Heródoto e Tucídides: Uma breve comparação

Heródoto de Halicarnasso é autor das Histórias, uma série de relatos reunidos em 9 livros, sendo 6 voltados para o desenvolvimento do Império Persa e a descrição dos povos que o formavam; e 3 voltados para os conflitos entre gregos e estrangeiros. Tucídides escreveu sobre a Guerra do Peloponeso, conflito entre atenienses e espartanos, do qual foi protagonista. Enquanto Heródoto volta sua atenção para a descrição de vários aspectos dos lugares que visitou, utilizando conhecimentos de hidrografia, geografia, botânica etc, Tucídides se atém a descrever e procurar as causas de um único evento, nesse caso, a Guerra do Peloponeso.

A obra de Heródoto, ainda que produzida de forma “racional”, ainda possuía um vínculo religioso, diferente da de Tucídides, que não sofre “interferência” divina. Como metodologia, Heródoto utilizou fontes materiais e, principalmente, a observação direta e os relatos de terceiros. Para o exame destas fontes, recorria à análise crítica e, quando não tinha certeza da veracidade destas, ao ceticismo. Tucídides também utilizava informantes (períodos da Guerra do Peloponeso que não vivenciou diretamente), mas sua metodologia é mais complexa, com o objetivo claro de garantir a veracidade de sua narrativa, com a crítica aos documentos, aos discursos e a verificação da verossimilhança entre eles.

A concepção de história de Heródoto é pessimista. As ações do homem são controladas por forças divinas e, em sua narrativa, são feitas menções a oráculos, sonhos e previsões. Heródoto acredita em uma História Cíclica, na qual a sociedade se desenvolve através de ciclos que se repetem de tempos em tempos, e as divindades garantem a manutenção, por meio da punição, da ordem. Tucídides, que narra um evento militar, tem uma concepção de história que valoriza o homem, separando este da visão divina. Decisões políticas, econômicas e militares, decisões humanas, são o motor da história.

Heródoto escreve seus relatos em prosa, simples e direta, mais organizada que a dos logógrafos, com vocabulário simples e sem artifícios retóricos e estilísticos. O dialeto grego utilizado é o jônio. Tucídides tem a escrita mais refinada, no estilo paratático e em prosa. Utiliza o dialeto ático com influência do jônio, uma herança da prosa de Heródoto.

Entre o nascimento de Heródoto e Tucídides existe uma diferença de 35 anos, sendo o segundo autor mais jovem que o primeiro. Ambos, de famílias abastadas, foram exilados por motivos políticos. Heródoto recorreu aos relatos de terceiros e à análise de fontes materiais para construir sua obra. De um mundo ainda impregnado de aspectos míticos, é influenciado por uma visão fatalista da história, controlada por forças que ultrapassam a compreensão humana. Tucídides, protagonista de boa parte do evento que narrou, analisa as fontes e os relatos disponíveis de forma crítica, valorizando os feitos humanos como pano de fundo da história.

Heródoto, por suas digressões sobre hábitos, costumes e outros aspectos dos lugares e povos que conheceu, é considerado um historiador cultural; enquanto Tucídides, buscando as causas de uma guerra, é um historiador político e militar.

FONTES:

LÓPEZ, José Antonio Caballero. Inicios y desarrollo de la historiografía griega: mito, política y propaganda. Madrid: Editorial Sintesis, 2006.