O Conhecimento a partir dos sentidos
Por Joacir d'Abadia*
O conhecimento que vem para iluminar todos os demais conhecimentos não é aquele que se dá pelos sentidos do paladar, tato, audição e olfato, mas sim pelo sentido da visão. A visão é o sentido que resume todos os outros sentidos. O paladar, tato, audição e olfato têm cada um a possibilidade de levar o homem ao conhecimento. No entanto, estes sentidos destacados fazem com que o conhecimento seja dado ao homem, não pela forma espontânea de conhecer, mas que leva o homem a buscar o conhecer.
Para eu conhecer por meio daqueles sentidos devo querer conhecer. O conhecimento que vem por estes quatro sentidos é aquele que quero conhecer ou mesmo que busco conhecer.
A forma pela qual busco conhecer através dos quatro sentidos é dada pelo alcance destes mesmos sentidos. O alcance do conhecer do tato é um alcance de relação. Onde posso fazer uma comparação relacional entre uma superfície lisa e uma outra áspera.
Dentre a superfície lisa e a áspera existe o tato, o qual leva-me a conhecer aquela coisa querida. A coisa querida por meu conhecer não será outra coisa que aquelas superfícies lisas e ásperas. A ponte que vai estar entre as superfícies é o tato e o que é querido por mim é aquela coisa querida, a qual me possibilita conhecer.
A coisa querida não fica somente no plano do tato, ela vai também para aqueles sentidos que são queridos: paladar, audição e olfato.
A coisa querida é aquela que eu quero conhecer ou busco conhecer. Quando coloco algo em minha boca, tenho uma sensação de prazer ou desprazer. Isso depende do meu estado emocional?
Uma coisa pode ser bastante doce e causar um prazer para mim em um momento, mas a mesma coisa pode ser repudiada por mim em outro momento, visto que o estado emocional que me facultou a gostar de tal doçura não foi o mesmo para conhecer aquela mesma doçura em outro instante. O prazer e o desprazer não dependem do meu estado emocional. Este independe do que é querido por mim. Posso querer sentir doce uma pimenta, porém a pimenta arde.
O estado emocional vai aperfeiçoar aquela coisa que é querida por mim; mesmo que o estado emocional independe daquilo que é querido por mim.
Em um contexto bem amplo o sentido da visão é também a coisa querida, visto que posso ficar de olhos fechados e só abri-los quando eu quiser. No entanto, em um sentido restrito não é bem assim; a perspectiva muda! Aqui tem algo que posso buscar conhecer que é o fato de que enxergo quando abro os olhos e este fato não é querido por mim. Abrindo os olhos não tenho escolha se enxergo ou não, simplesmente, vou enxergar. Este fato de não poder escolher se enxergo ou não ao abrir os olhos é que posso falar que o sentido da visão (ou ato de enxergar) não é uma coisa querida por mim.
A forma de conhecer pela visão parte de duas realidades que andam em paralelo: ver e enxergar. Esta é distinta daquela outra. Logo, posso indagar: o que eu vejo? O que enxergo? Quais destas duas realidades possibilitam-me expandir o conhecimento de forma clara?
O sentido da visão faz com que o homem compreenda melhor a realidade que o circunda. Ele impulsiona um conhecimento geral, ou seja, o homem “vê” toda esta realidade que está à sua volta e por outro lado a visão o leva a ter um conhecimento particular e específico que é o enxergar.
Enxergar é compreender as coisas na sua individualidade; é ele que possibilita a ciência levantar hipótese sobre a realidade. O conhecimento dado pelo ver é aquele que engloba a extensão do universo com as coisas que a ele comporta; é o ver do senso comum que vê as coisas todas em conjunto.
O ato de ver é um tanto genérico, visto que percebe as coisas existentes não de forma unitária, particular, mas de maneira universal. Isto possibilita perceber a realidade sempre em relação com os seres que a compõem; jamais se percebe uma realidade na existência de maneira individual. Assim, para se conhecer bem as coisas se necessita usar ao máximo os sentidos.
*Padre Filósofo escritor