Qual o Papel do Professor na Formação do Indivíduo?

“Para algumas pessoas, o mundo tem apenas prisões e guardas, o poder e a ausência dele. Temos a escolha: queremos, ou não, ter o poder? Todo mundo quer ter poder. A questão é o quanto estamos dispostos a pagar e o que estamos dispostos a fazer para passarmos de impotentes a poderosos... para muitas pessoas, é o bastante. Estão dispostos a transgredir valores pessoais para cruzar essa linha. ” – Dr. Philip Zimbardo

SOMOS CAPAZES DE COMPREENDER A FORÇA DAS PALAVRAS?

Acredito que o ponto inicial que diz respeito ao docente na sociedade é a qualidade de seu ensino. A capacidade do professor dita o ritmo do aprendizado de seus alunos, e assim como dispõe de uma posição de importância, possui o poder de não exercer sua neutralidade. E existe essa tal neutralidade no ensino? Não, o que existe é a liberdade de escolha. Liberdade essa que se caracteriza através do ensino diversificado. Os Mestres e Doutores são exemplos que elucidam bem essa situação, devido ás suas inclinações em suas áreas de pesquisa.

Por exemplo, um professor de Gramática Cognitiva-Funcional pode muito bem ensinar sobre Gramática Gerativista E Gramática Funcional, fornecendo uma base de estudos sólida para que o discente possa convergir para o que mais lhe apetece. A inclinação em sua área não necessariamente lhe diz que deva fazer um panfletário de sua linha de pensamento, e é pensando assim, acredito, que se adquire o senso de direção educacional que lhe provém as ferramentas necessárias para o ensino essencial.

Há, é claro, docentes que deixam-se inclinar por essa própria tendência, aplicando seus próprios conceitos no ensino e criando seguidores de forma inapropriada. Seja para o exemplo que veremos a seguir, ou para o desenvolvimento de um professor incapaz de captar a atenção de seus alunos.

O professor tem um papel fundamental na formação dos indivíduos e da sociedade, e na tonalidade “correta”, suas palavras podem gerar uma revolução. Professores são capacitados para exercer esse poder e “empoderar” outros com habilidades similares. Tanto para o que é bom, quanto para o que é ruim. Mas dentro desse mesmo âmbito, o conceito de voz ativa funciona para qualquer um que tenha a capacidade de entreter, encenar e modificar pensamentos.

A ONDA FASCISTA E SEU PODER DESTRUTIVO

Um dos maiores exemplos do poder destrutivo que um professor tem pode ser visto no filme Die Welle (A Onda, 2008), onde se conta a história real de um professor que decidiu alterar sua abordagem didática. Em um dos seus ensinos sobre Autocracia, ele decide ensinar para os alunos que a força vem através da disciplina, aplicando práticas do regime totalitário durante as aulas. Os resultados tomam uma direção inesperada, e a inocência se torna o prelúdio de uma tragédia.

O conceito histórico é marcante na obra, e pontua bem os principais agentes contribuintes da política autocrática. É interessante observar que ao fazer isso, podemos perceber como um professor que conhece bem do assunto é capaz de trabalhar com seus alunos. Os pontos principais abordados mostram que o docente tem a capacidade de utilizar as ferramentas necessárias para a obtenção de um resultado satisfatório, captando aquilo que é mais almejado dentro de qualquer prática de ensino: a vontade (do aluno) de aprender.

O filme traz isso à tona quando mostra a facilidade com que os alunos entraram na onda, deixando-se levar pelos pensamentos do professor sem questionar (a maioria deles, pelo menos) a veracidade da causa a que estavam se juntando. E é exatamente nesse ponto que reside o perigo.

A intelectualidade do docente é sua maior ferramenta e que deve sempre trabalhar a seu favor no desenvolvimento educacional que aplica, e apesar da impossibilidade de utilizar a neutralidade, é possível – mais do que isso; é necessário – trabalhar com a pluralidade educacional.

NÓS, EM SOCIEDADE

Cada ser humano se desenvolve de maneira única. A forma como assimila as informações que recebe e como transforma aquilo em sua concepção pessoal é objeto de estudo há muito analisado, e é nesse contexto que se destaca o papel de docente.

Toda e qualquer informação recebida é sintetizada baseada nas experiências vividas, na personalidade e na concepção que o indivíduo tem da sociedade a qual se integra. E dentro desse âmbito entra o trabalho de conscientização organizado pelo professor, que instrui, educa, ensina o aluno a entender aquilo que recebe, transformando o conhecimento em pilares para a sustentação do “eu” em construção. Na citação de Sêneca “A educação exige os maiores cuidados, porque influi sobre toda a vida”, é perceptível essa intenção de ensino como forma de desenvolvimento, enfatizando o cuidado necessário nessa transmissão.

Em uma melhor analogia, podemos usar o exemplo da árvore em crescimento. Quando iniciamos nossa vida escolar, somos sementes enterradas em uma terra de fertilidade. O papel do professor como jardineiro não é delimitar o terreno em que nossas raízes crescem e muito menos nos enclausurar em gaiola para que nossos galhos não se dispersem para além de perímetros. Seu papel é apenas regar e deixar que recebamos os nutrientes necessários para o desenvolvimento. Não se deve dizer para onde árvore cresce, apenas regá-la e deixar que a natureza faça seu trabalho.

Concluindo, é possível dizer que o professor é um jardineiro e os alunos suas sementes (fazendo uma comparação bem clichê). São responsáveis pela orientação de cada indivíduo, desde sua base até sua vida adulta. Têm o poder de formar opiniões, manipular e transformar. Há força no papel do professor na sociedade, força essa que se perde quando o mesmo não é capacitado dentro dos princípios básicos de todo educador, ou simplesmente encara a função como apenas uma profissão. Ser professor é um trabalho digno como qualquer outro, mas que antes de tudo, deve ser exercido por cidadãos dispostos a contribuir para o desenvolvimento social, a modo de evoluir os outros e a si próprios.

Paixão > Dever > Profissão.