A educação brasileira e a igualdade racial

Introdução

A nação brasileira caracterizou-se pela sua pluralidade racial. A miscigenação que é o resultado da união das três raças - negra , indígena e branca- formou o povo brasileiro. E segundo Gilberto Freyre é a nossa maior virtude. Esse fenômeno histórico contribuiu para a construção de uma cultura multifacetada.A miscigenação é algo concreto do ponto de vista biológico e cultural, mas ao mesmo tempo, corre-se o risco de incorrer no antagonismo e na imprevisibilidade. E isso é facilmente percebido na nossa realidade diária , onde os índios, e evidentemente, os negros, foram excluídos do processo de desenvolvimento da nossa sociedade.

A hierarquia de classe ou de raça é algo anacrônico, que deve ser repudiada. A pedagoga e socióloga Alice Itani, professora de sociologia da UNESP/Rio Claro, diz que o preconceito étnico faz parte do comportamento cotidiano. Ela afirma em seu artigo “Vivendo o preconceito em sala de aula”, escrito em 1998, que os negros se defrontam constantemente com atitudes preconceituosas, sejam em atos ou gestos, discursos e palavras. Itani ressalta que o preconceito étnico é o que mais está presente na sociedade brasileira e, consequentemente, na prática escolar”. Chega-se a conclusão que a escola não ficou fora dessa perversa organização social.Porém, é a escola que tem o papel de socializar pessoas de diferentes origens, de diferentes grupos, de diferentes raças. Esse contato faz da escola o primeiro espaço de interação, como também de vivências de tensões, sobretudo, as raciais. A relação entre um estudante branco e um estudante negro em uma sala de aula, tanto pode acontecer de forma amigável ou de modo tenso. Podendo até criar um estágio de segregação, colocando o estudante negro em uma condição de inferioridade, induzindo-lhe a adotar uma postura introvertida por medo de ser rejeitado ou ridicularizado. Essa exclusão que pode ser apenas simbólica. Mas, é através da utilização de uma linguagem pejorativa que vai ganhando uma dimensão maior, e que tem como propósito desvalorizar a imagem do negro. E vale salientar a falta de interesse pelos conteúdos que em envolvem a questão negra .Dessa forma, entende-se que é preciso uma tomada de atitude sobre educação e a questão étnica. É na escola que se pode criar as situações necessárias para quebrar esses elementos “”ideológicos” ou até mesmo de origem comportamental. Fazendo da escola um espaço aberto onde o preconceito racial seja analisado, e debatido.

Certamente, não apenas na escola, onde essa situação acontece com uma certa frequência, mas também na sociedade, e faz-se necessário uma discussão urgente .Pois , é justamente nessa passividade coletiva, que repousa o racismo ,e evidentemente, que no processo educacional as consequências são mais graves.E é preciso encontrar na própria educação essa força para combatê-lo. Sem dúvidas que o campo escolar é produtivo, dará bons frutos, desde que os envolvidos assumam seus compromissos sem medos de represálias, cada um sendo responsável pela formação de novas consciências para enfrentar qualquer que seja a discriminação .A escola se coloca muito além da reprodução social, ela é responsável pelas constantes transformações no mundo, visando incutir nas consciências dos envolvidos suas potencialidades , indistintamente, esse é o norteador que dá base a educação. ...” meu papel no mundo no mundo não é só de quem constata o que ocorre, mas também o de quem intervém como sujeito de ocorrências”.( FREIRE, 1996,p. 77). Obviamente ser um sujeito de ocorrências nada mais é do que ir de encontro e defender o que se acredita, sem medos, dissimulações e irresponsabilidades; é a partir para confrontação direta com a essência do problema, é assumir suas responsabilidades, enquanto cidadãos. É partir para o confronto com intensidade pelo que acreditamos. Não podemos, nem devemos apontar erros cometidos em referência às discriminações sejam de qualquer espécie, nesse caso, o racismo, na sociedade, e principalmente na escola.”(...) não é na resignação, mas na rebeldia em face das injustiças que nos afirmamos”. ( FREIRE, 1996,p.78) É justamente na escola o lugar ideal para pregar a forma de resistir ao racismo em todos os seus aspectos, longe de ser um ponto neutro nessa batalha. Pode e deve se converter em fonte de conscientização e respeito às diferenças , sob qualquer ponto de vista.” O que nos falta hoje é uma maior indignação generalizada em face de tanto desemprego, tanta fome e tanta violência desnecessária, porque perfeitamente sanáveis com alterações estratégicas na ordem econômica. Falta mais ainda, competência política para usar o poder na realização de nossas potencialidades”.( Darci Ribeiro, artigo da internet 2006) A escola é norteadora da luta pela superação do racismo, tendo como atores principais: os educadores, formadores de opiniões, responsáveis pela formação intelectual e também pelas constantes mudanças no ser humano.

A partir do momento que as escolas venham a ter professores preparados para passar aos seus alunos que todos são iguais, independentes de cor e raça, começaremos a ter uma sociedade com mais coerência e com os direitos dos cidadãos , cidadãs , garantidos, com plena igualdade. Teremos pessoas preparadas, com os seus direitos e deveres iguais, onde todos possam exercerem , democraticamente, suas cidadanias, e obviamente, os papéis na sociedade, a qual, essas criaturas então envolvidas. “A ênfase dada pelas crianças ao aspecto estético, distinguido entre o que é feio e o que é bonito, sugere o desenvolvimento do preconceito racial, visual, provavelmente através de pistas verbais quando da aquisição de padrões de beleza. Desde muito cedo a criança aprende, por exemplo, que cabelo liso é cabelo bonito, e esse padrão é reforçado, uma vez que parecem ser raros, senão inexistentes, elogios ao cabelo crespo durante a infância”. (FAZZI, 2004, p. 117). E é nessa sociedade igualitária, sem privilégio de aparência, pode-se construir, em se tratando do seu processo cultural, uma escola sem conflitos ,ao contrário, que prevaleça o diálogo e que todos possam ter acesso ao conhecimento, e sua especificidade dentro da sociedade que esses indivíduos habitam.

Essa desigualdade racial que o Brasil apresenta que nos deixa envergonhado, porque como foi ressaltado , trata-se de um país miscigenado. Porém, se houver uma luta por essa igualdade, que estamos destacando, vamos conseguir derrubar essas barreiras. E retomando o papel da escola, podemos afirmar categoricamente que o ambiente escolar é o local ideal para abrirmos a discussão sobre preconceito racial .E com certeza teremos uma resposta adequada. Com coesão, com clareza e objetividade do pensamos acerca dessa delicada questão. O racismo na sala de aula é um atitude reprovável, em todos os seus aspectos, e a sociedade deve dá o respaldo necessário para que possa atuar com mais firmeza no com bate a esse grande mal. É claro, que é um fato notório o preconceito- nesse caso o preconceito racial-, na nossa sociedade. Às vezes, de forma disfarçada. Ou seja, um racismo , como já foi colocado pelos estudiosos do assunto, como leve. Ainda leve, o racismo é inaceitável por aqueles que têm compromisso com uma sociedade democrática e civilizada. Portanto, devemos conclamar essa sociedade, para que juntos possamos atuar, conscientizando a todos, começando na sala de aula, que o nosso papel de educador é o de criar condições, sempre procurando melhorar o ambiente em que vivemos. Então, vamos juntar nossas forças, levantarmos essa bandeira, e assim teremos um país com mais igualdade , justiça, enfim uma qualidade de vida melhor para todos

Conclusão

Enfim, o preconceito racial originou-se desde o tempo da colonização, com a escravidão dos negros que já nasciam escravos e com o passar do tempo ganharam sua liberdade, mas não deixaram de ser estereótipos de inferioridade por ter a cor negra. Hoje ainda existente, porém, oprimido, o preconceito vem sendo de maneira lenta combatido, não com deveria.A Escola como formadores de cidadãos deve ser um espaço onde este cenário deve ser discutido e analisados.

Primar por uma educação antirracista, valorizando o aspecto pluricultural e pluriétnico da sociedade brasileira é dever de todos os educadores. Para isto é mister um análise criterioso na seleção do material didático e paradidático com o qual o educador trabalhará no contexto escolar para que resgate efetivamente, a identidade étnico-racial e a autoestima para o exercício pleno da cidadania.

Contudo, o educador deve ser qualificado e preparado para lidar com os preconceitos étnico-raciais no âmbito escolar, sendo um desencadeador dos aspectos preconceituosos, para que a democracia racial deixe de ser um mito.Este é o quadro da educação brasileira, no tocante ao preconceito na sala de aula, o preconceito racial. A situação foi mostrada em seus diferentes aspectos, retratando os malefícios que podem afetar grande parte dos estudantes brasileiros, sobretudo ,os estudantes negros. Segundo o Prof. Kabengele Munanga, “a identidade é para os indivíduos a fonte de sentidos e de experiência. Toda identidade exige reconhecimento, caso contrário ela poderá sofrer prejuízos se for vista de modo limitado ou depreciativo.” E, é através de uma proposta multicultural, evidentemente respeitando a individualidade, que a escola poderá observar a importância dessa integração, desde que todos tenham o direito de juntos poder interagir. Quando fala-se interagir, seria a junção de todas as raças, afinal , estamos em um país multirracial. Na verdade é na escola onde essas culturas, essas raças, poderão, com facilidade, se interagirem . E o professor como mediador tem a obrigação pedagógica de procurar compreender as diferenças que a sociedade brasileira apresenta e que com muita frequência se manifesta na sala de aula .Segundo Gilberto Freire, que foi uns primeiros intelectuais a conceber e “ mito da democracia racial” , apregoou a existência de oportunidades para brancos , negros e mestiços. Infelizmente, conclui-se, pelo que observamos no dia a dia em nossa sociedade, que trata-se de um mito. Pois, a desigualdade racial no Brasil é inconteste. Embora a discriminação racial seja considerada um procedimento criminoso, onde o autor da prática poderá sofrer as penas cabíveis, ainda assim, ela existe, às vezes de forma camuflada, às vezes de forma jocosa.

A educação, com o seu compromisso com a ética, deve promover a igualdade, nesse caso, a igualdade racial. E é na sala de aula que essa oportunidade é dada ao professor, que por sua vez ,deve ter uma atuação firme quando se tratar de qualquer ato que possa causar constrangimento a um estudante negro. Ao longo da nossa história, no qual se faz presente a escravidão e o autoritarismo,houve até a política excludente, o que caracteriza ainda mais o racismo no Brasil. Nós, como educadores, temos a obrigação , não apenas de conhecer os mecanismos da dominação cultural, econômica , social e política, mas também ampliando os nossos conhecimentos antropológicos e perceber que as diferenças étnico- culturais é uma realidade cruel e desumana .E que a escola é o espaço ideal para combatermos esse terrível mal: a desigualdade racial.

REFERÊNCIAS

: novas políticas em educação. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999 GIROUX, HenryA . Cruzando as fronteiras do discurso educacional

MUNANGA, Kabengele. O preconceito racial no sistema educativo brasileiro e seuimpacto no processo de aprendizagem do “alunado negro”. IN: Utopia e democracia na Escola Cidadã. Porto Alegre: Editora da Universidade Federal de RGS, 2000.

PIERUCCI, Antônio Flavio. Vivendo o preconceito em sala de aula IN: Diferenças e preconceitos na escola alternativas teóricas e praticas. São Paulo: Summnus, 1998

Ciladas da diferença. Tempo Social, 1990.

Itani, Alice . artigo “Vivendo o preconceito em sala de aula”, 1998

Ribeiro, Darci,; Artigo ,internet

Freire, Paulo, Pedagogia da autonomia, Saberes necessárias à prática educativa, 31ª Ed. . São Paulo; Paz eTerra, 1996

Soleno Rodrigues
Enviado por Soleno Rodrigues em 17/08/2015
Reeditado em 10/06/2017
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