UMA NOVA ÓTICA DO QUE É EDUCAÇÃO

O QUE É EDUCAÇÃO

Haidí Dias

William Vieira de Souza2

RESUMO

Este artigo fundamenta-se nas discussões sobre o que é educação e a serviço de quem ela está. Também faz uma análise sintetizada sobre o processo educacional e suas origens, especificando a educação de Roma e da Grécia.

Ele apresenta discussões sob o rumo de uma educação, num contexto capitalista, a serviços de uma sociedade de classe.

Desta forma, relata as trajetórias de uma educação e para onde ela caminha, favorecendo nossa compreensão, de o que é educação.

Palavras – Chave: Educação; Trabalho; Sociedade.

FALANDO DE EDUCAÇÃO

Não há modelo pronto de educação, ela acontece de várias formas. Desta maneira ela não se restringe apenas na escola. Ela acontece em vários espaços da sociedade, com ou sem conflitos. De modo que em várias comunidades ela está a serviço da classe dominante. A educação pode acontecer de forma livre ou organizada. Ela educa e deseduca o homem no seu convívio social. Para (DURKHEIM, 1973, p. 44) a educação acontece da seguinte forma:

O processo educacional emerge por meio da família, da igreja, da escola da comunidade, pois a ação exercida pelas gerações adultas sobre os que ainda não estão maduras para a vida social tem por objetivo suscitar o desenvolvimento na criança determinada numero de estados físicos, intelectuais e morais que dele reclamam, sendo por um lado a sociedade política em seu conjunto, e por outro, o meio especifico ao qual está determinado.

Desta forma é importante resaltar que o homem não se humaniza fora da sociedade. É um processo construído ao longo do tempo e acontece de forma diferenciada dentro da sociedade na qual ele esta inserida.

A LÓGICA DA EDUCAÇÃO

A lógica da educação está no trabalho, ele é o elo de ligação entre a teoria e a prática. Quando o homem produziu seu primeiro instrumento de trabalho começou a história da educação, o principio do desafio de aprender, que era o seu instrumento para o trabalho.

Neste sentido o trabalho vai ajudar a produzir ideias, e conhecimento. O conhecimento emerge através da necessidade do homem produzir e outras pessoas se apropriarem deste conhecimento, então nasce daí a ação entre o intelectual e o manual sobre a natureza. Brandão (2007, p.14) afirma que:

O homem que transforma, com o trabalho e a consciência, partes da natureza em invenções de sua cultura, aprendeu com o tempo a transformar partes das trocas feitas no interior desta cultura em situação sociais de aprender e ensinar a aprender.

Brandão em sua obra, relata que o homem domina em seu convívio relações de poder, cultura e simbologia. Desta forma o processo educativo está na relação de produção da existência humana.

Em tribos indígenas constatou-se que a aprendizagem se dá entre a troca de relações de adultos que sabem mais, com crianças, através do ouvir da imitação da troca de mercadorias na divisão de tarefas na caça, pesca nas cerimônias e rituais. Neste contexto existe uma grande relação de sabedoria. O viver coletivo é um grande relação de sabedoria, o viver coletivo é um grande foco de aprendizagem um aprende um com o outro na troca de experiências significativas.

Desta forma para o autor a aprendizagem acontece através da troca, da socialização formando então a endoculturação.

Então a educação aparece de forma informal e formal em toda as áreas de nossa vida, em casa, no passeio, nas brincadeiras, na escola, na igreja, humanizando o homem.

O processo educativo nas diversas sociedades tem por objetivo o maior humanização do homem como ser hereditário. Com isto, os novos gerações reproduzem o que no passado foi posto e assim neste processo vai acontecendo, os costumes, a cultura, o pensar reproduzido de geração em geração. Desta forma o trabalho constitui o homem, como uma ação educativa, ele produz e reproduz a sociedade, a história, a cultura. Ele é quem determina a herança cultural de uma geração para outra.

O SURGIMENTO DA ESCOLA

Em todo momento da vida o homem se educa, pois ele é um ser especial. Brandão afirma em sua obra que a educação pode ocorrer de várias formas: a educação igualitária, onde os saberes e as experiências são valorizados. E a educação da completariedade social, onde as desigualdades sociais predominam e é dado o poder do saber a uns. Elitizando assim a educação. Este tipo de educação leva em conta a mesma vivencia social de homens e mulheres de serem livres com o mesmo objetivo de terem a vida comunitária igualitária. Outro tipo de educação, imposta que a compartilha as mesmas ideias, as mesmas palavras enfatizando indivíduos com poderes para senhores e outros para escravos. Nesta perspectivas a educação ela pode libertar ou escravizar uma pessoa, segundo os interesses de uma minoria de classe.

Desta forma o autor enfatiza que a escola, o educador escolar é uma invenção nova da sociedade. Ela surge na Grécia e vai para Roma nascendo então deste momento todo nosso sistema de ensino. Vale lembrar que a escola surge a serviço de interesse, deixando de atender aos interesses coletivos para favorecer uma pequena minoria, reproduzindo a desigualdade social.

A EDUCAÇÃO GREGA

O principio de educação nasceu de uma comunidade que vivia uma vida coletiva. Só por volta do VI século A.C., que a educação deixou de ser uma prática coletiva, passando a ser uma educação dupla colocando em lados opostos os homens livres, de outro os escravos, ou outros tipos de trabalhadores que eram exclusos do direito de saber.

A escola surgiu da necessidade da democratização da cultura e da participação da vida pública. A escola aberta a qualquer menino livre da cidade- estado. A escola primaria surge em Antenas por volta do 600 A.C. Antes deles haviam lugar de ensino de metecos. (BRANDÃO, 2007, p.39)

Com a invenção da escola ela deixa de ser solta e passa a ter estrutura física. Sendo frequentada apenas pelos nobres. Segundo Brandão, (2007, p. 43)

Diferenças de saber da classe dos educandos produziram diferentes curiosos entre os tipos de educadores da Grécia antiga. De um lado desprezíveis mestre escola e artesão professores; de outro, escravos pedagogos e educadores nobres ou de nobres.

O pedagogo era um transmissor de saber, ele era um velho escravo que muitas vezes compartilhava a vida do dia a dia da criança, mais do que os pais. A divisão de classes começa com a escravidão, então a educação passa a ser ferramenta ideológica de poder. Só com a escravidão poderia ter o ócio. Ensinar e aprender passa a ser um espaço de divisão de classe.

Brandão, enfatiza que os sofistas transformaram a educação superior na formação de orador e não tinha o interesse da busca pela verdade. Neste contexto, a educação grega foi protagonista de um modelo de homem livre e sábio. Que modelava as crianças de acordo aos seus anseios. Desdenhado uma educação de modelo pessoal, onde não há mudanças, era altamente transmissora de conhecimento.

Para os gregos e exercício de viver e conviver, é que educação.

A EDUCAÇÃO DE ROMA

Em Roma, a educação da criança começa pelo pai e pela a mãe, a família está em primeiro lugar na construção do conhecimento e vida social fica em segundo plano. As comunidades em Roma eram tipicamente camponesas. Para Brandão (2007, p. 49). “A educação voltada de uma comunidade dedicada ao trabalho com a terra foi durante séculos uma formação do homem para o trabalho e a vida, para a cidadania, da comunidade igualada pelo trabalho”.

Desta forma que pesava a educação romana se diferencia da grega que prestigiava a educação da elite. Diante desta lista a educação doméstica romana aos poucos foi substituída pela “oposição da forma de educar dos pais, pelos mestres pedagogos que conviviam com as educando que acompanhavam, prolongando com eles o saber e a forma de consciência o que é sabedoria”. Brandão (2007, p.51). Então a família deixa de exercer papel fundamental na educação.

A escrita surgiu em Roma antes do sec. IV A.C, que era o ensino secundário. Porém a educação superou os avanços no século I a.C. Roma protagonizou dois tipos de educação. A primeira educação era a dos filhos de escravo, dos servos e dos trabalhadores artesão. Que era diferenciada do segundo tipo que era uma educação voltada para a leitura, onde estavam embutidos os senhores. Desta divisão surgiu a divisão de classe. Este modelo de educação presente nos dias atuais, em todas as partes do mundo, com um modelo de educação para a classe trabalhadora e outra para os senhores, que é a elite que é a miséria.

PENSANDO EM EDUCAÇÃO

A vida coletiva dos índios, a camponesa de Roma mostraram uma forma de aprendizagem significativa, evidenciando a troca de conhecimento, beneficiando uma convivência sem exclusão. Estava implícito ai, a socialização do conhecimento. Há várias gerações de poder, o homem cada vez mais deixa de lado a vida coletiva, e desenha na individualidade a serviços do capital. Para Brandão (2007), a educação grega e depois Roma se preocupava em formar cidadãos era, portanto uma educação para a comunidade. “E o que na verdade que separava trabalho do homem ocioso era a preparação para a vida política a serviço da comunidade’’. O que não acontece nos dias atuais, a educação está a serviço da elite. Para Durkheim (1997, p. 148).

O conhecimento está sempre incorporado por uma pessoa, é transportado por uma pessoa, é transportado por uma pessoa, é criado, ampliada ou aperfeiçoada por uma pessoa, é aplicado, ensinando, e transmitido por uma pessoa e é usado bem ou mal, por uma pessoa.

Na fala de Durkheim evidencia que o conhecimento ele pode oprimir ou libertar, nas diversas áreas do convívio humano na sociedade na esfera, social, cultural, comercial e econômica.

A educação começou a ser pensada separada do trabalho produtivo e dos políticos através de intelectuais ociosos como sacerdote, artistas e filósofos BRANDÃO (2007, p. 69)

é a partir deste universo de ideias pura da educação afinal é pensada como o exercício de educar sobre a alma do educando. Com o propósito de purifica- lá do mal que existe na ignorância do saber que conduz a salvação. A ideia que o homem pensa, faz pensar, constrói sistemas de pensamentos.

Brandão afirma que a ideia de uma educação pensada como a dos índios só foi repensada por Durkheim. Defendendo a prática de uma educação voltada para a socialização, o companheirismo, a cultura.

Hoje o que é existe é uma educação atrelada as capitalismo a submissão, a reprodução de conceitos a serviço de uma minoria. Para Mézaros (2005, p. 50).

Nenhuma manipulação vinda de cima pode transformar o imensamente complexo processos de modelagem da visão geral do mundo de nossas tempos, constituída por incontáveis concepções particulares na base de interesses hegemônicas alternativas objetivamente irreconciliáveis, independente ele quanto os indivíduos possam estar conscientes dos antagônicos estruturais, subjacentes num dispositivo homogêneo e uniformes, que funcione como um promotor permanente da lógica do capital.

Na fala de Mézaros denuncia que o saber se constrói com a unidade coletiva, com interesses comuns a todas. Ela não se processa pela reprodução de massa do capitalismo. A educação tem que acontecer de forma libertadora focando a integração e a valorização de ser, da afetividade, da cultura do homem, enquanto ser humano.

UMA SÍNTESE DA EDUCAÇÃO NO BRASIL

No Brasil a educação teve suas primordiais com os jesuítas, que tiveram a missão de catequisou os índios, enfatizando a transmissão do conhecimento. Só mais tarde com as cartas régias que o letramento veio tirar o teor dos conteúdos. Neste momento nascia a relação de estado com a educação.

Não diferente das outras civilizações. No Brasil a educação sempre teve características de submissão enfatizando a perpetuação do poder. Esta saga começou em 1549 atravessou o período colonial pombalino, joanino, imperial, o da republica velha, segunda republica estado novo, republica nova. O estado novo e militar. Estes períodos foram marcados por conflitos que definem a característica de um pais de exploradores. Principalmente tendo na escravidão um referencial para perpetuação do poder da elite. O trabalho escravo, durante muito tempo foi uma grande fonte de exploração de renda e opressão pelos senhores fazendeiros. O que favoreceu os desníveis da organização econômica cultural do Brasil.

Estudando as origens da educação no Brasil devo enfatizar alguns pontes resumidas de sua trajetória, ela começa com o letramento dos jesuítas sob os índios que propagou o ensino religioso. Esta época foi marcada o pela perda do território dos índios, da sua identidade, da sua cultura, do seus costumes como coletivos. Sendo estes submetidos a cultura do homem branco para que os mesmos fossem contratados a serviço de uma classe maior.

Logo depois vieram outros períodos como o pombalismo marcado pelo interesse da elite tendo o seu marco a escola a serviço do estado. Já o período joanino, a educação ficou em segundo plano, tendo na imprensa uma abertura de difusões do poder a serviço da política que agiam de acordo com seus interesses. A educação continuam estagnada no período imperial, pouco avançou apesar das reformas propostas pelo poder imperial. Em contra partida a republica velha levou a gratuidade do ensino primário, já evolução industrial marcou a segunda republica que protagonizou, um novo perfil do trabalho a especialização da Mao de obra a serviço do capitalismo. Neste período nasceu o ministério da educação e saúde. O estado novo deu ênfase as ensinos técnicos. Que capacitava o individuo para o mercado de trabalho. E logo depois veio o regime militar que foi marcado pelo ensino do Mobral, que tinha a finalidade de erradicar o analfabetismo. O ensino era meramente profissional tinha como objetivo o mercado de trabalho técnico. Na nova república nasce a LDB (Lei de Diretrizes e bases) em 1988 que veio direcionar os objetivos da educação vigente. A República Nova foi marcada por várias influências e projetos no ensino. Que contribuíram para fracasso e êxitos do ensino da aprendizagem.

A sociedade atualmente é marcada por um modelo de choques culturais, embutidos pela globalização, nesta forma de cultura, de educação está embutida interesses ocultos de uma minoria de classe. O Brasil tem uma educação marcada, com as mesmas características impostas por outros países em todo o mundo. Que é o de ofertar conhecimento para elite, oferecendo conhecimento básico para a classe trabalhadora.

SOCIEDADE, ESTADO, CLASSE E EDUCAÇÃO

A educação está a serviço do poder público, do estado e nas mãos das instituições privadas. Nesta relação de poder emerge o currículo oculto, que tem por de trás de cada intenção institualizada que a sociedade capitalista necessita o controle social.

Para Brandão a educação, é uma arma de controle, e o poder tem várias vertentes, para que de fato ela está em serviço. A educação a serviço do capitalismo. Ela foca o conhecimento transferido, atrelado a subordinação, a não criticidade, onde o homem é apenas o objeto a ser moldado de acordo a necessidade da época. Brandão afirma que Durkheim relaciona que cada sociedade impõe seu tipo de educação e que a mesma subordina a educação que os pais querem para seus filhos. Tornando-a atrelada ao serviço do estado.

Brandão enfatiza que a educação pode ser uma prática de reprodução do saber ou que a mesma educação é um meio de libertação da classe trabalhadora contra o capitalismo. Hoje imposto pela globalização. Diante da globalização nasceu outra necessidade de mercado. A educação permanente. Onde não é permitido, um individuo passivo, que não seja competitivo, aberto a mudanças, nesta forma de educação o homem deve estar em constante aperfeiçoamento de acordo a lógica de mercado. Para Mézaros (2005 p. 75) a educação continuada.

Ela é a parte integral desta última, como representação no inicio da fase de formação na vida dos indivíduos, e por outro lado no sentido de permitir um efetivo feedback dos indivíduos educacionalmente enriquecidos, com suas necessidades mudando corretamente a redefinição de modo efetivo, para a determinação global dos principais orientadores e objetivos da sociedade.

Neste contexto Mézaros compreende que este tipo de educação é uma das formas de amenizar o impacto do capitalismo. Ela faz com que indivíduos se auto gestue suas vidas. Com participação mas efetiva na sociedade vigente.

As políticas publicas existentes hoje continua sendo a da retalhação, a educação da elite é diferenciada da classe trabalhadora. É um ensino puramente técnico, de controle. Apesar de muitos grupos sociais como o movimento sem terra, educadores, cientistas sociais lutarem por uma sociedade mais igualitárias. O estado não está aberto por políticas de inclusão social, de igualdade de saber. Ele submete a classe trabalhadora com políticas compensatórias, não consolidando a democracia do saber. E mais a função do estado e de mera reprodução manter a ordem. A educação acontece como troca, dimensionando o trabalho e a necessidade de mercado.

Para que a educação aconteça de fato é necessário cultivar a pesquisa, o companheirismo, o constante estudo a vida coletiva, visando o bem estar do homem, em toda sua totalidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O homem é um ser social. E é através do trabalho que ele se constitui como um ser que pensa e se desenvolve nas suas relações. A educação é de fato importante para a socialização do homem. Nesta esfera de conhecimento, as origens da educação humana foram marcadas por um processo de construção coletiva. E logo depois de visualizada como um meio de perpetuação do poder.

Nas sociedades desiguais a educação funciona como instrumento de submissão do poder. Focando o letramento para elite e a compensatória para a classe trabalhadora. A educação do opressor visualiza um mundo de lucros, onde o saber coletivo não interessa a elite. O trabalho é para o trabalhador e o pensar é privatizado para os ricos. Não há interesse neste mundo capitalista para a transformação das práticas pedagógicas; que emancipem o homem como um todo e sim a preservação de conhecimento apressar de uma geração para outra.

É necessário que na luta de classes os desiguais, o camponês, os quilombolas, os índios, lutem contra a desigualdade. Esta luta só poderá acontecer com a criação de um novo modelo político para o Brasil. Onde a classe trabalhadora seja gestora de seu conhecimento, ciente dos seus direitos e deveres de forma igualitária e coletiva, visando a emancipação do homem em toda as suas esferas.

REFERÊNCIAS

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação. 49º ed. São Paulo, Brasiliense 2007.

DURKHEIM, Emile. Educacion y Sociologia. Buenos Aires: Editorial Shapire, 1973.

MÉSZAROS, Istoan. A educação para além do capital; tradução de Isa Tavares. São Paulo; Baitempo, 2005

William Vieira de Souza e Haidí Dias
Enviado por William Vieira de Souza em 30/09/2016
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