade e seus diversos pensadores que dele se ocuparam e continuam a se ocupar em qualquer parte do mundo.

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REFERÊNCIAS

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_________________.Educação: do senso comum à consciência filosófica, S. Paulo, Cortez, 1985

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR
Enviado por FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR em 11/10/2016
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