Redação Enem: Dificuldade ou despreparo?
A cada ano, o Enem está sendo mais procurado pelos candidatos a uma vaga em uma universidade. Tamanho é o sucesso desse novo sistema de seleção que várias universidades já o tem como único processo para ingresso em seus cursos. Há vantagens, também, para obter bolsas de estudo em universidades particulares pelo prouni. Não por coincidência, a redação do Enem está sendo levada mais a sério pelos candidatos, devido a sua alta pontuação, que pode ser essencial para a classificação; porém, a falta de preparo dos estudantes está preocupando.
Na última prova, houve grande quantidade de redações anuladas, em média 529 mil. Muitas foram as reclamações quanto ao tema “publicidade infantil”; no entanto, temos que levar em consideração que por muito tempo a preocupação dos estudantes se concentrava nas matérias de matemática e, por vezes, de gramática normativa da língua portuguesa, sendo a redação abordada como algo fácil e simples. Esse fato está mudando. Isso porque o novo cenário quer um candidato atento às causas sociais e políticas, alunos que consigam questionar, defender ideias e serem dinâmicos em atitudes do cotidiano. Nesse sentido, a redação constitui uma excelente ferramenta para essa análise. Seja como for, o que percebemos é que existe a falta de preparo, e escrever o que sabemos torna-se o vilão.
Escrever é mais que um conhecimento obtido, é uma habilidade, algo que exige empenho e treino. Primeiro, é necessário uma prévia organização do que será escrito. É comum alunos lerem a proposta e no mesmo instante iniciarem a escrita, e, quando se dão conta, colocaram todo seu conhecimento em apenas um ou dois parágrafos, ficando difícil a continuação de uma escrita coerente, iniciando a partir daí o famoso “encher linguiça”. Escuto muito de alunos a preocupação de preencher as linhas propostas; contudo, a redação é mais que preencher linhas. O bom candidato deve pensar o que irá colocar em cada parágrafo, a ideia que vai defender, seguir o gênero proposto e quais argumentos irá usar para essa defesa. Assim sendo, somente após essa análise, o candidato está apto para iniciar sua redação.
O estudante deve também estar muito atento quanto ao tema proposto, pois a fuga deste irá anular sua redação. Outro ponto a elucidar é que o gênero textual pedido no ENEM e em vários outros vestibulares é a dissertação argumentativa. No que toca a esse aspecto, é muito comum acreditar que se está dissertando quando, na verdade, está descrevendo o que sabe, apenas relatando acontecimentos sem nenhuma marca opinativa. A argumentação é ponto alto em uma avaliação deste porte, como falamos acima, que se procura é candidato pronto para questionar mudanças na sociedade. Dada essa situação particular, nota-se ainda uma dificuldade em defender um ponto de vista, pois não basta ter um ponto para a crítica, deve-se defender esse ponto e buscar uma solução para isso.
A prova do Enem neste ano será realizada nos dias 24 e 25 de outubro com a participação de 7,7 milhões de candidatos, muitos dos quais já estão preocupados com a marca de redações anulados no ano anterior e com o tema que será proposto. Portanto, deverão ter todos os cuidados antes de iniciar a escrita. Ressaltamos novamente: redação não deve ser preenchimento de linhas, exige habilidade e conhecimento.
Professor Alex Augusto Sant'anna
Possui graduação em Letras e Pedagogia
e pós graduação em Letras.
Contato: alexsantanna@hotmail.com