Geografia antiga do Centro de Manaus

O Centro, conhecido por abrigar os lugares de maior interesse histórico da capital, sofreu, nos últimos 100 anos, mudanças expressivas em sua geografia e urbanização. Muitos logradouros desapareceram ou tiveram o nome alterado. O Centro, que de acordo com a Lei Municipal N° 287, de 23 de maio de 1995, é um bairro que começa no Ig. Dos Educandos com o Rio Negro; deste último até o Ig. De São Vicente; deste até a rua José Clemente; desta até a rua Luiz Antony; desta até o Ig. Da Castelhana; deste até a Av. Constantino Nery; desta até a Av. Sen. Álvaro Botelho Maia; desta até a rua Major Gabriel; desta até a rua Ramos Ferreira; desta até o Ig. Do Mestre Chico; deste até o Ig. Dos Educandos e deste até o Rio Negro (1), era, há mais de um século, dividido em “distritos” menores, cada um com suas delimitações.

Para elucidar a localização e os limites (com o nome das ruas atualizados) desses distritos desaparecidos há tempo, utilizo aqui informações retiradas do livro Bombeiros do Amazonas: Retrospectiva (1876-1998), do historiador e Coronel Roberto Mendonça, que utiliza para tal a obra descritiva Um olhar pelo passado, de Bento de Figueiredo Tenreiro Aranha.

Bairro da Campina: começava onde hoje está a Praça e o Colégio Dom Bosco, passando pela sede do Atlético Rio Negro Clube, em frente a Praça da Saudade, e se estendia até os reservatórios da Castelhana e do Mocó.

Bairro Espírito Santo: estava limitado pela rua da Instalação, avenida Sete de Setembro (entre a rua Instalação e a avenida Eduardo Ribeiro), Henrique Martins, Lobo D' Almada, Joaquim Sarmento e Saldanha Marinho.

Bairro São Vicente: tinha seus limites nas ruas 5 de Setembro, Bernardo Ramos, Frei José dos Inocentes, Visconde de Mauá, Monteiro de Souza, Tamandaré e Itamaracá.

Bairro dos Remédios: estava limitado pelas ruas Marquês de Santa Cruz, Leovigildo Coelho, Barés, Miranda Leão, dos Andradas, Barão de São Domingos, Rocha dos Santos e Joaquim Nabuco.

Bairro de Nazaré (Alto de Nazaré): No local onde hoje fica a Praça Santos Dumont, considerado o mais distante da cidade.

Bairro República: Limitado pela Avenida Sete de Setembro (entre a Avenida Eduardo Ribeiro e Avenida Floriano Peixoto), e as ruas Marechal Deodoro, Guilherme Moreira, Quintino Bocaiúva, Teodoreto Souto, Marcílio Dias, Dr. Moreira, José Paranaguá e Rui Barbosa.

Como subúrbios existiam o Alto da Bela Vista (Constantinópolis, mais tarde Educandos); São Raimundo, Saco de Alferes (Cornetas, bairro dos Tocos, Aparecida) e a ilhota de Caxangá, onde hoje está localizado o Makro Atacadista, na Av. Lourenço da Silva Braga. Quando algum incêndio atingia esses locais, os bombeiros, apoiados pelas Igrejas Católicas da cidade, tinham uma forma de saber em qual desses distritos ocorria o fogo:

Uma badalada para o bairro de S. Vicente; Duas ditas para o do Espírito Santo; Três ditas para o da Campina; quatro ditas para o dos Remédios; Cinco ditas para o de Nazaré (2). Para não confundir os bombeiros, havia um entre o sinal do bairro e o toque de rebate, um espaço de tempo.

Com o crescimento da cidade, o surgimento de novos bairros e zonas, e a constante prática de mudança de nomes de logradouros, essas divisões do Centro desapareceram, tornando-se o local um único bairro. Em São Paulo, por exemplo, a região do Centro é formada pelos distritos de Bela Vista, Bom Retiro, Cambuci, Consolação, Liberdade, República, Sé e Santa Cecília. Para as autoridades culturais de Manaus, seria bom pelo menos espalhar placas com a identificação antiga, de forma que resgatasse essa memória.

NOTAS E FONTES:

(1) Lei Municipal N° 287, de 23/05/1995

(2) MENDONÇA, Roberto. Bombeiros do Amazonas – Retrospectiva (1876-1998). Manaus, Editora Travessia, 2013, Pág. 16.

ARANHA, Bento de Figueiredo Tenreiro. Um Olhar pelo passado. Manaus, Imprensa Oficial, 1897.

MENDONÇA, Roberto. Bombeiros do Amazonas – Retrospectiva (1876-1998). Manaus, Editora Travessia, 2013.