A Ciência a Serviço da Morte

  Foi necessário. O homem para poder sobrevir não podia ater-se a si mesmo. Para se alimentar, para resguardar sua pele dos rigores do tempo, para enfim resistir suprindo suas carências, ele precisou compreender o mundo ignoto que o cercava, de reduzir aquela realidade extrínseca à sua capacidade de explicação. Só então, ele poderia pôr na natureza sua marca de posse e fazê-la servir-lhe. Usando a si mesmo como sua maior arma partiu para a compreensão de si mesmo, pois cada mistério que ele solvia lá fora, arrancando da natureza os seus segredos, era um novo aspecto  que acrescentava a si próprio. E chegou o momento em que não bastou mais a simples observação sensorial dos fatos naturais: e chegou o momento em que explicar os fatos naturais pela magia tornou-se incompreensível. Então nasceu a ciência. 
   Para lutar contra as forças naturais e adquirir o poder de dominá-las, o homem precisou prever os fatos, os fenômenos — aquilo que aparece — com o objetivo de pesquisar aqueles que eram vantajosos e úteis e evitar ou anular os que eram prejudiciais.
   A mera constatação dos fatos recolhidos pela observação não permitiria a existência desse poder; se se pretendesse fazer uma longa enumeração de todos os fatos, esta seria inextinguível e sempre incompleta, mostrando-nos fenômenos incoerentes, sem ordem ou relação entre si. Para prever e para poder, é necessário compreender os fatos, e a ciência consiste na intelecão dos fenômenos.
   "Ciência, donde previdência, previdência donde ação", disse Augusto Comte.

     O estudioso grego foi o primeiro cientista, pois ele procurou compreender e prever, objetivando adquirir poderio sobre os fenômenos do mundo físico.
    A primeira preocupação do pensador foi procurar explicar a origem do mundo. Tales, Anaximandro, Anaximenes e outros se debateram na escuridão de seus limites à procura da causa da existência de todas as coisas. Cada um julgou encontrà-la, mas jamais essa causa foi suficientemente lógica e sensível para obter aceitação geral e muito menos compreensão.
   Para atingir a comprensão de um fato, sempre se procura a causa , o porquê desse fato, dizia Aristóteles, isto é, procura-se aliar esse fato desconhecido a um outro mais conhecido, que nos permita axplicá-lo.
   O homem se sente satisfeito desde que encontre a causa das coisas que o preocupam.

    —  Por que aquela lebre corre? Porque ela percebe, pelos sentidos, a proximidade do inimigo. Nós relacionamos também o movimento da máquina à dilatação do vapor, o calor à combustão do carvão, e assim por diante. O homem se sente satisfeito quando pode reunir em apenas um pensamento um número muito grande de fatos, cuja aparência seja diversa. O fisico dá uma explicação clara quando reúne sons diferentes, como o som da voz humana, do violão, da campainha e os explica como sendo vibração do ar.  O astrônomo reúne em uma mesma teoria, a da gravidade universal e o movimento dos planetas e a quedas dos corpos.
   O desenvolvimentos das potencialidades da inteligência e qualidades morais, adquirido por séculos de cultura, de luta incessante, de abnegação pessoal, é posto a serviço de uma atenção gradativamente mais perfeita e voltada para garantir ao homem melhores condições de vida.
    Contrariamente, a humanidade vive, hoje, o pesadelo do terror, à espreita de novas vítimas, inocentes quase sempre, da guerra biológica, urbana, invisível, tão despresível quanto a visível, destruindo o labor incansável da inteligência humana,e de homens que pensaram a ciência como instrumento de vida e de paz. 
Robeto Gonçalves
Escritor
RG
Enviado por RG em 09/08/2016
Código do texto: T5723628
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