Estudos sobre o Mundo Grego - da Antiguidade ao século XVIII
A Grécia Antiga, região geográfica compreendida pelo sul dos Bálcãs (Grécia Continental), a Península do Peloponeso (Grécia Peninsular), as ilhas do Mar Egeu (Grécia Insular) e as colônias estabelecidas na Ásia Menor e Península Itálica (Magna Grécia), sempre despertou a curiosidade de especialistas e amadores, seja por suas fantásticas ruínas históricas, ainda visíveis em algumas cidades da Europa, a língua, a Filosofia e a literatura, que influenciaram fortemente desde sábios da Idade Média até autores contemporâneos. Os romanos, conquistadores dos territórios gregos, demonstraram um forte interesse por essa sociedade.
Antes de incorporar os territórios gregos ao seu império, Roma já possuía uma forte influência da cultura helênica, transmitida através de trocas comerciais e de batalhas travadas entre o Império e diferentes cidades-estado gregas. A conquista apenas veio para consolidar um processo que já estava há muito tempo em andamento. Como Roma preservava a língua, a religião e algumas instituições políticas dos territórios que conquistava, o helenismo sobreviveu e passou a fazer parte da sociedade romana. Artistas, médicos, professores de Filosofia e Retórica, alguns como escravos, ensinavam romanos abastados. Atenas permaneceu com a sua posição de centro intelectual; e os romanos cultos dominavam e liam a língua grega. Os deuses romanos eram semelhantes às divindades helenas, diferenciando-se apenas nos nomes.
Foi ainda na Antiguidade que surgiram os primeiros estudos sobre a Grécia, estes produzidos por romanos e gregos de cidadania romana. Plutarco (46 d.C. - 120 d.C.), um grego de cidadania romana, viajou por muitas cidades gregas sob jugo romano, produzindo uma obra variada, destacando-se Vidas Paralelas, um compêndio de biografias de grandes personagens greco-romanos. Ao abordar a vida dos personagens espartanos Licurgo, Lisandro, Agesilau, Ágis e Cleômenes, Plutarco nos apresenta a evolução histórica da cidade de Esparta dos tempos arcaicos até o helênico¹.
O geógrafo e viajante grego Pausânias (c, de 115 d.C. - c. de 180 d.C.) elaborou um Guia da Grécia, no qual descreve monumentos, templos, obras de arte, história, geografia, costumes e mitos da Grécia Continental e do Peloponeso. Além de visitar pessoalmente cada uma dessas cidades, Pausânias teve como fontes relatos de viagem e autores gregos anteriores. Sua obra é dividida em dez livros: 1-Ática e Megárida, 2-Corinto, 3-Lacônia, 4-Messênia, 5 e 6-Élida, 7-Acaia, 8-Arcádia, 9-Beócia, 10-Fócida e Lócrida Ozoliana.
Durante o período que ficou conhecido como Humanismo, uma transição da baixa Idade Média para a Idade Moderna (séculos 14 e 16), intelectuais das cidades-estado italianas, enriquecidas pelo comércio e politicamente instáveis, viram na cultura-greco romana modelos artísticos e políticos a serem seguidos. Patrocinado por nobres italianos e pelo Papa Eugênio IV, o humanista, arqueólogo e viajante Ciríaco de Ancona (1391-1455), ao estudar inscrições gregas em monumentos, inaugura uma nova ciência auxiliar da História, a Epigrafia. Além de estudar inscrições, Ciríaco foi um grande colecionador de relíquias, códices e documentos clássicos, compilados em obras como Comentários, dividida em 6 volumes, arruinados em 1514; Itinerário (1742); e Epigramas encontrados em Ilírico por Ciríaco de Ancona (1664).
Na época de Ciríaco, os monumentos e templos gregos tinham ganho outras funções: Mansões, Castelos particulares, fortalezas, estábulos e igrejas. Muitos escritos, cópias e obras de autores gregos se encontravam preservadas em mosteiros e abadias, onde eram recopiados e estudados por sábios. No século 18, as ruínas eram um prato cheio para saqueadores vindos da França, da Inglaterra e de cidades do Oriente, patrocinados ou interessados nos ganhos vindos com a venda das peças. O contrabando era destinado para coleções particulares, muitas das quais podem ser vistas hoje em museus da Europa e em alguns da América do Norte. Eruditos iluministas, patrocinados ou independentes, passaram a fazer pesquisas e escavações em antigas cidades gregas. O arqueólogo alemão Johann Joachin Winckelmann (1717-1768) era especialista em História da Arte, defendendo, em suas obras, os princípios e a superioridade das técnicas, do ideal de beleza das artes gregas. Sua obra magna é História da Arte Antiga (1764).
O desenho que ilustra o início desse texto é de autoria de veneziano Giovanni Battista Piranesi (1720-1778), gravurista, arquiteto, engenheiro e arqueólogo italiano. Ainda jovem, teve contato, no Sul da Itália, com inúmeras ruínas gregas, das quais fazia reconstituições, desenhos e tirava modelos para obras arquitetônicas e paisagísticas. Seus desenhos e estudos de arte clássica, além de preservarem o conhecimento da Grécia Antiga, influenciaram diversos artistas Neoclássicos pela Europa, que buscavam um movimento em oposição ao rococó. Antiguidades Romanas (1756) reúne mais de uma centena de águas-fortes (técnica gravurista) dos monumentos de Veneza, Roma e cidades do Sul da Itália.
¹ SILVA, Maria Aparecida de Oliveira. Plutarco historiador: análise das biografias espartanas. São Paulo: Edusp, 2006. p. 186.
FONTES:
Atlas of the Greek World. Grandes Impérios e Civilizações - Grécia, berço de Ocidente Vol I. Tradução de Ana Berhan da Costa. Rio de Janeiro: Edições del Prado, 1996.
Grécia Antiga - Disponível em: http://greciantiga.org/