A criança que falta com a verdade
Essa é uma questão que inquieta pais e educadores: Por que a criança mente?
A criança pode mentir por vaidade, por querer chamar a atenção e, para se sobressair entre os demais.
Há crianças que gostam de chamar a atenção sobre si, estar em evidência, fazer-se o centro de gravitação do mundo. Não o podendo pela força dos fatos, recorrem à inventiva. Não se contentam com a mediocridade da vida: enfeitam-na. Essas, não ouvem uma vantagem alheia, que não tenham outra maior a apresentar.
Há aquelas que mentem com consciência e que só contam vantagens onde pensam não poderem ser desmascaradas ou longe daquelas pessoas que realmente as conhecem. Alguns exemplos: O pequeno que se gaba de ter mais do que tem, outro que prometia chegar qualquer dia à escola de helicóptero que o pai ia comprar...ou que já tinha... Além das chamadas à realidade, a esses vaidosos os pais devem advertir do resultado negativo das suas invencionices, que mais os desacreditam que engrandecem. Pois, esses, podem cair no ridículo - ocupar um lugar negativo dentro do grupo - Todos já olham para ele(a) com desconfiança...esperando a mentira... Os pais, ao chamá-los à realidade devem tomar cuidado para não reforçar o malfeito, pois, ao invés de ajudá-lo poderá colocá-lo ainda mais nesse lugar de destaque “negativo”. Não demonstre que desconfia dele (a) o tempo todo; dê créditos de confiança e elogie nos momentos oportunos. Use exemplos de terceiros..."Sabe, a minha amiga estava reclamando que seu filho anda mentindo, inventando coisas...falei pra ela que quando você era pequeno...mais bobinho, eu te pegava com algumas mentiras, mas, que vai chegar um tempo que o filho dela vai perceber que está passando por bobo, pois, todos sabem que são invenções, daí ele para"...por aí....
Deve-se estimulá-los a procurar reais situações de prestígios, por meios lícitos: no esporte, na arte, na música etc. Chame-o a realidade de que a bondade ganha amigos, a destreza nos esportes desperta admirações, etc.
Como se trata de verdadeiras mentiras, deve-se pontuar o aspecto moral sem mostrar descrédito: recomendar o exame de consciência a respeito, e orientá-lo a acusar-se desses deslizes, ou confessar que o fez e dizer o porque o fez. Mas proporcionar esses meios, de acordo com o desenvolvimento da criança, com o momento e, principalmente, individualmente. Esses vaidosos são “duros na queda”, e as vezes não confessa o que é certo que foi ele que fez nem mesmo sob o risco de tortura!. A recomendação do exame de consciência; a orientação de acusar-se sobre seus deslizes ou confessar para aquele(a) que o(a) ama na base da confiança aumentará o vínculo dessa relação e, poderá elaborar essa situação de forma bem significativa.
Ao falar de suas mentiras, use expressões do tipo: “lembra quando você negou aquilo que foi você que fez naquela época que você mentia... -, trate como coisa do passado, pois agora você já sabe que não precisa inventar para chamar a atenção, nem mentir por pura vaidade. Esses vaidosos agem assim por pura carência ou ingenuidade mesmo! Se não trabalhado na infância, pode tornar-se um adulto onipotente com atitudes de menino "onipotente ingênuo". Quem nunca conheceu um??!!
Às vezes, as crianças mentem por puro altruísmo para defender um amigo, um irmão. Há situações raríssimas entre pequeninos (que mentem antes para desculpar-se). Esse tipo de mentira encontra-se entre escolares, e mais entre adolescentes, aquela mentira generosa ou altruística, dita em defesa de colegas e amigos, para evitar-lhes desgostos e tirá-los de apuros. Às vezes, ela apenas nega a culpa de um amigo; outras, mas raras, toma-a sobre si. Apenas para fazer parte do grupo, para não perder o amigo que admira ou o irmão com quem pode contar, o seu cúmplice. Se a criança confessar que mentiu em favor de alguém, e, pensa ter praticado um ato grandioso, desengane-a. Mostre-lhe que grandiosa é a fidelidade à verdade, que isso não é solidariedade, que a solidariedade é a melhor base para a formação de um bom caráter, porém, não pode estar baseada na mentira.
Porém, a criança em formação necessita da experiência do adulto, ou da identificação positiva de quem quer ensinar-lhe algo. O adulto não deve omitir nada à criança; não faltar com a verdade; não a expô-la ao ridículo; não a humilhar nunca.
O adulto deve dar o bom exemplo -, ser humilde; não se mostrar superior sob nenhum aspecto aos outros; não querer se dar bem sempre ou ser superior ou melhor do que o outro -, as vezes, muitos agem assim puro capricho e vaidade excessiva!. A criança em formação, tudo ouve e tudo vê, apreende, e assim, estrutura o seu caráter. Já vou avisando...O caráter não é inato!
Quando o adulto dá crédito às facetas da mentira da criança por vaidade ou altruísmo, vem a mentira por maldade. E esse tipo de mentira já é “fraqueza de caráter”, e pode requerer ajuda e orientação de especialistas em assuntos comportamentais.
Na mentira por maldade, há o desejo de vingança que se manifesta com clareza, embora seus motivos sejam, às vezes, obscuros. Outras vezes são claros, e, basta termos olhos para vê-los. Ocorre muitas vezes quando a criança se sente rejeitada e, percebeu quanto à mentira irrita os pais; mente-lhes para aborrecê-los, vingando-se dos sofrimentos que lhe impõem, protestando contra o tratamento que deles recebe quando a obriga fazer o que não quer. Tanto é assim que mente sem lógica, afirmando agora o que antes negava, negando fatos notórios, percebendo a indignação que provoca, ela sente "prazer" nisso.
Os pais ou quem convive com a criança, pode não perceber, mas outros da família, amigos, facilmente lhe dirão por que o seu filho mente, pratica maldades -, por que alguém da família mente por vaidade, para vingar-se das rejeições, das exposições que sofre, da perseguições (seja em casa ou na escola), dos castigos morais e físicos, das exigências que lhe fazem e dos frequentes ou injustos castigos que esses lhe impõem.
Os Pais e educadores devem exigir da criança apenas aquilo que ela pode dar! Caso contrário, ela encontrará rapidamente um meio de aborrecê-los. A sua atitude indesejada pode ser uma forma de protesto, muitas vezes, inconsciente.
A vingança toma, em certos casos, tonalidade curiosa: a criança mente apenas a determinada pessoa, grupo, ou sobre determinado assunto. A explicação, quanto aos assuntos, não é tão fácil de descobrir. Muitas vezes, a descoberta somente ocorrerá após uma análise profunda e observação de um bom psicanalista.
Quando a criança acusa injustamente alguém, pode fazê-lo também por vingança ou simplesmente por fraqueza de caráter, para se defender, mesmo à custa do outro. Nesses casos, um olhar atento faz-se necessário, pois a regularidade pode estruturá-lo num sujeito com “desvio de caráter” e, consequentemente, desequilíbrio emocional ou psíquico, exigindo cuidados e tratamento.
Os pais conhecem e sabem quando a criança é uma pessoa que mente, seja por vaidade, altruísmo ou maldade. Quando ela acusar, por exemplo, os professores, adultos de terem cometido alguma maldade com ela, os pais devem ser muito cautelosos em dar-lhes crédito. Pois, a facilidade com que é acreditada estimula essas mentiras de vingança e, poderá desencadear um desvio de caráter, formação de uma estrutura perversa. Na maioria dos casos, a acusação é fantasiosa e podem acarretar injustiças, punições indevidas. A fraqueza de caráter demanda tratamento cuidadoso, uma boa análise, de larga base e duração. Pede-se nesses casos, mais paciência que rigor, muito mais assistência que castigos. Nos casos mais rebeldes, a criança é indicada à especialistas para diagnósticos e os pais, para orientação.
Há aquela mentira da “Doença imaginária” que normalmente, aos 7 anos a criança começa a declinar a indiscriminação entre o real e o imaginário. A criança tem dor de barriga sempre antes de ir a Escola, fazer uma prova ou algo que não gosta. Devem-se observar para não dar crédito às invenções. Se ela persistir, sem respeito à idade; se a fantasia persistir na vida escolar, deve ser investigado as condições dessa criança na escola ou se é uma fuga. Deve-se procurar não dar crédito se for algo constante. Caso a situação permaneça, e, a família não consiga lidar com a questão, deve procurar orientação de um especialista.
Quando além da mentira, percebe-se que a memória começa a ficar falha e ela confunde vários acontecimentos e suas circunstâncias, e a criança não é capaz de repetir de modo idêntico a mesma narrativa; ou quando, mais crescida, não oferece a devida resistência às sugestões, não se trata, infelizmente, de casos normais. Não é uma simples mentira. Requer o olhar atento e orientação da família sem muita repreeensão, porém, se persistir e, não conseguirem exitos, devem pedir ajuda a um especialista.
Se a criança diz coisas abertamente inverídicas com desembaraço, e não percebe que fala inverdades, revela uma “onipotência ingênua” que se não tratada pode acarretar-lhe problemas nas relações interpessoais e, esse perfil pode se arrastar para a vida adulta. A criança deve ser observada e acompanhada. A pessoa que se estrutura com uma estrutura onipotente, já não sabe diferenciar a realidade da mentira; mente descaradamente e acredita na sua mentira. Essa não percebe que os outros sabem que falta com a verdade o tempo todo. É pega na mentira e em situações que prova que foi ela que praticou determinada ação, ou que é uma invenção, mas nega veementemente. Assume como verdade absoluta.
Há os casos de surtos de mentira, mais ou menos agressiva, aparentemente sem motivo, será provável já um caso de doença "transtorno psíquico" que se manifesta. Certas mentiras que revelam dissociações esquizofrênicas nunca aparecem sem outros sintomas de igual natureza. Nesse caso, o melhor é não protelar o exame neurológico, psicológico e, acompanhamento regular. Não são casos para o tratamento do educador comum ou controle familiar. Quando os sintomas são mais graves, assim para os males do corpo como para os da mente, deve-se procurar um especialista. E quanto mais cedo, melhor.
De modo geral, o principal meio para os pais corrigirem a criança que falta à verdade é ir às causas e, não desviar o olhar. Em quaisquer circunstâncias, o principal cuidado é indagar e investigar as causas. Por que mente? Conhecida a causa, se não é apenas a idade da fantasia (entre 4 a 6 anos), cuidar de removê-la, de tirá-la desse lugar negativo. E como frequentemente a mentira está mais nos pais do que na criança: um simples clássico, “fala que não estou”, - é uma mentira. As mentiras por vaidade, apenas para mostrar a amiga que conhece o lugar que ela ainda conhece; que quer mostrar que é melhor; que tudo sabe e, conhece... A criança cresce, é observadora e, sabe que o que foi falado não é a verdade.
A mudança de postura da criança supõe quase sempre a modificação do sistema de educação do próprio ambiente doméstico com manifestações observadas no ambiente social.
A criança precisa ser educada para ser honesta e leal – para fazer amar a verdade. A educação da sinceridade é infundir amor à verdade, horror à mentira e à deslealdade.
É preciso dar à criança a coragem de se manifestar (prudente e discretamente) as suas convicções, e de assumir a responsabilidade de seus atos -, mobilizando-a sempre para o bem.
A presença e um olhar observador dos pais é fundamental; a escola vai pontuando para a família o que foi observado no meio social. A escola precisa conseguir encantar, mobilizar o interior da criança em formação para termos a esperança de realizar a verdadeira educação e formação humana na criança.
Quanto à cura, um dos meios mais indicados é dizer que confia na criança. Observar e saber diferenciar o tipo da mentira, se são mentiras ou fabulação própria da idade. Nunca expor a criança; os problemas se resolvem sempre no lugar privado.
A mentira revela quase sempre um erro de conduta; quem procede bem não precisa mentir. Conforme, já mencionei, a criança mente por sentir-se insegura e, recorre à mentira, na esperança de firmar-se.
A atitude do professor, dos pais, influirá decisivamente sobre a criança que mente, que fantasia. Usar de rigor obsessivo, castigos físicos a levará a novas e mais apuradas mentiras, a fim de escapar aos castigos e, poderá tornar-se um adulto não tão confiável. Se aquele que educa falar da mentira como algo que ela praticava que não faz mais é abrir caminho para a verdade e abrir espaço para a confiança.
Mesmo apanhando-a em mentira, devemos dizer-lhe que confiamos nela, dando-lhe um crédito de confiança a princípio, mas crescentes à medida que ela corresponder. A vigia deve ser discreta, para que a espionagem não a irrite (se perceber que é vigiada, a confiança não está presente); pedindo-lhe contas das tarefas escolares, de boas notas, mas de modo amplo e generoso, que não denuncie suspeita; renovando-lhe a confiança, mesmo que ela às vezes recaia na mentira (por força do hábito ou da natural fraqueza). Diga-lhe, olhe, acho que você esqueceu de fazer esse exercício e, ainda: você sabe fazer? Se não, tente juntos; não fique relembrando-a das mentiras para não reforçar o lugar negativo -, isso não a ajudará.
Ainda quando um relato não o satisfaça, mesmo que esteja querendo saber mais... Nesse primeiro momento, admita que ele(a) fala a verdade, até que você encontre uma forma de esclarecer. Então, volte mais tarde ao assunto, com tranqüilidade e firmeza -, sem rigor obsessivo. “Eu não entendi direito... o que aconteceu mesmo? etc”.
A experiência me ensina que nas famílias em que as crianças convivem intimamente com os pais, em que estes "perdem tempo" com sua educação e se interessam pela vida de seus filhos, informando-se normalmente das suas atividades diárias, sentando junto, tirando dúvidas com paciência e amor, a mentira é inexistente ou muito rara.
Quando ao contrário a isso, a relação dos pais e filhos já é uma pura mentira! Pergunte-se: no dia a dia, qual é o meu tempo com o meu filho(a)? Eu lhe dou ouvidos? Eu olho nos olhos dele(a) quando me pergunta algo? Ou eu respondo as vezes, concordo, sem nem mesmo ouvir direito o que falou? Lembrando que a quantidade de tempo não importa e sim a qualidade desse tempo.
Se os estímulos para uma boa ação são: prêmios, elogios, cumprimentos - impulsionam aos próprios adultos, quanto mais às crianças. A mentira lhe traz freqüentes vantagens na ordem prática: escapam a castigos, conseguem objetos que desejam, dinheiro para guloseimas, caprichos etc. A criança precisa estar decidida a falar a verdade, é preciso agir sem sentir que está sendo fraudada. O educador (pais e professores) deve compensá-las com vantagens reais, tantas e mais do que as conseguidas pela mentira ou para suprir uma falta, concertar um erro. Assim, elas verão que vale a pena falar a verdade e, agir de forma correta.
A autocrítica por parte de quem educa já é por si só um ato formador. Os pais e professores são formadores de consciência; são os responsáveis pela formação humana na criança. E, deve-se interessá-lo profundamente e freqüentemente esse trabalho fundamental de interrogar-se sempre em face de si mesmo.
Maria Teixeira, psicopedagoga e especialista em linguagem
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