Ensinar o valor do dinheiro às crianças

Ensinar o valor do dinheiro às crianças é muito importante, mas, antes de conhecer o valor do dinheiro a criança precisa conhecer os valores éticos e, entender que se valorizar demais o dinheiro; se coloca-lo sempre na frente das coisas, nunca terá o suficiente -, ele sempre faltará e será em alguns momentos o motivo de sua infelicidade.

Percebo que o primeiro valor que a maioria das crianças conhece hoje é o do “dinheiro”. A primeira frase que aprendem é “quanto custa?”.

A maioria das crianças está crescendo obcecadas pelo “melhor” -, o melhor tênis, o melhor celular, o melhor isso, o melhor aquilo... Não sei quando isso começou, mas acho preocupante. Sabe o que acontece quando a criança cresce só querendo o melhor? Dando muito valor às coisas material? Vivem inquietas, inconformadas, numa insatisfação permanente, num desassossego que muitas vezes levam-na a uma obsessão desenfreada; a falta de limites pode levá-la à consequências desastrosas.

As crianças crescem observando como os pais lidam com as finanças, mas nem tudo se aprende olhando. É preciso indicar caminhos, limites e dar exemplos.

Numa sociedade capitalista os pais precisam introduzir a educação financeira desde muito cedo nos ensinamentos ao seu filho, pois, saber lidar com dinheiro será uma das habilidades mais relevantes para sua vida. Porém, para ensinar o filho a administrar o dinheiro, primeiro os pais precisam saber lidar e ter uma relação muito boa com ele. O dinheiro não pode ser o mais importante e nem estar à frente de tudo.

Por outro lado, como a Educação financeira não está no currículo da escola, ensinar a administrar o dinheiro também é tarefa dos pais - que, para isso, devem saber como cuidar das suas próprias contas. Fazer planilhas de gastos mensais, não acumular dívidas e poupar dinheiro para situações de emergência são bons exemplos financeiros para você dar ao seu filho.

É possível ensinar o valor do dinheiro nas pequenas coisas. Embora as crianças observem os pais, elas não aprendem tudo apenas dessa forma. É preciso dizer a ela que o dinheiro tem limite, de onde ele vem, que não pode gastar tudo de uma vez, e ir introduzindo os conceitos aos poucos. A primeira lição – talvez a mais dura – é não dar tudo que a criança pede. Ao leva-la ao supermercado ou shopping, é preciso informar que o “não” é para além da saúde, do dinheiro, propriamente dito, mas para que aprenda limites e controle.

A criança deve participar do esforço de economia familiar. Uma boa forma de fazer com que ela participe é deixá-la acompanhar a lista de compra do supermercado, por exemplo, e explicar que não será possível comprar além do que está na relação. Assim, ela vai entender que somente aquilo que está ali deve ser comprado e não tudo o que está sendo oferecido, que há um planejamento com base no que é necessário e disponível no orçamento da família naquele dia ou mês. A criança precisa saber que as coisas não são de graça, que é preciso planejar cada compra e, dessa forma, entender o valor do dinheiro.

O mesmo pode ser aplicado quando a criança pedir um brinquedo, um celular novo, há oportunidades em que os pais podem atender ao pedido imediatamente. Em outras, não podem e não devem. E há também casos em que o artigo pode ser comprado futuramente. Ao explicar isso, ela vai entender mais uma vez que o dinheiro não está sempre disponível -, que poder, querer e dever tem suas razões e consequências. Os pais precisam aprender a fazer isso sem sofrer, pois, as frustrações fazem parte do crescimento da criança.

O processo de aprendizado do valor do dinheiro deve começar assim que a criança comece a identificar os números, quantidades, souber contar. Ela já pode ser envolvida no planejamento do orçamento familiar de forma que entenda quando e como os desejos de consumo podem se concretizar.

Outra situação diz respeito ao valor do dinheiro na escola. Na escola, por vezes, seu filho pode ter contato com colegas que exibem itens caros que ganharam em casa ou mesmo dinheiro que levam à escola para compra de lanches. É natural, nesse cenário, que seu filho também queira possuir o artigo ou o dinheiro. As crianças costumam fazer associações e, se há diálogo na família, fará algum comentário em casa. É o momento de a família demonstrar que nem todos têm as mesmas possibilidades; as condições da família podem ser melhores ou piores que a do amiguinho e, que às vezes, aquela família não tem controle financeiro. E, talvez seja o momento de proporcionar ao filho a experiência de ele mesmo comprar o seu lanche em um dia da semana, não precisa ser logo no dia seguinte para não ensiná-la de forma errada a ser competitiva e exibicionista.

Quanto aos itens de valor que as outras crianças exibem, a criança vai ter tempo para entender por que o tênis de um é diferente do outro, por que a criança leva celular caro para a escola, se vestem diferentes, por exemplo. A questão do valor das coisas, marcas, é a família que passa para a criança. Ela aprende esse valores errôneos na família. Tudo vai depender da dinâmica familiar de cada um, dos valores que a família presa.

Quanto à questão da mesada que os pais sempre me consultam, - a mesada em certa idade é uma boa opção. A criança precisa ter seu próprio dinheiro quando já estiver em idade escolar. A mesada é uma forma de ensinar o valor do dinheiro. Não importa o valor, mas estipule um valor que deva durar todo o mês. No início, o dinheiro provavelmente vai durar menos. Cabe aos pais ensinar a planejar e controlar para durar mais tempo. A mesada é uma forma de dar à criança em formação, a liberdade de gastar dentro de determinados limites e, pode-se exigir dela a responsabilidade de administrar seus desejos e recursos e, principalmente, saber como é a relação dela com o dinheiro. Sempre será oportunidade de educar e, ajustar o comportamento da criança.

Maria Teixeira, psicopedagoga e especialista em linguagem

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