A atual Decadência da Civilização Ocidental
Vamos imaginar o Ocidente como uma grande casa, imponente e bem construída. Toda construção de porte elevado se sustenta em sólidos pilares, construídos com materiais resistentes. Essa não é uma construção erguida de um dia para o outro. Ela levou milhares de anos para ser concluída, através de sacrifícios humanos e da formulação fundamentos morais e éticos duradouros. Uma casa é feita para abrigar pessoas. Imaginemos, agora, que essas pessoas estão, aos poucos, destruindo sua proteção maior, desde a base até o teto. O resultado trágico será a queda da casa e o abandono de seus moradores.
Com essa breve analogia, inicio aqui uma crítica à atual situação do Ocidente, que posso chamar de Decadência da Civilização Ocidental. A crítica irá levar em conta cenas que vemos se tornar cada vez mais frequentes: a perda do valor da vida; a destruição de valores morais e éticos; a ambição pelo poder político dentro das instituições públicas e privadas; o desinteresse pelas artes, leituras e reflexões críticas; o desrespeito aos mais velhos e às pessoas em geral, a destruição de instituições milenares que, mesmo com seus excessos durante a história, sustentam o Ocidente; e o ataque às liberdades individuais. Sabemos da importância e dos benefícios que a manutenção de fundamentos e instituições trazem para diferentes culturas. Não é atoa que temos uma História de mais de 2000 mil anos. O texto poderia ser intitulado A Decadência da Humanidade, mas, como faço parte do Mundo Ocidental, detentor de conhecimento de causa, prefiro não "opinar" em outras regiões do globo, que merecem ter suas particularidades culturais, políticas e econômicas respeitadas.
Por onde começar? Por dois dos pilares mais importantes e sólidos de qualquer civilização: suas manifestações culturais e religiosas. Não temos mais o ócio criativo do qual nossos antepassados desfrutavam. Temos apenas o ócio. Leituras densas e de qualidade ficam de lado, sendo preferíveis leituras rasas, fórmulas prontas, soluções imediatas. Nos tornamos mais sensíveis em relação ao conteúdo de obras e às verdades nuas e cruas do mundo. Recentemente, alunos da prestigiada universidade de Columbia, nos Estados Unidos, pediram a proibição de obras de autores clássicos como Hesíodo, Aristófanes e Ovídio, por abordarem temas como sexualidade, morte, violência e religião. A atual geração se tornou infantil, sem preparo para a dura realidade que é o mundo, realidade essa estudada e declamada pelos autores antigos.
O Cristianismo, sem dúvidas, teve e ainda tem um papel crucial na construção do Ocidente. Só em pensarmos nas Grandes Navegações da Idade Moderna, nas Universidades nascidas no seio das catedrais medievais e na criação do Método Científico, pelas mãos do monge Roger Bacon, vemos como a cristandade é um pilar a ser preservado. Devemos, claro, aprender a separar e reconhecer os pontos positivos e negativos de uma instituição como a Igreja de Roma, uma criação humana, passível de erros. Observamos, nos dias de hoje, como cresce, seja por interesses políticos ou ideológicos, o desejo por apagar as contribuições do Cristianismo na formação da Civilização Ocidental, seja por pessoas sem religião ou de outras crenças. A destruição desse legado teria um resultado desastroso do ponto de vista histórico. Obs: não sigo uma religião e nem tenho crenças em uma ou mais divindades, mas sei reconhecer e dar os devidos créditos para bons trabalhos. Isso lembra uma frase do meu professor de Historiografia Geral: Mesmo com todos os erros do passado, em suas instituições, o Ocidente ainda consegue, diferente de outras regiões, garantir a liberdade de pensamento para seus habitantes. O Cristianismo, para o Ocidente, é outro pilar que deve ser protegido.
O homem foi percebendo, ao passar dos milênios, seja através da auto reflexão ou da contenção dada pela religião, que tirar a vida de seu semelhante é errado. Apenas em guerras, quando sua própria vida está em jogo, é que a defesa se torna necessária. Ainda assim, com tantos ensinamentos morais e éticos, leis, punições severas e privações de liberdade, a vida, a deriva em um mar de subjetividade, é jogada em uma lata de lixo como uma simples embalagem. Como impedir que ela, um bem único, sem retorno quando retirado, não seja descartada. Uma solução prática não existe: Em conversa com o historiador amazonense Coronel Roberto Mendonça, ele relatou que, durante sua juventude, as pessoas temiam duas instituições e suas figuras: O padre, autoridade religiosa; e o delegado, autoridade civil. Em síntese, o medo seria a fronteira que impediria o homem de cometer crimes, seja por causa da punição temporal ou por causa da punição espiritual.
O poeta romano Petrônio, em sua obra Satíricon (século I d. C.), exclamou: "Que podem as leis se o ouro é o senhor absoluto? E se a pobreza jamais consegue triunfar? E até mesmo aqueles que ostentam o magro alforje dos Cínicos, muitas vezes por belas moedas negociam a verdade. É, pois, um negócio o austero e civil tribunal, e o juiz não faz senão assinar o contrato". Uma denuncia do século I de nossa era parece ser capa de um jornal dos dias atuais. A busca por riquezas e poder avança sem freios dentro das instituições públicas e privadas. Escândalos em monarquias na Europa, em governos na América Latina e em instituições privadas nos fazem repensar na política que vem sendo aplicada no Ocidente. As partes interessadas nas facilidades oferecidas pelo Estado se valem de partidarismos e ideologias, que acabam cegando a coletividade, que prefere defender apenas um lado e esquece que o grupo que lhe rouba é bastante organizado. A política no Ocidente é um pilar que já deveria ter sido demolido e reconstruído, mas por favorecer certos interesses, continua o mesmo.
A formação de uma família, seja ela tradicional ou moderna, patriarcal, nuclear ou matriarcal, deve ser pautada em princípios como a cumplicidade e o respeito entre seus membros. A família Ocidental sobreviveu através de uma hierarquia, no qual os ensinamentos das gerações passadas é transmitido através das palavras dos mais velhos. Infelizmente, temos jovens que bradam por mais direitos e espaço dentre dessa unidade social doméstica, e esquecem de seus deveres. Uma família bem estruturada, sadia, com o cumprimento, entre seus membros, de direitos e deveres, é mais um pilar a ser mantido para o bom andamento e perpetuação da Civilização Ocidental.
O Ocidente vem passando por profundas transformações. Seus valores vem sendo abalados diariamente, seja por acomodação da população, cega por partidarismo, conivência ou ideologia; e pela nocividade que se instalou em suas instituições mais importantes. Nós, habitantes dessa parte do mundo, seja na Europa ou em alguma antiga colônia na América do Sul, Caribe e América do Norte, percebemos como esses abalos estão se tornando cada vez mais negativos. A manutenção e proteção dos pilares Cristianismo, Família, Propriedade, Moral e Ética, Respeito, Cultura e Liberdade permite a sustentação, como foi dito na introdução, de nossa moradia (o Ocidente).
Estamos condenados à civilização. Ou progredimos ou desaparecemos - Euclides da Cunha.