EDUCAÇÃO DE INFÂNCIA OU EDUCAÇÃO PRÉ-ESCOLAR?
EDUCAÇÃO DE INFÂNCIA OU EDUCAÇÃO PRÉ-ESCOLAR?
Educação de Infância ou Educação Pré-Escolar? As duas expressões refletem concepções, que se completam, podem ser consideradas muitas vezes sinônimas, umas vez que não se opõem a palavra Escola, ao contrario fazem parte dela. Apenas abrangem crianças que estão em uma faixa etária, ainda não obrigatória de estar na escola. Por isso mesmo, com o encantamento, com a maravilha de estar em um lugar capaz de formar e informar sem que a criança se sinta coagida a aprender.
Mas podemos falar de educação pré-escolar, valorizando as características que naturalmente a separam da escola, tendo em conta o grupo etário das crianças e consequentemente as suas orientações curriculares, de forma abrangente, considerando todas as crianças antes da idade de entrada na escola como exigência.
A “expressão educação de infância” é, algumas vezes, rejeitada devido às ambiguidades que lhe são atribuídas, ou pelo fato ser apresentada em oposição ao modelo escolar, baseada num naturalismo, que defende uma excessiva informalidade, sem uma clara definição das finalidades das práticas educativas realizadas. A necessidade de ultrapassar essa proposta, sua forma de conceber a infância e finalidades a que deve obedecer a sua educação: necessidade de uma relação mais equilibrada entre o desenvolvimento e a aprendizagem, concebendo a aprendizagem como fonte de desenvolvimento, são questões cruciais a considerar desde a formação inicial educadores e educadoras de infância.
Sabendo dessa necessidade, defende-se a concepção da infância como uma construção social, que precisa de ser contextualizada no espaço e no tempo. Podemos definir educação pré-escolar numa perspectiva mais ampla e integradora, em que educar e cuidar são funções que se articulam e complementam visando o desenvolvimento de respostas educativas de qualidade, previamente planificadas.
A grande distância que ainda existe entre o jardim de infância e a escola, entre educadores e profissionais de outros níveis de ensino, são alguns dos obstáculos que dificultam que a educação pré-escolar seja efetivamente concebida como primeira etapa dos sistema educativo. A utilização da expressão educação PRÉ-ESCOLAR, apesar das suas desvantagens, reforça o lugar deste tipo de educação.
Apesar dos constrangimentos legais que em muitos países, excluem as crianças com idade inferior a 3 anos do sistema educativo, como já foi referido, ‘pré-escolar’ concebido de uma forma mais ampla, inclui todas as crianças com idade inferior à da entrada na escola obrigatória. Numa perspectiva educacional mais ampla, que não se esgota na preparação escolar, educadoras e educadores têm que ultrapassar a excessiva especificidade que os tem diferenciado, para que a educação na infância ocupe efetivamente o seu lugar no sistema educativo.
A concepção da ética do cuidado, distanciando-se de uma lógica normativa de unicidade, traduzindo a sensibilidade às necessidades dos outros e o respeito pela sua individualidade deve estar presente em qualquer nível de ensino, não sendo uma preocupação exclusiva da educação das crianças menores.
Se a pedagogia é relação, uma rede de compromissos e obrigações determinada pela nossa responsabilidade face ao outro, então toda a relação pedagógica é uma relação ética. Não podemos falar de uma postura ética senão inserida num espaço semeado de relações humanas, nomeadamente em interação com pessoas que, em virtude da sua idade, são especialmente vulneráveis, exigindo uma ainda mais completa responsabilização e respeito pela sua autonomia e individualidade.
Muitas das questões que têm afetado o desenvolvimento da educação infantil, os dilemas que têm caracterizado a sua evolução e que ainda hoje se evidenciam nas práticas de trabalho, têm relação com a finalidade da educação. O direito dos menores a serem respeitados e considerados como cidadãos tem que ser efetivamente inspirador das politicas educativas desde o nascimento até qualquer idade.
REFERÊNCIAS
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