A educação e a democracia

"Como na monarquia a educação não se aplica senão em enobrecer os sentimentos, nos estados despóticos (hoje as ditaduras) ela procura apenas aviltá-los.

Cumpre nesses estados que a educação seja servil.

Será uma vantagem ter tido semelhante educação, mesmo no comando, pois aí ninguém será tirano sem ser ao mesmo tempo escravo.

A extrema obediência supõe ignorância em quem obedece e mesmo em quem comanda.

Nos estados despóticos, cada casa é um império separado. A educação, que consiste basicamente em viver com outros, é, portanto muito limitada: reduz-se a introduzir o medo no coração e a conferir ao espírito alguns princípios muito simples de religião”.

E, porque se esmeraria o estado em dar uma boa educação, e após, ter no cidadão alguém que viesse a ameaçar o próprio governo?

Portanto, a educação nessa forma de governo, é de alguma maneira nula. Precisa tirar tudo a fim de dar algo, e para formar um bom escravo, começa por formar um mau súdito.

É no governo democrático e republicano que se tem necessidade de toda a força da educação.

O temor dos governos despóticos nasce de si mesmo, entre as ameaças e castigos; a honra das monarquias é favorecida pelas paixões e favorece-as por sua vez. Mas a virtude política é uma renúncia a si próprio, o que é sempre algo muito penoso.

Podemos definir essa virtude como o amor às leis e à pátria. Esse amor exigindo sempre a supremacia do interesse público sobre o interesse particular produz todas as virtudes individuais.

Esse amor (às leis e à pátria) é característico das democracias. Somente nelas o governo é confiado a cada cidadão.

Ora? O governo é como todas as coisas do mundo: para conservá-lo é preciso que gostemos dele.

Tudo depende, portanto, de implantarmos na república democrática esse amor, e é para inspirá-lo que a educação deve estar atenta. Mas para que as crianças possam tê-lo há um meio seguro: é que os próprios pais a possuam.

Somos geralmente senhores em incutir em nossos filhos nossos conhecimentos, e ainda mais para incutir neles nossas paixões.

Não é a nova geração que se degenera, isso só acontece quando os homens maduros já estão corrompidos.

Recebemos três tipos de educação diferentes ou complementares: a de nossos pais, a de nossos mestres e a da sociedade. O que nos é dito na última destrói todas as idéias das primeiras, caso não estejam elas bem sedimentadas.

Cumpre, portanto, senhores que sejamos também responsáveis, participando ativamente da educação de nossos filhos, que coloquemos a família no mais alto pedestal, porque é dela que emana o esteio da sociedade e da pátria.

Temos hoje no nosso país uma geração inteira comprometida, onde a deficiente educação fez com que agora tenhamos ineficiência nas pessoas de que o país ora tanto precisa. E como podemos prever o futuro, se a formação começa a se deteriorar já com sucumbir da família, que é seu principal alicerce, diante dos mais simples obstáculos, denotando, portanto, a fragilidade do caráter, da honra e demais valores que tornam possível a vida em sociedade e de forma co-responsável?"

(MAP - 10/12/1989)

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Parte de meu discurso de encerramento do ano letivo de 1989, na Escola Mater et Magistra, como então presidente da APM onde meus filhos estudavam.

Publicado no Recanto das Letras em 06/05/2012 - muito de Montesquieu a inspirar.

MARCO ANTONIO PEREIRA
Enviado por MARCO ANTONIO PEREIRA em 03/10/2015
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