Processo histórico de constituição da forma escolar moderna
Para começar a dissertação sobre o processo histórico de constituição da escola moderna e a transição da educação até este momento, é importante lembrar como foi à educação na idade média. Segundo Philippe Ariès, na sociedade medieval, a delegação dos cuidados das crianças de até sete anos era realizado pelas amas de leite, cujo motivo era garantir o cuidado, a alimentação e livrá-las de contaminações e doenças. A partir dos sete anos, a criança era inserida na vida adulta, e desta forma, enviada à casa de outras famílias como aprendizes com o objetivo de aprender algum ofício e princípios de conduta, ou seja, a educação se dava através da aprendizagem, e esta não era um hábito pertencente apenas a uma camada da sociedade, mas sim propagado por todas as camadas sociais. Em sua obra, Ariès relata que a partir do século XV as realidades e os sentimentos da família se transformaram. Entre o período do Antigo Regime e a Modernidade começou a ter uma preocupação específica com a educação, e houve uma aproximação da família com as crianças, então, a família passou a se construir em torno delas. Com a transformação do sentimento familiar e da infância ocorreu à substituição da aprendizagem pela escola, pois apresentouse na época uma preocupação de isolar a juventude do mundo sujo dos adultos para mantê-la na inocência primitiva, e também, uma preocupação dos pais de vigiar seus filhos mais de perto. Com a ampliação do acesso a esses colégios apareceram os manuais de civilidade como traços da modernidade. O manual de civilidade foi associado ao ensino das crianças pequenas, e muitas vezes eram assuntos adultos, conselho de como tratar a mulher e criados, ou sobre como envelhecer sabiamente. Os bons pedagogos ensinavam não apenas as letras às crianças, mas também os bons costumes e as boas maneiras.
Agora, para relacionar a educação na Idade Média com o quadrinho do “Novo Einstein”, focarei na questão sobre o gênero. Nesta tirinha foi usada a figura feminina para retratar, talvez, um fracasso da educação. Na idade Média a extensão da escolarização às meninas não se difundiria antes do século XVIII e início do século XIX. Durante muito tempo as meninas foram educadas pela prática e pelo costume, mais do que pela escola. Tanto na época medieval como no quadrinho, a mulher era marginalizada, talvez por pensarem que a figura feminina não era/é capaz de frequentar uma escola, ou que servia/serve, apenas, para cuidar da família. Como dito anteriormente sobre a hipótese da tirinha ter retratado um possível fracasso escolar, farei uma análise deste assunto na época contemporânea. A forma escolar surgiu na França entre o fim do século XIX e início do século XX. Vincent, Lahire e Thin identificaram algumas características principais dessa forma escolar: A escola como um espaço específico, separado das outras práticas sociais, vinculada à existência de saberes objetivados; a escola e a pedagogização das relações sociais de aprendizagem estão ligadas à constituição de saberes escriturais formalizados; a codificação dos saberes e práticas escolares tornando possível uma sistematização do ensino e, deste modo, permitindo a produção de efeitos de socialização duráveis; a escola com instituição na qual se fazem presentes formas de relações sociais baseadas em um enorme trabalho de objetivação e de codificação (aprendizagem de formas de exercício do poder); e dominação da língua escrita para ter acesso ao saber escolar. Portanto a escola passou a ser como um espaço separado para formação intelectual e moral, cuja escrita era uma ferramenta importante, assim como as regras e organizações, as quais foram pensadas para educar.
A partir dessas informações, pode-se afirmar que as relações sociais passaram a ser compreendidas através das normas, pois essa invenção foi criada para garantir o poder do Estado. E é no ambiente escolar que se desenvolveu uma relação hierárquica de governo, cujo professor governa os alunos. Considerando o assunto tratado acima, consigo extrair algumas possibilidades de pensamento ao relacioná-las com o quadrinho do “Novo Einstein”. Outra possibilidade de análise é a crítica da atual educação. Na tirinha, é dito que a personagem nunca leu um livro (didático) e nunca viu o interior de uma escola. Essa questão pode estar relacionada com o fracasso escolar. A aprovação automática na escola, por exemplo, pode ser um exemplo da dificuldade que a educação está enfrentando atualmente, visto que, apesar da criança estar inserida no ambiente escolar, isso não significa que a atual forma de avaliação seja eficaz para a educação dos alunos, pois, as crianças tem ido para os anos seguintes sem aprender a ler e escrever. Como visto anteriormente, a escola é lugar de aprendizagem da língua, pois esta é uma ferramenta de controle, e educar o cidadão significa educá-lo para ser eficiente. Se não há a incorporação da linguagem neste ambiente, logo, a forma escolar torna-se ineficaz. Por conseguinte, se a criança não alcança esse objetivo da escola, torna-se o novo Einstein, um desconhecido. Para combater essa sociedade contemporânea, Bakunin acreditava que era necessário fazer uma revolução social, e esta deveria destruir a sociedade existente e instaurar o reino da liberdade. Para que isso acontecesse de fato, era preciso mudar a estrutura da sociedade capitalista. Ele acreditava que somente a destruição do Estado levaria a construção de uma sociedade igualitária e livre. Bakunin acreditava também que a educação deveria participar neste projeto da construção da nova sociedade, pois somente assim haveria a “libertação” das massas operárias, e que este tipo de
educação seria um dos caminhos para conquistar a igualdade entre os homens. Ele defendia, portanto, a educação integral, de modo que os trabalhadores tivessem acesso ao conhecimento produzido pelo desenvolvimento científico, porque, segundo ele, os progressos feitos pela ciência sempre atenderam as classes privilegiadas e ao Estado. Os progressos científicos só eram disponíveis à elite, mas ele defendia que todos os trabalhadores deveriam desenvolver simultaneamente o trabalho manual e intelectual. Bakunin afirma:
Na instrução integral, paralelamente ao ensino científico ou teórico, deverá existir necessariamente o ensino industrial ou prático. Só assim será possível formar um homem completo: o trabalhador que compreende e que sabe. (P. 44)
Este autor reconhece que através da educação é possível formar as pessoas de acordo com as necessidades sociais. Para finalizar, acredito que consegui expor a historicidade dos processos educativos citados ao longo do trabalho, e apresentar sobre diferentes instituições educativas, como na Idade Média, na sociedade moderna e contemporânea. Considerando o quadrinho como fio condutor da dissertação, creio que atingi o objetivo de associá-lo com os temas abordados aqui e fazer uma análise crítica.
Referências Bibliográficas:
P. Ariès. Da família medieval à família moderna. In: História Social da Criança e da Família. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.
VICENT. Guy; LAHIRE, Bernard & THIN, Daniel. Sobre a história e a teoria da forma escolar. Educação em revista, 2001.
BAKUNIN, M. A educação Integral. In: O Socialismo Libertário. São Paulo: Global, 1979
Bruna Nakamoto
Estudante de Pedagogia
São Paulo - SP