Horário de Médico
Nacib Hetti
Marquei uma consulta em Belo Horizonte para ser atendido às nove horas da manhã. A médica chegou as dez e vinte, falando que sua cadela teve uma indisposição e precisou ser levada a um veterinário. Disse isso com a maior naturalidade, como se não tivesse qualquer compromisso com o horário agendado com o cliente. Não precisa dizer que mudei para outro médico da mesma especialidade. Na verdade não adiantou muito, pois o novo médico também não é chegado à pontualidade, mas sempre pede desculpas quando ocorre um atraso mais acentuado.
A falta de consideração de alguns médicos pelos seus clientes é impressionante, sem qualquer coerência com o nosso respeito pelos profissionais da saúde. Eles pensam que só eles trabalham e que seus clientes não têm responsabilidade profissional e pagam consulta ou plano de saúde com dinheiro que cai do céu. Alguns médicos chegam a ficar de mau humor quando algum cliente reclama pelo atraso. Outros chegam ao requinte de marcar consulta com horário de trem inglês (11,35 hs, por exemplo), mas cumprem horário de trem nordestino. Não generalizo, tenho amigos médicos que cumprem, rigorosamente, os horários agendados. Infelizmente, poucos no universo da nossa capital.
Em algumas clínicas de consulta médica em Belo Horizonte o número de cadeiras na sala de espera é de até quatro vezes o número de médicos atendentes, deixando claro que você está condenado a esperar uma eternidade em um ambiente constrangedor. Quando o cliente é de plano de saúde a situação é piorada, pois o médico marca um único horário para cinco ou seis clientes. Se o plano paga mal aos médicos conveniados, a culpa não é do pobre doente, que também é sacrificado pelas mensalidades pagas.
O comportamento, aparentemente deseducado, da grande maioria dos médicos é, na verdade, produto de uma cultura própria, onde o profissional, pela nobreza da profissão, se coloca em um nível tal que não se sente com obrigações além daquela derivada do seu nobre trabalho. Soma-se, ainda, a falta de uma orientação das entidades envolvidas, tais como o Conselho Regional de Medicina, Associação Médica e as próprias universidades, que deveriam nortear o atendimento médico na sua relação com o doente, que é um indivíduo em condições às vezes dramáticas, e merecedor do respeito devido a qualquer ser humano, mesmo sadio.