GREVE E NADA MAIS (Editorial – Folha)
Estendendo-se por mais de cem dias e prejudicando cerca de 1 milhão de estudantes em todo o país, a greve nas universidades federais brasileiras não decorre exclusivamente dos severos cortes orçamentários experimentados no setor.
Dentro de conjuntura econômico em que as restrições se impõem com urgência extrema, o Ministério da Educação por certo não dispõe de recursos capazes de contentar a comunidade universitária.
Deterioração de equipamentos, falta de produtos básicos para pesquisas e eliminação de serviços terceirizados compõem um quadro em que a sensação de abandono nas faculdades agrava-se a ponto de induzir ainda mais descaso e desesperança no sistema.
Reduziu-se em 11% a rubrica de custeio do MEC. Em si, o corte talvez não tivesse impacto tão visível se uma radical renovação na rotina administrativa das universidades fosse empreendida –com enxugamento da máquina burocrática.
Ocorre que, ao lado de redução nos gastos, deu-se crescimento expressivo do número de alunos matriculados. Na Universidade Federal do Rio de Janeiro, diz o reitor, a expansão foi de 55% de 2007 a 2014.
O conhecido processo de euforia e ilusão na gestão pública cobra agora seu preço. No MEC, gastos com investimento sofreram diminuição bem mais expressiva do que os de custeio (46%).
Não é de agora, entretanto, que movimentos de greve se alastram pelas universidades públicas. A prática repete-se quase anualmente, desorganizando o calendário letivo, atrasando a diplomação dos formandos e impondo-lhes imediato prejuízo pelo atraso em seu ingresso no mercado de trabalho.
Os estudantes tornam-se reféns de uma mobilização que, em vez de surgir como último e excepcional recurso, funciona como expediente usual, alimentado ao sabor das convicções extremadas de minúsculos grupos militantes.
A constatação não é segredo para a grande maioria de estudantes, professores e funcionários; reivindicam-se, com nula disposição para negociar, compensações salariais num momento em que, como tampouco se desconhece, é nula a capacidade governamental para o aumento de gastos.
O resultado é o de sempre: greve e mais greve; corriqueira e permanente, greve e nada mais.
“GREVE E NADA MAIS” (Editorial – Folha – 11/09/2015)